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segunda-feira, 2 dezembro, 2024.

Padre Alderígi

Gigante Desconhecido nas Montanhas do Interior

Quando estudante em Jerusalém (1984), comecei a receber notícias da Pátria, comentando certo gigante, fantasticamente incomum. Invadiu-me então, irresistível desejo de fazê-lo conhecido no Brasil e no Mundo, dando logo início ao trabalho dentro mesmo da Basílica da Ressurreição, coração religioso do Cristianismo. Surgiu assim o livro ALDERÍGI, GIGANTE COM OLHOS DE CRIANÇA

Pe. Alderígi Maria Torriani nasceu em Jacutinga, MG, em 1895. Todavia, seu túmulo, centro de peregrinações, se encontra em Santa Rita de Caldas, MG, onde faleceu em 1977. Notável sua coragem em ser santo de maneira diferente, cheio de amor a festas, foguetes e bandas, sem se esquecer dos pratos saborosos. Porque se obrigou a pagar todos os armazéns e todas as farmácias dos pobres, vivia na maior pobreza. Até foi visto, certa vez, usando sapato amarrado com arame.

Seu amor à Eucaristia e a Maria Santíssima encantava a todos que dele se aproximassem. O rosário dela ele o contemplava tanto, que chegou a ter calos nos dedos. Quando descobriu que a RCC (Renovação Carismática católica) vivia em torno desses dois mistérios, renovando-os na alegria e no louvor, apressou-se a participar do Congresso Carismático de Porto Alegre. Nesse ambiente de fé, chorando de alegria, ele proclamou: “Era isso que eu sempre sonhei para a Igreja”. Quando, uns anos antes, cheio de temores, o seu arcebispo foi lhe consultar sobre esse tal movimento, Pe. Alderígi, com ar profético anunciou: “Vossa Excelência não pode querer barrar o caminho daquilo que vem de Deus”.

Residente no Convento S. Francisco, Frei Felipinho, que teve a honra de ser coroinha desse santo, cujo processo de beatificação já teve seu início no ano 2001, escreveu, através da Editora Vozes, dois livros: ALDERÍGI, GIGANTE COM OLHOS DE CRIANÇA, já na 9ª edição, e a NOVENA PEDI E RECEBEREIS. Ambos os livros narram não só seu fantástico poder de curar, mas entrelaça os mais engraçados e emocionantes fatos deste santo tão diferente, mescla de São Francisco com o Papa João XXIII.

O Menino Alderígi

O nome do Pe. Alderígi

Comunicado de Dr. José Asdrúbal Amaral

O pai de Pe. Alderígi, o Sr. Vicente Torriani, natural de Pieve Fosciana (Província de Lucca – Itália), na sua juventude leu a obra de Torquato Tasso, “Gerusalemme Liberata.” No livro, os principais personagens chamam-se Alderígi” e “Gílpede”.

Por paixão literária, o Sr. Vicente Torriani deu o nome dos personagens de Tasso a seus dois primeiros filhos: Alderígi e Gílpede.

Alderígi Torriani, o nome exato, ao qual foi acrescido “Maria”, ainda no seminário, por devoção à Virgem Santíssima, patrona de seu sacerdócio.

CONTRIBUIÇÃO: Dr. José Asdrúbal Amaral (1937), sobrinho do Pe. Alderígi e advogado. Por escrito em 09/12/86 + Rua Pernambuco, 870 # Fone: (035) 721-2504 + 37.700 – Poços de Caldas, MG.

O menino Alderígi - I

Crônica de Edmea Maria Silva Maia

Pois bem, voltamos ao menino Alderígi que, como todos os meninos do mundo, era extremamente arteiro. Suas artes não eram das menores. Isto, entretanto, não impedia de brincar sempre com seus brinquedos favoritos: fazer presépios, altares, celebrar missas de mentirinha.
Um belo dia, Alderígi numa de suas façanhas, mexe na máquina de costura e perfura o dedo “fura-bolo” e, desse incidente, resultou-lhe um panarício que deformou seu dedo para o resto da vida. Alderígi, desde pequeno, falava que seria padre e seu pai quase o matava por isso. Seria padre e teria de entrar no seminário e, naquela época, falava-se que para ser padre não podia ter qualquer problema sério de saúde. O dedo de Alderígi piorara e seu pai resolve, então, mandá-lo para a Itália, onde sua avó paterna lhe daria os cuidados necessários, indo em busca de maiores recursos que a medicina poderia proporcionar.
Assim aconteceu. Alderígi ficou na Itália, aos cuidados da avó, por mais ou menos 5 anos. Lá acabou curando seu dedo e fazendo o curso primário.
Esta época em sua vida esclarece-nos dois pontos importantes de seu comportamento: a facilidade de falar italiano e o sotaque que tinha ao falar português, tão característico de sua pessoa. Era tão forte este sotaque, que muita gente pensava que ele era italiano mesmo.
Sua avó era brava e Pe. Alderígi sempre nos contava que ela o trazia um terrível cabresto. Qualquer atraso ou deslize, ela não perdoava e ele entrava no “coro”. Após tantos anos, era natural que os pais do menino Alderígi o quisessem de volta e Alderígi volta, então, para a casa paterna. Quis, entretanto, o destino, que sua mãe morresse mais ou menos 3 anos após sua chegada no Brasil.
Alderígi, então, que já antes recebia os cuidados de sua babá Lavínia, recebe-a alegremente por mãe: após algum tempo, Sr. Vicente resolve se casar pela segunda vez, com Lavínia, que, como já disse, era babá de Alderígi e Gílpede. Alderígi ganha novos irmãos. Desse casamento, nascem 6 filhos: Elisa, Pedro, Beata (Lalá), José, Marina e Asdrúbal. Alderígi, que fizera o curso primário na Itália, segue agora para Pouso Alegre, onde ingressa no seminário.

CONTRIBUIÇÃO: Edmea Maria Silva Maia (1932), professora, líder paroquial e amiga do Padre, ajudada por seu filho Israel. + Cópia de folheto inédito, elaborado em 1985. + Ria Pref. Uriel Alvim, 69 # Fone: (035) 3734-1208 + 37.775-000 Santa Rita de Caldas – MG.

Infância de Pe. Alderígi na Itália (1900 – 1907)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves O .F.M.

Ruas tortuosas e estreitas, as ruas de Pieve Fosciana, com o seu casario de pedra, construído antes do ano mil.
Em 29 de dezembro de 1988, a noite gelada obrigava o Pe. Nilo usar sua capa preta e comprida e sob um céu negro, cheio de estrelas e constelações diferentes, as mesmas que o pequeno Alderígi olhava de sua janela, há noventa anos atrás. O sacerdote me conduziu à velha casa do velhinho Atílio, único sobrevivente dos tempos em que Pe. Alderígi viveu na Itália, dos 3 anos aos 8 anos.
Memória excelente, esse ex-colega de escola do nosso garoto Alderígi, assim pôde contar-me muitas coisas daquele tempo antigo.
O mestre deles era Zanichelli, habitante de Caríngine. Era bom, inteligente e estudava muito. Vinha de Carígine todas as segundas-feiras e só voltava às sextas. A escola é o mesmo edifício onde hoje funciona a prefeitura. Só que havia naquela época uma escada larga, comprida, sem curvas, por fora do prédio, unindo a rua ao primeiro piso. Aí estudavam os garotos. As meninas, porém, estudavam num belíssimo edifício, hoje abandonado, dirigido pelas freiras, daquele tempo.
O mestre tinha excelente caligrafia e um péssimo defeito: A bebida. Ela lhe permitia trabalhar só na parte da manhã. Depois do almoço, nada. Apenas sono profundo, acompanhado de sonora roncadeira.
– Era esse mestre brabo contra os alunos? Batia neles?
– Não, não. Tinha porém uma vara de taquara e com ela batia no chão, para chamar a atenção dos meninos mal-comportados.
– Conheceu o Alderígi?
– O brasileirinho? Se o conheci? Como não? Muito, muito. Lembro-me dele ainda. Como era bonzinho!.
– Era briguento?
– De jeito nenhum. Era até o chefe dos coroinhas. Gostava de brincar com os colegas. Aprendemos religião juntos. O catecismo reunia a turma às 7:00hs da manhã para às 8:00hs começarem as aulas.

CONTRIBUIÇÃO: + Atílio Angelini (1.896), carroceiro. Entrevista em 29/12/88 + Rua Guglierme Marconi, 32 (Via Longa) + Via Del Gagno + Pieve Fosciana – Garfagnana – Itália.

O menino Alderígi - II

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves O .F.M.

“O pai de Pe. Alderígi se chamava Vicente Torriani, morava aqui em Jacutinga, no sul de Minas Gerais, bem entre nós, e era casado com Da. Argia (mais conhecida como Alzira).

O Sr. Santini, tio da minha esposa Julieta, me contava ter o Sr. Vicente nascido em Pieve Fosciana, na Província de Lucca (Itália)”. Assim começou a contar-me o antigo barbeiro Níni B. Vicentini, que tinha sua barbearia no mesmo edifício do pai do Pe. Alderígi, lá na velha cidade de Jacutinga, estação balneária do Sul de Minas.

Na velha cidade mineira, tinham os pais do futuro sacerdote uma casa de comércio muito grande, onze portas, uma sala maior, onde o povo, principalmente a juventude, se reunia para um arrasta-pé, regado com o som dum gramofone velho, movido à manivela.

Esta casa, situada à Rua Silviano Brandão, hoje Américo Prado. Era tanto loja de tecidos como depósito de colchões.

Alguém disse que o Sr. Vicente tinha fábrica de cerveja. Isto não é verdade. A fábrica de bebidas era o Sr. Luiz Castelli. O Sr. Vicente tinha, sim, era uma vinha em seu quintal, da qual ele mesmo desencantava um bom vinho para o gasto da família e dos amigos.

Foi nesta casa onde o pequeno Alderígi morou, brincou, gritou, correu, caiu, fez artes, birra, levou palmadas, apanhou com cinto, chorou, esperneou, riu, alegrou os outros, foi amado, amou, recebeu ternura e pitos, levou broncas e elogios, cresceu igual aos outros meninos descalços, estrepando espinho e se sangrando com caco de vidro, com calças curtas, sustentadas por suspensórios de pano.

“Mais tarde, com a morte da esposa, o Sr. Vicente se casou com minha tia, Da. Lavínia, que viera da Itália com seu pai, Valério Vicentini. Meu avô Valério e avó Regina Vicentini, quando vieram da Itália, foram morar primeiro no Espírito Santo do Pinhal, SP, e daí mudaram para cá, Jacutinga, MG – acrescentou o bom barbeiro que ainda conservava uma boa memória.

O pai do Pe. Alderígi gostava de beber e os filhos tinham medo dele. Era nervoso e brabo.

“O Alderígi era menino bom, religioso, educado, já com tendência de ser padre”. No entanto, o pai do Sr. Níni, Constante Vicentini, contava que o garoto, secretamente, tinha uma namoradinha. Mas, quando o Sr. Vicente o soube, andou dando-lhe umas broncas, acompanhadas até mesmo dumas boas palmadas.

Menino alegre. Gostava da vida, do movimento. Adorava ver o trem passar, puxando aquela fila de vagões encarrilhados. Os últimos, cheios de passageiros. E o pequeno corria para perto da linha, para ficar abanando as mãos. Este costume de acenar para os passageiros ele conservou, mesmo quando grande, em suas visitas à casa do amigo Júlio Santini, lá em Jacutinga. Nestas ocasiões, a sogra do bom barbeiro, Da. Mariusca, gostava de fazer polenta com radice (almeirão) e ele comia com gosto. Com boca gostosa.

CONTRIBUIÇÃO: Níni (José Bruno Vicentini – 1910), barbeiro. Entrevista em 06/10/87 + Rua José Fernandes Ribeiro, 75 + 37.590 Jacutinga – MG.

Fidelidade do Pe. Alderígi a seus compromissos

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves O.F.M.

O sogro de Da. Ana Garcia Franco levou o Pe. Alderígi 48 km, a cavalo, para uma grande festa religiosa. Terminada a festa, todos queriam que o Padre repousasse e seguisse o caminho de volta, mais 8 léguas, no dia seguinte.

Ele não aceitou a proposta pois no outro dia, domingo, tinha que bater o sino muito cedo e dar a comunhão aos seus paroquianos.

E o Padre cavalgou a noite a dentro e, às 5hs, o sino soou, as comunhões foram distribuídas e a missa foi celebrada.

Esta sua fidelidade o fazia corajoso. Certa vez, ele foi visitar a irmã de Da. Ana, chamada Luzia, que estava doente. Já que o rio estava dando enchente, o Pe. Alderígi passou pelo rumo da ponte, enquanto outras pessoas davam volta de uma légua.

É que ele sabia que a doente precisava de seus auxílios espirituais.

CONTRIBUIÇÃO: Ana Garcia Franco (Da. Anita – 66 anos), doméstica. + Entrevista em 22/03/87 + Rua João Amarante, 56 # Fone: (035) 735-1136 + 37.780-000 Caldas – MG.

Pe. Alderígi e o convertido

Crônica de Paulo Pires da Costa

Um dia o Pe. Alderígi pôs as zeladoras para jambrar em todos os setores, não deixando ninguém sem o devido zelo e atenção. Lá pelas tantas deram elas, de topo, com um senhor muito conhecido e rico, chamado Orácio Bernardes. Esse homem era valentão aqui em Santa Quitéria (nome de nossa vila naqueles tempos). Era capaz de entrar a cavalo e tudo, dentro de uma venda, mandar encher um copo de pinga com açúcar, tirar o revólver para misturar o açúcar com o seu cano e, depois, obrigar a todos os que ali se encontrassem beberem, sem nada reclamar.

Sua fama correu mundo, chegou até na imprensa; afirmaram até ter sido ele pistoleiro. No entanto, isto é exagero, pois, pistoleiro nunca foi.

Já lá iam mais de 20 anos que Orácio Bernardes não fazia a Páscoa e dizia que não se confessava com homem igual a ele.

Mas, com empurrões do Alderijão, os trabalhos das zeladores funcionaram e convenceram a fera.

Depois, após a confissão do homem, foi aquela coisa. Me lembro quando o padre disse às zeladoras:

Ô! Dessa vez valeu a pena seus trabalhos e minha vinda a Santa Quitéria!

O importante, comovente e bonito foi a pregação no outro dia, pois só se podia comungar de manhã e em jejum. O réu estava presente e absolvido. O vigário usou a parábola da ovelha perdida, voltando para junto das 99. Ali, o nosso pastor também deu preferências ao Sr. Orácio, colocando-o em primeiro lugar, antes de todos, comovido, cabisbaixo, tal qual um cordeiro.

Resultado? O homem mudou de vida por completo e viveu bom e humilde até morrer. Várias vezes pude visitar esse homem até nas vésperas de sua morte.

 

CONTRIBUIÇÃO: + Paulo Pires da Costa (1938), protético, por escrito em 05/06/87 + Rua Junqueira Franco, 65 # Fone: (035) 732-1128 + 37.559 Ipuiúna – MG.

Sacerdote, verdadeiramente, Sacerdote

Os primeiros trabalhos sacerdotais (1908 - 1927)

Crônica de Edmea Maria Silva Maia

Iniciam-se seus primeiros estudos de seminarista. Sempre vivo, o garoto Alderígi continuava levado da breca. “Alderígi padre? Só se a rã criar pêlo”, era o comentário que fazia Pe. Rigoti, quando sabia das artes de Alderígi.

Após os estudos normais do seminário, Alderígi é ordenado sacerdote em Pouso Alegre. Já na cerimônia de ordenação prenunciava-se a santidade de Alderígi, que jurava obediência ao Sr. Bispo.

Celebrou a primeira Missa em Jacutinga. Permaneceu algum tempo em Pouso Alegre, onde foi professor de Matemática e diretor do Ginásio Diocesano São José. Sabe-se hoje que muitos escritores e políticos de nossa época, alguns já falecidos – quase a maioria – foram alunos do Padre e o tinham em grande consideração. Tempos depois, teria de ir para uma paróquia. Na sua família, constituída então de 11 membros, só ele trabalhava. Pe. Alderígi atirou-se de maneira total ao serviço de Deus.

Que aconteceu, então? O jovem padre adoece gravemente e o Sr. Bispo mandou-o escolher, entre Brasópolis e Santa Rita de Caldas, em qual das duas cidades desejaria ficar (Nota de Frei Felipinho Gabriel Alves: Em conversa com Lalá, fiquei sabendo que foi ela quem fez a escolha. Só que há divergência: ela afirma que a escolha foi entre Campestre e Santa Rita de Caldas, e não Brasópolis).

Pe. Alderígi estava tão doente, que o Sr. Bispo assim proferiu: “Dou uma paróquia para o Pe. Alderígi, para ali ele morrer.”

No dia 27 de março de 1927, aqui chegou Pe. Alderígi, com apenas 32 anos de idade, mas magro e fraco, praticamente condenado à morte, uma vez que não havia, naquela época, qualquer remédio para o seu mal.

Mas não foi esta a vontade de Deus. E não é que os ares da nova terra trouxeram vida e saúde para o jovem sacerdote que, seguindo a receita de um médico, tomou várias caixas de “gadusan, na veia? O médico havia lhe receitado, também muito repouso, vida calma e tranqüila. Sim, senhor. O jovem sacerdote fez muito repouso, sim. Mas, o fez no lombo de cavalo, de burros, atendendo a tudo e a todos, com a maior solicitude e humildade. Às vezes, na sua ida em atendimento aos seus paroquianos, era gozado ver o Padre em animais fogosos ou, às vezes, em animais em que ele quase tocava os pés no chão, devido à sua estatura.

CONTRIBUIÇÃO: Edmea Maria Silva Maia (1932), líder paroquial e amiga do Padre ajudada por seu filho Israel. Cópia do folheto inédito, elaborado em 1985. + Rua Pref. Uriel Alvim, 69 # Fone: (035) 3734-1208 + 37.775 -000 Santa Rita de Caldas – MG

Funções sacerdotais do Pe. Alderígi (1939 - 1945)

Crônica de João Sabino Neto

De 1939 a 1945, servi o Pe. Alderígi como auxiliar de sacristão e de escriturário dos livros paroquiais. Portanto, fiz assentamentos nos livros de batizados (livros n° 20 – 21), não só da sede da Paróquia, bem como de 8 capelas.

Assim sendo, pude observar, atentamente e de perto, como ele cuidava com esmero de suas funções: Em dia de sábado, ele fazia um sermão sobre Nossa Senhora, durante a reza noturna e, depois, bênção do Santíssimo Sacramento. No domingo, permanecia o dia todo por conta dos fiéis. Almoçava na igreja matriz, fazia orações com o povo da roça, após a missa, e , de quando em quando, procissões. Às vezes, ele ia atender confissão e administrar a unção dos doentes em lugares distantes, mesmo nos dias de domingo e santificados. Não só em dias santos e domingos, como também em dias de semana, ele não poupava sacrifícios para fazer tais trabalhos. Ia a cavalo, a pé ou em automóveis.

Um dia fomos, a cavalo, a uma festa em São Bento. Próximo à residência de Pernambuco, à noite, o cavalo que o transportava seguiu um trilho, atrapalhando o caminho, até saltar um barranco de um metro de profundidade. Aí, o Padre gritou “Nossa Senhora! Socorro!», demonstrando tanto susto que eu até achei engraçado e desatei a rir. O padre me falou:

João Padre (João Padre era o meu apelido, pelo qual era conhecido), que moda feia de rir dos outros!

E toda essa expressão não passava de uma tradução de sua simplicidade jocosa, entremeada de muita paciência.

 

CONTRIBUIÇÃO: + João Sabino Neto (1928), engenheiro agrônomo e professor da Escola Superior de Agricultura e Ciências, de Machado. + Entregue por escrito, em 21/04/87 + Pça. Olegário Maciel, 25 + 37.750-000 – Santa Rita de Caldas, MG

Em Brasópolis, Viáticos solenes, levados por Pe. Alderígi (1927)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves O.F.M.

Em 1927, Pe. Alderígi residiu em Brasópolis, como pró-vigário.

O Sr. Jefferson Dias, antigo morador daquela cidade, ainda se lembra bem dos cuidados daquele novo vigário para com os doentes e seu respeito impressionante pela santa Eucaristia. O viático não era levado pelo Pe. Alderígi como uma simples visita religiosa semi-secreta.

Transformava-se, realmente, numa pequena procissão, como o povo cantando e ele, sobrepeliz, estola e véu umeral. Atrás seguia-o o sacristão, guardando-o com a umbela, qual grande e solene guarda-sol, branco e dourado, mas, com suas barbatanas retas e esticadas.

Pe. Alderígi, não resta dúvida, era uma pessoa extraordinária.

 

CONTRIBUIÇÃO: Jefferson Dias (1905), oficial de Justiça. Entrevista em 05/10/87. + Rua Alferes Antônio Dias, 295 # Fone: (035) 741-1322 + 37.530 Brasópolis – MG

A dedicação ao povo, já no primeiro ano de atividade do Pe. Alderígi em Santa Rita (1927)

Livro do Tombo, pag. 65, verso:

Programa da Semana Santa de 1927

“Vigário Pe. Alderígi está à disposição do povo a qualquer hora. Quem, vendo os sofrimentos de Jesus, não se arrependerá dos seus pecados, que foram a causa de tantas dores?”

Livro do tombo, pag. 66:

Já em 16 de junho, temos a presença de dois sacerdotes para a festa do Corpo de Deus: 13/14/15/16 de junho de 1927.

No mesmo programa, Pe. Alderígi escreve: “Depois da procissão, será levantado, com toda a solenidade, o primeiro pau de andaime para a remodelação de nossa matriz.”

No mesmo programa, Pe. Alderígi organiza líderes leigos rurais, responsáveis por 17 regiões.

CONTRIBUIÇÃO: Paróquia de Santa Rita de Caldas + Praça Pe. Alderígi, 191 # Fone: (035) 3734-1214 + 37.775.000 – Santa Rita de Calda, MG

Pe. Alderígi em Camanducaia (1932 - 1933)

Crônica de João Lorena

Não há recanto de nossa terra que não o conheça. Em todos os movimentos, lá está o Pe. Alderígi a aconselhar, a instruir, a dar sua palavra de ânimo, de estímulo e de coragem.

Na sede do bispado, Pe. Alderígi é conhecido pelo seu trabalho, seu zelo, pelo seu desprendimento. Ele é ouvido, é respeitado, é querido, é seguido.

Na diocese, Camanducaia é um lugar terrível, pela política e pela braveza dos homens. Estamos em 1932. Outra revolução. Em Camanducaia, brigas políticas, tiroteios, matanças. Lá, a política ferve. Os ânimos se exasperam. Até mesmo o responsável pela paróquia entra no “bafafá”. É estado de calamidade pública. De um lado, a política do Senador Escobar; de outro, um seu adversário, não menos importante.

Como e o que fazer, é a pergunta. Um abnegado, um conciliador é necessário que para lá se dirija. Mas, quem? Qual padre seria capaz de resolver a questão? Dom Otávio não vacila. Um só homem seria capaz de colocar água fria na fervura: Pe. Alderígi.

(…) Lá fica menos de dois anos. Seu trabalho, sua fé, sua humildade, sua pessoa traz a paz à cidade. Os ânimos se acalmam. As rixas se amenizam. A cidade volta à vida rotineira e pacata das cidades do interior. Tudo isso, fruto abençoado de sua presença.

Quando lá esteve, nossa gente não deixou de visitá-lo. De caminhão, para lá se dirigem seus amigos, seus familiares. Antônio Nascimento é o motorista. Seguem juntos João Batistinha, Maria Odete, Marina, Lalá e Dalva Lorena. “Foi uma festa quando nos viu”, disse-nos Dalva. “Foi um prazer revê-lo”, disseram os participantes da viagem.

Nossa gente ainda não se acostumara com sua ausência. Sua saída traz descontentamento geral. Zé Bentinho, com vários amigos, não se conformam. É amicíssimo do Pe. Alderígi. Tomam a decisão: «Iremos a Pouso Alegre e falaremos com o Sr. Bispo.” E para lá partiram. O resultado: pouco depois, cá está de volta o Pe. Alderígi.

CONTRIBUIÇÃO: João Lorena (1927), professor, líder paroquial e amigo do Pe. Alderígi. Cópia de folheto inédito, elaborado para os festejos dos seus 50 anos de paroquiado. + Rua Major Bonifácio, 43 + 37.775-000 Santa Rita de Caldas – MG.

Pe. Alderígi, o pacificador (1932 - 1933)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves O.F.M.

“Quando o Pe. Alderígi chegou aqui, em Camanducaia (MG), a inimizade em nossas ruas era de matar ou morrer. Minha prima, Maria da Conceição, esposa do Dr. Plínio, ia para a igreja com revolver dentro da bolsa aberta.

Ele chegou para acalmar, com a força do exemplo, com a força da religião e da palavra. Era um verdadeiro santo e, quando a gente passava pela igreja, lá encontrávamos rezando e sua piedade era tanta que, quando rezava, não dava atenção a nós. Só ao seu Deus”. Assim começou a falar Da. Vera Escobar Macedo, em sua casa, quando de minha visita a Camanducaia.

Nesta cidade das montanhas, Pe. Alderígi fundou a Associação do Menino Jesus, para os pequenos, à qual Da. Vera pertenceu. Incentivou a Pia União da Filhas de Maria e o Apostolado da oração e, para os homens, a Irmandade do Santíssimo Sacramento.

Mas, sua vida não foi só dentro da Igreja, não. Sua grande caridade o levava a visitar os doentes, fossem eles de que partido fosse. E todo o dinheiro que recebia, distribuía para os doentes e para os pobres. A roupa da Igreja ele mesmo a lavava para não gastar o dinheiro que não era dele, mas, dos que viviam na miséria.

Entretanto, nem todo esse amor conseguiu extinguir o vulcão de ódio, gerado pela politicagem de ambos os lados.

À meia-noite do dia 20/01/32, houve o atentado contra o avô de Da. Vera, o Sr. Cecílio Santos. Os Dantas esperavam-no – ele tinha estado na festa de São Sebastião – e o tiroteio se prolongou até às três horas da madrugada do dia 21, sem parar um minuto. Pe. Alderígi clamou, implorou, exigiu calma pois tinha que atender, o homem caído. De gatinhas, debaixo das balas trançadas, ele conseguiu penetrar pela praça adentro e deserta, enfurecida pelo sibilar das balas das carabinas e revólveres, para atender a esta vítima da politicagem.

“Pobre Pe. Alderígi! Como sofreu em nossa cidade! Não ficou mais o mesmo. Antes tão vivo e alegre, agora retraído, quieto e de pouca prosa, um tanto nervoso e meio perturbado”- exclamou a neta do falecido, baixando e sacudindo a cabeça com tristeza.

Quando rebentou a revolução de 1932, ele ainda era novato em Camanducaia. Os Escobar, fiéis ao Getúlio. Os Dantas, aos ideais de São Paulo. Os paulistas, uma patrulha de reconhecimento, em número de três mil, entraram na cidade. Um deles, a mando de não sei quem, parou embaixo da janela do avô de minha entrevistada e, entre os dentes, segredou: “Mande a família Escobar sair da cidade que há ordem de levar a cabeça do chefe na bandeja”. Pe. Alderígi também intuiu coisas debaixo dos panos e, na porta da igreja, prolongava mais e mais o seu discurso, a fim de dar tempo de a família fugir. Mais. Durante o discurso, misturando medo e angústia, ele dardejava olhares para o lado das janelas da família Escobar e, discretamente, fazia gestos com a mão que fugissem rápidos.

Na Canguava ficaram os paulistas entrincheirados e os mineiros no Cambuí, até que pouco a pouco a revolução serenou. O ódio nesta região, porém, era tanto que o bom padre não conseguiu nada. Nada? Impossível. As coisas foram mudando.

Pe. Alderígi não ficou em Camanducaia nem dois anos. Tão pouco tempo, mas, marcou a todos. Nunca mais se esqueceram dele.

 

CONTRIBUIÇÃO:
Vera Escobar Macedo (1921), professora, bancária, neta de Cecílio dos Santos, morto nas lutas políticas.
Entrevista em 07/10/87
Rua Teotônio de Campos, 554 # (035) 433-2436
37.650 – Camanducaia – MG.

Longa caminhada de cinco léguas para uma confissão

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves O.F.M.

Meu tio Chico encontrou-se com o Pe. Alderígi, a cavalo. Ia para a Barca. Então, ele avisou ao padre: “Onde vai indo, tem 5 léguas. Quando chegar, o dia estará clareando. Não vá!» Aí, ele lhe respondeu: “O padre deve ir, mesmo que ele morra”.

No dia seguinte, domingo, estava o padre com todo o serviço paroquial. Nem podia falar direito de tão cansado.

