São José, missão do esposo e pai

    + João Bosco Óliver de Faria

    Arcebispo Emérito de Diamantina

     

    O PAI é e deve ser, junto de sua esposa, o grande pilar que sustenta e une a sua família, como o exemplo da Sagrada Família.

    Depois que, avisado em sonho, São José recebeu Maria, já grávida pela ação do Espírito Santo, como sua esposa, São José aparece seguidamente nas primeiras páginas do Evangelho, sempre  presente em sua família: Foram, pois, (os pastores) às pressas a Belém e encontraram Maria e José, e o recém-nascido deitado na manjedoura (Lc 2, 16).

    Na apresentação do Menino Jesus ao Templo: O pai e a mãe ficaram admirados com aquilo que diziam do menino (Lc  2, 33).  Lemos ainda: Todos os anos os pais de Jesus iam a Jerusalém para a festa da Páscoa (Lc 2, 41). Quando o viram, seus pais ficaram comovidos (Lc 2,48). Jesus desceu, então, com seus pais para Nazaré e era obediente a eles (Lc 2, 51).

    Lemos no evangelho de Mateus: Depois que os Magos se retiraram, o anjo do Senhor apareceu em sonho a José e lhe disse: `Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito! … José levantou-se, de noite, com o menino e a mãe, e retirou-se para o Egito (2, 13-14). E ainda: Quando Herodes morreu, o anjo do Senhor apareceu em sonho a José, no Egito, e lhe disse: `Levanta-te, toma o menino e sua mãe, e volta para a terra de Israel; pois já morreram aqueles que queriam matar o menino`. Ele levantou-se com o menino e a mãe, e entrou na terra de Israel (2, 19 – 21).

    O fato de o anjo falar com São José e não com Maria mostra-nos a importância da presença e da responsabilidade do pai na condução de sua família. São José era uma pessoa muito santa, humilde e obediente. Ele sequer questiona a ordem ou apresenta as dificuldades para cumpri-la. Notamos, também, sua coragem em deixar tudo e em seguir para um país desconhecido, sem saber a língua e como iria sustentar sua família.

    Vemos, ainda, seu desapego em deixar tudo para trás: parentes, amigos, suas ferramentas mais pesadas. Outra virtude para contemplarmos é a de sua confiança na Palavra do Senhor, que lhe chegou pelo anjo. Imaginemos quanto sacrifício que ele não teve que fazer ao providenciar tudo para uma viagem longa e desafiadora. Ele era, também, uma pessoa de coragem!

    Em tudo isso notamos sua presença atenta e permanente junto de Nossa Senhora e do Menino Jesus. Era a sua missão: protetor e guarda da Sagrada Família. Podemos ver também nesses fatos a sua fidelidade à missão recebida.

     

    O pai tem na família uma missão de “esposo”  e de “pai”.  São duas dimensões da doação de si mesmo ao bem de sua família. Amar é consumir-se para iluminar.  A imagem do pai, sua personalidade, sua estatura espiritual, seu equilíbrio emocional, sua presença alegre, sua capacidade de ouvir e de aconselhar são luzes, são faróis na formação do caráter dos filhos.  Os filhos guardam com maior força os exemplos e testemunho de vida de seus pais, que os seus conselhos, embora oportunos e corretos.

     

    De nada adianta uma vela apagada numa noite escura. A vela só ilumina quando se consome. O consumir-se traz sempre um desgaste pessoal. Amar é morrer aos próprios interesses pelo bem do amado. Amar é consumir-se pelas pessoas amadas. O amor tem cheiro de morte.

    Com perdão da expressão, ser Pai, é também engolir amargo e cuspir doce. Acontece, porém, que, às vezes, o pai não encontra na sua família a devida correspondência aos seus sacrifícios  ou a resposta de amor ao seu amor.