CONTRIBUIÇÃO: + Francisco Felipe (91 anos), agricultor. + Entrevista em 27/12/86 + Rua Joaquim Antônio, 156 – Barão Geraldo + Fone: (019) 239-2177 + 13.100 Campinas – SP.

Pe. Alderígi extermina onda de crimes em Ibitiúra (20/11/1930)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves O.F.M.

Quase não havia festa ou festinha em São Benedito (hoje Ibitiúra de Minas), que não terminasse com uma morte. Às vezes até mais. O povo vivia triste, chorando seus mortos e outros planejando vinganças e outros temendo represálias. A paz, substituída pela intranqüilidade. O amor, pelo ódio.

Pe. Alderígi, vigário de Santa Rita de Caldas, era pastor também dessa vila que crescia em tamanho e também em irresponsabilidade diante da vida. Não só as orações do bom padre subiam aos céus. Também as das almas piedosas de tanto fiéis que lamentavam e choravam tamanha degradação espiritual. As pregações do santo vigário, claras e firmes. Entretanto, os que careciam ouvi-las não costumavam se assentar entre os fiéis. O que fazer?

Um dia, uma idéia brilhou na cabeça do santo homem de Deus: uma procissão penitencial, a pé, levando a imagem de nossa Senhora da Paz pelos 15 quilômetros de Santa Rita de Caldas a Ibitiúra.

Dadinha, minha cunhada, no dia 20 de novembro de 1930, saiu das Três Pedras e foi até Santa Rita de Caldas, para participar da procissão inteira. Saíram da cidade, carregando o belíssimo andor de Nossa Mãe do Céu. Subidas e crescidas e a marcha piedosa sempre em frente, espalhando cânticos e terços pelas beiradas de pastos e capões de matos. Dificultosamente a muralha da serra foi vencida. Os santarritenses, todos cansados, testa pingando suor, pés imundos pelo pó dos caminhos, se encontraram com os de São Benedito. A imagem da Virgem passou dum povo para o outro e a procissão prosseguiu serra abaixo, entoando os mesmos cânticos – Louvando a Maria… Com minha mãe “starei … Graças vos damos, Senhora… etc.

Na estrada da vila, mais gente para engrossar a massa fiel e penitente. O sininho da torre grita gritos de bronze, sinal de esperança e fé. Os foguetes gritam mais alto explosões de festa, afirmando que o amor é o mais forte.

Por fim, o sermão penetrante do Pe. Alderígi sobre o perdão, sobre a harmonia, sobre a paz, construídos sobre os alicerces da fé e da religião.

E a paz foi espalhada. Desde aquele dia, o povo pôde respirar tranqüilamente, por muitos e muitos anos.

 

CONTRIBUIÇÃO: + Dadinha (Ana da Natividade Regina Brianese – 1916), doméstica. Entrevista em 28/09/87. + Rua Machado de Assis, 485/ Z6 # Fone: (044) 224-4935 + 87.100 Maringá – PR.

Dificuldades do Pe. Alderígi em suas viagens ± 1934

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves O.F.M.

Pela uma hora da tarde, chegou um senhor puxando um cavalo para levar o Pe. Alderígi a atender a uma confissão, lá nos Campos, isto é, lá para os lados da Serra da Gineta.

Saíram a cavalo e foram tão longe, tão longe, que foi o resto do dia e a noite toda no lombo do animal. Pelas seis da manhã que passou por Santa Rita de Caldas, sem entrar na cidade, pois foi seguindo seu caminho até Ibitiúra, onde ele teria de celebrar sua missa dominical das 10hs e 30 min.

E toda a viagem, da meia-noite em diante, foi em jejum, por causa da lei canônica da época. Quando saía para suas viagens a cavalo, sempre levava a capa “Ideal” e seu chapéu preto, de aba larga. E quantas vezes ele chegou na cidade, de volta, tendo fios de gelo pendurados nessas abas, tamanho era o frio, uma vez que nossa região está a mais de mil metros acima do nível do mar.

 

CONTRIBUIÇÃO: + Sebastião Martins (73 anos), professor e cunhado do Pe. Alderígi. + Entrevista em 09/12/86 + Av. Reinaldo Amarante, 470 # Fone: (035) 721-6196 + – Poços de Caldas, MG

A missão do Pe. Alderígi nem sempre era fácil (1940)

Crônica de José Benedito Peçanha

Como era homem bom e caridoso, mais de uma vez fui buscar o Pe. Alderígi para atender confissões, depois da meia-noite. Às vezes, ele veio debaixo de chuva e os cavalos com água até o sovaco. Algumas vezes, os cavalos tropicavam e uma vez o padre chegou a cair dentro do córrego. Como era homem bom e paciente, cumpridor do dever! Quase sempre seguia o caminho, rezando.

Mas, seus sofrimentos não eram só nas estradas péssimas: era também dentro de casa, morando com um pai de gênio muito brabo. Por isso, numa dessas ocasiões, em 1940 mais ou menos, desejando evitar maiores xingatórios, o humilde sacerdote me segredou: “Filho, deixe os cavalos atrás da igreja, escondidos, para meu pai não perceber que estou saindo para atender o doente em confissão.”

CONTRIBUIÇÃO: José Benedito Peçanha (1927), lavrador. + Entrevista em 24/04/87 + Bairro do Paca – Distrito de São Bento + 37.775-000 + Santa Rita de Caldas, MG

Hábitos e costumes do Pe. Alderígi

Comunicado de João Sabino Neto

1) Todas as manhãs, na velha casa paroquial, ninguém conseguia dormir por causa do barulhento italiano, Sr. Vicente Torriani, o velho pai do bom vigário. Pe. Alderígi também se levantava cedo. Às seis horas, já estava na igreja matriz (hoje santuário), onde começava suas atividades sagradas.

2) O almoço era servido às dez horas e o jantar, às quatro. Às dezoito horas: reza, bênção do Santíssimo Sacramento, às vezes acompanhada de sermão. No caminho para casa paroquial, ele muitas vezes chegava à casa de sua irmã e de seu amigo Sr. João Batista Filho.

3) Chegando em casa, lia a Bíblia, a Suma Teológica de São Tomaz de Aquino (em latim) e livros de formação religiosa. Em seguida, rezava as orações do breviário e rezava também terços e mais terços, marcando o número deles com lápis, caneta ou com ponta de palito de fósforo queimado, num papel à parte. Esses trabalhos tomavam grande parte de seu tempo. O cansaço e o sono eram tantos, que ele falava assim: “João Padre, vou dormir cinco minutos. Favor me acordar!” Conclui como dormia pouco aquele servo de Deus.

4) A sua alimentação costumeira era macarronada, feita em casa pela empregada Cecília do João Pesado. Gostava de comida gordurosa.

5) Como os italianos, bebia bom vinho, com muita moderação e não gostava daqueles que bebiam fora da medida.

6) Fumava cigarro de palha. Largou-o, porém, por conselho médico.

7) Todos os dias 22 de cada mês era festa na paróquia e com muita ocorrência de devotos de Santa Rita, principalmente para receber sua bênção especial. Ele recebia a todos com santa alegria.

8) Todos os dias 22 de maio eram grandes manifestações religiosas do povo, com celebrações de missa e bênção especial para os visitantes etc.

9) O povo do lugar tinha também a sua reserva especial nas funções do dia.

10) Pe. Alderígi Maria Torriani era um grande extensionista rural (extensionista é a pessoa que leva os resultados das pesquisas agrícolas ou pecuárias ao homem do campo – como adoção de práticas novas).

11) Foi também o maior ecologista de Santa Rita de Caldas. Conseguiu com o povo da roça a adaptação da árvore bracatinga, de crescimento rápido, que serve para lenha. É a solução para o povo, devido à falta de combustível. Daí, notamos que ele não só gostava de promoção espiritual dos fiéis, mas também da promoção humana.

12) Pe. Alderígi Maria Torriani tinha muitos afilhados e todo o mundo gostava do compadre “padre”.

13) Na sua homilia dominical, procurava às vezes acertar o seu relógio com algum compadre, uma vez que naqueles tempos poucas pessoas possuíam este instrumento.

Um dia, o seu relógio parou e não quis trabalhar mais. Ele, em se lembrando que os não católicos, comumente, não gostavam de nossos fiéis, o apelidou de “protestante” e sorriu em seguida.

 

CONTRIBUIÇÃO: + João Sabino Neto (João Padre, 1928), engenheiro agrônomo e professor da Escola Superior de Agricultura e Ciências de Machado * Pça. Olegário Maciel, 25 * 37750.000 Machado – MG.

Pe. Alderígi, homem de mortificação e de evangelização voltado para a eucaristia (1942)

Irmã Catarina Gabriel Felippe

Muita fé, vida de oração, mortificação, humildade, assim era o Pe. Alderígi. Ele rezava com fé que Santa Rita de Caldas ia ter um padre, apesar de praga: Edmea Maria Silva Maia nos contou que sua mãe, Da. Chiquinha, lhe falou que um irmão dela era sacristão e acompanhou, antes de 1927, o Pe. Antônio, em sua saída da cidade, por ter levado uma grande surra. Então, o padre, no alto da estrada que o levava para longe de nossa terra, olhando para trás, raspou a sola do sapato e disse que Santa Rita de Caldas não iria para frente nem daí sairia um sacerdote. Mamãe também contou-me esse fato. (Pe. Camilo Carvalho escreveu que o Pe. Alderígi procurou o Pe. Antônio, mais tarde, implorando que retirasse a praga – Nota de Frei Felipinho). E como o Pe. Alderígi rezava pelas vocações e pelos doentes!

Por mortificação, ele não dormia na cama. Chegando a manhã, sua cama, muitas vezes, ainda estava intata. E na quaresma, quantas mortificacões eu não fazia, pois ele animava o povo todo a fazer penitência!

Certa feita, fui à casa paroquial e ele me mostrou a carta que estava escrevendo e leu para nós. Não me lembro o assunto. Só me lembro que fiquei espantada quando ele leu o final “o servo inútil, Pe. Alderígi”. Eu retruquei que ele não era inútil e ele reforçou com uma sentença: «E quando tiverdes tudo feito, considerai-vos servos inúteis”.

Foi no IV Congresso Eucarístico Nacional, realizado em São Paulo, em 1942, que eu vi como ele tinha um grande amor à Eucaristia e nós, pelo rádio, seguimos os mesmos cantos e orações da Adoração, feita na distante São Paulo.

Uma vez, não sei quando nem nome, ele nos contou na Igreja que fora dar a comunhão, lá no alto campo de futebol, perto do atual asilo Mons. Alderígi. O doente lhe pediu para benzer os seus olhos. Aí, Pe. Alderígi lhe disse implorasse ao próprio Jesus, ali presente pela comunhão. E não é que este homem sarou da vista? Então, o Pe. Alderígi pediu para que ele agradecesse a Deus e não a ele.

Em Pouso Alegre, na festa do Seminário Arquidiocesano, o Sr. Bispo, Dom Vaz, vindo do Rio, disse que passou os melhores anos de sua vida na Arquidiocese de Pouso Alegre. E que o clero é assim unido e fraterno, graças a alguns sacerdotes de especial virtude, entre eles, o Mons. Alderígi.

CONTRIBUIÇÃO: Irmã Catarina Gabriel Felippe (1930), professora. Por carta em 198778.643 – Querência – MT # Fone: (065) 529-1120

Pe. Alderígi, o santo das crianças, dos pobres e do povo (1933 ± 1943)

Crônica de Irmã Catarina Gabriel Felipe

Desde pequena, mais ou menos três anos, para mim o Pe. Alderígi era um santo, piedoso e acolhedor. Foi lá no Jaguarizinho que o vi comendo. Até me espantei, pois pensava que ele não comia nem dormia.

O que nós, crianças, gostávamos de ver e comentar era uma cruz de cabelos pretos, perto de nuca, em meio dos cabelos grisalhos. Aquilo para nós, era sinal de predestinação à santidade. Quando a gente comentava com ele sobre a tal cruz, não gostava. Mudava de assunto.

Ele falava muito simples, de modo que todos o entendiam, especialmente as crianças e os simples. Quando ia a Pouso Alegre, trazia para nós, crianças do catecismo, novidades como joguinhos e brincadeiras, que eram material didático para melhor ensinar o catecismo. E, para nós, os da Cruzada Eucarística, ele mostrava os santinhos que tinha trazido e que com o tempo iria repartir.

Muito humano, demonstrava carinho especial para os pobres e os doentes. Quando aparecia alguém, montando a cavalo e puxando outro, eu já sabia que era para o Pe. Alderígi ir atender algum doente, na roça. E eu ficava olhando, da janela da minha casa, para ver o bom padre sair e admirava, pois, achava-o velhinho demais para ir a cavalo.

Ele era severo quanto à moral dos costumes: a minha irmã, Judith, tinha um vestido novo, de seda, cor de vinho, bordado com amarelo. O corte tinha o modelo de uma capinha quadrada sobre as mangas, encobrindo-as. Ele pensando que o vestido fosse sem mangas, proibiu-a de usá-lo.

Uma vez, mais ou menos 1943, ele nos chamou, as maiorzinhas da cruzada eucarística, e falou sobre nossos vestidos curtos e dos males da imodéstia. Ele nos chamou a atenção com muito carinho e nós ficamos envergonhadas. Logo descemos as barras ou colocamos emendas nas saias. Ele era pai e pastor. Orientava a todos. Era o conselheiro. Conselheiro e estimulador: Era numa festa. Havia muita gente para se confessar e ele separou um menino, dizendo que depois iria prepará-lo para se confessar. Assim, Maria Regina e eu nos ofereceremos para preparar este menino e mais outros cinco. Ele ficou tão reconhecido que anunciou os nossos nomes na missa. Aí, eu vi e senti que, para ele, cada pessoa era uma pessoa.

Um dia, nós crianças, estávamos numa procissão com Nossa Senhora e, de longe, vimos um pasto se queimando; Então, ele usou esta imagem do fogo para chamar a nossa atenção que, no inferno, o fogo é daquele jeito, só que não tem fim.

 

CONTRIBUIÇÃO: Irmã Catarina Gabriel Felippe (1930), professora. Por carta em 1930 * 78.643 – Querência – MT # Fone: (065) 529-1120

Pe. Alderígi, homem de paz (1945)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

A vida do Pe. Alderígi, no dizer de Walter César de Carvalho, consistia em ver os outros felizes.

Quando menino, Walter foi coroinha e se lembra, hoje, como o alegre padre se divertia, vendo os meninos procurarem e acharem moedinhas, escondidas pelo bom ancião, de alma pura como dum bom garoto.

Os tempos foram passando e explodiu a terrível e cruel II Guerra Mundial. E o terno pastor, da pobre paróquia das montanhas do Sul de Minas, se entristecia, sabendo de tantos milhões, uns destruindo, outros destruídos. Então, diariamente, ele punha o povo a rezar, pedindo pela paz, pedindo clemência.

Um dia, o rádio, exultantemente, anunciou o fim dos tormentos. O Wagner estava namorando, quando viu aparecer o velho semeador da concórdia, quase aos gritos:

Corra! Suba à torra e faça os sinos anunciarem o fim da guerra. Corra! Repique-os à vontade!

Era o dia 08 de maio de 1945.

Como esse cordeirinho de Deus, muitas vezes de alma de fogo e sangue de leão, lutava para criar a paz dentro de si e também entre seu rebanho e no meio dos povos! Quantas vezes não se obrigou a pedir, humildemente, perdão a quem levantara a voz! Quantas vezes não teve de tirar o Wagner do meio de outras guerras, as guerra políticas, politicagens encrenqueiras, próprias da cidades pequenininhas!

 

CONTRIBUIÇÃO: Wagner César de Carvalho (1928), gerente do Itaoca. * Entrevista em 29/03/90 * Ria Cap. Afonso Junqueira, 55 apto. 42 * Poços de Caldas – MG

Para Pe. Alderígi as crianças mortas são santos protetores (1968)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

“Pe. Alderígi tinha muito amor às crianças. Queria que todas crescessem no caminho de Deus e, por isso, se interessava ao máximo pela catequese. Chegava a pagar do próprio bolso para que alguma professora pudesse participar de algum curso catequético em Pouso Alegre.

Quando meu filho, Tomás Augusto, passou um ano no hospital, dos 8 aos 9 anos, lutando contra a leucemia, Pe. Alderígi se interessou pela sua primeira comunhão. “Quando Tomás Augusto vier visitar a família – disse – providencie para que ele faça a primeira eucaristia!” Com estas palavras, minha prima Dirce Carvalho Iglesias Puete (1933) abriu caminho para uma linda história entre o padre santo e seu filhinho.

Em dezembro, o menino veio passar 20 dias com a família, em casa. Logo que chegou, a Stella Lorena veio prepará-lo para seu grande encontro com Jesus Sacramentado.

Quando o garoto foi chamado para se confessar, bondosamente os dois – o bom pastor e sua ovelhinha enferma – ficaram conversando por um bom bocado de tempo. No final, o homem de Deus perguntou: “Quem o preparou para a primeira comunhão?” Minha prima respondeu que tinha sido a Stella. Mas, ele retrucou: “Não. Não foi. Foi Deus.”

No dia da primeira comunhão, esse bom padre, tão amigo dos que sofriam, captando cada gota de dor, chorou junto com os familiares.

Um dia, Tomás partiu. Era o segundo filho que a Dirce perdia. O padre foi vê-la. Na conversa, vendo sua grande dor, ele lhe perguntou: “Qual o santo de sua devoção?” Respondeu que não tinha nenhum. Então, ele, abrindo-lhe um olhar de fé mais profunda, lhe disse: “Tem sim. São seus dois filhos.”

CONTRIBUIÇÃO: Dirce Carvalho Iglesias Puente (1933), autônoma. * Entrevista em 18/04/87 * Rua XV de novembro, 77 apto. 32 # Fone: (035) 721-9461 * 37.700 Poços de Caldas – MG

Pe. Alderígi, simples homem do povo (1945)

Crônica de Irmã Ofélia de Carvalho

O Pe. Alderígi, homem super dedicado às coisas de Deus. Ele era do Povo, ao serviço do Povo, inteiramente Pastor, que amava de fato suas ovelhas. Ele se sacrificava em benefício de todos, para levar a todos o Evangelho. Ele era zeloso da salvação de todos; seu tempo, sua pessoa, sua saúde, seus bens, tudo foi doado, com alegria e extrema generosidade para o povo; Ele não fazia acepção de pessoas, não excluía ninguém. Sua opção era para o Evangelho, para levar a todos o Reino de Jesus Cristo, seu amor, sua Doutrina, sua Paz. O Padre era verdadeiramente Ministro do Senhor, um Servo de Deus, humilde, simples, sem estruturas, sem preconceitos, sem arrogância, sem vaidade alguma. Era um Missionário Popular e pregava de maneira prática com palavras acessíveis, “sem enfeitar” e sempre preocupado com o bem das pessoas e não com a pessoa dele, com suas coisas, com sua fama. Neste sentido provam as renúncias que ele fazia de seu bem-estar pessoal.
Ele não recusava chamados para atender doente, viajava a cavalo no meio do mato, enfrentava chuva, sol, estradas difíceis perigos… Eu me lembro quando ele ia em São Bento de Caldas e ficava hospedado em minha casa. Nós éramos pobres; não havia em casa instalações sanitárias; minha mãe reservava ao padre um quarto bonitinho, cama com colchão de palha, tudo limpo e adequado, mas, muito simples, sem luxo nenhum. Ela colocava uma bacia e jarra com água que era para o Padre lavar o rosto; eu achava aquilo muito bonito e admirava que o Padre se adaptasse a tudo.

O Pe. Alderígi enfrentava com jubilosa graça as peripécias. Ah! Se ele tivesse escrito, narrado suas visitas missionárias!…

Recordo-me que em São José do Prata, quando eu era ainda bem pequena, era uma festa para nós a chegada do padre e tudo que fazíamos nos dias em que ele estava: Missa, procissões, bênçãos do Santíssimo Sacramento, batizados, casamentos, tudo! Era uma vida! O padre puxava os cânticos e sua voz era bem distinta do meio de tantas…

Suas predileções para com as crianças eram notórias; me lembro da alegria que foi para mim tirar uma fotografia com ele e toda a criançada da escola. O padre consolava os tristes e não despedia ninguém sem ter dado atenção e incentivo.

Eu tenho gravado na memória a figura do Pe. Alderígi montado a cavalo. Ele, de batina preta, de chapéu na cabeça, trotando naquelas estradas poeirentas. Era um cavaleiro de Deus.

 

CONTRIBUIÇÃO: Irmã Ofélia de Carvalho (1935), professora. * Elaboração por escrito em 18/09/87 * Caixa Postal 291 # Fone: (014) 622-4044 * 17.200 Jaú – SP

O Culto divino do Pe. Alderígi (1948)

Crônica de Paulo Pires da Costa

Quando havia adoração do Santíssimo Sacramento em Ipuiúna, o Pe. Alderígi chegava em mim, seu coroinha, e falava baixinho:

– Vá buscar brasa viva e não faça como os outros coroinhas em trazer borralho! Vá depressa!

O belo e quase sempre escurecido turíbulo tinha que ser meu porque ele gostava que fosse. Na sacristia, eu fazia coisas com aquele turíbulo: As correntes eram fortes e eu girava de uma maneira tal a ponto de sair labaredas. Ao apresentá-la daquele jeito, vivo tal qual meu coração de criança, o Padre olhava firme em mim e confirmava:

É assim mesmo que tem que ser.

Aí, ele punha o incenso até apagar tudo e subia aquele canudo encaracolado de fumaça até ao forro da igreja e, depois, eu ficava ali perto, abanando e enchia toda a igreja com aquela brancura perfumada e ele gostava muito disso.

Tanto nas partes rituais como nos cânticos, a voz daquele homem gigante e forte enchia toda a igreja como também se extravasava fora da igreja, embora não houvesse naquele tempo o auxílio do alto-falante.

O que eu quero dizer é que ele vibrava com tudo que revelava a presença de Deus, tanto na fumaça como na escuridão, por falta de energia elétrica, mas, com aquele entusiasmo puro e gostoso, ele fazia clarear todo o ambiente.

Era um padre santo e nem por isso deixou de ser bravo, com seu temperamento forte e sangüíneo. Falo assim porque observei muito as suas reações humanas.

Quando o acompanhava às capelas da roça, durante sua grande caminhada, de vez em quando ele me mandava soltar uns foguetes de vara que eram morteiros de uma bomba forte. Aquilo subia furioso nas alturas, convocando suas ovelhas para o redil, pois todos viviam em grupos, mas, longe uns dos outros. O foguete funcionava como o sino que ele mais gostava.

Solenizadas nos rodopios e pios da passarada ou no balanceio dos galhos das árvores solenes e em festa, suas missas campais nas roças pareciam com o sermão na montanha. Sua voz fazia eco e todos ouviam. De certo que ele tinha dificuldade na dicção. Mas isso fazia com que todos ficassem em silêncio, com toda a atenção em suas palavras – menos os passarinhos, seus amigos.

Se era dia de festa, na hora de comer, um quartinho de leitoa amarelinho, bem assado, acompanhado de tutu de feijão, arroz e couve, ia bem com um copo de vinho tinto. E eu não ficava atrás. Ele nos encorajava:

– Comam bem, porque meia hora a cavalo, some tudo!

 

CONTRIBUIÇÃO: + Paulo Pires da Costa (1938), protético. Por escrito em 27/06/87 * Rua José Junqueira Franco, 65 # Fone: (035) 732-1128 * 37.559-000 Ipuiúna – MG.

Cuidados com os doentes mesmo aos mais distantes (1948)

Crônica de Paulo Pires da Costa

Pe. Alderígi vinha aqui em Ipuiúna uma vez por mês e atendia também algumas capelas, construídas por ele, das quais algumas distantes 60 km ou até mesmo 100 km, como o eram duas delas. Ia a cavalo através de estradas mas, por onde seguiam boiadas e cavaleiros. Por estes caminhos ele andava, levado por cavalo ou por burro, com chuva ou sem ela. Essas capelas foram construídas com mil sacrifícios, com os poucos recursos de simples e alegres festinhas populares.

Todas as vezes que Pe. Alderígi era chamado para atender a uma confissão de doente, eu verificava brotar, de sua testa grande, inúmeras gotas de suor. No meu modo de pensar, aquilo era a grande preocupação que ele carregava pelos seus paroquianos. Vai ver que ele tinha medo de não chegar a tempo junto do leito do enfermo, levando o médico dos médicos.

Sempre que chegava um chamado para algum atendimento espiritual, ele não se esquecia de já ir preparado e prevenido para dar a unção dos doentes. O Santo Óleo era guardado dentro dum recipiente metálico, ou mesmo de prata, ensopado em algodão, que ele apertava com o dedo para ungir o enfermo.

CONTRIBUIÇÃO: + Paulo Pires da Costa (1938), protético. Por escrito em 05/06/87. * Rua José Junqueira franco, 65 # Fone: (035) 732-1128 * 37.559-000 Ipuiúna – MG.

Pe. Alderígi e sua disponibilidade em atender aos doentes

Trecho da Carta do Pe. Geraldo Camilo de Carvalho

Fato notável da vida do Pe. Alderígi foi sua total disponibilidade e presteza em ATENDER AOS DOENTES. Andou por toda aquela morraria de Santa Rita de Caldas, atrás de enfermos e, onde não chegava o jeep, ia sempre a cavalo. Conta-se que, certa vez ele ia atender alguém, – na hora em que foi montar a cavalo, o pobre animal não agüentou o peso e sentou-se esborrachado como um saco de feijão, seja porque o padre estava muito gordo – o que foi sempre normal em sua pessoa – ou então trouxeram-lhe cavalo um pouco fraco ou magro.

Certamente ficou atrapalhado não tanto com o cavalo, mas, sim, com a preocupação para com o doente, pois não podia se atrasar nestes casos.

Outra ocasião, um de seus velhos motoristas, o Zé Borda, sempre rodando com ele, foi chamado para levá-lo a um doente, do outro lado da Serra dos Lima. Lugar horroroso, aonde os motoristas não gostavam de ir. Nem com tempo seco.

Estava chovendo muito por aquelas bandas e a prudência do Zé Borda – não queria se arriscar nem mesmo de jeep, apesar da santidade do padre que tinha o hábito de rezar vários terços enquanto viajava. Venho a recusa do motorista, aflito por encontrar o doente ainda com vida, o Padre teve que apelar, garantindo-lhe não iria acontecer nada, não ficariam atolados e regressariam sãos e salvos.

Acabou convencendo-o

Foram, então, ver o doente e, segundo relato do motorista, estava chovendo em toda a extensão da serra, menos no caminho, menos na estrada. Puderam atender ao doente e voltar com toda a tranqüilidade. Este fato não tem nada a ver com milagre, mas revela sua absoluta confiança na proteção de Deus e sua grande coragem em atender aos necessitado, pronto a enfrentar qualquer perigo.

 

CONTRIBUIÇÃO: Pe. Geraldo Camilo de Carvalho (1930), redentorista santarritense e ex-missionário na África. Por escrito em 15/05/87. * Avenida Osório, 172 # Fone: (016) 236-6638 * Caixa Postal 84 * 14.801-308 Araraquara – SP

Ferimento na vista de Pe. Alderígi (1957)

Crônica do Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M

A batina era toda barro. A batina preta mostrava muitas manchas marrons. Era sangue. Quando Pe. Alderígi saiu do jeep, em frente à casa do Batistinha, na Pça. Pe. Alderígi, a praça encheu-se de gente. Todos alvoroçados. Todos espantados. Ninguém ainda sabia o que tinha acontecido. Da. Dalva, também, moradora da casa do Batistinha, correu, serpenteou-se entre o povo, empurrou o que pode e chegou perto, branca de susto: No rosto do bom pastor, do querido amigo de todas as horas, do bom e santo Pe. Alderígi, todo coberto de sangue, se notava corte profundo sobre a pálpebra. Parecia cego. Perecia ter perdido o olho. Seria possível, meu Deus?

Isto foi em 24 de agosto de 1957. Estava ele indo para celebrar na capela do Pantano, por uma estrada horrorosa, em tempo de chuvas e barro e buraco. De repente, o jeep perdeu a direção e cabeceou contra um barranco e o pára-brisas se espatifou e os cacos de vidro atingiram-lhe o rosto e a vista.

Dr. Joaquim que também viera correndo, após vencer a muralha de curiosos, parou, olhou-o apenas, mas nada pôde fazer. Sem tocar no ferimento, mandou que seguissem para Poços de Caldas. Mas recomendou o máximo cuidado para que não soltasse a retina. Poços também não quis mexer, pois via seriedade do caso e enviaram-no a Campinas, para o Instituto Burnier.

A cidade privou-se por um mês de seu querido pastor. Todas as noitinhas, o povo acorria à igreja para as orações, dirigidas pela Lourdinha Silva que assim clamava: «Senhor, o Pe. Alderígi está em suas mãos. Mas, queremos que ele volte são.»

Um dia apareceram os amigos em Campinas. Zélia, Pe. Gervásio, João Batistinha e a Dalva. Levaram os medos e saudades e as lembranças de meio mundo de gente amiga. Ele, o padre de seus corações, estava com os olhos vendados. Todos agora estavam alegres. Ele ria muito e brincava:

Dalva, no céu também entra gente cega?

E ela, com seu defeito físico da coluna, também gracejou:

Entra sim. Até gente aleijada como eu, não é?

Chegou o médico para tirar as vendas. E o Batistinha começou a chorar pois foi a primeira pessoa vista pelo bom padre:

Estou enxergando o compadre João!

Seu olho está salvo.

 

CONTRIBUIÇÃO: Dalva Lorena (1911), funcionária dos Correios e Telégrafos. * Entrevista em 04/10/87 * Rua João Batista Filho, 16 # Fone: (035) 734-1116 * 37.775-000 – Santa Rita de Caldas, MG

Amor do Pe. Alderígi ao SSMO. Sacramento (1955)

Crônica do Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M

Em 1955, o Sr. Bispo concedeu a permissão de o Ssmo. Sacramento permanecer definitivamente na igreja matriz de Ipuiúna – MG.

Então, o Pe. Alderígi convocou as zeladoras do Apostolado da Oração, as Filhas de Maria e os Congregados Marianos. Nesta ocasião, pediu-lhes não deixar o Ssmo. Sacramento sozinho na igreja, chegando até mesmo a elaborar um horário de visitas para todos. Com aquela fé e amor voltados a Jesus sacramentado e demonstrados pelo exemplo constante de sua vida, aconselhou encarecidamente aos fiéis:

– Passando perto da igreja, vindo e voltando para a casa, passem pela igreja! Conversem com Nosso Senhor sobre suas angústias! Ele é o nosso melhor amigo. É o pai em quem podem confiar. Vocês vão ver como ele é bom. Venham sempre aqui no sacrário para resolver seus problemas e rezem sempre por mim!

 

CONTRIBUIÇÃO: Terezinha Franco Pires (1931), doméstica. * Por escrito, em 11/05/87. * Rua José Junqueira Franco, 4 * 37.559.000 Ipuiúna – MG

Luíz Roberto da Silveira (1958)

Assunto: Entrevista com o Luis Roberto Silveira

Luís Roberto da Silveira (Chefinho) era o coroinha mais próximo da igreja, residindo na praça central de Santa Rita de Caldas, entre o bar e a fábrica de doces, pertencentes ao seu pai, ao lado do Santuário de Santa Rita. Adolescente, entrou no seminário do padres pavonianos e, hoje, é vendedor autônomo, em Campinas.

Numa tarde de domingo, depois de um bom almoço, ele abriu seu coração e foi falando sobre o Padre Alderígi:

Uma vez, havia uma procissão do Santíssimo Sacramento. Eu, coroinha, vestido de minha batina preta e sobrepeliz branca, ia soando minha campainha e dando uma boas risadas com outro colega. O Padre Alderígi avisou uma, avisou duas vezes: «Chefinho, fique quieto!» Na terceira vez, já entrando na nave principal do santuário, de repente senti aquele ponta-pé, que me levou ao chão, com campainha e tudo. Pe. Alderígi, mesmo sendo tão bom, tão santo, tão piedoso, muitas vezes era tomado de explosão de ira. Mas, depois se arrependia e pedia perdão.

Muitas vezes, também, pegava no pé da mulherada e ralhava. Tinha pavor de velhinha fofoqueira.

Mas, o seu forte era o ouvido. Nunca encontrei alguém com ouvido melhor. Um dia, ele celebrava uma missa no altar de Nossa Senhora Aparecida. Para descansar, sentei-me na escadinha, atrás do altar e fiquei cochichando com alguém. O Padre enviou o sacristão, duas vezes, para dar bronca na gente, pedindo silêncio. Na terceira vez, foi ele mesmo e gritou com sua forte voz, parecida com um trovão : «Tem que respeitar Nossa Senhora!» Na mesma hora, calamos a boca e sumimos de mansinho.

Muitas vezes ele brigava comigo e eu acabava abandonando o meu ofício de coroinha. Dias depois batia a saudade nele e, carinhoso, vinha me procurar: «Chefinho, você precisa voltar!» Isto aconteceu mais de 10 vezes. Como era humilde! Eu brigava com ele e ele ia em casa me chamar. Gostava muito de mim e achava que eu era inteligente, o que, até hoje, é muito importante na minha auto-estima.

Pe. Alderígi era um diplomata. Tratava a gente bem demais. Muita vezes, convidava-me para ir com ele para as roças, isto é, para as capelas rurais, marcando a hora de saída para as sete da manhã. Na hora certa, a gente estava lá e ele me recebia com carinho: «Chefinho, como você é bom! Você levantou cedo».

 

Era padre alegre, super alegre. Nas viagens ele era agradável, contando «causos», cheio de animação, vivacidade e alegria. Sendo descontraído, não ia conversando só sobre coisas de igreja. Contava fatos da vida real. Que o diga o Sr. Zé Borda, motorista do jeep.

Nessas capelas, costumávamos nos hospedar nas fazendas. Fazia questão de que a comida fosse servida primeiro para a gente. Só depois para ele.

Gostava de comer bem. Seu guardanapo grande parecia mais com uma toalha, presa ao pescoço como se fosse babador. Comia com prazer, lambuzando-se todo com osso de porco ou de galinha. Gostava demais, também, de bolo. Da. Zélia fazia um bolo muito gostoso e ele se deliciava.

Pe. Alderígi gostava muito de bezerro, acariciando-os e fazendo-lhes agrados. Mas, se interessava mais era pelas pessoas. Se interessava muito se os fazendeiros estavam bem. Perguntava como tratavam os empregados. Antes das missas, na zona rural, conversava com os fazendeiros, por meia hora, e queria saber como estavam tratando os seus empregados, se os meeiros estavam plantando e recebendo o que era justo. Procurava dar assistência social a todos os necessitados, através dos donos das terras.

Santa Rita nunca teve Carnaval enquanto foi vivo. Nem pobre. Conversando com os fazendeiros, já ia pedindo uma cabeça de gado para leilão, a fim de socorrer seus pobres, com assistência médica e em suas compras nos armazéns. Tirava dos ricos para dar aos pobres. Ele vibrava demais, não querendo ver ninguém doente. Quando encontrava um, ele se emocionava.

Obsessão dele em cuidar de pobre. Achava até exagerado, porque havia gente que abusava. Era muito puro. Fazendeiro pilantrão ganhava fama por ter sido bom com o Pe. Alderígi. A batina dele tinha mais remendo que pano velho. João Lorena fez uma lista para angariar donativos a fim de comprar uma batina nova. Ajuntou o dinheiro e foi levá-lo à casa paroquial, exatamente, na hora em que eu, garoto, lá me encontrava. Emocionado, Pe. Alderígi muito agradeceu. Só que, assim que o jovem professor deixou a casa paroquial, entrou um pai de família, com mulher e duas crianças e logo foi falando: — Padre, o Sr. é a salvação nossa. A consulta, o Sr. pediu ao Dr. João, e ele não cobrou nada. O médico deu a receita e eu estou sem dinheiro para os remédios. A conta da farmácia já está cortada, pois eu estou devendo absurdo. A farmácia só me vende se eu pagar à vista.»

Pe. Alderígi escreveu um bilhete para o farmacêutico, pedindo-lhe que entregasse ao portador tudo o que ele precisasse. Tudo acertado, o dono da farmácia foi à casa paroquial para receber o pagamento. E lá se foi o dinheiro da batina. Por tudo isto, a galera capitalista chamava o Padre de incompetente.

O velho vigário construiu um salão de festa, denominado de Sedinha, para a juventude. Quando à noite, o barulho aumentava muito, até a polícia veio perguntar ao idoso vigário se era para acabar com a farra. Ele dizia: «Deixa! Deixa! Eles não estão me atrapalhando, não.»

Gostava que os outros se divertissem. Ele mesmo não ia às festas.

Gostava de lírios. Parecia criança, ficando em volta, admirando-os, quando alguma arrumadeira de altar arrumava os vasos de flores. Era criança, mesmo com aquela idade. Mas, ver criança sofrendo era morte para ele.

Eu só entendi as palavras «Procurai em primeiro lugar o reino dos céus e o resto vos será dado de acréscimo» quando ele ficou doente. Velho doente é uma desgraça. Médicos famosos, entre eles o Dr. Zerbini, se prontificaram para cuidar dele. O próprio Dr. Zerbini lhe telefonou: «Minha equipe está pronta para trabalhar pela sua cura».

Tinha medo do diabo. «Diabo existe e está tentando vocês. Vai levar vocês pro inferno, se continuarem com essas atitudes». Aos casais ele insistia: «Se não melhorar no amor de um para com o outro vai pro inferno.»

 

Não tinha medo de repreender os que aproveitavam dos pobres: «Esse pessoal rico que só espera o pobre ficar em situação difícil para comprar a casa dele mais barato, esse pessoal vai tudo pro inferno».

 

Quanto a seus defeitos, o mais grave era a ingenuidade. Nos leilões roubavam e ele não via bolota nenhuma. Havia pobre vagabundo que também aproveitava dele. Mas, também era teimoso. Fazia o que queria.

Milagre? Milagre presenciei um. Era dia 22 de maio de 1955. Entrou uma mulher em cadeira de roda, mais de 15 anos. O Padre a abençoou e mandou que se levantasse. Ela reagiu: «Não Posso. Sou paralítica». Então, ele pediu a dois homens que a ajudassem e ela saiu andando.

Quando ele faleceu, era tanta gente no enterro dele que o caixão dele foi passando por cima da cabeça do povo, pois aquela massa de gente não conseguia se mexer.

Guardo continuamente sua lembrança dentro de mim. Eu o vejo sempre sorrindo em minha direção. Quando estou com algum problema, depressão etc, eu paro e o vejo sorrindo e tudo passa. Rezo muitas vezes ao dia uma oração pedindo sua intercessão. E carrego, há mais de 40 anos, um santinho que recebi de suas mãos, com uma oração a Santa Rita.

Ele falava «Chefinho» com tanto amor que me comove. A gente sentia o amor que ele tinha por nós. Hoje, eu entendo e sinto o amor de Deus Pai para comigo, como uma imagem do carinho que o Pe. Alderígi tinha por mim, como o amor do mej pai e de minha mãe.

Das coisas mais absurdas, eu me livro, pensando no Pe. Alderígi. Ah, os meus erros de criança! Quando ia me confessar, ele me reanimava dizendo: «Todos nós somos humanos e erramos. Vamos para frente e não fique olhando os erros do passado; mas, aproveite a experiência para não errar mais!»

 

Não tinha oratória. Mas a gente sentia que o que ele falava, saia do coração.

Embora culto, tinha obsessão pela simplicidade; não gostando de aparecer.

Falava muito em perdão: «Tem que perdoar. Tem que perdoar». Em briga de família, ele era espetacular. «Tem que perdoar o marido». O que tinha de casal que ia conversar com ele e saia de mãos dadas!

 

CONTRIBUIÇÃO: Luís Roberto da Silveira (1948), vendedor autônomo. * Entrevista em maio de 1999. * Rua Dr. Gilberto Leal de Almeida (antiga 7), nº 98 – Conjunto Residencial Cosmos – Jardim Florence I – ao lado da Pirelli – CEP: 13059-098 – Campinas, SP. Fone celular: (019) 9123-2707

Um Herói diferente

Assunto: entrevista com Cleber da Silveira

Crônica de Cleber da Silveira

Como gostava de sair com Pe. Alderígi, indo com ele de capela em capela! E como me impressionava o olhar das pessoas, vendo nele um profeta, vendo nele um pai, um amigo. O povo, olhando para ele, parecia dizer: «Chegou a salvação para nós. Junto dele vou obter tudo o que preciso». Pe. Alderígi, onde ia, levava seu olhar de paz, pois a paz do espírito era o espelho de sua alma. O olhar dele refletia, realmente aquilo que ele era.

No, entanto, havia momentos em que ficava muito irritado. Isto me causava surpresa porque ele sempre irradiava bondade. Era bondade ambulante. Onde ia, levava bondade. Então, se ele se irritava, eu não entendia. Até saía de perto.

Impressionante foi a atitude desse bom ancião, quando levou para sua casa o garoto José Afonso, sofrendo de câncer no joelho. Eu evitava ver esse menino porque tinha medo da realidade daquela doença. Vio-o apenas umas três ocasiões. Vi-o não porque fora visitá-lo, mas, sim, por acaso. O padre nem notou minha presença. O menino gritando. Coisa horrorosa. Gritava com dores horríveis e o padre com carinho extremo. Eu queria fugir daquele lugar. Mas, tão impressionado fiquei com o carinho e as palavras cheias de ternura do santo sacerdote, que não conseguia sair do lugar. O menino tinha uma expressão facial horrível e o padre ia falando, falando, tomado de compaixão, e o semblante do menino ia mudando, mudando. Daí um pouco de tempo, o enfermo estava dormindo.

Era impossível a gente ter medo dele, tamanha era sua compreensão. Em meus 9 anos, uma de minhas bagunças infantis era sujar um pedaço de pau com fezes e combinar uma briga séria, mas de mentirinha, com algum colega, seja o Paulo do Fioravante, ou o Messias, ou o irmão do Messias. Quando chegava alguém, aconselhando o fim daquela briga perigosa, a gente concordava e pedia-lhe que segurasse o pedaço de pau, só para ficarmos dando gargalhadas ao ver alguém humilhado, segurando aquela sujeira toda.

Alguém contou tudo para o Pe. Alderígi e, um dia, em que eu estava contando dinheiro das coletas, ele chegou e veio perguntando: «Qual a última vez que você entregou aquele pedaço de pau sujo para as moças segurar?»

 

Atrapalhado, tentei despistar, negando aquela história toda. Mas, ele insistiu: «Não estou perguntando se fez. Eu só pergunto quando foi a última vez».

– Ontem.

– Então, foi a última. Você vai prometer para o Pe. Alderígi. Não vai prometer para Deus. Para Deus você não cumpre nada.

– Não vou prometer para o Sr.

– Vai prometer porque você é menino inteligente. Menino inteligente não faz dessas coisas.

– Faz sim por que fiz.

Fez porque não raciocinou. Se raciocinar você nunca mais vai fazer. Nem precisa prometer.

Nunca mais fiz. Percebi tratar-se de brincadeira estúpida.

Mas, descobri outra arte bem mais saborosa: beber o vinho da missa. Só que o santo de Deus descobriu tudo e veio me perguntando:

– Sabe você quem anda tomando o vinho da sacristia?

 

Sei – e, abaixando a cabeça e também a voz, confessei – eu mesmo.

– Você gostou deste vinho?

– É o melhor que eu já tomei.

– Já que nós sabemos que esse tipo de bebida não faz bem para criança (e você é uma criança), da próxima vez, você vai pedir. – E, saindo não sei para onde, ele arrematou: Estamos conversados.

Pouco antes de eu ingressar no seminário, nos meus 10 anos de idade, ele me convidou tomarmos um pouco do tal vinho. Só que ele colocou no copo apenas um dedindo assim e eu, um tanto decepcionado, reclamei: «Só isto? Então, não preciso tomar mais nada». E ele me falou coisa muito importante que, se eu tivesse levado a sério, não teria me tornado alcoólatra:

O ideal seria não tomar nem esse golinho. Mas, como vai ser padre, é necessário que o tome. Mas, nunca vá além disso, pois, corre o risco de ser engolido por ele.

Sua bondade e compreensão para comigo se manifestou maior, mais tarde, quando lhe falei estar disposto deixar o seminário. Prudentemente, ele me aconselhou: «É melhor esperar mais um pouco para ver se consegue vencer essa tentação. Se for para ser padre, Deus lhe avisará no caminho».

Depois de dois anos, quando me decidi a deixar mesmo o seminário, sobreveio-me o medo de Deus, pois meus superiores, no seminário, falavam do perigo de estar desperdiçando a graça de Deus. No entanto, Pe. Alderígi, com mais compreensão e psicologia, me encorajou: «Sai! Se Deus quiser outra coisa de você, ele mesmo lhe avisará».

 

Mas, compreensão sem conta de nosso pastor era para com o sofrimento do povo. Uma vez, ameaçaram modificar o esquema da festa principal, a festa de Santa Rita de Cássia, realizada anualmente no dia 22 de maio, quando dezenas e dezenas de milhares de peregrinos chegavam, precedidos de centenas de barraqueiros que vinham para vender suas bugigangas, com seus gritos e seus alto-falantes. Havia gente que achava que tudo aquilo avacalhava o espírito religioso da festa, pois, lembrava o templo de Jerusalém, com seus vendilhões. Havia o sussurro de que a festa teria uma conotação diferente, com as barracas e barraqueiros longe de Jesus, longe da praça que cerca o santuário.

O bom vigário não concordou: «Dentro do templo de Jesus todos estão voltados para a Santa Rita e para Deus. Esse povo, que veio de longe, precisa beber, precisa comer. Então, é melhor que os barraqueiros e suas barraquinhas estejam perto deles e, também, perto de Jesus.

 

Pe. Alderígi não faz parte dos heróis de minhas histórias. Eles não se parecem com ele, nem Robin Hood. Exceção de um: O nosso santo era um Dom Quixote. Por que? Porque comprava brigas impossíveis, porque queria fazer o que era impossível. Ele acreditava no humano. Ele era louco como Dom Quixote, acreditando na pureza do homem. Achegava-se a ele gente safada e o Pe. Alderígi acreditava neles. Eu, criança, não aceitava que comerciantes nojentos, que só pensavam em dinheiro, viessem mentir para ele, tapiando-lhe a boa fé. Então, eu, naquela idade, sentia-me culpado, prejulgando tais pessoas: «Não julgueis para não serdes julgados». Em minha consciência e por causa de minha admiração por ele, tinha que acreditar que eu estava errado e que Pe. Alderígi certo. Para mim, aquela bondade vinha diretamente do dom de Deus porque não acreditava que gente pudesse ser bom daquele jeito.

Pe. Alderígi tinha atitude que seria chamada de boba e não de bondade. Mas, tratava-se de bondade pura. Para mim, Pe. Alderígi era um Jesus Cristo gordo e até mais bonzinho que o primeiro, conhecido por mim, com certos vestígios de carrasco.

Em meus 14 anos, uma coisa me deixou indignado: O Padre Alderígi não falava bem em suas pregações. As palavras não saiam claras. Eram pastosas.

Fiquei revoltado quando um romeiro falou para outro peregrino: «Esse padre pode ser santo, pode ser bondoso. Mas, deveria aprender a falar. Não tem dicção.» Não aguentei e entrei na conversa: «Vocês acham mesmo que um homem que é padre, que cursou os níveis mais elevados do estudo humano, inclusive oratória, hoje com a idade que tem e como vocês mesmos disseram ŽAinda por cima, santo`, vocês acham mesmo que um homem deste precisa falar para ser entendido? Vocês são burros».

O homem virou para o outro: «O que esse moleque tem? Nós não falamos mal do padre». Eu repliquei: «Falaram sim. Se vocês não entendem o que ele fala, precisam apenas prestar atenção como ele fala. O que é importante nas palavras dele não é a palavra em si, mas sim as atitudes que regem a vida dele».

Meus heróis não combinam com Pe. Alderígi. Ele era o meu herói. O que admirava é que o Pe. Alderígi era ser humano, gente como a gente. Mas, tinha algo de Deus, algo de transcendental. Ele era colocado do lado de Deus. Era gente mas não era gente. Agia como gente. Mas, Deus assim com ele.

Pe. Alderígi era mais que herói. Era crédito especial para ser usado em extrema necessidade. Era recurso para ocasiões inesperadas, quando o ser humano não tivesse nada mais para agir. Tanto assim que em minhas situações de conflitos internos, relacionados a Deus, eu levava tudo para esse meu guia. Na realidade era muito mais que um herói. Ele era Jesus Cristo na terra, apenas mais bonzinho, como já falei e dei os motivos.

Em minha educação, recebida em cidade do interior, tudo era pecado. Como isso atrapalhava o menino vivo, alegre e sempre envolvido em artes! Mas, Pe. Alderígi me apresentou Jesus, na essência de Jesus Cristo.

Lembro-me direitinho da frase deste inteligentíssimo e santo teólogo que até hoje me dá tranquilidade: «Menino, o pecado mortal só existe quando a gente faz questão de afrontar a Deus. Isto é: quando a gente, conscientemente, decide fazer o mal, decide prejudicar alguém ou a gente mesmo e vai em frente e olha pra Deus e lhe diz: ŽEu faço o que eu quero`. Já fez algum pecado deste?»

 

– Nunca. Jamais vou fazer isto.

– Esse pecado é o tal que chamamos de mortal. Esse, se acontecer, deverá ser confessado. Agora, tome cuidado com aqueles que precedem esses mortais! A gente pode se acostumar com eles. Então, o que você acha muito impossível (foi você que falou «jamais farei um pecado mortal»), através destes, fatalmente você chegará naquele. E, o pior, até achará que não é mortal.

 

Hoje, com 49 anos, penso que Pe. Alderígi é uma das almas predestinadas que veio aqui na terra, para apresentar a quem com ele tivesse contato, a face de Deus. Era uma pessoa que, não sendo Jesus, pôde ter uma bondade tão grande, um respeito tão sublime pelo ser humano, a ponto de levar a gente a entender como deveria ter sido o Divino Mestre. Foi através do Pe. Alderígi que cheguei ao meu bondoso salvador.

CONTRIBUIÇÃO: Cleber da Silveira (1950), vendedor autônomo. * Entrevista em 22/08/99. * Av. Carlos Grimaldi, 619 – Fone: 019 207-0968 * 13091-000 – CAMPINAS, SP.

Prudência junto a líder paroquial (1964)

Assunto: Diplomacia e prudência do Pe. Alderígi

Eu andava muito atarefada em minha casa, devido aos serviços do bar, bem no centro da cidade, e com a minha própria família. Nisto recebi a visita do Pe. Alderígi. Era político de mão cheia e com pequenas frases e elogios conseguia tudo junto aos grandes políticos de Minas Gerais.

Mas, desta vez, trouxe um assunto sério e nosso. Assunto pessoal: A grande líder dos leigos de nossa paróquia fora sempre a Da. Ritinha Barbosa, presidente do Apostolado da Oração, por dezenas e dezenas de anos. Já estava na hora de ela ser substituída por gente mais jovem, mais atualizada e mais dinâmica e, na mente do Pe. Alderígi, tal pessoa seria eu. Atravessou a rua, desceu a escadinha de minha casa, sentou-se e, reconhecendo minha dedicação a ele, fazendo contínuos trabalhos que a vida paroquial exige dos fiéis, começou a falar: «- Luzia, Nossa Senhora está devendo tantos favores a você. Quando você precisar dela, nem peça. Pode até exigir. Mas, agora, Luzia, estou precisando muito de você. E você não pode me dizer «não». Com muito jeito, preciso tirar a coordenação do Apostolado da Oração, das mãos de Da. Rititinha. Devido à sua prudência, simpatia e amizade para com ela, com você, ela não vai achar ruim. Mas, por enquanto, é segredo. Espera.

Outro dia, ele voltou para me comunicar: «Agora você já pode conversar com ela, pois já lhes dei as dicas».

Com a prudência recomendada pelo nosso vigário, cheguei-me à antiga presidente e lhe disse: « Da. Ritinha, a Sra. está cansada e talvez esteja precisando de uma substituta. Ora, eu poderia assumir o seu posto. Mas, só assumiria esse serviço se você me ajudar.»

 

Fiquei feliz em ouvir dela mesmo: «Que bom! Concordo com você». E tudo aconteceu sem discussão alguma, sem ninguém ficar ferida. Como não tinha tanta experiência igual à antiga líder, volta e meia ia eu até ela, pedindo-lhe opinião e conselhos. Isto continuou até o dia em que o nosso vigário se acercou de mim e me avisou: «Não fique tanto a pedir palpites para ela, senão ela acabará pensando que ainda está ocupando o antigo cargo».

 

CONTRIBUIÇÃO: Luzia Alves da Silveira (1925), doméstica. * Entrevista 07/10/96. * Rua João Brandemburgo, 53 – Bloco I – apto 3. * Fone: (019) 272-9827 – São Bernardo * 13031-240 – CAMPINAS, SP

Pe. Alderígi faz as pazes com pintor (1970)

Crônica de Francini Inês dos Reis

Frei Felipinho, ontem eu falei com o sr. sobre o Pe. Alderigi. Contei um fato ocorrido com meu pai e ele, contado por minha mãe (Marta Silveira Reis), há muito tempo. Só que eu não tinha certeza dos detalhes e datas. Então, resolvi falar com ela, para ter a informação correta. Foi o seguinte:

Meu pai, Wadinho Pintor (Oswaldo Luciano dos Reis), pintor, nascido em 1935, estava ajudando na construção do altar mor, no Santuário de Santa Rita, após a colocação da imagem da santa padroeira. Como meu pai era canhoto, o Pe. Alderigi achava que o jeito com que ele estava fazendo o altar estava errado e meu pai dizia que estava certo. De tanto teimarem um com o outro, o Pe. Alderígi deu uma «cocada» na cabeça de meu pai (cocada é bater com força na cabeça do outro, com os ossos das juntas dos dedos, tendo a mão fachada), na frente dos outros que estavam trabalhando na obra.

Meu pai ficou muito chateado com a atitude de Padre e, então, ficou de mal e não voltou mais à igreja, para continuar o trabalho. Passados alguns dias, vendo que meu pai não voltava, o velho vigário foi à procura dele e o encontrou ao lado da igreja, com os mesmos companheiros que presenciaram a humilhação feita por um homem tão santo e, ao mesmo tempo, tão nervoso. O Pe. Alderígi não pensou duas vezes e, na frente de todos, pediu desculpas ao meu pai. Desde então, voltaram às pazes e meu pai voltou ao trabalho.

Isso ocorreu em 1970.

Passados 7 anos, o Pe. Alderígi, ficou doente e, em 03 de novembro de 1977, ao voltar para casa em Santa Rita de Caldas, após ficar alguns dias internado no hospital de Poços de Caldas, meu pai foi visitá-lo. O Padre retornou às 16:30h e meu pai foi visitá-lo às 17:30 h. Chegando lá, o sacerdote, segurando forte sua mão, lhe pediu trouxesse uma garrafa de cerveja e dois copos. Meu pai disse que iria ao bar do lado, para ser mais rápido. Mas ele insistiu que queria do bar dele (meu pai, nesta época, era comerciante). Então, meu pai saiu e voltou com a cerveja e os copos, meio envergonhado, pois, nunca bebera na frente do padre. O padre tomou num gole só e sempre segurando forte a mão de meu pai e disse que iriam se encontrar. Meu pai saiu muito emocionado da casa do Padre, tanto pelas palavras ouvidas como por ter sentido a mão dele segurando forte a sua.

No mesmo dia, às 23:30h, o Pe. Alderígi faleceu. No dia do sepultamento, durante a missa celebrada pelo Pe. Vítor, o celebrante citou que o Monsenhor brindara, com um grande amigo, a sua partida. Neste momento, meu pai caiu em prantos.

No ano seguinte, no dia 20 de julho de 1978, meu pai faleceu. Tenho certeza que hoje estão juntos no céu, ao lado do Senhor Jesus.

Ass.: Francini Inês dos Reis.

 

CONTRIBUIÇÃO: Francini Inês dos Reis (1974), assistente administrativa. * Testemunho entregue por escrito em 2 de abril de 1999, em Poços de Caldas, MG. * Rua Correia Neto, 998, aptº 41 – Fone. (035) 712-2369 * 37701-016 – POÇOS DE CALDAS, MG

Pe. Alderígi e o calendário pornográfico (1974)

Crônica do Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M

Em 1974, José Vicente da Silva (1941) estava com alguns adolescentes, jovens e até adultos, formando uma roda, dentro da barbearia do João Moreira, na Pça. Pe. Alderígi, devorando com os olhos um calendário pornográfico. As cabeça de todos, bem juntas, formavam com que uma cisterna. Nisto, só viram um mãozão, seguido de manga preta da batina do Pe. Alderígi, que se afundou no fundo desta cisterna, a pescar de lá de dentro o calendário cobiçado por todos eles.

Logo-logo, de imediato, rasgou-o pelo meio, separando as figuras, dos dias dos meses, e falou: “Vocês precisam mesmo é só do calendário”.