    Outra dificuldade que os pais sofrem é a de serem muito cobrados pelos filhos e algumas vezes, também, pela esposa. Nem sempre os pais conseguem dar à sua família o conforto que eles gostariam de oferecer. Quando o clima de cobrança torna-se constante, há o risco de trazer um desalento para a pessoa dos pais. Há muita lágrima de pai que secou na solidão da noite e do travesseiro!

    O que a família mais espera do pai é a sua presença atenta e carinhosa. Os filhos nem sempre querem coisas; eles querem a presença da pessoa do pai. Mesmo a esposa sente falta de um tempo a sós com o seu marido para conversar sobre a vida a dois, sobre os problemas da família, e sobre como aconselhar os filhos em suas dificuldades.

    É muito triste quando o pai só pensa em si, no seu lazer e nos seus amigos, no esporte, no bar e não encontra tempo para estar em casa com os seus. Quando isso acontece, ele não está cumprindo sua missão de pai e anda muito longe dos exemplos de São José.

     

    Há muitas famílias em que os pais são o centro da vida de seus filhos, genros, noras e netos. Aos domingos, todos se reúnem invariavelmente na casa dos pais, pela alegria de estar juntos.  Há um respeito entre todos e ninguém ofende ninguém. É só alegria e união.

    É importante para a vida dos filhos que eles tenham coração grande para perdoar as falhas ou erros que, às vezes, os pais podem ter cometido. Eles são humanos e também podem falhar. Que os filhos não guardem mágoa em seus corações para com a pessoa de seus pais. Saibam perdoar, a exemplo de Jesus, que, no alto da cruz, perdoou os que o crucificaram.

    Ajuda muito a toda e qualquer pessoa, independentemente de sua idade, cultivar um sentimento de perdão total para com os próprios pais, quer eles estejam vivos ou mortos. Tal sentimento de perdão total aos próprios pais não apenas alivia o coração de quem perdoa, mas traz uma direção positiva na sua própria vida que altera para melhor todo o comportamento e resultados na vida de quem dá o seu perdão.

     

    Num livreto sobre o “Ofício de Pai,” de José Paulo Antônio Lemos, há umas mensagens que merecem ser lembradas: Cada um de seus filhos é ele próprio, inconfundível. Você deve viver uma extrema precisão neste campo. Importa reconhecê-los no que realmente são, nas diferenças. Toda a atenção será pouca. Não caia no erro de trocar os nomes, ou adotar um rótulo geral; meu filho. Ele é alguém. Quem?

     

                   Melhor que dar uma moto a seu filho é ajudá-lo a ter uma alma veloz na busca da alegria. * Sem sua mulher seus filhos existiriam?
    Ela recebeu sua vida, e a resposta foi uma vida nova. * Você morreria por seu filho. Você vive por seu filho? *

     

                   Nada substitui você na vida de seus filhos. Não adianta tentar suborná-los com coisas. Elas nunca hão de bastar e eles pedirão mais e mais, até o momento em que receberem o que desejam: você, o seu amor.

     

                   Sofra por seu filho, mas não fique a cobrar dia e noite. Não vista os andrajos da vítima ou a avidez de um credor. A contabilidade e as lamúrias atordoam o amor. * Todo o sacrifício, toda a doação de você a seus filhos pode parecer loucura nesse mundo em que triunfam a ganância e a usura. Mas não será o mundo o verdadeiro louco?

     

                   Se a casa for desordem, o tumulto exila a liberdade. Se a casa for morada, Deus é o grande hóspede. * A medida do amor de pai é a desmedida. Os relógios e as fitas métricas são ineptos para dizer sobre a vastidão da alma. * O que seu filho espera de você? Somente tudo-o-que-você-é  poderá responder.

     

                   A paternidade não se reduz à simples centelha biológica. É um longo ofício. O filho é um ser que nasce, que aprende a refletir, a viver. Precisa ser perfilhado diariamente. Não temos filhos, não estamos pais, somos pais. Mesmo aquele que adota um filho é pai: qualquer outro verbo diverso do “ser” trai a paternidade.”

     

    djbosco@terra.com.br

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