Ficaram meio abobados, diante da vergonha que passaram. O pior é que ele não foi se embora, não, mas se sentou na cadeira do barbeiro para ter sua barba raspada, enquanto a turma, uns afundando o pescoço entre os ombros, outros esfregando as mãos, uma na outra, para disfarçar seu desapontamento, foram se retirando para suas cadeiras, ou mesmo, para fora do salão.

 

CONTRIBUIÇÃO: José Vicente da Silva (1941), comerciante. Entrevista em 18/04/87. * Praça Pe. Alderígi, 100 # Fone: (035) 734-1293 * 37.775.000, Santa Rita de Caldas – MG.

Pe. Alderígi, homem da paz (1958)

Crônica do Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M

O Pe. Alderígi era um homem muito alto, muito importante, mas tinha uma alma de criança. E, como toda a criança, como gostava de festa de aniversário, como gostava de soprar as velas que enfeitavam seu bolo!

Mas, também, como uma criança, como gostava de paz e como lutava para que ela fosse restabelecida!

Um dia, João Menino, irmão de Da. Naninha, brigou com o advogado, Dr. Carmelo. Este, por sua vez, prendeu a espingarda dele. O caso esteve tão sério, que João Menino até andou dizendo:

Se Dr. Carmelo não me entregar a espingarda hoje, vou lá e mato-o”.

Tristes, pensando numa morte, saíram de casa Da. Naninha e sua irmã, esposa do Dr. Carmelo. Foram em direção do Pe. Alderígi, pois este tinha a maior influência e poderia resolver o problema da inimizade. Bondosamente, o padre colocou suas mãos sobre as cabeças das duas, dizendo:

Vocês vão ter sossego! – e rezou com fé. E no mesmo dia, aconteceu a paz desejada.

Em 1958, a situação política se agravou em casa de Da. Naninha. Seu filho e ela eram fanaticamente do PSD, ao passo que Rita Carvalho, sua irmã e minha madrinha, era da UDN. Infelizmente minha madrinha estava muito mal de saúde e o filho de Da. Naninha a proibiu visitá-la, dizendo “ou eu ou ela”. Nesse momento de angústia, em que ninguém tinha paz, surgiu a figura humana e influente do Pe. Alderígi. Ele mesmo foi à casa do filho, acalmando-lhe o coração. Em seguida, foi à casa de Da. Naninha e a tomou pela mão, levando-a até dentro da casa de sua inimiga política.

E assim, o mundo quente e louco das politicagens foi se transformando em outro mais ameno, cheio de bondade e amor.

CONTRIBUIÇÃO: Naninha ( Ana da Conceição Silva (1910), costureira. * Entrevista em 21/04/87 * Rua Uriel Alvim, 128 * 37.775-000 – Santa Rita de Caldas, MG

Pe. Alderígi prepara o povo para receber a imagem de nossa Senhora de Lourdes (1958)

Palavras do Pe. Alderígi na Imprensa

 

Vamos ser bom filhos da Igreja, ouvindo a voz de nosso Pai (0 Papa), renovando nesse ano a nossa devoção e amor para com Nossa Senhora.

 

(…) Preparem-se, pois, para esta visita. Uma preparação séria, para que Nossa Senhora não passe, somente, nas nossas cidades, bairros, mas fique dentro do coração (…).

 

Só festas, encontros, discursos, tronos belíssimos nas igrejas, foguetes, bandas, tudo isso é bonito e esperamos que cada lugar se esforce, para o seu entusiasmo a alegria, pela presença de Nossa Senhora. Mas, isso e pouco, é quase nada, porque passa.

 

É preciso, é necessário, é indispensável que, após a passagem de Nossa Senhora, fique uma melhora nas nossas cidades, vilas ou bairros, e isso conseguimos com uma preparação e nos dias de permanência de Nossa Senhora, uma boa confissão e uma santa comunhão.

 

CONTRIBUIÇÃO: Texto copiado do Jornal Santarritense, O Santuário de Santa Rita, de fevereiro de 1958. * 37.775-000 – Santa Rita de Caldas, MG

Pe. Alderígi confortando os que sofrem

Crônica do Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M

Pe. Alderígi viveu numa cidade de clima frio (18 graus é a média), chegando a menos de zero nos dias de inverno. Não só frio. Também seco, ótimo para a saúde. No entanto, era cidade de gente pobre, nem 150 operários em 1977, trabalhando em menos de 20 estabelecimentos comerciais. 75,4% das terras são ocupadas por pastagens e apenas 12,4% pela lavoura.

No meio de tanta pobreza, sempre surgem outros problemas, sejam de saúde, sejam morais, sejam de jogo e outras coisas piores.

A quem desabafar? A quem repartir suas dores e magoas? Pe. Alderígi era o bom samaritano e seus conselhos, o bom vinho derramado nas chagas. Suas palavras de ânimo eram espalhadas tanto nas conversas particulares como nos sermões.

Aqui segue uma de suas múltiplas histórias, ouvidas e guardadas pelo povo, explicando que, quando as coisas não correm bem, é porque Deus está aí:

«Era uma vez um bispo, enviado para visitar os seminários. Chagando, encontrou o diretor alegre, feliz. Então, o visitador lhe perguntou:

Como está o seminário?

Bem. Graças a Deus, está tudo ótimo.

Então, reze! Reze muito, porque Deus não está aí.

Essa conversa aconteceu em um, dois, três seminários. Mas, chegando num outro, encontrou o diretor triste, acabrunhado, desanimado.

Como está o seminário?

Ah! Senhor, visitador,… – e contou como ia mal a situação financeira, como isso não funcionava, como aquilo estava piorando etc. etc…

E o visitador respondeu diferente:

Deus está aqui. Deus está no sofrimento».

 

CONTRIBUIÇÃO: Luzia Alves da Silveira (1925), dona de casa e líder paroquial no tempo de Pe. Alderígi. * Rua João de Brandemburgo, 53 – Cond. Júpiter – Bl. I apto. 3 * Fone: (019) 3272-9827 * 13031-240 Campinas – SP

Pe. Alderígi, pastor organizado

Crônica do Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M

A fama do Pe. Alderígi entre os padres e o bispo era divulgada pela sua desorganização. E realmente a possuía em se tratando de livros, de assentamentos de batizados, casamentos e missas; desorganização, em se tratando de finanças. Se desorganização fosse virtude, ele seria canonizado em vida.

Mas, era pastor. Pastor que dava a vida pelas suas ovelhas. Para as coisas mais simples, ele organizou da melhor maneira a equipe de Legião de Maria. Eram 12 as legionárias, 4 para se responsabilizar por cada uma das 3 missas dominicais: Se estava frio, elas iam e fechavam as portas; se estivessem muito quente, abriam-nas. Elas que colocavam os folhetos litúrgicos na mesa para cada um tomar e usar; se uma criança chorasse na igreja, elas se aproximava da mãe para saber se a criança precisava de alguma coisa, ou até mesmo para ficar com a criança barulhenta ou chorona na porta da igreja, a fim de que a mãe e o povo assistisse ao ofício divino com mais atenção.

Nas reuniões das 12, ele queria ouvir, de uma por uma, tudo o que estava errado na paróquia. Ouvia e não decidia nada. Na seguinte reunião é que ele declarava:

 

Ouvi a todas, pensei e tomei a seguinte resolução.

 

Ele, como pastor responsável, é quem decidia e assumia as conseqüências. Mão firme.

Além deste cuidado com o conjunto, muito se interessava pelo pastoreio individual. Passava o dia inteiro na igreja, fazendo lá dentro, até mesmo suas refeições, pronto para atender a todos, a qualquer hora que chegassem. Alguém lhe disse:

Por que o dia inteiro na igreja? Não é necessário tudo isso.

 

– Ah! Se vocês soubessem os milagres ocorridos nesses encontros! Quantas conversões! Muitos vêm de fora para pedir conselho e acabam se convertendo e se confessando. Hoje mesmo, um Sr. de 70 anos fez sua primeira comunhão.

 

CONTRIBUIÇÃO: Luzia Alves da Silveira (1925), dona de casa e líder paroquial no tempo do Pe. Alderígi. * Rua João de Brandemburgo, 53 Bl. I apto. 3 * Fone: (019) 3272-9827 * 13031-240 – Campinas, SP

Pe. Alderígi e a imagem de nossa Sra. Aparecida (1971)

Crônica do Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M

Pe. Alderígi foi o único padre a quem a autoridade da Basílica de Nossa Senhora Aparecida entregou a imagem autêntica da padroeira do Brasil. Na hora de o Pe. Alderígi partir, Pe. Santiago, que era reitor da Basílica, disse ao santarritense Pe. Elias Pereira da Silva; “Vai com ele!”

Ele foi e, admirado viu que o santo devoto e zeloso vigário passou, em Ouro Fino e Jacutinga, dia e noite, no confessionário.

 

CONTRIBUIÇÃO: + Pe. Elias Pereira da Silva (53 anos), santarritense e antigo coroinha do Pe. Alderígi. * Entrevista em 09/02/87 * Praça do Santuário, 11 * 13870 – São João da Boa Vista – SP

Como um coroinha via o Pe. Alderígi (1961)

Crônica de Flávio José do Reis

Pe. Alderígi era exigente, mas era bom. Quando eu ia com a cruz, à frente da Via-Sacra, se eu andasse muito devagar, ele me dava beliscão ou coque. Se eu andasse depressa, ele me puxava para trás. Mas, terminada a cerimônia, o padre sempre se retratava do que fez.

Quando ele estava meditando ou rezando na capela do Santíssimo Sacramento, eu sentia que ele estava conversando com Deus.

O que sempre me lembro, em cada missa que assisto, são suas palavras carregadas de expressão: “Eu vos deixo a paz. A m-i-n-h-a paz“, ele mudava a voz.

 

CONTRIBUIÇÃO: Flávio José dos Reis (36 anos), antigo coroinha do Pe. Alderígi e atualmente agrônomo. * Entrevista em 28/01/87. * Rua João Vicente, 16 – Bl. B, apto. 52 # Fone: (019) 651- 3236 * 13990 – Espírito Santo do Pinhal, SP

Preocupação do Pe. Alderígi para com os Moribundos

Crônica do Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M

O Pe. Alderígi era um pastor muito cuidadoso com suas ovelhas. Queria ver sempre seu rebanho unido, cheio de vida, pois ele conhecia o pensamento de Jesus: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10, 10).

Por isso, as senhoras do Apostolado da Oração tinham de trabalhar muito, fazendo verdadeiro apostolado, distribuindo para elas todas as ruas da cidade, enviando-as de casa em casa, com a missão de falarem das comunhões reparadoras, das confissões (se necessárias), e preparar o enfermo para a chegada do padre, se esta visita fosse requerida.

Mas, para Da. Enedina Lacerda Loures, que era enfermeira, dava recomendações mais especificadas. Queria que ela andasse sempre com um crucifixo na bolsa: “Carregue sempre um crucifixo com você. Quando alguém está morrendo, dê o crucifixo para o moribundo beijar e faça com que ele repita com você: «Jesus, Maria, José, minha alma vossa é».

 

CONTRIBUIÇÃO: Enedina Lacerda Loures (1930), enfermeira. * Entrevista em 14/04/87. * Rua Marechal Floriano, 31 # Fone: (035) 3734- 1235 * 37775-000 – Santa Rita de Caldas, MG

Sermão de Pe. Alderígi, antes das bênçãos que distribuia

Crônica de Margarida Canedo Garcia

Pe. Alderígi, antes da bênção da Santa Rita, fazia este sermãozinho:

Exortando o povo ao perdão das ofensas:

“Meu Deus, por vosso amor, eu perdôo a todos os que me ofenderam.”

Depois, exortando o povo ao arrependimento dos pecados:

“Meu Deus, por vosso amor, porque sois bom e morrestes por mim, numa cruz, eu me arrependo, de todo o meu coração, de todos os meus pecados e, com vossa graça, nunca mais quero pecar. E proponho confessar-me logo.”

Depois, ele continuava falando:

“Logo, vocês façam uma boa confissão, para receberem as graças. Essas graças não dependem de mim nem de Santa Rita nem de Deus. Depende do coração de cada um de vocês, porque coração que tem raiva ou sentimento dos outros não pode receber a graça de Deus. Deus é amor e amor e ódio não podem ficar juntos.”

CONTRIBUIÇÃO: Margarida Canedo Garcia (1937), doméstica. Entrevista em 21/05/85. * Rua Capitão Cândido, 241 * 37.775-000 – Santa Rita de Caldas, MG

Pensamentos do Pe. Alderígi sobre o sacerdócio – I

Ser sacerdote é ser como qualquer pessoa, filha de Deus, porém, com uma missão muito especial: a de ser e viver para os outros. Muito mais para eles do que para si, por amor a Deus que é nosso Pai comum.

Padre tem que ser padre de verdade, como o povo merece e carece, e do jeito que Deus quer; isto é, ser de Deus, dos fiéis e para eles. Para viver para Deus, basta viver pelo povo, de qualquer parte da terra, na evangelização deles.

 

– O padre tem que conviver sempre com os paroquianos para morrer bem com Deus, porque todos somos irmãos.

 

– O padre que se apega ao tempo e ao conforto do mundo, fica sem tempo e sem amor às coisas da nossa Igreja e de Deus.

– O padre, no plano de Cristo Salvador, não deve chegar no céu sozinho, mas, acompanhado das almas que santificou com o mérito de sua vida terrena.

– O padre viciado na distinção ou discriminação de pessoas dentre os paroquianos, por motivos e fatores temporais, é ótimo pastor para conduzir almas para o abismo do pecado.

 

– Ser padre seria muito fácil, se tudo fosse só ordenar-se; difícil é ser padre sempre.

– Um padre santo é aquele que reconhece que existem paroquianos muito mais santos que ele.

– O padre, em toda a sua vida, precisa pedir a Deus que o faça amado, estimado e querido, ao mesmo tempo, pelas crianças, jovens, adultos e idosos. É dever dos padres ensinar o caminho do céu, andando pelo mesmo caminho dos fiéis e junto com eles; não caminhando à margem e distantes do demais.

– Ser padre santo é ser padre para todos, indistintamente, sem exceção alguma, sob qualquer ponto de vista.

 

– A pessoa mais pobre, materialmente, numa paróquia, deve ser o seu pároco, porque, não sendo assim, o padre corre o risco de ser tentado a negar suas bênçãos ou outra ajuda a alguém mais necessitado.

 

CONTRIBUIÇÃO: João Felipe (39 anos), bombeiro. * Essas frases foram copiadas na hora, durante um retiro pregado no seminário capuchinho, em Ouro Fino, pelo Pe. Alderígi. * Rua Albatroz, 65 – bloco 14, apto 35. Fone: (0192) 47-2318 * 13.100 – CAMPINAS, SP

Pensamentos do Pe. Alderígi sobre o sacerdócio - II

– O povo que não tem liberdade para falar do seu pároco, é porque foi destituído das oportunidades de ajudá-lo a se salvar e a santificar os outros.

– Se Deus nos dá missão trabalhosa e cheia de revezes, Ele nos dará sempre a sabedoria e forças para tal.

 

– Um padre não deve descansar, enquanto existirem almas para o pecado dominar e conquistar.

– A casa do padre não deve ser de luxo ou rica, para não ser de difícil acesso aos mais simples, nem ser de fácil entrada só aos ricos.

– A vida é assim… A Bíblia ensina: «A messe de Cristo é grande; poucos os pastores… Se são muitos os chamados, são poucos os escolhidos…» E nós sabemos: Dos escolhidos, poucos se tornam santos.

– Um padre é de quem precisa dele, a qualquer hora do dia ou da noite, pois, Deus não é assim conosco? E nós, padres, não somos seus representantes?

 

– Ordenar-se padre custa apenas uns quatorze anos de oração e estudo; mas para ser padre, é preciso que as bênçãos de Deus continuem sendo conquistadas e merecidas; e para morrer padre custa uma vida toda, vivida como santo, abençoado e amado pelos que estão no céu.

 

– O padre santo e realizado é aquele que sabe ser humilde e simples como pessoa humana, não como padre propriamente.

 

– O padre que é criticado é feliz, pois pode corrigir-se ou corrigir a crítica. O padre que for desprezado por ir em frente, é feliz, porque lhe seguirão, ainda, muitos irmãos. O padre que é perseguido, nada deve temer, porque Deus e os outros o defenderão. O padre que for atacado moralmente, deve louvar a Deus, porque o fato ocorre por seu amor.

 

CONTRIBUIÇÃO: João Felipe (39 anos), bombeiro. * Essas frases foram copiadas na hora, durante um retiro pregado no seminário capuchinho, em Ouro Fino, pelo Pe. Alderígi. * Rua Albatroz, 65 – bloco 14, apto 35. Fone: (0192) 47-2318 * 13.100 – CAMPINAS, SP

Pe. Alderígi, o confessor

Trecho de uma carta do Pe. Geraldo Camilo de Carvalho

Pe. Alderígi fez extraordinário bem e exerceu grande influência, como confessor, sobre o clero diocesano de Pouso Alegre. Isto foi determinante para termos excelentes párocos nessa região. Quem se beneficiou com isto evidentemente foram os fiéis, pois o povo do Sul de Minas sempre teve fama de ser gente piedosa, oferecendo muitas vocações para a Igreja.

Imenso também era seu zelo na administração do sacramento da penitência e reconciliação. Na certa, ele foi o HOMEM DO CONFESSIONÁRIO. Nisto, sem dúvida, imitava Cristo conforme está em São Lucas, cap. 15, em suas parábolas da misericórdia: Comia com os pecadores. Aos domingos, Da. Zélia tinha que levar a famosa tigela de comida para ele se servir na sacristia, a fim de que nenhum penitente deixasse de ser atendido.

Em geral, ficava rezando o terço no confessionário, a espera que alguém viesse procurá-lo. Muitas vezes, vencido pelo cansaço, dormia mesmo lá dentro da casinha do perdão. Quem estivesse ajoelhado, tinha que olhar pelos buraquinhos das grades do confessionário, a descobrir quando de novo estaria pronto para atendê-lo.

Comigo nunca aconteceu isto, mas tive ocasião de presenciar estes fatos e muita vezes vê-lo sorrir no confessionário. Aquele sorriso parecia-me refletir ou transmitir extraordinária bondade.

 

CONTRIBUIÇÃO: Pe. Geraldo Camilo de Carvalho (1930), redentorista santarritense e ex-missionário na África. * Por escrito em 15/05/87 * Av. Osório, 172 # Fone: 9016) 236-6638 * Caixa Postal 84 * 14801- 308 – Araraquara – SP

Pe. Alderígi, homem de oração

Crônica do Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M

Pe. Alderígi sempre fazia visitas aos enfermos nas roças, levando-lhes os sacramentos da confissão e da comunhão e celebrando suas missas nos distritos vizinhos do Pião e São Bento de Caldas. Nesta época, o único meio de se locomover era o cavalo. Muitas vezes, quem ia com ele era o Sr. Lázaro Garcia do Nascimento, bom comerciante, nascido em 1923.

Logo no início da viagem, o Pe. Alderígi tirava o chapéu da cabeça e pedia ao Sr. Lázaro para que o segurasse e, em seguida, começava a rezar o terço.

Sempre que acabava um terço, recomeçava outro, desde o início, até o fim da viagem.

 

CONTRIBUIÇÃO: Sirlene Garcia (11 anos), estudante da 5a série. * Trabalho por escrito em 07/08/87 * Rua Projetada H, 230 * 37.775-000 – Santa Rita de Caldas, MG

A árvore que o Pe.Alderígi mandou cortar (± 1965)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O. F. M.

Diante da casa de Pe. Alderígi, abria-se belíssimo jardim, que descia verde desde a frente da Prefeitura Municipal até terminar lá embaixo, perto do Santuário, alegre de cores que estalavam em todas as direções. As hortências roxas enxameavam em grupos festivos ou se estendiam em cordões alegres e compridos. As buganvílias, mais conhecidas por três-marias, lançavam suas guirlandas amareladas umas, vermelhas outras, atraindo os olhares extasiados de todos os passantes. Rosas, tão queridas pelo vigário, viviam perto das stellizia regina, em escândalo de beleza das cores roxas, laranja e azul, em formas esquisitas, raras no mundo das flores.

Um gostoso chafariz, onde antigamente se elevava o velho coreto, acolhia generoso e festivo tico-ticos, canarinhos, rolinhas e outros passarinhos que costumavam fazer festa nas copas das árvores vizinhas. Os ciprestes, antigamente mais dóceis, se entrelaçavam, formando figuras trabalhadas e cuidadas com esmero pelo Dito Camilinho.

Mas, agora, lá por 1965, um deles ainda restava, sozinho, isolado, convidando namorados a se encontrarem, sob sua proteção, bem em frente às duas janelas da casa do zeloso vigário. O pior é que alguns jovens exageravam em suas demonstrações de ternura, chegando despudoradamente a escandalizar não só os passantes, mas até o bom e puro velhinho, responsável pastoralmente diante de Deus por tantos paroquianos.

Um dia, o santo vigário não conseguiu bloquear seu zelo e pediu ao seu sacristão, o Zito, fosse falar com os namorados, pedindo mais respeito. Mas, não adiantou nada.

Então, o pastor do povo entrou em contato com a Prefeitura Municipal e mandou que se cortasse a árvore. E o cipreste desapareceu mesmo.

 

CONTRIBUIÇÃO: Zito (José Manuel Israel, 58 anos), ex-sacristão e enfermeiro. * Entrevista em 02.12.86. * Pça. Cônego Macário, 39 * 37.775-000, Santa Rita de Caldas – MG.

Zelo do Pe. Alderígi para atrair o povo para Deus (1963 à 1967)

Crônica de Dom José Afonso Ribeiro

Conheci Mons. Alderígi em 1963, quando comecei um trabalho de ajuda aos vigários para renovação paroquial, segundo o espírito do Concílio Ecumênico Vaticano II.

Durante cinco anos, freqüentei a Paróquia de Santa Rita de Caldas, nas festas litúrgicas principais, a pedido do Monsenhor.

Nesses anos, ajudei na Festa da Padroeira. Em todas as circunstâncias, sempre notei em Monsenhor o homem de oração, de penitência, de caridade, de apostolado, enfim, homem de fé muito intensa.

AS FESTAS – O número de pessoas que se reuniam era muito grande. O dia inteiro, a Praça da Matriz e as ruas adjacentes ficavam lotadas de gente. Monsenhor se preocupava que todos passassem pela confissão e comungassem. Convidava os padres das paróquias vizinhas para atenderem confissões. E ele, com a preocupação de enfrentar o confessionário, me deixava distribuindo comunhão e dando as bênçãos, demostrando que não queria aparecer.

Para cada ano, me pedia uma novena bem teológica e bem cristocêntrica, para a Festa. Para atrair o povo, conseguiu em um ano, que uma relíquia insigne de José Anchieta permanecesse durante a novena na matriz. Em outro ano, uma grande cruz, chamada “Cruz de Jerusalém”. No ano seguinte, a verdadeira imagem de Nossa Senhora Aparecida. Mas, em suas pregações, o que aparecia como centro era o convite para a conversão, para a união com Deus, para o amor concreto ao próximo.

Momento importante era o da sua bênção. Era sempre precedida por longa reflexão evangélica, convidando o povo ao arrependimento dos pecados, para a reconciliação com os inimigos e para a profissão de fé.

Nos dias de festa, não saía da Igreja. O almoço era tomado às pressas, na sacristia.

 

CONTRIBUIÇÃO: Dom José Afonso Ribeiro (1929), bispo de Borba, AM. * Por escrito em 29/06/87 * Av. Getúlio Vargas, 90 – Centro * Caixa Postal – 11 # Fone: (092) 712-1164 / 712- 1392 * 69200-000 – Borba – AM

Pedaços esparsos da vida do Pe. Alderígi

Crônica do Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M

Quando o Pe. Alderígi era mais forte, dormia, muitas vezes, de joelhos ou sentado numa cadeira.

Nas primeiras sextas-feiras do mês, para estar todo o tempo em atendimento das confissões, comia no confessionário e, no domingo, comia na igreja, para dar mais presença ao povo que o procurava.

Falava muito de Nossa Senhora. Tudo de bonito, primeiro reservava para o altar do Santíssimo Sacramento e, em segundo lugar, para o de Nossa Senhora. No mês de maio, quase todos os dias, tínhamos coroações da imagem da Santíssima Virgem.

Para a Santa Missa, ele preparava muito as mãos, lavando-as por muito tempo. Tendo preparado as mãos, ao dá-la para ser beijada, só apresentava os três dedos, uma vez que o polegar e o indicador conservava-os unidos para permanecerem purificados. Antes e depois da Missa, orava muito diante do altar do Santíssimo.

Embora fosse muito inteligente, antes de preparar suas aulas ou sermões, dizia: “Zélia, agora vou rezar para preparar a aula». Mas, seus sermões eram preparados por escrito e ensaiados com gestos, diante de sua secretária, perguntando-lhe de quando em quando: “Zélia, está bom o sermão?”

 

Com tanta bondade e tanta simplicidade, tanta vida de oração e de doação ao povo, sua fama de santidade se espalhava por todos os cantos, ao ponto de o Sr. Bispo, Dom José D”Ângelo Netto, dizer muita vezes: “Quem aqui faz mais milagres? É o Mons. Alderígi ou é Santa Rita?”

 

CONTRIBUIÇÃO: + Zélia Martins (68 anos), ex-sacristã e ex-enfermeira do Pe. Alderígi. Entrevista em 23/05/87. * Rua Pref. Sebastião Januzzi, 79 * 37.775-000 – Santa Rita de Caldas, MG

Humildade e pureza do Pe. Alderígi

Crônica do Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M

Depois de viajar a noite inteira, cheguei em Uberaba, procurando pelo Juiz de Direito, Dr. Paulo Maia, grande admirador do Pe. Alderígi, a quem chamava carinhosamente de “Padrinho”.

Emocionado, começou o juiz a falar: “Meu Padrinho era um gigante de virtudes. Ai que modéstia era a dele! Modéstia mais que franciscana. Era menino em pureza. Idade mental de oito anos – tal a pureza deste homem de olhar limpo e inocente».

Dr. Paulo Maia era rigoroso como juiz. Testemunha que não chegasse na hora prevista, era trazida presa. E um dia, o Pe. Alderígi foi convocado a testemunhar em Caldas. O júri começaria às 13:00hs e o Padre já chegou às 11:00hs. Ficou ali, sentadinho, humilde, cabeça baixa, rezando. Aquilo emocionou seu afilhado que assim que o ouviu como testemunha, paralisou a audiência, colocou o Padre em seu carro, levou-o a Santa Rita de Caldas e só depois é que deu continuidade ao julgamento.

Perguntei ao juiz:

Vocês dois deviam ser como dois irmãos, não?

De pronto, ele respondeu:

Não. Como pai e filho.

 

CONTRIBUIÇÃO: Dr. Paulo Maia (1927), Juiz de Direito. * Entrevista em 29/03/90 * Rua Antônio Carlos, 245 # Fone: (034) 333-4848 * 38100 – Uberaba – MG

Pe. Alderígi e o juiz bêbado (1971)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Dr. Paulo Maia, Juiz de Direito em Caldas, embora alcoólatra inveterado, sabia ser muito amado pelo Pe. Alderígi, que sempre o tratou como filho. E o juiz sentia-se enobrecido, vendo nele o pai que não teve.

Sempre que o padre o enxergava, já de longe vinha sorrindo, alegremente.

As cartas que o abençoado sacerdote lhe escrevia, sempre vinham encabeçadas com as ternas palavras “Meu querido afilhado.”

“Eu e o César (Dr. César de Carvalho, médico e primo do Frei Felipinho) éramos os dois mais perdidos da cidade. Mas também éramos os dois mais estimados pelo Pe. Alderígi” – confiou-me o bom juiz, em minha visita à sua casa de Uberaba.

Várias vezes, os dois colegas de espalhafatosas folias foram convidados pelo padre a comer com ele. E aí o santo brincava e ria, dando-lhes, como castigo e penitência, só meio copo de vinho – Era sempre o melhor vinho da terra, o Ferreira, fabricado no Pião.

O Padre, quase sempre, achava graça no que os dois aprontavam. Quase sempre (não sempre),pois em certa ocasião, em que o ministro de Deus benzia um jeep, chegaram os dois amigos, com todo o fogo, acompanhado daquela chateação, própria dos bêbados. O Padre, no entanto, nem interrompeu as orações. Só lhes deu aquele empurrão e continuou a cerimônia.

E, assim, o Padre dominava qualquer situação e todos lhe prestavam obediência filial.

Um dia, Pe. Alderígi voltou da Itália, para onde tinha ido tentar trazer o corpo incorrupto de São Benedito. Só conseguiu, porém, trazer dele o manto.

Todo o mundo, na porta do santuário de Santa Rita, para as homenagens e discursos de boas-vindas.

Então, o Juiz de Direito, naquele notório estado de embriaguês, se adiantou. Um frio percorreu o espinhaço de cada um. O que iria acontecer? O que poderia sair dali, neste estado lamentável, para não dizer humilhante, devido à amizade dos dois?

Mas, Dr. Paulo – poucos sabiam – quando bêbado, ficava mais inspirado. Daí há pouco, quase todos choravam. E o Padre começou a soluçar e Dr. Paulo mais se inflamava e prosseguia firme, corajoso, quase heróico: “Pe. Alderígi foi à Itália para buscar um santo e a Providência não lho permitiu porque não há necessidade. Nós já temos aqui um santo, e de carne e osso. Santo com alma vibrante, quente, aconchegante, aqui ele está, na humildade de servir a todo o mundo.”

E foram só palmas, só vivas, só abraços, enquanto o santo vivo, tão simples e humilde e menino, enxugava as lágrimas de emoção.

 

CONTRIBUIÇÃO: Dr. Paulo Maia (1927), Juiz de Direito. Entrevista em 29.03.90. * Rua: Antônio Carlos, 245 # Fone: (034) 333-4848 * 38.100 Uberaba – MG.

Homenagem do Arcebispo ao Pe. Alderígi (1972)

Assunto: Alderígi homenageado pelo arcebispo no encerramento do Cursilho

Em 1972, houve um encerramento de um cursilho de cristandade, no Seminário de Pouso Alegre. Pe. Alderígi estava presente, tendo ido para prestigiar alguns de seus paroquianos que dele participaram.

Solene como sempre, Dom José d”Ângelo Netto, arcebispo de Pouso Alegre, se levantou para dizer algumas palavras. Falou sobre a fidelidade do padre a seu sacerdócio. Entre outras palavras afirmou: «O padre precisa ser padre. Só padre e nada mais. Alguém que foi só padre está aqui presente».

Ao dizer essas palavras, ele dirigiu-se ao Pe. Alderígi, ajoelhou-se diante dele e beijou-lhe a mão. Todo o mundo se emocionou tanto, que ficou arrepiado. Pe. Alderígi, que não esperava por essa homenagem, foi se encolhendo, sem saber onde pôr a cara, com as mãos sobre sua própria cabeça, como se escondendo de vergonha, tentando impedir aquela homenagem. O Arcebispo voltou para a mesa e o humilde vigário ficou chorando de emoção.

 

CONTRIBUIÇÃO: Pe. José Francisco Ribeiro (1940) * Entrevista em 6/3/2000. * Rua João Irineu da Costa, 23 * 37.680-000 Gonçalves, MG

Pe. Alderígi e a juventude (1972 - 1977)

Carta de Stella Lorena

Nunca como agora estivemos ou estamos em uma paróquia tão bem organizada: é a casa paroquial, é a igreja-templo, são as aplicações financeiras, são os veículos auto-motores. Enfim, o contrário daquilo que D. José D Ângelo considerava como uma má organização, por parte do Pe. Alderígi. Hoje não há bispo algum que possa se queixar. Ninguém.

No entanto, há, sim. Quem? Os paroquianos que sentem a falta e a saudade do Pe. Alderígi, o padre desorganizado, que vivia numa casa sem conforto; que não guardava dinheiro; pelo contrário, sempre precisando de algum, porque servia a quem precisasse. O meu povo sente falta de um pai. Alderígi, o pai que acabava com as brigas entre as pessoas; que servia a todos igualmente; que tinha tempo para ouvir e confessar a quantas pessoas dele precisassem; que se fazia criança com as crianças (quantas vezes o vi chorar de alegria no meio delas!), dando-lhes balas e santinhos, dando-lhes as mãos quando estas acorriam para se encontrar com ele, quando descia para a igreja. Se fazia jovem com os jovens, na missa que celebrava na Sedinha (C.J.S.), especialmente para nós jovens; na confiança e esperança que colocava em nós, enviando-nos para organizarmos cultos dominicais nas capelas rurais de São José do Prata, de São Bento ou Pião (nem do dinheiro do nosso lanche ele se esquecia…); nas várias serenatas que fazíamos para ele em ocasiões especiais e ele, depois de ouvir-nos, mandava-nos entrar e tomávamos café com bolo ou biscoito (às vezes, um tanto receosos, com algum medo da governanta, Dona Zélia).

Pe. Alderígi personificava, por sua doação total, o ideal de fazer-se um com todos. Sua preocupação com os jovens era tamanha, chegando a enviar-nos a todos os encontros, retiros ou cursos de catequese que surgissem. E o dinheiro? Cada um contribuía com o possível e o resto ele completava, não permitindo a exclusão de ninguém por problema financeiro. Financiava até mesmo nossos shows e peças teatrais, organizados por nós com a finalidade de angariarmos fundos para nossos encontros, especialmente os do Movimento Focolare (As focolarinas o chamavam carinhosamente de Vô. Mais tarde, o Pe. Elias o chamou de Vô Santo).

Certa ocasião, percebendo nossa dificuldade, esse líder bom chegou a alugar para nós uma garagem, onde instalamos nossa Sede Gen. Houve inauguração solene, com a presença de focolarinas e até mesmo de certo frade, até então por nós desconhecido. Também o salão paroquial se transformou, com sua permissão, em nosso lugar de encontros no fim da semana, com a condição de não dançarmos. Mas, nada impedia-nos ouvirmos música, jogarmos ping-pong e outros jogos; havia naquela época, lá por 1970, lideranças adultas que ajudavam os jovens, sob a supervisão do Pe. Alderígi, inclusive casais cursilistas, como papai, mamãe e outros. Os movimentos cristãos cresciam de vento em popa e como desapareceram com a ausência deste Vô Santo!

Sabe que tínhamos uma biblioteca ambulante? É verdade. Era apenas um carrinho, igual a esses em que se vendem sorvete e doces, com buzina e nome e tudo; os meninos andavam pela cidade, entregando ou recolhendo os livros cristãos ou de moral, com ótima organização, confirmada pelo caderno onde tudo era anotado, por exemplo, o nome da pessoa que recebia o livro, bem como a data do empréstimo e da devolução.

E hoje? Tenho pedido muito a Deus e a Nossa Senhora pela paz na nossa paróquia e nossa comunidade. Pe. Elias me dizia: “Stella, tenha paciência como Deus tem. Esta terra foi regada com suor de um sacerdote santo e a sementeira logo vai explodir”.

Peça com insistência a Jesus que tenha piedade de nós e intervenha com o seu Espírito de Amor, de bondade, misericórdia, mansidão, paciência e com todos os seus frutos, em prol de nossa comunidade e, especialmente, para nossos corações.

 

CONTRIBUIÇÃO: Áurea Stella Burza Lorena de Carvalho, * Residia na época da carta à Rua Mal. Floriano Peixoto, 54 * Reside hoje à Rua Com. José Garcia, 301 – Fone (035) 422-1208 * 37550-000 – Pouso Alegre, MG

RCC na arquidiocese por causa do Pe. Alderígi

Crônica de Frei Felipe Gabriel O.F.M.

Passei a Semana Santa do ano 2000 em Itajubá, pregando na paróquia de São Benedito. Numa manhã de pouca atividade, sair a procura de um bar, para preparar-me para o almoço, tomando uma caipirinha. Depois de andar um bom bocado de tempo entrei num, e quem estava lá, apreciando uma boa cerveja? O Tatá, o ex-presidente da Comissão da RCC, a quem muito admiro. Conversa vai, conversa vem, e o assunto caiu sobre o Pe. Alderígi. E o Tatá contou coisas que eu nunca tinha imaginado: «Houve uma reunião, à qual estavam presente o Arcebispo Dom José DŽÂngelo Neto, o Mons. Mauro, a Irmã Marina (de Areias) e eu que era o coordenador da comissão arquidiocesana. Nesta reunião o Sr. Arcebispo fez uma declarçaõ: “Se eu me abri à RCC, foi devido ao Mons. Alderígi. Tinha ouvido muitos comentários negativos sobre esse movimento. Estando eu em dúvidas se permitiria sua presença na Arquidiocese, fui me aconselhar com o Mons. Alderígi. E ele me disse: “Excia., não se feche a essa graça, porque ela é de Deus”.”

 

CONTRIBUIÇÃO:
Tatá (Tarcísio José Andrade Coutinho)
Cx.Postal 472 – Fone: (035) 622-1642
37.500-000 – ITAJUBÁ, MG

Motorista não taxista

Assunto: Provocando amizade para converter alguém

No final da vida, Pe. Alderígi sofria muito não só com suas varizes e flebite, obrigando-o a usar bengala, mas também com problemas nos joelhos.

Por isso, muitas vezes ia à casa de Ivan da Silveira, ou até mesmo a acordá-lo, pedindo-lhe o levasse à casa paroquial, em seu carro particular. Jocosamente, o jovem reclamava dizendo «O senhor acha que eu sou taxista?».

O velho e bondoso vigário ria que ria e continuava convocando-o na próxima vez, provavelmente tentando aproximar-se mais e mais desse homem bom mas que não era muito de igreja.

 

CONTRIBUIÇÃO: Neuza Lopes da Silveira (1943), doméstica. * Entrevista em 08/12/97. * Rua Israel Silva, 31. – Fone: (035) 734-1334. * 37.775 – 000 Santa Rita de Caldas.

Anotações escritas no breviário Pe. Alderígi

a) Coração de Jesus, Vítima de Caridade, fazei-me uma hóstia viva, santa, aceita por Deus!

b) Si vis esse mecum, ego ero tecum.

Senhor Jesus, faze que eu seja santo, porque Tu és santo! Faze que eu santifique as almas, porque para elas foste mandado à terra e para elas criaste o sacerdócio. Faze que, como bom pastor, me entregue todo pelas tuas ovelhas, porque Tu primeiro Te sacrificaste por todas.

O santo, junto de quem eu vivi 35 anos

Assunto: A vida humana e espiritual do Pe. Alderígi

Crônica de Maria José Januzzi d Ambrósio

Ainda o tenho na lembrança. Figura marcante, indelével, postura íntegra, semblante sereno, atitudes ímpares.

Comum e paradoxalmente incomum, viveu entre seres viventes, servindo comunidades, prescindindo regalias, acatando sacrifícios, priorizando valores absolutos.

O peso dos anos não mudou o ritmo de sua espiritualidade. Já velhinho, via-o passar rumo à igreja, cabelos grisalhos, andar trôpego, pureza no olhar, sorrisos nos lábios. Tudo nele refletia paz, senão o próprio Cristo.

Batizada por ele, tive a felicidade de viver à sua sombra benéfica, por muitos e muitos anos; e aprendi a admirá-lo pelas virtudes e a respeitá-lo como santo que, realmente, foi aqui na terra.

Refiro-me a Mons. Alderígi, o grande e humilde, o talentoso e simples pároco de Santa Rita de Caldas, por 50 anos.

Por detrás das flores do pequeno jardim da cidade, situava-se a casa paroquial, caracterizada pela modéstia que ele, monsenhor, escolhera para viver.

Sua vida de renúncias e sacrifícios era conhecida por todos. Dormia em chão duro, embora negasse, quando interrogado. Abstinha-se de vários alimentos, pois achava necessário dizer não ao corpo, para educar o espírito. Vivia com os bolsos vazios pois as moedas que possuía dava-as aos pobres. Suas vestes eram singelas e quando recebia outras de presente, repartia-as com os necessitados.

Todas as promoções que fazia visavam a compra de remédios e alimentos às pessoas carentes, a quem nada deixava faltar.

Era Mons. Alderígi… (como diria?) uma fortaleza, na qual todos se agarravam, certos de que não sucumbiriam em meio aos revezes da vida.

Eram jovens que para lá acorriam à procura de orientação, eram casais, em momentos difíceis, pedindo-lhe ajuda, eram crianças que com ele, sorrindo, trocavam gibis, eram velhos que buscavam força àquela fonte de vida, eram seres em depressão que dali saíam confortados, eram pessoas felizes que com ele repartiam felicidade.

A confiança que inspirava era algo de divino. Primava-se pelo desprendimento e caridade.

Voltou sua vida toda ao serviço de Deus e do próximo. Semanalmente, visitava a zona rural, onde a cavalo ia celebrar missas, atender confissões, pregar a palavra evangélica.

A maior parte do tempo encontrava-se na igreja, atendendo solicitamente os romeiros, dando bênçãos de Santa Rita, distribuindo comunhões.

Muitos milagres por nosso santo foram realizados: Eram pessoas entrevadas que saiam andando, doentes desenganados que se curavam e, sobretudo, conversões múltiplas que ocorriam, inferidas pelo exemplo de vida do monsenhor.

Vivi 35 anos ao seu lado e posso testemunhar sua santidade.

Ele se foi. Não apenas viveu. Marcou a existência.

A pequenez do espaço não daria para colocar a grandeza de sua alma.

A pobreza das palavras não faria jus à sua vida de glória. Sua bênção, Mons. Alderígi!

CONTRIBUIÇÃO: Maria José Januzzi d Ambrósio ( Zizinha e Ziza) (1932), professora universitária e líder paroquial. Testemunho enviado em 25/05/1991. * Rua Cap. José Afonso, 202 Fone: (035) 721-3891 * 37700-000 – Poços de Caldas, MG

Sabedoria de Um Santo

Pe Alderígi, o pacificador das famílias (1948)

Crônica de Neide Silveira de Carvalho

Em 1948, briguei com meu pai e prometi não ir mais em sua casa. Eu dizia: “Não vou na casa de meu pai, nem que ele morra.” Geraldo, meu marido, foi falar com o Pe. Alderígi e ele teve uma idéia: “Chama a Neide, dizendo que quero falar com ela; chama o pai dela, sem que a Neide o saiba. Quando os dois estiverem aqui, eu dou um jeito.” Quando cheguei na igreja, lá estavam o Padre e meu pai. Comportei-me com muita arrogância: “Se meu pai quer ir em minha casa, que ele vá. Mas eu não pisarei mais em sua casa.” E o Padre não desistiu: “Você ama a Deus? Você ama à Santa Rita? Se ama, você vai.” Para que eu fosse à casa de meu pai, o Padre teve de deixar todos os seus afazeres e irmos juntos tomar um café com toda a família.

Outra vez, separei-me de meu marido, em Mococa, e viajei para Santa Rita de Caldas. Geraldo foi atrás, procurando-me, tentando reconciliação. Era época de minhas brigas. Quem salvou a situação foi, outra vez o Pe. Alderígi. Dizia: “Neide, não me conformo com essa separação. Você não tem licença para fazer isso.” Então, eu replicava: “Mas meus filhos estão vendo as brigas”. E ele falava daquilo que ele mais vivia: “Reze, Neide, eu também vou rezar! Não se esqueça, brigas, isso é natural. Você precisa esquecer o que o outro fez. Como se separar, se vocês tem os seus filhos para criar?”

 

CONTRIBUIÇÃO: + Neide Silveira de Carvalho ( 60 anos ), doméstica. Entrevista em 18.02.87. * Rua Padre Vieira, 747, ap. 63 # Fone:(0192) 8 – 3075 * 13.100 Campinas – SP.

Pe. Alderígi, o sábio transformador das famílias

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O . F. M.

Quando se casou, o marido de Da. Enedina Lacerda Loures ( 1930 ) quase não tinha fé. Isto tudo feria e martirizava a esposa, enfermeira muito religiosa. Pouco a pouco, graças à orientação do Pe. Alderígi, ele foi modificando seu modo de sentir e de pensar.

Para que um homem sem fé pudesse começar a crer, não seria, para o nosso bom vigário, um trabalho de apenas bons conselhos e de muita conversa. Mais que tudo isso, importante para mudança seria a oração e os pequenos gestos de amor e de ternura. Assim o sábio e prudente vigário aconselhou à enfermeira: “Quando ele ficar brabo, procure abraçá-lo. Faça para ele as coisas boas que você sabe fazer. Neste sentido, vocês mulheres, são artistas e sabem inventar muitas surpresas para serem agradáveis. De mais a mais, com ensina São Paulo na carta aos Efésios, procure ser submissa a ele.

Seus conselhos eram certos e hoje o marido de Da. Enedina não é mais o mesmo. A graça e o amor constante foram transformando um e outro, a ponto dos dois perfazerem um belo casal aberto a Deus, presente no irmão sofredor.

 

CONTRIBUIÇÃO: Enedina Lacerda Loures ( 1930 ), enfermeira. Entrevista em 14.04.87. * Rua Marechal Floriano, 31 # Fone: (035) 3734-1235 * 37.775-000 Santa Rita de Caldas MG.

Para Pe. Alderígi, pobre deve ser alegre (1960)

Crônica de Rubens D”Ambrosio

Lá por 1960, todos nós passamos por grandes provações. Eram problemas financeiros, eram problemas de saúde e o nervosismo começou a me fustigar sem piedade. A quem recorrer em tal situação? É claro que só poderia ser junto do Pe. Alderígi, sempre pronto a nos atender em qualquer momento.

Cheguei perto dele e fui lhe dizendo:

– Pe. , não sei. Ando muito nervoso.

Ele olhou para mim, sorriu e lançou-me uma pergunta:

– Você é rico ou pobre?

De imediato lhe joguei:

– Pobre.

Então, brincando, como era seu normal, passou a dizer-me:

– Quanta tristeza junta! Ser pobre e ser nervoso! Pobre deve levar a vida sorrindo sempre.

E não precisou dizer-me mais nada.

 

CONTRIBUIÇÃO: Rubens D”Ambrosio ( 1929 ), funcionário as Secretaria da Fazenda. Entrevista em 08/05/87. * Rua Correia Neto, 555 – ap. 51 * 37.701-016 Poços de Caldas – MG.

Conselhos do Pe. Alderígi (1960-1970)

Neuza Lopes Silveira

Quando eu trabalhava como membro da Legião de Maria, de 1960 a 1970, tínhamos o Pe. Alderígi como diretor espiritual. Dele ouvi o seguinte ensinamento: «Quando eu quero pedir alguma coisa para alguém, peço às pessoas mais ocupadas, pois as desocupadas nunca têm tempo».

 

Dizia ainda, como diretor espiritual da Legião de Maria: «O trabalho legionário é de um valor muito grande; vocês não deixam tudo para trabalhar para Maria? Então, quando estiverem com algum problema, peçam com confiança e insistência, pois ela, cheia de graça, como é, não deixará de lhes atender». Falava mesmo que podemos cobrar isso de Nossa Senhora.

Um dia, ouvi dele, também, que certo jovem rico, conversando com o tio, dele ouviu: «Meu sobrinho, você é um moço muito feliz. Tem casa tão bonita. Tanta fartura. Tanto dinheiro para comprar tudo que quiser». Mas… o moço respondeu: «Ah, meu tio, daria tudo isto por um beijo que meu pai nunca me deu». Disto o Pe. Alderígi concluía: «Os pais precisam ser muito carinhosos com os filhos e com eles conversar bastante. Senão, eles vão desanimar por terem pais tão indiferentes. Todo o filho gosta de ter um pai amigo. Se não tem, ele pode ir para a rua e amizades na rua nem sempre são as melhores».

 

Um dia, ouvi Monsenhor ensinando: «O maior dom é o de saber ouvir alguém, principalmente com problema, porque normalmente queremos falar do nosso problema e não ouvir o do outro».

 

Escutei da Margarida do João Canedo (mais ou menos 60 anos), que um dia Monsenhor perguntou para ela: «Margarida, você sabe como se faz para ir para o céu?» Ela respondeu: «Não sei, Monsenhor.» E ele lhe disse: «Não é balançando numa rede, à sombra de uma árvore, não. É carregando cada um sua cruz, com amor.»

 

CONTRIBUIÇÃO: Neuza Lopes Silveira (1942), doméstica. Enviou a contribuição, por escrito, em 18/05/1998. * Rua Israel Silva, 31 – fone: (035) 734-1334 * 37775-000 – Santa Rita de Caldas, MG

Pe. Alderígi consola e salva uma família (1964)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O . F. M.

A presença de Pe. Alderígi junto a família de Luzia e João Barbosa era uma constante sempre fiel. Foi ele quem pediu o casamento dos dois, abençoou-o e esteve presente nas suas bodas de prata. Em 1964, a filhinha Nilvana, de apenas um ano e oito meses, morreu. Logo apareceu ele na casa deles, dando a todos aquela força: ” É um anjo que você, Luzia, entrega a Deus… Lembre-se que não cai uma folha duma árvore sem a permissão do Senhor… Se Deus a levou assim tão cedo, não seria para livrar de coisas piores? “

Assim a família ficou mais conformada e aceitou tudo com maior resignação.

Mas, quando aquele lar já estava enriquecido com três ou quatro filhos, grande crise se abateu sobre todos. Brigas, discussões, cada vez mais freqüentes, e o vento mau da separação batia forte em seus alicerces, causando erosões. Todavia, quando Da. Luzia ouviu do esposo: ” Você não paga nem o feijão que come”, ela desistiu de tudo e retrucou:

– Hoje mesmo eu saio desta casa e não volto mais.

Por sorte, uma vozinha ainda pôde sussurrar: “Quer separação? Separe-se. Mas, antes, que tal uma conversinha com seu pastor?» Luzia resolveu, então, ir se confessar com o Pe. Alderígi que há muito tempo bem conhecia todos os seus problemas. Com sua prática de ótimo confessor, com sua autoridade de bom pastor, foi ele logo dizendo, categoricamente:

– Não. Não vai se separar de jeito nenhum.

A seguir, encorajou-a com o exemplo de nossa padroeira: “Olhe Santa Rita, como ela sofreu…» Depois contou-lhe uma estorieta, explicando-lhe com uma senhora superou o mesmo problema, pois, também ela tinha um marido que jogava demais e só chegava em casa de madrugada: “Alguém lhe disse: ” Vai e faça tudo o que ele gosta”. E a esposa assim o fez; esperou o marido até altas horas. Percebendo que era noite fria, ela lhe preparou um café quentinho. Outra noite, esperou-o com o bolo mais apreciado por ele. Na terceira noite, o marido já estava mudado e não saiu mais.”

” Eu pensei – arrematou Da. Luzia em sua entrevista comigo-: Se é assim, não custa tentar a começar a fazer tudo o que ele mais gosta”.

E o casamento não se desfez e as crianças continuaram crescendo sem a desilusão de pais separados.

 

CONTRIBUIÇÃO: Luzia Silva Barbosa ( 1923 ), dona de casa. Entrevista em 03.02.89. * Rua Pe. Assunção, 6 # Fone: ( 035 ) 735-1239 * 37.780, Caldas – MG.

Pe. Alderígi aconselha uma senhora caluniada

Crônica de Margarida Canedo Garcia

Uma coisa que muito me marcou foi uma lição que o Pe. Alderígi me deu, de tão grandiosa, impossível de ser esquecida.

Há 17 anos atrás, uma pessoa pisou na honra de minha família, caluniando uma pessoa muito querida. Assim, o nome dela foi para a rua da amargura e não pudemos fazer nada que conseguisse provar sua inocência. Sofremos, então, só o que Deus sabe e eu comecei a sentir não sei se era amargura, se era raiva ou ódio contra aquele que havia feito um mal tão grande. Então, afastei-me da comunhão por estar carregando tanta maldade no meu interior.

Passaram-se 5 meses. Um dia, eu ia entrando na capela do Santíssimo e o Padre estava no confessionário, seu lugar preferido. Ao passar por ele, chamou-me e perguntou-me o motivo do afastamento da Eucaristia. Chorando, contei-lhe tudo e ele, segurando minhas mãos com tanta ternura, disse-me: ” Filha, quando você vai ao médico?” ” Quando estou doente” , respondi-lhe. ” E você quer ficar com o coração doente assim, ou sarar e tirar esta dor do seu coração?” perguntou-me. Aí eu lhe disse: “Ah! Padre, a coisa que mais quero é voltar a ter o coração tranqüilo.” Então, ele continuou: “Mas, se você não procurar o médico que é Jesus, você não vai sarar nunca. E você sabe como se vai para o céu? A gente vai para o céu, não numa cadeira de balanço, mas cravado de espinho e com a cruz nas costas. Volte a comungar que, devagarinho, tudo vai passar! Confie nele!”

Aquelas palavras, ditas com tanta ternura, foram como um bálsamo para a chaga do meu coração. De fato, fiquei curada, graças a Deus.

 

CONTRIBUIÇÃO: Margarida Canedo Garcia ( 1937 ), doméstica. Entrevista em 21.05.87. * Rua cap. Cândido, 241 * 37.775-000, Santa Rita de Caldas – MG.

Pe. Alderígi acalma uma menina (1970)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O . F. M.

Com oito anos, a grande líder dos carismáticos de Poços de Caldas, Da. Terezinha Aparecida Polomiato, teve um sonho que muito a impressionou. Viu Nossa Senhora, muito linda, que se inclinou para ela e lhe pediu: «Terezinha, busque-me um balde d”água!»

Saíu correndo a garota para obedecer ao pedido da Mãe de Deus, trouxe o balde cheio d”água e, quando ia lhe entregar, a celeste visão completou: «Não preciso da água. Só queria ver se você era boazinha. Quero, no entanto, dar-lhe um aviso: “O mundo vai se acabar. Todos vão desaparecer e só você vai ficar!”»

Acordou a pequena Terezinha assustada e se encheu de pavor. Não tinha a coragem de contar esse sonho nem para a sua mãe, nem para ninguém. O medo ia aumentando; chorava, sem saber o que fazer. No dia seguinte, se lembrou de contar tudo para o Pe. Alderígi, pois ele era santo, era bom, haveria de a acolher e lhe explicar tudo direitinho. Assim pensou, assim subiu a grande ladeira da Rua Dr. Uriel Alvim; atingiu a Praça Pe. Alderígi e entrou no santuário onde o encontrou e lhe contou tudo. Ouviu o bom padre com calma e depois lhe disse com ternura:

– Bobinha! Em vez de ficar feliz por ter tido um sonho destes, você fica chorando… Quantos gostariam de ter um sonho tão lindo como esse e não têm! Você deve ficar é feliz!

Depois, colocou mansamente a mão na cabeça da menina e lhe disse:

– Vai em paz! Você não vai ter mais medo!

De fato. O medo naquele instante sumiu completamente. Desceu a ladeira da Rua Dr. Uriel Alvim numa carreira desembalada, cantando, cantando… Estava realmente feliz.

 

CONTRIBUIÇÃO: Terezinha Aparecida Polomiato ( 1932 ), cabelereira. Entrevista em 16.08.87. * Rua Sílvio de Oliveira, 141 # Fone: (035) 72-2059 * 37.700, Poços de Caldas – MG.

Pe. Alderígi e os mandamentos (1970)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O . F. M.

Lá por 1970, sofrida e cansada, Da. Leone carregava dentro de sua casa um fardo muito pesado. Gostava de sair de casa e não podia, vivendo sempre fechada, atrás dos muros levantados em frente de seu lar.

Empurrada por amigas, conhecedoras do Pe. Alderígi, principalmente por sua mãe que o venerava, subiu ela as ruas de Santa Rita de Caldas, até a simples e pobre casa paroquial. Aquelas duas janelas que davam para o jardim da bem cuidada Pça. Pe. Alderígi, estavam sempre abertas. Subiu a rampa que existia no lado direito e ele mesmo veio recebê-la à porta. Alto, cabelos branquinhos, irradiando muita vida interior, embora apoiado numa bengala, acolheu-a com bondade, já conhecida por ter ouvido falar.

“Depois de ter ouvido minhas lamúrias – contou Da. Leone – ele perguntou:

– Conhece os dez mandamentos?

– Claro. Desde criança. Talvez não saiba citá-los numericamente. Mas, os conheço. Foram as primeiras coisas que aprendi.

– Não precisa recitar. Só um que eu quero. A base de todos eles: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. A base está neste. Não é preciso citar os outros. Se amar o próximo, a família, o vizinho, até o distante, então vai achar a vida mais fácil.

E desde aquele dia, minha vida começou a mudar” – completou Da. Leone.

CONTRIBUIÇÃO: Leone Utsch Leonello Nogueira ( 1938 ), dona de casa. Entrevista em 01.12.87. * Rua Tutóia, 110 # Fone: (35) 721 – 7506 * 37.701-080, Poços de Caldas – MG.

Pe. Alderígi ensinava que as boas obras devem ser feitas na humildade

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

“Nosso Pe. Alderígi era bom para todo o mundo principalmente para os pobres. Suas batinas velhas ele trazia para que eu desmanchasse e fizesse roupa para os pobres. Eram realmente muito velhas e remendadas. Até roupa nova para um preto que vivia amigado e ia se casar ele deu.” D. Olímpia minha madrinha, estava feliz em poder contar isso e muito mais do Pe. Alderígi.

Um dia, era primeira sexta-feira do mês, dia do Sagrado Coração, ele reuniu as zeladoras e zeladas, perto do altar do Sagrado Coração de Jesus. Era um altar bonito, do lado da Capela do Santíssimo. Os 4 anjos de pé, segurando candelabros, com túnicas azuis e róseas, formavam um conjunto muito solene.

As zeladoras do Sagrado Coração, todas sentadas em seus bancos, do lado esquerdo da nave, com seus vestidos pretos e com fita vermelha ao pescoço, ouviam uma história que lhes ensinou a humildade em praticar as boas obras. Assim ele contou:

– Morreu uma mulher tida por todos como muito piedosa e muito caridosa. O povo até dizia que ela não precisava de missas porque já estava no céu. Mas, a missa foi celebrada com a igreja lotada de gente. Num certo momento ela se levantou e disse: “Realmente eu não preciso desta missa, porque estou no inferno. Porque eu não fiz nada de obras de piedade e de caridade. Tudo o que eu fazia era para o mundo, e nada para Deus, pois era para me mostrar.”

É que ela fazia só perto dos outros, para ser vista.

CONTRIBUIÇÃO: Olímpia Felipe da Silva (1912), costureira. Entrevista em 02.12.87 * Rua Felipe Burza, 64 * 37.775-000 – Santa Rita de Caldas – MG.

Pe. Alderígi, o bom conselheiro (1970)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O . F. M.

Em 1970, Da. Leone procurou o Pe. Alderígi, pois havia problemas em sua família, marido sofrendo depressão e ela, cada dia mais angustiada. E a visita ao bom velhinho de Deus seria mergulho numa piscina de paz e bálsamo.

Logo depois do trevo da Estrada 459, já foi avistando as duas torres e o Santuário, sobressaindo sobre o casario das ruas empinadas. Subiu pela Major Bonifácio e continuou subindo pela Rua João Batista Filho. À frente do Santuário encontrou o jardim, a Pça. Pe. Alderígi, plana no começo, mas, inclinada logo depois, como todas as ruas da pequena cidade de uns 3.500 habitantes. Nem duas centenas de metros após o Santuário, chegou à velha casa paroquial, com suas duas janelas para a praça, uma pequena rampa no lado direito de quem entra, construída mais tarde, por causa do problema no andar deste santo homem de Deus. Lá dentro, encontrou o sorriso acolhedor de quem tanto precisava.

” Meu problemas me faziam desesperar porque eu vivia fechada dentro de mim – contou-me Da. Leone – Vivia eu só para meu pequeno mundo. O muro em frente à minha casa de Poços de Caldas era como símbolo da minha vida de dentro. Pe. Alderígi não foi meiguinho. Comigo falava com bondade e também com energia.”

Depois de ouvir um bom desabafo, ele lançou-lhe uma pergunta:

– Como está vivendo dentro dos seus muros? O que faz lá dentro?

– Cuido da casa, da roupa, da comida. O que o Sr. quer dizer? Que eu vá para a casa da vizinha bater um papinho?

– Você está errada. Sair dos muros é procurar quem está precisando de você. Sua vida será mais fácil se fizer algo pelos outros. Saia de seus muros e vá ajudar a alguém e seu fardo será mais leve!

– Padre, é tão difícil a felicidade assim?

– Você sabe o que é um homem chegar bêbado em casa e bater na mulher e filhos? Sabe o que é viver com um homem jogador; Dado a mulheres, trazendo doenças para casa?… Então, dê graças a Deus! Ajoelhe-se e agradeça ao nosso Pai todas as graças recebidas! A gente pensa que nosso fardo é pesado. Olhe para trás, veja à esquerda e à direita!

Pe. Alderígi sabia que Da. Leone freqüentava a Igreja Metodista. Mas o Padre sempre respeitava sua fé, com seu coração aberto. Os dois se sentiram muito bem.

Depois daquela conversa, bastante séria, Da. Leone teve oportunidade de voltar mais vezes e ele ia cobrando. Ela acabou encontrando a alegria, trabalhando no clube de mães e mais tarde até mesmo no hospital.

 

CONTRIBUIÇÃO: Leone Utsch Leonello Nogueira (1938), dona de casa. Entrevista em 01.02.87. * Rua Tutóia, 110 # Fone: (035) 721-7056 * 37.701-800 Poços de Caldas – MG.

A Pobreza de quem se despojou de tudo

Pe. Alderígi, o homem dos pobres (1945 ou 1946)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Madrugada. Altino Dantas estava voltando do jogo, em direção à pensão, pertinho do Santuário, a primeira casa no começo da ladeira da Rua Dr. Uriell Rezende Alvim.

Aproveitando-se da amizade que os unia, subiu a escada de cimento que conduz a pequena sacada, pois a Praça Pe. Alderígi apresenta forte declive. Vagarosamente empurrou a porta de entra- da – em cidade pequena as portas não precisavam se trancar – entrou casa adentro e …deparou com o santo dormindo ajoelhado, ante uma cama sem colchão nem travesseiro nem cobertor.

– Ô! Padre! Sua cama, que houve? Onde está o colchão e toda a roupa de cama?

Desapontado, pego em flagrante em seus atos secretos de santidade, sempre ocultos em sua humildade, naquela sem-graceza total, trouxe a explicação, sem mentiras, mas que confunde qual- quer cristão:

– É que chegou gente na casa de D. Benedita e era doente muito mal e… faltava o essencial.

D. Benedita tinha uma casinha, lá no alto, perto do primitivo campo de futebol, perto da atual Igreja Nossa Senhora Aparecida. Toda a pessoa doente e pobre que vinha da roça era lá que era acolhida e tratada. E agora, diante do bom santo, humilde, numa cama nua, sem nadinha, o Sr. Altino lhe perguntou:

– Como pode dormir assim?

– Eu dou um jeito. Tenho uma grande capa de chuva e me deito sobre uma ponta e me cubro com a outra.

“Não só santo – foi explicando esse nosso amigo – também paupérrimo. A ponto de uma vez vê-lo, em 1945 ou 46, junto ao Sr. Martimiano Barbosa, dono da pensão onde eu dormia, pedindo um arame para amarrar seu sapato. A sola tinha se despregado.

– Ô! Padre! Compre um sapato novo! Sapato amarrado com arame…! Onde já se viu isto? Nós vamos dar-lhe outro.

– Agora vou assim mesmo. O sapato custa muito caro.

CONTRIBUIÇÃO: Altino Dantas (1900), coletor e Ex-Prefeito de Santa Rita de Cal- das. Entrevista em 08.10.87. * Rua Dionísio Machado, 120 # Fone: (035) 421-1484 * 37.550-000 – Pouso Alegre – MG.

A Oração de fé do Pe. Alderígi (1947)

Crônica de Frei Felipino Gabriel Alves, O.F.M.

Em 1947, mais ou menos, o céu do Pe. Alderígi, financeiramente falando, estava escuro e nuvens carregadas das contas das farmácias o ameaçavam de todos os lados. É. Os seus pobres sempre doentes. Sempre gastando.

Angustiado, ajoelhou-se diante do altar de sua santa padroeira querida, de milagres impossíveis, sempre atenta aos seus pedidos surpresas, mas ultimamente meio ressabiada de tantas importunações. E Santa Rita foi escutando suas lamúrias, suas preces cheias de gemido e desconsolo, clamando por ajuda. Nem era ajuda espiritual não. Era mesmo ajuda material. Dinheiro. E com urgência. O pobre Pe. Alderígi rezou, clamou, argumentou, confiou e … (Santa Rita se comoveu com tanta fé e piedade) ao levantar-se da oração, já deu de cara com Rute Camargo.

Esta senhora sempre espalhava a todo mundo que fora o Pe. Alderígi, no tempo em que ainda trabalhava em Pouso Alegre (1920-1927), quem socorrera sua mãe, deixada viúva em grande pobreza e cercada de filhos, todos pequenos.

Era realmente D. Rute e seu marido, chegando de Campinas, precisamente naquele momento. Trazia uma grande soma de dinheiro, o que muito alegrou toda cidade e revelou o tamanho da fé de nosso vigário amigo.

CONTRIBUIÇÃO: Maria Auxiliadora Barbosa Torriani (1922), cunhada do Pe. Alderígi e dona da casa. Entrevista em 01.10.87. * Rua Barão da Motta Paes, 597 # Fone: (0196) 51-2085 * 13.990 Espírito Santo do Pinhal – SP.

Pe. Alderígi, homem da simplicidade e da pobreza (1949 - 1951)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M

O Pe. Alderígi, no começo era muito energético com seus sobrinhos. Era o rigorismo da época, exigindo sempre responsabilidade e reclamando deles total exemplo em tudo. “Como eu morava em Muzambinho, MG – exemplificou o sobrinho dele, Benedito Galvão Matins (1940) – todas as férias, durante os 3 meses, ficávamos em Santa Rita de Caldas. Toda a tarde havia catecismo e eu sempre o freqüentava. Lá um dia, a catequista foi contar ao Tio Padre que eu estava bagunçando. Meu Deus! Meu tio veio em cima de mim, com aquela mãozona de gigante, estalou aquele tapa. No mesmo instante, tomado de raiva, revidei mandando-o para o último lugar. Aí, ele correu para me pegar e eu corri mais rápido do que ele e ele acabou contando tudo para o meu pai. Realmente ele era terrível para bater em seus sobrinhos. Não que fosse mau. Era o jeito da época que ele, pouco a pouco, teve de superar, até tornar-se o vovô mais querido das crianças.

Se era rigoroso na educação dos seus sobrinhos, o era mais ainda consigo mesmo, quanto à pobreza. Lá por 1951, os paroquianos sensibilizados com as caminhadas sem fim pelas roças e capelas, resolveram fazer-lhe uma surpresa: Ajuntaram verbas, compraram um jeep verde e lhe ofereceram no dia de seu aniversário. O Padre, em vez de ficar contente, deu aquela bronca solene:

– Jesus andava a pé, fazendo longas caminhadas e eu já ando a cavalo! Não. Não posso aceitar esse carro.

– Agora, o jeep está comprado. Que vamos fazer com ele?

– Vende-se e com dinheiro vamos reformar a igreja matriz!

E a nossa igreja se transformou, recebendo nova pintura e surgiram os belos quadros da vida de nossa padroeira.

Mais tarde, a família dele resolveu dar-lhe dinheiro,com a finalidade de ele comprar uma nova batina, pois a que usava estava uma vergonha, mostrando seus remendos e sua cor desbotada para qualquer um. Entregaram dinheiro para a batina nova e ele, sempre com a velha. Perguntando-lhe sobre o motivo do atraso, sempre vinha com evasivas, até que um dia o apertaram e reclamaram explicação mais clara. Aí ele não teve saída e confessou, meio sem graça, meio zangado:

– Eu não preciso duma outra batina. Eu não estou pelado.

– E o dinheiro que lhe demos? Que fez com ele?

– É. Esse eu tive que dar para uma pobre velha.

CONTRIBUIÇÃO: Benedito Galvão Martins (1940),advogado e sobrinho do Pe. Alderígi. * Entrevista em 03.08.87 * Rua São João da Boa Vista, 46 # Fone: (035) 721-3488 * 37.700 Poços de Caldas – MG.

Confiança no Pe. Alderígi na providência divina e sua abnegação (1955)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

A comissão organizadora do Congresso Eucarístico, realizado no Rio de Janeiro, em 1955, estava fazendo uma campanha para angariar pedras preciosas e semi-preciosas para a custódia do Santíssimo Sacramento, e o Padre tinha uma. Devia ser a do anel ganho, quando recebeu o título de cônego. Amante da Eucaristia,centro de sua vida, enviou-a para a comissão do Congresso. Ele mesmo comentou com a D. Dalva: “É a única coisa preciosa que eu tinha. Estava guardando a fim de ser vendida para cobrir os gastos com os meus funerais. Mas, afinal, não preciso disto, pois, naquela ocasião, meus filhos saberão cuidar de mim.”

Disse-lhe isso pois, trabalhando ela no correio, devia fazer-lhe o trabalho de envio.

CONTRIBUIÇÃO: Dalva Lorena (75 anos),funcionária do Correios e telégrafos. Entrevista em 04/12/86. * Rua João Batista Filho, 16 # Fone: (035) 3734-1116 * 37.775-000 – Santa Rita de Caldas – MG.

Pe. Alderígi, o homem que dá tudo aos pobres (1956)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

No tempo de D. Oscar de Oliveira, em 1956, a casa paroquial teve de passar por uma reforma total. D. Yeda e D. Dalva tomaram parte da limpeza, jogando fora cadeiras, mesas e todos os móveis, completamente estragados. A casa foi pintada por dentro e por fora. Essa reforma era necessária, uma vez que tudo o que o padre tinha era velho ou estava caindo os pedaços, ou eram conjunto incompletos, faltando uma ou mais peças. O prefeito, Dr. Nestor Martins, é testemunha que o travesseiro do padre não passava de uma batina velha, dobrada.

Para não ser molestado, colocaram o bom do Pe. Alderígi na casa de seu irmão, José Torriani. Enquanto isso, as duas foram pela cidade, angariando novas mobílias, novos trens de cozinha, bem como roupas e toalhas. Como nosso amigo era torcedor do Flamengo, o Lê (Antonio Miguel Salomão), entre as roupas novas que o querido vigário recebeu de presente, colocou uma berrante meia vermelha e preta que fez centenas de sorrisos brincarem nos lábios dos paroquianos, que curiosa e amigavelmente, vieram se deleitar, admirando tantos presentes espalhados em exposição.

No dia da inauguração da casa reformada, o povo se reuniu, em frente à casa do seu irmão, para trazer solenemente o homem mais amado e querido da cidade. À frente, vinha a banda do Sr. Benedito Camilo. Logo atrás, sorridente, vinha o bom vigário e, por fim, todo o povo amigo.

Algum tempo depois, chegou o Sr. Bispo para suas crismas. E durante o discurso, conhecedor do espírito pródigo do vigário mais pobre da diocese, o supremo pastor proclamou, em tom jocoso, do alto do palanque donde discursava:

– Tomem nota de tudo o que colocaram na casa paroquial, senão ele vai dar tudo para os pobres!

CONTRIBUIÇÃO: + Dalva Lorena (1917), funcionária dos Correios e telégrafos. Entrevista em 13.04.87* Rua João Batista Filho, 16 # Fone: (035) 3734-1116 * 37.775-000 – Santa Rita de Caldas – MG.

Confiança de Pe. Alderígi em Santa Rita (1960)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Lá por 1960, quando a imagem de Santa Rita ainda era a imagem em pé, D. Dalva encontrou uma porção de papéis debaixo dela. Logo perguntou ao sacristão, chamado Chiquinho:

– Que papelada é essa?

– Pergunta do Pe. Alderígi.

É que tinha chegado ordem de pagamento, vindo de Belo Horizonte, e o Pe. não tinha com que pagar. E Santa Rita atendeu aos pedidos de seu servo, pois naqueles dias chegaram 22 contos, enviados pelo Dr. Uriel Rezende Alvim.

CONTRIBUIÇÃO: Dalva Lorena (75 anos), funcionária dos Correios e Telégrafos. Entrevista em 04.02.86 * Rua João Batista Filho, 16 # Fone: (035) 3734-1116 * 37.775-000 – Santa Rita de Caldas – MG.

Apertos financeiros do Pe. Alderígi (1970)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Um dia, em 1970, as legionárias estavam rezando o terço. Pe. Alderígi entrou e lhes avisou: “Estou apertado com as farmácias. Recebi uma cobrança e a quantia a pagar é grande.”

Mas, à noite, quando desceu para celebrar a missa, depois de fazer a adoração na Capela do Santíssimo Sacramento, subiu a escada que passa por trás da urna de Santa Rita, sob a arcada do alto e espaçoso presbitério, enriquecido com 4 grande telas que ilustram a vida de sua padroeira. Ele queria rezar, mais uma vez, pertinho de sua Santa Rita, escurecida, pele e osso só, tal qual na urna de Cássia (Itália), deitada naquele colchão branco e macio. Mais uma vez, carecia com urgência ser socorrido. Chegou, olhou… O que estava vendo? Seria possível? Um cheque de verdade, sob a urna? Mas, de quanto? Com a quantia certa que deu para o padre pagar as contas.

A dívida era de Cr$   14.000,00, quando o salário mínimo na época era apenas Cr$   40,00.

Por isso, muitas vezes, ele rezava diante da urna de Santa Rita: “Santa Rita, fios (filhos) são teus. A dívida é minha. Mas, é você que paga.”

CONTRIBUIÇÃO: Regina Carvalho Couto (55 anos), doméstica. Entrevista em 21.12.86 * Rua Prof. Nestor Martins, 262 * 37.775-000 – Santa Rita de Caldas – MG.

Virtudes do Pe. Alderígi

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

D. Edna, mesmo doente, com fogo selvagem, recebeu-me em sua casa e me falou muito sobre seu grande amigo, o Pe. Alderígi. Alguma coisa consegui tomar nota:
Pe. Alderígi era muito piedoso, rezava muito, fazia muitos sacrifícios e era escrupuloso em administrar os sacramentos.
Quase todas as vezes que ela ia a Santa Rita de Caldas, fora da hora da missa ou de qualquer ato religioso, o encontrava rezando dentro do santuário. Deveras era um ambiente propício à oração, iluminado pelos 7 vitrais (3 no coro e 2 em cada parede lateral), sem contar a claridade colhida pelas duas portas laterais de cada lado.
Além da luminosidade suave e mística, nem muito escura nem muito clara, os 11 grandes painéis, a narrar a vida de Santa Rita, ajudavam a criar aquele ambiente cheio de concentração, iluminado à noite pelos 4 candelabros grandes, de cristal, carregados de pingentes, da nave central e pelos 5 menores de cada lado das duas naves laterais, todos pendurados no forro.
Com a remoção dos altares laterais, tudo ficou mais espaçoso, apenas 4 imagens nos 4 cantos da igreja: Sagrado Coração de Jesus, São Sebastião, São Benedito e São José (Nossa Senhora Aparecida, embora sem altar, permaneceu no nicho).
Nesses corredores, lá ia e vinha o santo vigário, homem de oração, rezando o terço ou lendo o breviário.
Pe. Alderígi era desligado das coisas terrenas e ligado com o Reino do Céu. Muito caridoso ele praticava a caridade até mesmo em excesso.
Às vezes, passava necessidade de alimentos, remédios, roupas etc., para socorrer os pobres que o procuravam.
Certa vez, D. Edna soube que ele dormia no chão limpo, durante muito tempo, porque um pobre lhe tinha pedido um colchão. Como não tinha outro, tirou o de sua cama e lho deu. Depois de certo tempo, descobriram que ele dormia no chão e lhe arrumaram outro.

CONTRIBUIÇÃO: + Edna Pereira Ottoni (1921), organista e cantora no coral da matriz e colaboradora do Pe. Alderígi, em Caldas. Entrevista em 22.09.87 * Praça Souza Novais, 117 # Fone: (035) 735-1594 * 37.780 Caldas – MG.

Pe. Alderígi e seus rendimentos (1977)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Pe. Alderígi, como novo São Francisco de Assis, veio ensinar ao século XX que ainda hoje pode-se confiar na Providência Divina. Nada retinha para si. O que recebia imediatamente se transformava em lenitivo para os sofrimentos do irmão ou canalizado para armazéns e farmácias, onde sua dívida comumente estava em alta. De fato, a população mais sofredora não carecia muito se preocupar: Qualquer precisão o Banco dos Pobres resolvia (Esse banco dos Pobres – como jocosamente era conhecido – era precisamente a conta do Padre).
Grande sua confiança no Pai que alimenta os pardais(Mt 6,26). O santo ancião acreditou que “quem deixar tudo por causa do meu nome receberá cem vezes mais”(Mt 19, 29) e dava exemplo de paz e serenidade.
Em carta escrita a Pedro Torriani, seu irmão, Pe. Alderígi confessa, em 13.04.77, o quanto recebia, precisamente quando não era mais vigário: Cr$   856,00 duma associação de padres; Cr$   384,00 do INPS; Mais ou menos 200,00 (cem marcos), vindos da Alemanha. Além disto a Igreja pagava-lhe o armazém. Só que em vez de usar toda essa verba para o seu bem próprio (correspondente a um pouco mais que o salário mínimo, que na época era de Cr$   1.106,40) tudo era canalizado para os pobres. Assim, nem carne queria que fosse comprada para não faltar nada a seus pobrezinhos. Mais: Suas roupas íntimas eram todas remendadas e cerzidas, a ponto de a lavandeira cobri-las com uma toalha para ninguém vê-las no varal.

CONTRIBUIÇÃO: Frei Felipinho (1932), ex-coroinhas do Pe.Alderígi e pregador franciscano. Convento São Francisco * Largo São Francisco, 133 # Fone: (011) 3291-2400 * 01.005-010 – São Paulo -SP.

Pe. Alderígi e o desapego dos bens materiais (1977)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Nas vésperas de uma missão, Pe. Elias, redentorista e antigo colega meu de infância, foi visitar Pe. Alderígi, já perto de sua morte, no hospital de Poços de Caldas. Conversaram um tempão. No final, lhe disse o missionário: “Preciso ir embora. Dê me a bênção.” O alquebrado velhinho, tão santo, tão puro, tão pobrezinho, lhe respondeu: “Dou minha bênção. Você é como um filho, de quem eu gosto muito. Quer ser feliz, viva como eu vivi”, e abriu as mãos. Então, o antigo coroinha, perguntou ao mestre: “O que significa isso?” E o mestre falou: “Nunca guardei nada para mim. Veja como Deus é bom! Não tinha nada, agora tenho tudo. Até dei dinheiro para a Zélia levar aos meus pobres.”

Esse amor à virtude da pobreza ele já procurava inculcar em nós quando éramos pequenos – relembrou Padre Elias. Ele nos levou ao seminário em 1946, eu, regressando das férias para o Seminário Frei Galvão, e o Padre Elias e seus companheiros para o Santo Afonso. Éramos uns 8 seminaristas, subindo do seminário para a basílica, pelo caminho da chácara. Aí ele nos disse: “Rezem muito a Nossa Senhora. Vocês farão voto de pobreza. Isto é garantia de salvação. A gente, no mundo, tem tanta complicação por causa do dinheiro!”

CONTRIBUIÇÃO: + Elias Pereira da Silva, CSSR (53 anos), missionário. Padre santarritense. Entrevista em 09.02.87. * Pça. do Santuário, 11 # Fone: (019) 622-2644 * 13.870 São João da Boa Vista – SP.

Irmão dos pobres e excluídos

Caridade do Pe. Alderígi (1927)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Antigamente, quando José Torriani, irmão do Pe. Alderígi, era solteiro, o povo pobre da zona rural vinha enterrar seus mortos em redes. O Pe. Vigário acabou com isso. Seu irmão mesmo teve de fazer uns três caixões com suas próprias mãos. Até o padre mesmo saiu, mais de uma vez, pedindo esmolas para fazer caixões para os defuntos pobres.

Conforme relato de José Torriani, o bom padre, pastor cheio de zelo, sabia quem tinha faltado à missa e na rua perguntava o porquê da falta. Lá um dia, perguntou a um pobre: “Por que você não foi à missa?” Ele respondeu que era por causa da chuva. Na mesma hora, o padre deu sua capa de chuva “ideal”, aquela comprida e grande que o padre usava quando andava a cavalo, ganha há pouco tempo, no dia de seu aniversário. Bem que o Pe. Aurélio de Mesquita tinha dito aos amigos: “Esta capa ele vai dar para o primeiro pobre que ele encontrar.”

CONTRIBUIÇÃO: + José Torriani (72 anos) irmão do padre e industrial. Entrevista em 27.01.87. * Rua Barão Motta Paes, 597 # Fone: (019)651- 2085 * 13.990 Espírito Santo do Pinhal – SP.

Pe. Alderígi ajuda um circo (1935)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Em 1935, mais ou menos, apareceu em Santa Rita de Caldas, cidadezinha simples e pobre, um circo, muito mais simples e muito mais pobre ainda. Pobre, não só em bens materiais. Também em artistas, variedades acrobáticas etc.

Com certo esforço, a lona, bastante gasta e remendada,foi levantada. A primeira noite de espetáculo foi uma decepção. A segunda pior, com menor assistência. Talvez houvesse alguma melhora na terceira apresentação… todavia, o fracasso abateu mais espetacular. É possível isso? Em Santa Rita de Caldas tudo era possível naqueles tempos antigos. Só duvida quem não a conheceu.

O pior, os donos do circo lamentavelmente não arrecadaram dinheiro suficiente nem para poder alugar os caminhões, a fim de tentar outra cidade de povo mais animado e de melhor arrecadação.

Então, Pe. Alderígi, cheio de misericórdia – como sempre – se interessou pela companhia de espetáculo (se é que merece esse nome) e rodou a praça a pedir esmolas de porta em porta, recolhendo o dinheiro necessário para que pudesse se retirar da cidade.

CONTRIBUIÇÃO: Antônio Gabriel Alves (1919), motorista. Entrevista em 27.09.87.
Rua Carlos Chagas, 1602 – Z5 # Fone: (044)224-4058 * 87.100 Maringá – PR.

Pe. Alderígi e os pobres (1945 a 1950)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Para conhecer Pe. Alderígi,é preciso conhecer Da. Zélia, sacristã, secretária, governanta, arrumadeira, cozinheira, numa palavra, fiel serva que assumiu seu cargo com seriedade e responsabilidade.

Muitas vezes ficava bravo com ela por causa dos pobres. Ela não concordava que ele ajudasse a todos, pois havia família que ficava doente quase todos os dias e a dívida era grande no fim do ano. Sua ajudante reclamava para ele: “Eles ficam lá, e eu, de porta em porta, pedindo esmolas, e você acocorando os vagabundos!” Ele respondia sério: “Zélia, faça assim com as mãos!” e ele abria bem as mãos. Continuava: “Se você fizer assim, Deus dá.” E ele dava tudo, de não ter um tostão no bolso.

Às vezes, principalmente em 1947, ele pedia: “Zélia, não compre carne. Depois os pobres precisam, vêm e pedem e eu não terei nada para lhes dar.”

Segundo sua auxiliar, ele não costumava olhar quando dava. Dava tudo mesmo. E tinha tanta confiança que, no fim, tudo dava certo.

Uma vez, entre 1945 e 1950, a farmácia apertou demais. Da. Zélia lhe disse: “Padre eu não durmo, estou preocupava com a dívida.” Ele então respondeu: “Zélia, você não tem fé.” Aí, ele pegou a conta e a pôs debaixo da urna de Santa Rita, dizendo: “Santa Rita, são seus filhos. A senhora que se arrume.”

CONTRIBUIÇÃO: + Zélia Martins (68 anos), ex-sacristã e ex-enfermeira do Pe. Alderígi. Entrevista em 23.05.85. * Rua Pref. Sebastião Januzzi, 79 * 37.775 Santa Rita de Caldas – MG.

Pe. Alderígi socorre a uma senhora pobre (1949)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Em 1949, Da. Luzia Camilo morava nos terrenos do Zé Domingos, perto de Santa Rita do Campo. Seu marido trabalhava numa olaria, e o dinheiro, que não era nada, só chegava em casa no sábado e ela com uma criança de colo, passando mal. Em casa, nenhum centavo para comprar nada. Mas, seu menino não podia morrer assim no mais completo abandono. E lá foi ela a pé para Santa Rita Caldas, carregando a criança nos braços e levando uma sacola na outra mão.
Aquele sol, aquele calor, o milharal ao longo do pasto nem se mexia. Nenhum ventinho para refrescar e o suor escorrendo. Os ipês sem flor, a sapuva e os cedros espalhados nos montes acolhia bandos de anuns. Pequeninas corruíras brincavam nos fios de capim à beira da estrada, sem saber da angústia e da dor desta pobre mãe: sem dinheiro, com fome e o pior, o menino magro apertado dentro da pele e osso só. Bronquite sufocada, quase sem ar.
Nisto levantou um poeirão na estrada. Era o Zé Borda que Deus lhe enviava para lhe dar carona. Num instante passaram pelo cruzeiro na entrada da cidade, avistaram as primeiras casinhas de pau-a-pique, com barro revestindo tudo, desceram à Pç. da Matriz, até chegar na casa mais bendita da cidade – a casa do Pe. Alderígi – subiu os degraus do alpendre, que fica no lado debaixo. Ela subiu chorando de angústia que até era difícil falar. Mesmo assim o bom vigário entendeu tudo:
– Não precisa chorar. Vá ao médico e volte aqui.
O médico olhou, examinou e quase desenganou o menino. Mas, deu uma receita cheia de palavras que era difícil entender. Só sabia que eram remédios e mais remédios.
Voltaram a casa do padre. A mesma bondade. Sem olhar para o escrito foi logo assinando, abrindo-lhe caminho para as farmácias. Comprou tudo o que precisava e ele ainda lhe deu dinheiro.
Ele era bênção. E a criança tomou só 3 doses e a bronquite o deixou completamente.

CONTRIBUIÇÃO: Luzia Camilo de Carvalho (1925), dona de casa. Entrevista em 02.12.87.
Rua Cap. Totoca, 177 * 37.775 Santa Rita de Caldas – MG.

Pe. Alderígi dá como esmola o bolo de aniversário (13-11-1966)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Aos 13 de novembro de 1966, minha cunhada, Da. Sofia Loures Felipe confeccionou um grande bolo e, juntamente com algumas zeladoras do Santíssimo Sacramento, foram levá-lo ao Pe. Alderígi, no dia do seu aniversário natalício. Pouco tempo depois, aparece na casa paroquial, pedindo-lhe alguma esmola, a Da. Geraldona, uma pobrezinha que morava nas Casinhas e que cuidava de um filho excepcional. O padre olhou para aquele bolo enorme, recém-chegado, viu em pensamento todos os filhos dela e, entre eles, o excepcional. No mesmo instante falou: “Tome este bolo, minha filha, e o leve para você e sua família!” E na maior felicidade, ela desceu a ladeira da cidade, com o maravilhoso bolo nas mãos. Quase que imediatamente retornam à casa paroquial Da. Sofia e suas companheiras, reclamando: “Nós lhe demos o bolo para o senhor comemorar o seu aniversário e o Senhor deu para a Da. Geraldona.” Com seu sorriso tradicional, ele perguntou: “Mas vocês não deram o bolo para mim?” “Sim, seu vigário” – responderam. “Então, se era meu, eu podia fazer dele o que bem queria, não?”

CONTRIBUIÇÃO: Enedina Lacerda Loures (1930), enfermeira. Entrevista em 14.04.87.
Rua Marechal Floriano, 31 # Fone: (035) 734-1235 * 37.775 Santa Rita de Caldas – MG.

Pe. Alderígi se compadece dum ciclista (1952 ou 1955)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

A tradicional festa do dia 22 de maio, atrai sempre um enxame de milhares de devotos. Entre eles, centenas de gente pobre, esperança no coração de lucrar algum dinheirinho com suas barracas, com suas acrobacias e artes, principalmente na Pça. Pe. Alderígi.
Lá uma vez, veio um cara numa bicicleta e por horas e mais horas, sem parar, pedalava, circulando em volta da estátua do Sagrado Coração de Jesus, no meio daquela praça, entre a casa comercial do Sr. Olímpio Augusto de Carvalho (hoje Calçados Chaplin) e a casa de secos e molhados do Sr. Januzzi (hoje Eletrônica Caldense). Em cima desta bicicleta, comia, bebia, urinava, pintava o sete e muita coisa mais. E, sem pôr o pé no chão para nada, sem parar, noite e dia, no sol ou na chuva, no que desse e viesse.
Já estava neste duro exercício por mais de 24 horas e o povo passante, entre admirado e compadecido, dava-lhe algum dinheiro.
No entanto, mais compadecido e penalizado ficou o Pe. Alderígi que lhe pergunta:
– Até quando vai ficar aí rodando, rodando, sem poder parar?
– Por 48 horas.
– Por quanto?
– Por tanto.
– Então, tome aqui tudo que gostaria de receber e pode seguir o seu caminho.
Alegre com o dinheiro recebido antes do prazo proposto, seguiu o seu caminho para outra cidade.

CONTRIBUIÇÃO: Antônio Gabriel Alves (1919), motorista. Entrevista de 27.09.87.
Rua Carlos Chagas, 1602 – Z5 # Fone: (044) 224-4058 * 87.015-240 Maringá – PR.

Pe. Alderígi, homem bom, mas, desorganizado

Crônica de Natanael Silva

Do Pe. Alderígi ainda guardo aquela memória. Totalmente saudosa. Só me lembro de sua bondade. Toda sua atenção era polarizada, de maneira total, em servir os outros. Queria tanto servir que até chegava a faltar com os outros compromissos. Dou um exemplo:
Um dia, chegou-se a mim, seu coroinha, e me disse: “Lá em cima, na Rua da Palha – nome esse devido ao casario recoberto de sapé – há gente passando fome. Coitados! Vá, então, no armazém do Zé Borda e pegue um quilo de arroz, um quilo disso ou daquilo, que depois o Padre paga!”
Eu ia. No armazém, porém, iam reclamando “depois o Padre se esquece de pagar e nós é que pagamos o pato” etc. etc.
Isto era chocante para mim pois meu pai, pequeno industrial, o Israel Silva, era rígido quanto aos acertos comerciais e nos ensinava a sermos exatos em tudo que se referisse a dinheiro e dívidas e negócios e compromissos.
Quando eu era médico em Campos do Jordão, lá de quando em vez, chegava um aviso lacônico do bondoso Pe. Alderígi. Como se fosse uma ordem. Inútil enviar-lhe qualquer tipo de justificativa: ” Vai indo aí fulano de tal, com tuberculose grave.”
Para ele, o pobre, principalmente o pobre doente, era Cristo e para Cristo todos deviam estar abertos. Prontos para tudo.
Como sabia ser reconhecido e como manifestava esse reconhecimento de maneira aberta e em público! Por exemplo, mesmo que o santuário de Santa Rita estivesse lotado e ele pregando, se me visse na igreja, perdido entre os fiéis, logo interrompia a pregação para chamar a atenção do povo sobre a gente e sobre a minha família, cumprimentando-nos, aspergindo chuva de elogios.

CONTRIBUIÇÃO: Natanael Silva (1924), pediatra. Entrevista em 30.09.87.
Av. São João, 323 ap. 23 Z5 # Fone: (012) 321-0140 * 12.243 São José dos Campos – SP.

Pe. Alderígi socorre a uma senhora pobre (1960)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M

Em 1960, mais ou menos, a Legião de Maria estava reunida, falando sobre assuntos sérios, em companhia do Pe. Alderígi, quando, em prantos, entrou na sala de reunião Da. Pituquinha e foi logo desabafando: “Ai, Padre , vim pedir ajuda pro Sr., pois minha filha, a Dirce, foi pintar o cabelo e deixou cair tinta no olho. Me acode que ela vai ficar cega!”

O padre escutou tudo e riu que riu. Logo-logo, porém, enfiou a mão no bolso, tirou o dinheiro e disse: “Vá filha! Vá comprar o remédio para sua filha!” – e, às pressas, a pobre mãe se retirou.

Antes de prosseguir a reunião, uma das legionárias presentes, vendo tudo isto, reclamou: “Imagine, Padre! O Sr. não está construindo. Onde se viu ajudar a quem pinta o cabelo!”

Com muita simplicidade, o bom vigário explicou:

– A Bíblia diz que com a mesma medida com que medimos os outros, seremos nós medidos também. Portanto, vamos ser generosos com os outros e Deus será generoso com todos nós!

CONTRIBUIÇÃO: Zizinha Januzzi D Ambrosio (1932), professora universitária. En- trevista em 08.05.87. * Rua Correia Neto, 555 ap 51 Fone:(035) 721-3891 * 37 701-016 Poços de Caldas, MG.

Compreensão do Pe. Alderígi para com os pobres (1961)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M

Em 1961, Luzia Alves de Carvalho, com seus 16 anos, era empregada da farmácia do Sr. Alípio Martins. Certa vez, enquanto ela atendia algum freguês, entrou uma jovenzinha, querendo comprar, na conta do caridosíssimo Pe. Alderígi, tanto remédios como cosméticos.
O dono da farmácia estranhou este extravagante pedido. Teimava, todavia, a jovenzinha em dizer que era ordem do padre. Ressabiado e incrédulo, o prudente farmacêutico pediu à empregada fosse pessoalmente à casa do vigário e lá investigasse, tintim por tintim, toda essa estória, levemente esquisita, parecendo esconder carne em angu.
E a menina foi e voltou com a resposta do homem amante de toda a pobreza e compreensivo diante dos sonhos de cada jovem:
– É para entregar sim, porque isto também faz parte da vida e faz parte da saúde.
Vezes sem conta essa jovem Luzia viu chegar a essa farmácia pobres e mais pobres, uns trazendo dinheiro do padre, outros trazendo dele somente a assinatura, para comprar toda a espécie de remédio de que careciam. De quando em vez, outras mocinhas também apareciam, para comprar, na conta do padre, seus cosméticos, batons, esmaltes, creme para a pele, pasta de dente, sabonetes etc.

CONTRIBUIÇÃO: Luzia Alves de Carvalho (1944),cabeleireira. Entrevista em 18.05.88.
Rua Cap.Joaquim Dias,120 * 37.775 Santa Rita de Caldas – MG.

A Caridade do Pe. Alderígi (15-06-1964)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M

Vítor da Silva já estava acostumado e resignado à sina do trabalho duro das roças de milho, feijão, mandioca, sob um sol claro, a queimar e esturricar a terra. Resignação ao trabalho e ao sofrimento e aos minguados pagamentos. Dó dele, só Deus.

Certa feita era 15 de junho de 1964, sem dinheiro, sem nada, vendo a porta aberta, entrou no santuário de Santa Rita para rezar, clamar clemência e misericórdia. Nisto, chegou o gordo, descontraído e sempre mão-aberta, o doce Pe. Alderígi. Chegou perto dele e lhe disse:

– Pega o remédio na farmácia!

– Não, Sr. Padre. Não estou pedindo nada, não. Eu só entrei aqui para rezar um pouco só.

– Mas, pegue o remédio em minha conta. Eu faço isso pra tanta gente!

Que homem bom e admirável! Adivinha as precisões de seu povo bom e sofrido.

CONTRIBUIÇÃO: Vítor da Silva (1941), lavrador. Entrevista em 01.04.90.
Pedra Redonda * 37.775 Santa Rita de Caldas – MG.

Palavras de uma pobrezinha sobre o Pe. Alderígi

Crônica de Maria Aparecida Ferreira

Hoje eu senti uma necessidade muito grande de falar do Pe. Alderígi, daquele que partiu, mas deixou saudades e recordações. Eu me lembro, era pequena, quando a imagem de Santa Rita, deitada na urna, veio para cá. Comecei a trabalhar para o bom vigário, enchendo vidros de óleo ou catando papel da igreja.
Vi muitas coisas boas que o Padre fazia: era um homem honesto, bom e só nos dava bom exemplo. Eu era muito pobrezinha e tinha que trabalhar para ajudar meus pais, que não tinham quase nada. Era uma miséria a vida da gente, mas tinha o Pe. Alderígi que sempre nos ajudava com boas palavras e bons conselhos. Não só ajudava meus pais, mas todos os que dele precisavam, dando mantimentos, remédios, dinheiro e ajuda espiritual. Era um santo. Ninguém esquece os favores que fazia, principalmente, os mais pobrezinhos.
Fui ficando mocinha, sempre junto dele. Gostava de trabalhar para ele. Quantas vezes lhe levei almoço na igreja, em véspera de festa! Muita gente se confessando, ele nem saía do confessionário. Comia lá mesmo. Era muito humilde.
Depois me casei. Casei-me e continuei lavando roupas de sua casa e limpando a sedinha.
No fim da sua vida, as suas roupas eram muito difíceis de serem lavadas, devido à sua doença. Ele pediu-me que não deixasse suas roupas à vista dos outros, porque eram roupas velhas e gastas. Costumava cobri-las, no varal, com uma toalha. Um dia, lhe perguntei: “Por que o Sr. não compra roupas melhores?” Ele me respondeu: “Se comprar roupas, meus pobres passam fome”.
Sempre tendo eu problemas e ele me ajudando, me orientando. Eu sempre falo que falar do padre a gente ri e chora. Mas, como Deus gosta do que é bom, ele adoeceu e chegou o dia que todos temiam. Ele partiu para ao céu. Ficamos sem ele aqui na terra, mas, tenho certeza que ele no céu sorri porque quando preciso de alguma coisa grito por ele e sei que vou ser atendida.

CONTRIBUIÇÃO: Maria Aparecida Ferreira (1945), doméstica, por escrito.
Rua Capitão Totoca, 156 * 37.775 Santa Rita de Caldas – MG.

Santa Rita ajuda Pe. Alderígi a pagar a conta

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Numa tarde, estava Beth, sobrinha do Pe. Alderígi conversando com o “Tio Padre” (nome carinhoso que os sobrinhos usavam para denominar o Pe. Alderígi), quando chegou a Edmea, dona duma das farmácias de Santa Rita de Caldas, acompanhada de Eunice Burza Lorena.
– Padre, há mocinhas que vão à farmácia para comprar em sua conta batom, ruge, cosmético e outros produtos de beleza. Mas, isto não dá. É um abuso, mais isto, mais aquilo…- e foi falando.
– Elas são jovens – explicou o “Tio Padre” – são moças. Têm vaidade. Entrega-lhes sim que Santa Rita ajuda a pagar a conta. Santa Rita ajuda o Padre Velho.
Entretanto, lá por 66 ou 67, a mesma sobrinha o encontrou preocupado. Desabafou com ela que recebera cobrança dos armazéns e que não tinha nada, nada com que pagar.
Só sei, porém, que no dia seguinte, pelas duas horas da tarde, chegou um carrão azul marinho. Desceu dele um senhor de bengala, mancando duma perna. Tratava-se do dono das lojas Garbo. Pedira uma graça a Santa Rita. Se a obtivesse, iria a seu santuário oferecer uma porta nova. Disse-lhe, porém, Padre Alderígi:
– Todavia, a santa ficará mais feliz se você pagasse minha dívida, pois os donos dos armazéns precisam deste dinheiro.
O bom homem concordou, entregando-lhe um cheque, cujo valor superou o da cobrança. E o padre pode pagar tudo e fazer muito mais.

CONTRIBUIÇÃO: Elisabeth Martins Lúcio Marcelinho (Beth/1952), professora, industrial e sobrinha do Pe. Alderígi. Entrevista em 02.10.87.
Praça São João Batista, 549 Fone: (035) 534-1133 * 37.955 Itamogi – MG.

Pe. Alderígi dá uma grande esmola

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Um dia, Zezinho, meu irmão entrou no santuário para rezar e viu um senhor rico pedindo ao Pe. Alderígi lhe explicasse os quadros da vida de Santa Rita, que estão nas paredes do grande templo. E o padre foi dando todas as explicações. Depois de terem percorrido todo o santuário, o tal senhor tirou do bolso um envelope e lho entregou, como recompensa.

Ao sair o padre da igreja, uma senhora veio lhe pedir um auxílio. Imediatamente o santo sacerdote tirou o envelope do bolso e o deu à tal senhora necessitada. Mas, chegando em casa, ela se espantou de ver tanto dinheiro que nunca tinha visto. Voltou à igreja, querendo devolver o envelope recebido. Mas, o padre lhe respondeu:

– É seu dinheiro. Este dinheiro foi dado para as pessoas pobres da paróquia.

Na verdade, o Pe. Alderígi vivia para os necessitados.
Para eles comprava remédios, mantimentos e tudo o que recebia logo lhes dava.

CONTRIBUIÇÃO: + José Gabriel Felipe (1910), motorista. Entrevista em 22.03.87.
Rua dos Oliveiras, 74 Fone: (035) 735-1145 * 37.780 Caldas – MG.

Pe. Alderígi, padre dos pobres e doentes

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

A conta bancária do Pe.Alderígi era chamada Banco dos Pobres e como ele sofria com esse banco, sempre em dívidas! O Sr. Alípio Martins, como dono da farmácia, não gostava nada disso e reclamava: “O padre dá ordem pra Deus e todo mundo comprar em minha farmácia na conta dele e eu, precisando do dinheiro vivo. Há até fazendeiro comprando remédio á custa do Banco dos Pobres!”

Um dia, Da. Glória, esposa do farmacêutico, encontrou com o padre e ele lhe fez um pedido: “Comadre, fale pro compadre não cobrar o padre. Eu vou pagar tudo direitinho.” Realmente, cada fim de ano ele sempre pagou tudo mesmo – confessou o Sr. Alípio.

“Nossa comunidade também era pobre em lazer para a juventude. Por essa razão, nosso bom pastor se preocupava também com isso, chegando mesmo a construir uma “sedinha” para nossos filhos – contou-me Da. Glória. Lá havia bailes, pingue-pongue, teatros, desfile de modas e muitas outras coisas mais. Lá dentro a nossa juventude não ficava entregue a si mesma, mas,sempre havia algum adulto supervisionando e ajudando a turma. Só que havia muito barulho, muita música, muitos gritos de alegria e tudo entrava no quarto de dormir desse bom homem. Um dia, foi Da. Glória perguntar-lhe se todo aquele ruído não o estorvava em seus sono, ao que ele respondeu: “Realmente eles não me deixam dormir. Mas, enquanto estiverem na sedinha, está tudo bem.”

Por isso, em seu enterro, chorando foram vistos todos os nossos pobres e todos os nossos jovens, abafando seu choro e soluço com o vibrar da fanfarra, tão querida por ele.

CONTRIBUIÇÃO: Alípio Martins (1902), farmacêutico e Maria da Glória Vieira Martins (1920), doméstica. Entrevista em 21.04.87
Rua Prof. Nestor Martins, 33 Fone: (035) 734-1216 * 37.775 Santa Rita de Caldas – MG.

Pe. Alderígi, aberto a renovação e aos pobres

Crônica de Dom José Afonso Ribeiro

No período que freqüentei a Paróquia de Santa Rita de Caldas, era época do início das Comunidades Eclesiais de Base. Imediatamente, Pe. Alderígi solicitou-me que o ajudasse a implantar em sua Paróquia esse novo modo de ser da Igreja. O trabalho foi iniciado na Matriz e nas comunidades rurais.

Outra Pastoral que o interessou muito foi a dos jovens. Reformou com dedicação o salão ao lado de sua casa, para que eles tivessem um ambiente propício para se cultivarem comunitariamente.

CURCÍLIO – No período que convivi com o Padre, ela já tinha idade avançada. Mas, lhe contei que eu ira fazer Cursílio de Cristandade. Pois logo me pediu arranjar vaga para ele. Acompanhou toda a programação do Cursílio sem aceitar nenhuma exceção. A sua participação foi exemplar para todos os participantes. E seu testemunho final foi inspirado de tanta gratidão para com Deus, que comoveu todos os presentes. Manifestou sua admiração pela valorização que o movimento dá a cada pessoa. Sentiu-se bem, mesmo nos momentos de orações prolongadas.

AMOR AOS POBRES – Um número grande de carentes o procurava, pedindo-lhe ajuda. Nunca o presenciei negando auxílio, mesmo que, às vezes, parecia-me não serem os pedintes tão necessitados. Um cuidado especial manifestava, quando pediam remédios. Encaminhava as receitas para as farmácias da cidade.

Em certa ocasião, recolheu em sua casa um menino portador de câncer na perna, dando-lhe toda a assistência. Ele se fez de pai. De enfermeiro. Mostrou-se um ” Bom Samaritano”.

Realmente Pe. Alderígi foi na terra um homem de Deus e agora está gozando da recompensa que Deus lhe preparou desde toda a eternidade.

CONTRIBUIÇÃO: Dom José Afonso Ribeiro, bispo de Borba. Por escrito, em 29.06.87.
Av . Getúlio Vargas, 90 – Centro – CX.P.11 * 69200-000, Borga – AM.
Fone: (92) 712-1164 – Fax (92) 712 -1392.

Pe. Alderígi e sua compaixão com as crianças (De 1971 a 1977)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Da.Conceição Martins, diretora do Grupo Escolar Governador Valadares, (onde eu mesmo estudei de 42 à 43), pensando na “caixa escolar”, planejou diversas atividades, entre elas, as festas juninas. Santa Rita de Caldas, terceira cidade mais alta do Brasil, tem um inverno carregado de frio, e aquela fogueira começou a trazer muita gente. Os quentões, com aquele cheiro forte de cravo e gengibre, os pastéis, os bolinhos, pipocas, pinhão e tanta coisa gostosa – havia de tudo – fez a festa criar fama e o número de gente continuou a aumentar, ano após ano.

Gente de todas as classes acorriam para o Governador Valadares. E quantas crianças pobres, com seus olhos compridos, vendo tanta coisa bonita, abarrotadas de gostusuras… e nada podiam comprar! E lá um outro garotinho arriscava um “me dá um pedacinho” ou “compre isso para mim”. Aquilo doía no coração do Pe. Alderígi. Por que só os filhos de pais mais ricos poderiam ser felizes? Por isso, junto ao portão de entrada da festa, ele colocava o Camilinho, seu prestimoso sacristão e organista, com dinheiro no bolso. Sempre que era vista uma criança com vontade de comprar alguma coisa, o sacristão se adiantava e resolvia o problema com o dinheiro do Padre, separado para isto mesmo.

CONTRIBUIÇÃO: Ana Maria Martins Salomão (1931), professora. Entrevista em 03.02.89.
Rua Rio Grande do Sul, 1145, 2o andar Fone: (035) 722-1115 * 37.700 Poços de Caldas – MG.

O amor de Pe. Alderígi aos pobres inventou o desfile de carro de Boi (1974)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O. F. M.

O Padre Alderígi, para atender aos pobres, se esquecia de si mesmo. O Sr. Napoleão Martins, quando resolveu restaurar a casa paroquial, percebeu que o nosso São Francisco de Assis também vivia dentro de uma grande miséria. Basta dizer que, naquela época, seu travesseiro era uma batina velha enrolada.

Lá por 1974, Luiz Dias Guimarães recebeu um encargo desse santo que só pensava no sofrimento dos necessitados: “Precisamos fazer alguma coisa para os pobres – disse ele – pois estão precisando sempre de lenha. De hoje em diante, entrego a você o encargo de organizar um desfile de carro de boi e cada participante trará lenha para nossa gente que sofre precisão.

Então, o Sr. Luiz Dias Guimarães, com a licença do vigário, procurou todos os amigos da roça e, um dia, 20 carros de boi entraram cantando, pelas ladeiras de Santa Rita de Caldas. No ano passado – pois o costume pegou – eram 80 carros, alguns vinham de outros municípios.

CONTRIBUIÇÃO: Maria da Glória Venâncio (1942), doméstica. Entrevista em 14.04.87.
Santa Rita de Caldas (Capela do interior) * 37.775-000, Santa Rita de Caldas – MG.

Homem bom porque amou o povo e a Deus

No inverno Pe. Alderígi cuida de seu coroinha (1939 - 1945)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Pe. Alderígi era samaritano tão bom a ponto de o amigo João Sabino o considerar paternalista. No entanto, a verdade é que ele não sabia poupar para si e tudo fazia para aliviar os sofrimentos dos outros. Se recebia mantimentos como doação do povo em geral, eram principalmente os pobres que deles se beneficiavam.

Santa Rita de Caldas, situada a 1.400m acima do nível do mar, tem suas noites invernais quase sempre tremidas de frio. E na velha casa paroquial, onde João Sabino passou boa parte de sua adolescência, os cobertores não eram tão abundantes. Então, quantas vezes, em certas horas da noite ou da madrugada, não percebeu o jovenzinho ajudante que o bom Pe. Alderígi, pé ante pé, carinhosamente colocava sua velha e surrada batina sobre ele amparando-o do frio!

CONTRIBUIÇÃO: + João Sabino Neto (1928), engenheiro agrônomo e professor de faculdade. Por escrito em 09.06.87
Pça Olegário Maciel, 25 # Fone: (035) 931-2323 (recados) * 37.750, Machado – MG.

Como uma criança viu o Pe. Alderígi ( ± 1942)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Foi em 1942, mais ou menos, que Paulo Pires da Costa ficou conhecendo o Pe. Alderígi. Nesta ocasião, o Padre tinha ido atender a uma confissão na fazenda do Sr. José Pereira de Aquino, distante de Santa Rita de Caldas umas 4 horas de viagem a cavalo, se com cavalo bom, colaborado por tempo seco, livre de chuva. Eram 4 léguas ou 24 km longe da matriz.

Estando o garoto Paulo nesta fazenda, ficou conhecendo aquele homem enorme, montado num cavalo pequeno, fraco e desferrado que deslizava pelo lamaceiro com os 4 pés. O padre até relava os pés no chão quando o cavalo escorregava. Ele estava vestido com uma grande capa de cavaleiro e seu chapéu preto desabado, escorrendo água da chuva grossa. Nisto ele entrou no curral da fazenda do Sr. Janico, como era conhecido o dono da fazenda onde o pequeno Paulo estava e perguntou: “Onde mora o doente que mandou-me chamar?”

– Aqui mesmo nas nossas terras, mas a 4 km pra frente.

O Sr. Janico convidou-o para descer do cavalo, esperar o aguaceiro passar e jantar com a família. Eram mais ou menos 5h da tarde. O padre agradeceu: “Ainda tenho que ir para a frente e voltar hoje mesmo para Santa Rita.”

Não quis nada e continuou sua viagem, enfrentando corajosamente aquele temporal. O doente a quem estava indo para atender era um pobre negro, fama de feiticeiro. O Padre sabia de tudo e se sentia impelido a caminhar para salvar esse seu paroquiano. “Eu tinha apenas 4 anos de idade e me recordo dessa passagem porque vi minha mãe chorando de pena do padre e nada pudemos fazer para suavizar o seu sofrimento” – finalizou o Dr. Paulo.

CONTRIBUIÇÃO: + Paulo Pires da Costa (1938), dentista. Por escrito, em 05.06.87.
Rua José Junqueira Franco, 65 # Fone: (035) 732-1128 * 37.559, Ipuiúna – MG.

Amor de Pe. Alderígi para com os pobres e doentes (1945)

Crônica de Luzia Felipe Pereira

Eu, como simples lavadeira das roupas do Pe. Alderígi, só recebia roupas velhas para lavar, pois as boas ele as dava para os pobres. Quando meu pai estava doente, ele vinha diariamente trazer-lhe a comunhão. Vinha, também, todo o santo dia, em 1945, trazer a comunhão para os dois doentes que eu tinha nos fundos de minha casa.

Um era doente de câncer. Câncer na cabeça, exalando mau cheiro. No entanto, Pe. Alderígi o abraçava e rezava com ele.

CONTRIBUIÇÃO: Luzia Felipe Pereira (69 anos), doméstica. Entrevista em 20.05.85.
Pça. Pe. Alderígi, 5 * 37.775-000 Santa Rita de Caldas – MG.

Pe. Alderígi no desastre dum coroinha (± 1942)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

“Havia um coroinha, de cor preta, o Otavinho, conhecido também por Zóio de Fogo, o qual o Pe. Alderígi apelidou de Tavico . Ele sempre tinha a preferência para sair com o Padre, pois era mais velho do que eu, uns dois anos, e não tinha medo de nada. Se preciso fosse, ele andava uma noite toda tranqüilo, corajoso e firme. Era zóio de fogo mesmo”. Assim o seu colega de infância, Paulo Pires da Costa, retratou Tavico.

Um dia, uma lata de pólvora explodiu entremeio as pernas do coroinha preto. Foi levado às pressas ao hospital de Caldas. O Vigário ficou sabendo e, terrificado, seguiu imediatamente atrás dele. Acompanhou-o chorando, rezando, em todos os momentos deste período de tristeza, até o instante final. Pobrezinho, o Otavinho! Morreu. O bom Pe. Alderígi ficou junto dele até o cemitério de Santa Quitéria. Mais ainda, exigiu que a banda de música o acompanhasse, tocando músicas fúnebres em seu sepultamento.

O coroinha Paulo Pires da Costa, coberto de emoção e compaixão, olhava no semblante daquele bom Padre, tão gente, tão nosso, tão de Deus. O menino, no fundo da alma, sentia nele um testemunho vivo de Jesus Cristo aqui na terra, acompanhando o sepultamento de seu querido coroinha crioulo.

“Não sei como escrever todos os passos caridosíssimos daquele bom vigário. A gente se sentia valorizado, bebendo sempre vida com abundância em sua doce companhia. Em nenhum momento ele descuidava de seus filhos, nem nas festas, nem nos perigos, nem na dor, muito menos na morte”. Concluiu o ex-coroinha, cheio de reconhecimento e saudades.

CONTRIBUIÇÃO: + Paulo Pires da Costa (1938), protético Por escrito em 27.06.87.
Rua José Junqueira Franco, 65 # Fone: (035) 732-1128 * 37.559, Ipuiúna – MG.

Pe. Alderígi compreende as artes de criança (1952)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Quem olha para o sério Dr. Édio, inspetor de seguro de Campestre (MG), nunca irá imaginar que um dia ele fora coroinha e que andou espatifando com a panelinha de o santo Pe. Alderígi tomar sua sopa dominical.
Nos domingos, o bom vigário de Santa Rita de Caldas ficava em jejum até depois da missa do povo, a missa das onze. Só depois é que chegava a panelinha cheia de sopa de leite, engrossada com pão.
– Édio, vá você fazer um serviço para o Pe. Alderígi – falou Da. Zélia, fiel sacristã de todos os dias, lá por 1952. Tome essa panelinha e vá à casa paroquial buscar a sopa do vigário que deve estar pronta!
E o coroinha, mesmo de batina, sobrepeliz branca (pois logo?logo iria sair a procissão do povo da roça, cantando o terço de Nossa senhora), saiu da igreja, tão feliz, como toda a criança pura de 7 a 8 anos. Panelinha na mão, cabeça explodindo idéias e uma extraordinária bombinha no bolso. Uma daquelas de três tiros. “O que aconteceria se eu colocasse essa linda bombinha debaixo da panelinha? – pensava o molequinho de Deus. Certamente seria aquele barulhão como se duma bomba de verdade. A panelinha irá dar um bonito pulo, embora não tão alto que caísse na lua…”
Assim pensando, chegou em frente à antiga casa de negócios do Januzzi. Entre o pensar e o agir não sobrou espaço nenhum. Foi aquele barulho e a panelinha voou. Lindo se subisse até à lua e voltasse sã e salva. O pior é que não subiu tanto e, ao voltar, estava virada do lado do avesso.
Com a carinha mais desolada possível, cheia de vergonha e medo, misturados com sinceridade, nem chegou à casa paroquial. Voltou logo, entrou na igreja pela porta do lado, dirigiu?se à sacristia e mostrou-a, ao padre:
– Veja o que aconteceu com a panelinha!
Nervosismo do padre? Xingatório? Um bom castigo como recordação das malandragens? Nada disso. O bom velhinho simplesmente o abraçou, dizendo:
? Zélia, isto é coisa de criança.
E o medo do menino virou contentamento que dura até hoje.

CONTRIBUIÇÃO: Édio da Silva (1944), inspetor de seguro. Entrevista em 22.05.88.
Rua 7 de Setembro, 800 * 37.730-000 * Campestre ? MG.

Pe. Alderígi impede o mágico de saltar da torre (1956)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

De dentro dum saco, se ouviam os soluços do mágico Baianinho. Ele mastigava e engolia giletes, vidro e outras coisas. Dr. João Loures até andou dizendo: “Este rapaz vai acabar morrendo!”
Mas, era o jeito do jovem baixinho, moreninho, chegado na onda da festa de Santa Rita, para ganhar algum dinheiro.
O ruim da história é que o Zé Fordinho estava na praça quando o mágico de araque proclamou:

? Podem me amarrar dentro deste saco que eu saio. Me amarrem bem!

– Com qualquer nó?

– Com qualquer nó.

E o Zé Fordinho trançou o nó pé-de-amigo, usado para amarrar porco. E este nó arrasou com o sucesso do Baianinho. Assim humilhado, fracassado, morto de vergonha, começou a soluçar de dentro do ridículo saco amarrado.
Depois desta cena triste, para reabilitar a honra perdida, carecia fazer alguma coisa, olhou para cima e viu aquelas duas torres do santuário, ricas de singeleza, abrindo?se festivamente em 14 janelas e janelões, em simplificado estilo romano. Cálculo rápido: 20 metros de altura. Nem bem acabou de raciocinar, foi logo exteriorizando o pensamento, talvez sem avaliar bem o significado do que dizia:

– Agora vou saltar do alto da torre da igreja.

Como tudo se passava na praça da matriz, Pe. Alderígi ouviu e disse:

– Daí, ele salta mesmo e morre de verdade. Só tenho que fechar a porta da torre.

E fechando?a, salvou?o, se não da morte, pelo menos duma segunda humilhação.

CONTRIBUIÇÃO: Antônio Gabriel Alves (1919), motorista. Entrevista em 27.09.87.
Rua Carlos Chagas, 1602 – Z 5 # Fone: (044) 224-4058 * 87.015-240 Maringá – PR.

Pe. Alderígi e Santa Rita protegem seus pobres

Crônica de João Lorena

Dona Edmea tinha uma farmácia. Vendia ou atendia ao Padre a prazo. Certo dia, ela recebe uma meninota com um recado do Padre: “Edmea, atenda essa nossa amiguinha no que ela quiser.”
O que a menina queria? Perfumes, batons, esmaltes, tudo para se enfeitar. A menina escolhe um, dois, três, e das melhores marcas. Dona Edmea estranha. Vai ao telefone e se comunica com o Padre:
– Oi, Padre, estou atendendo seu pedido. Mas ela está es-colhendo só coisas caras…
– Ô, Edmea, escute aqui. Ela está escolhendo coisa cara e boa? Escute, você também não foi moça? Você gostaria de ter usado coisa ruim, coisa barata? Pois é, ela também é menina, é mocinha e deve gostar destas coisas. Deixa ela escolher, que eu paga- rei depois.
Certa vez, um nosso cidadão procura o Padre em sua casa e lhe pede para falar particular e pessoalmente. Devia ser coisa séria. Entram no quarto. O Padre é todo ouvido.
? Padre, estive com uma turminha lá embaixo e todos lhe metiam a língua, dizendo que o senhor desperdiça muito dinheiro com os pobres e aplica mal, e mais, e mais.
O Padre ouve, pensa, sorri e retruca:
? Pois é. O que vamos fazer agora? Escute, vamos rezar um Pai Nosso por intenção deles?
Rezaram.
? E agora ? diz o Padre ? o que vou fazer com você? Vou cortar sua língua. Não se deve falar mal de ninguém.
(…) Suas preces têm valor imenso no céu. Tanto valor que, olhando os pobres, não medindo sacrifícios por eles, chegou, certa vez, a depositar, sob a urna de Santa Rita, a cópia de uma grande conta que deveria pagar: farmácias e armazéns, contas estas referentes à sua assistência aos pobres. Tal papel foi encontrado, no lugar acima referido: sob a urna de Santa Rita.
? Que é isso, Padre? ? pergunta?lhe Dalva, que cuidava da urna.
? Deixa lá, deixa lá! É uma conta. Se Santa Rita quer ser a mãe de seus e meus filhos, que arranje o que necessitamos. Os filhos são dela.
Ó que maravilha! Que fé! Que testemunho! Que confiança! Poucos dias depois, chama ele por Dalva, que estava no correio: “Dalva, venha cá!” E ele sorria. “Veja isto! Santa Rita nos deixou esta quantia, não sei por quem. Não só dá para pagar as contas to? das, como ainda sobra. Vamos agradecer!”

CONTRIBUIÇÃO: João Lorena (1927), professor, líder paroquial e amigo do Padre. Cópia de folheto inédito, elaborado para os festejos dos seus 50 anos de paroquiato.
Rua Major Bonifácio, 43 * 37.775 Santa Rita de Caldas ? MG.

Pe. Alderígi e seu amor à eucaristia e a Maria santíssima

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Todas as cerimônias na igreja, Pe. Alderígi costumava encerrar dizendo: Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo e sua Mãe Santíssima também .

As zeladoras do Sagrado Coração de Jesus tinham que fazer apostolado, principalmente convidando o povo para a comunhão e para a adoração ao Santíssimo Sacramento. Chegava a dizer: “Zeladora que não trabalha não é zeladora. É cabide de fita.” Cada rua da cidade recebia duas zeladoras, para fazer os convites. Até as zeladoras da roça tinham lá os seus serviços entre as suas vizinhanças.

Tinha, realmente, um luxo pela Eucaristia. A capela do Santíssimo era de uma beleza incrível, com a tela dos Discípulos de Emaus pintada no teto, um enfeite eucarístico circular, cavado na parede frontal, bem no alto, despejando luz indireta em cachos de uvas e pombinhos branquinhos. O altar, de mármore branco e as paredes, dum róseo escuro e desenhos de purpurina e linhas e pontas escuros.

Atualmente, o altar é também muito bonito, em mármore rosa, com dois anjos maiores, sustentando candelabros com muitas lâmpadas, e dois anjinhos com luz vermelha, a indicar a presença viva do Grande Rei.

Nas paredes próximas ao altar, uma inscrição em português e latim “Habitantes da cidade e do campo ? e os piedosos peregrinos – posuerunt in capite ejus coronam” (colocaram, em sua cabeça uma coroa) revela que primitivamente nesta capela ficou depositada a urna com Santa Rita de Cássia, exposta hoje no presbitério.

Quando Pe. Alderígi ficava rezando nesta capela, muita gente nem chegava perto, por respeito. E quando o povo ia beijar a mão dele, só a oferecia com os dois, dedos unidos, dedos com os quais ia tocar nas sagradas espécies.

Da. Ritinha Martins Barbosa recebeu dele o encargo de cuidar dos corporais e sanguíneos. Assim ele lhe pediu: “Lave o ferro de passar bem lavado! Não deixe ninguém pegar o ferro!” Era esse ferro com o qual ela passava esses paninhos brancos, com os quais o Padre purificava e enxugava o cálice dourado da missa. Quando os lavava, tinha ela de forrar o varal com uma toalha, estender os paninhos sagrados e colocar outra toalha por cima, como proteção.

CONTRIBUIÇÃO: Ritinha Martins Barbosa (83 anos), presidente do Apostolado da Oração por muitos anos e serviçal de escola. Entrevista em 27.01.87. Fone: (035) 734?1135
Rua Pref. Nestor Martins, 105 – 37.775-000 S. Rita de Caldas, MG.

Pe. Alderígi e seu amor a eucaristia e a nossa senhora

Trecho de uma carta do Padre Geraldo Camilo de Carvalho

Sinceramente eu ficava muito edificado ao ver o Pe. Alderígi celebrar a missa, principalmente o vendo muitas vezes chorar durante a celebração. Com certeza, pelo menos algumas pessoas do povo choravam com ele, edificadas pela sua extraordinária piedade e amor a Deus. Imagino dever ele ter alguns arroubos místicos nessas horas.

Na Aparecida, Pe. Alderígi era chamado “O PADRE COROINHA” pois fazia questão de ajudar TODAS AS MISSAS no altar de Nossa Senhora. Não saía nem para o café. Disso, sou testemunha. Nesse dia de sua estadia lá, todos os coroinhas estavam dispensados.

Sua devoção à Eucaristia e a Nossa Senhora era mesmo edificante. Quantas vezes o vi passar longo tempo diante do Santíssimo! Aos domingos, depois da missa do povo na roça, levava todos a passarem diante de Nossa Senhora Aparecida, rezando comunitariamente com eles a oração: Ó Senhora minha, ó minha mãe, eu me ofereço todo a vós etc.

Mas isto era precedido dum longo e formidável terço cantado pelos piedosos caboclos.

Posso pois testar que o Padre era um grande adorador do Santíssimo e também grande devoto de Nossa Senhora. A passagem da genuína imagem de Nossa Senhora Aparecida em sua casa constituiu, sem dúvida, uma das maiores alegrias de sua vida. O evento foi perpetuado com uma pequena placa de mármore na parede de sua casa.

Suas romarias à Aparecida eram edificantes. Trabalhei lá muitos anos e sou testemunha ocular disso que conto: Quase sempre avisava?me da sua chegada, nas famosas “jardineiras” da época. O Zé Chato era o mais famoso motorista de tais conduções. Logo que chegava à Aparecida, o seu primeiro ato era entrar de joelhos desde a porta até a grade da comunhão na famosa basílica velha de Nossa Senhora Aparecida. Como qualquer penitente, com seu comprido terço na mão, desfiando as contas do rosário, ia saudando vagarosamente Nossa Senhora.

Que belo exemplo de fé e de humildade! Isso para mim que conhecia a pureza de sua consciência era mesmo edificante. Em 14 anos de trabalho em Aparecida, pessoalmente fiz isso só uma única vez, submetendo?me a uma penitência destas, em horas de pouco movimento, para pedir que Nossa Senhora me ajudasse. E eu sentia dificuldade em fazer tal sacrifício. Imagine ele, com seu pesado corpo (pois era muito gordo), arrastando?se pesadamente pelo templo a fora, fazendo humildemente sua penitência, como qualquer cristão cheio de fé.

CONTRIBUIÇÃO: Padre Geraldo Camilo de Carvalho (190) redentorista santarritense e ex?missionário na África. Por escrito em 15.05.87.
Av. Osório, 172 # Fone: (016)236?6638 * Caixa Postal 84 * 14.801-308 Araraquara ? SP.

Ternura e compreensão do Pe. Alderígi nas mínimas coisas (06/02/1957)

Crônica do Frei Felipinho Gabriel Alves, O F M

Quando Nem morreu, aos 6 de fevereiro de 1957, a viúva Da. Diva Silveira do Couto (56 anos) estava no seu quarto, deitada por causa de hemorragias. Com toda a bondade, Pe. Alderígi foi onde ela estava, interrogando-a se não queria despedir-se do Nem, pois o enterro já estava para sair. Foi sim. Ao beijar, porém, seu marido, duas lágrimas, pedaços de sua dor, rolaram sobre o seu rosto.

Alguém que as viu, solicitamente, se apressou a enxugá-las. E o padre, sintonizado com o gemidos de sua alma, não o permitiu, com um simples gesto suave e amigo.

CONTRIBUIÇÃO: Diva Silveira do Couto (56 anos), doméstica. Entrevista em 10/02/87.
Rua Santa Isabel, 75 apt. 55 * Vila Buarque * 01.221 São Paulo – SP.

Pe. Alderígi, homem carinhoso (1967 - 1972)

Crônica de Lúcio Flavo Burza Lorena

Relembrar o Pe. Alderígi é como sair de nossa própria e dura realidade e mergulhar num mundo de paz, de amor, de luta, de resignação. (…)

Como coroinha, desde muito cedo, tive a oportunidade de um convívio muito chegado com o Padre. Fomos muito amigos. Tive tempo de sobra para conhecer esse homem simples que, mesmo sem merecer, Deus nos deu. Foram muitas as histórias, muitos os casos acontecidos, mas, a maioria das coisas foge à memória, somem num tempo que nunca deveria ter acabado.

0 Padre tinha muito carinho por nós, seus coroinhas. Estava sempre se preocupando conosco, de uma forma ou de outra. Dava sempre muita atenção, quando algum de nós lhe contava alguma história. Seu espírito brincalhão e alegre e seu forte senso critico, nos deixava então à vontade e o relacionamento era dos melhores. Mas, existia sempre o medo de fazer alguma coisa errada, ao que ele respondia:

– Coitado do fulano! Como pode ter um filho assim?…

Com isso, o padre se referia a algum dos coroinhas e a seu pai. Aliás por lembrar no seu forte senso crítico, o padre sempre me chamava de “gato magro”, dizendo que, se pudesse, faria um transplante de banha para mim, devido à minha magreza.

O padre gostava muito de fazer com a gente um Concurso de Velas, se é que possa chamar assim. Era o seguinte: sempre que algum devoto acendia uma vela muito grande, ou mesmo exagerada, ele nos reunia, para que cada um de nós tentasse acertar quantos dias a vela gastaria para se queimar. Todos escreviam num papel, que ele guardava e só abria no final. Aí, era aquela expectativa. O vencedor ganhava sempre um livro, um quadro ou uma imagem. Só que eu não acertei una vez sequer. Sempre ficava para a próxima.

Como todo coroinha, fazíamos nossas peraltices, às vezes descobertas pelo padre, às vezes não, mas sempre dava tudo certo no final. Um dia, não me lembro bem o que tínhamos aprontado; só sei que ele descobriu e então logo veio a bronca:

? Coisa feia! Feiúra! Vão todos embora!

Ficamos muito tristes. Não queríamos ficar longe dele. Mas, a tristeza durou pouco: Já no outro dia, na hora da missa, ficamos todos sentados no primeiro banco, todos com “cara de coitadinho”, para que ele nos visse, enquanto atendia as confissões. Ele notou nosso truque, fez por uma, duas vezes, um ar de riso e quando faltavam uns 5 minutos para o início da missa, ele mandou que vestíssemos as batinas. Foi uma festa. Que alegria! Depois da missa é que veio o sermão, ao que no final, todos tomavam a sua bênção e ele ia amontoando nossas pequenas mãos dentro da dele, que não era pequena. Apesar das peraltices, nunca as broncas dele eram tamanhas, a ponto de pensarmos em deixá?lo. A sua mão em nossas cabeças, logo após, fazia que tudo voltasse ao normal. Um dia até, ele nos mostrou um velho livro, acho ter sido do tempo do seminário, chamado “Ricardo, o coroinha peralta”, contando histórias e peraltices que um coroinha fazia com o velho padre, que era manco. Dávamos risadas.

CONTRIBUIÇÃO: Lúcio Flavo Burza Lorena (1959), estudante. Por escrito em 14.05.87.
Rua Major Bonifácio, 43 * 37775-000 – Santa Rita de Caldas, MG.

Pe. Alderígi, homem sábio, simples e bom (1969)

Crônica de Dr. Cauby Ferreira e Silva

Pe. Alderígi foi um santo. Com sua bondade inata, ele se despojou de si mesmo, totalmente. Bastava chegar até ele e já se sabia com quem a gente estava lidando. De sua boca, sempre que ele falava, jorrava uma fonte de sabedoria, como se fosse pérolas e mais pérolas.

Sua simplicidade era coisa tangível. A gente não tinha por onde escapar, diante de tanta singeleza. Toda sua figura era irradiação da pureza mais simples, através de seus gestos e de suas palavras. Os pobres podiam ir até ele, certos de que seriam atendidos, certos de que o Padre haveria de pagar até mesmo tudo o que fosse necessário.

Depois da morte do Dr. Nelson, em 24/03/69, eu tive a honra de ser escolhido, por esse homem dos pobres e dos pequenos, a ser continuador do meu colega: grande parte dos menos favorecidos de Santa Rita de Caldas eram enviados a mim, por esse novo São Vicente de Paulo. Mas, pelo pouco que fiz, lá do céu muito estou sendo abençoado por ele.

CONTRIBUIÇÃO: Dr. Cauby Ferreira e Silva (1924), cirurgião geral. Entrevista em 18/04/87
Rua Correia Neto, 311 # Fone: (035) 722-1908 * 37.700 Poços de Caldas – MG.

Pe. Alderígi brincando com afilhado (1970)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O F. M.

1970, Maria da Glória, Dito, seu esposo, e o garoto Roberto, afilhado do Pe. Alderígi, foram visitar o compadre e padrinho. Como presente, levaram no embornal o melhor queijo de seu sítio, lá da Pedra Redonda. O Padre – é claro – fez a maior festa:
Zéia (nome abreviado de sua governanta Zélia), veja que beleza de queijo! Reparte-o que eu quero só um pedacinho.
É a sua caridade que fazia dele um S. Cristóvão, carregando nas costas e no enorme coração, todos os necessitados. Continuou:
– Dê um pedaço para este; outro, para aquele. Coitados: Não podem comprar um queijinho e me disseram estarem com vontade de comer isto.
E, em seu carinho, depois de abraçar e abençoar o afilhado, pôs-lhe nas mãos algum dinheirinho, dizendo:
– Oh! não é para comprar doces, não. Doce a mãe compra. Esse dinheiro é para você comprar uma galinha. Põe a galinha pra chocar e, depois, vende tudo e compra uma leitoa. Põe a leitoa pra criar e, depois, vende tudo e compra uma bezerra. Depois, aumenta o gado, vende-o e compre terras!
E os olhinhos do garoto de seis anos, transbordando admiração, sorriam sorriso claro de inocência, diante deste homem de alma de menino também.
O mundo do Pe. Alderígi tinha cores e um mar de beleza e amor.

CONTRIBUIÇÃO: Maria da Glória Venâncio (1942), doméstica. Entrevista em 25/08/90
Santa Rita dos Campos * 27.775 Santa Rita de Caldas – MG.

Pe. Alderígi, homem do riso e das lágrimas, muito humano (1971)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

«Como meu tio, aquele que eu mais amava, Pe. Alderígi, era alegre e, ao mesmo tempo, totalmente sentimental, a chorar com muita facilidade! – Desta maneira o sobrinho Dr. José Asdrúbal deu início à sua entrevista, completada mais tarde por escrito.

Quando, em 1971, o Padre e o Dr. José Asdrúbal foram à Itália, com passagem paga pelos amigos, ao sentarem-se nas poltronas do avião, quanto o bom ancião riu, dizendo: «Ô moça, o cinto não serve. Não dá para fechá-lo. O Padre é muito gordo!» E ria… ria… Alguém até brincou com ele: «Não tem problemas: o Padre é pesado e não vai cair.» Então, ele riu mais ainda até que a aeromoça veio lhe socorrer: «Não se preocupe! A companhia aérea vai emendar dois cintos para o Sr.» Tudo amarrado, ele rindo novamente, comentava: «Veja como sou importante! Todos precisam de um cinto. Só eu que preciso de dois».

Este homem brincalhão, que não perdeu a inocência infantil, era amante do Tio Patinhas. Chegava a telefonar para o sobrinho de Poços de Caldas, dizendo: «Estou cansado de estudar teologia. Não tem aí alguma revista nova?» E ao lê-las, ria às gargalhadas e as guardava para mostrar aos sobrinhos.

Mas, ao chegarem em Roma, desceu do avião e não andava. Só olhava para o céu e dizia: «Zezinho, estamos em Roma! Estamos em Roma!» e as lágrimas desciam e molhavam sua batina preta. Daí há pouco estava morrendo de rir. Foi assim: Viu três meninos (ragazzi) e chamou-os para pedir informação. Mas, sem querer, andou misturando os dois idiomas: «Ragazzi., veni qui! Per favore!» E os meninos vieram e lhe perguntaram. «Prego, Monsegnore (Pronto, Monsenhor)». E o nosso bom homem, se equivocando, perguntou-lhe: «Onde poderei tomar o avião para Palermo?» Aí ninguém mais se entendeu e o Pe. Alderígi ria… ria… ria…

Em Palermo, o bom velhinho queria ver o mar. Se companheiro levou-o à praia e lá, firmando uma mão na bengala e outra na cintura, ele dizia: «Veja o poder de Deus! Que beleza! Se eu não fosse padre seria marinheiro.» Esse amor ao mar nos lembra quando o Sr. Vicente Torriani, pai do Pe. Alderígi, voltava da Argentina, onde fora se encontrar com sua namorada, Argia, que conhecera na Itália, quando ainda era adolescente. Voltaram recém-casados para o Brasil, em navio, viajando em terceira classe. Mas, o comandante estranhava que, sempre que todos eram chamados para isso ou para aquilo, os dois não atendiam, permanecendo sonhando juntos e conversando continuamente. O comandante quis saber o porquê e soube que os dois eram realmente casadinhos de novo. Imediatamente, os dois receberam camarim nupcial, na primeira classe, para muita alegria de todos.

No entanto, Pe. Alderígi chorou mesmo foi em Roma, no Quo Vadis, onde, segundo a lenda, Jesus se encontrou com Pedro, quando este, desanimado, estava abandonando a cidade. No piso de mármore, cercado com correntes, pode-se ainda ver o sinal de dois pés impressos na pedra que, também, segundo a tradição, seriam as pegadas de Cristo. Dr. José Asdrúbal ajoelhou-se para beijar estas santas pegadas. O tio, porém, com o problema de joelhos, não podia se ajoelhar e pediu-lhe tocasse a pedra com seu lenço. Chorando, ele beijava o lenço, tocava-o no rosto e apertava-o contra o coração. Como esse homem de Deus, embora tão santo, era humano, tremendamente equilibrado!

 

CONTRIBUIÇÃO: José Asdrúbal do Amaral (1937), sobrinho do Pe. Alderígi (filho de Da. Lalá) e advogado. Comunicação por escrito em 09.12.86.
Rua Pernambuco, 870 – Fone: (035) 3721-2504 * 37.700 – Poços de Caldas, MG

Mamma! (1975 e 1976)

Em 1975, aconteceu em Pouso Alegre uma reunião para os líderes paroquiais do movimento dos Cursilhos, para a qual foram convidados tanto leigos como sacerdotes, entre eles o Pe. Alderígi.

Todos conversando no grande salão de reuniões, esperando pela chegada do Arcebispo Dom José DŽÂngelo Netto. Quando este apontou na porta, todos se levantaram em sinal de reverência e a autoridade foi entrando, sorrindo e saudando os presentes. Mas, passando perto do Pe. Alderígi, alto, gordo, cabelos branquinhos, o arcebispo falou alto para todos ouvirem: “Quero beijar a mão de um santo” e pegou-lhe aquela mão de veias salientes e pele enrugada. Em sua humildade habitual, o ancião, respeitosamente, repuxou a mão, tentando evitar ser assim exaltado.

Mais ou menos, um ano depois – e quem narrou esse fato ao Dr. Celso Augusto Ribeiro de Carvalho foi o Cônego João Faria, de Paraisópolis, MG – Pe. Haroldo Rahm, de Campinas, SP, esteve em Pouso Alegre, dirigindo um Seminário de Vida no Espírito, da Renovação Carismática Católica, exclusivamente para sacerdotes. Devia ser 1976. Entre os convidados se encontrava o Pe. Alderígi, todo alquebrado, se arrastando, apoiado em sua bengala, devido aos problemas nos joelhos, flebite e varizes.

Lá pelas tantas, foi trazida em procissão uma imagem de Nossa Senhora. Todos se levantaram. Quando Pe. Alderígi a viu, de imediato, ele deu aquele grito “MAMMA!!!” e correu para estreitá-la em seus braços, num verdadeiro abraço filial, comovido, como se fosse à sua própria mãe, falecida quando o menino tinha apenas 10 anos. Foi uma emoção tão grande entre o clero, a ponto de alguns chorarem e a maioria sentir arrepios.

CONTRIBUIÇÃO: Celso Augusto Ribeiro de Carvalho (1931), engenheiro agrônomo. Entrevista em 1997.
Parque Centenário, 64 – Fone: (035) 651-1054 * 37.660-000 – PARAISÓPOLIS, MG.

Parte humana de Pe. Alderígi, porém enriquecida pela graça de Deus

A procissão que não terminou (1920 e 1927)

Faltavam 15 minutos para terminar o meu cooper diário, quando alguém chamou-me à portaria. Desci, mesmo de short e sem camisa, para dizer que me esperasse por mais 15 minutos. No entanto, vendo um senhor idoso, com o livro do Pe. Alderígi nas mãos, apenas pedi que me desse o tempo para colocar uma camisa.

Tratava-se do Sr. Romeu H. Campos Caridade, nascido em Jacutinga e era coroinha no tempo da primeira missa do Pe. Alderígi, em 19 de setembro de 1920.

Alegre e comunicativo, começou fazendo algumas correções em ALDERÍGI, GIGANTE COM OLHOS DE CRIANÇA. Primeiramente, o Sr. Vicente Torriani, pai do Pe. Alderígi, não era um jovem belíssimo. Era um homem feio, de olhinhos espremidos e nariz adunco, com uma cara de gente brava. «Eu não entrava na loja dele, de tanto medo que me dava», acrescentou o Sr. Romeu.

«Em segundo lugar, não foi o Níni que aconselhou ao jovem Vicente a ir buscar a namorada, pois naquele tempo ele nem era nascido. Ele era meu colega de idade e de escola. E a tal conversa, sobre a namorada, ocorreu no salão ao lado, pertencente ao Anacleto Bertucci», explicou o antigo coroinha.

O Sr. Romeu, em 1920, com 10 anos deidade, em sua batina preta e sobrepeliz branca, participou da festa da primeira missa do Pe. Alderígi: O povão todo esperando o neo-sacerdote. Ele não veio sozinho: Um grupo enorme o acompanhava. E o pequeno admirou aquele padre novo e muito comprido; no entanto, tão carinhoso que acariciou sua cabeça e de cada um dos coroinhas presentes.

Mas, já naquela época ele carregava uma pronúncia péssima, influência dos tempos em que esteve na Itália, dos 5 aos 11 anos. Mas, o ancião não se esquece que o santinho de lembrança da primeira missa, um Sagrado Coração de Jesus, lhe foi entregue pessoalmente por aquele que hoje é tido por um grande santo.

Em 1927, o jovem Romeu estava morando em Brasópolis e o Pe. Alderígi passou por lá, por dois meses, substituindo o Pe. Herculano. Esta estadia se transformou em verdadeira missão. Em quase todas as noites ele tinha uma reunião com algum grupo. Logo-logo cativou a simpatia de todo o povo.

Entre suas muitas procissões, inesquecível foi uma especial. Era costume, antes da festa da ascensão, por três dias consecutivos, fazer as procissões das rogações. Tinham caráter penitencial, realizadas pela madrugada, cantando a ladainha de todos os santos e rezando o terço.

Mas, como padre novo na cidade, Pe. Alderígi ainda não conhecia bem a geografia de suas ruas e caminhos. E lá foi ele em procissão: As mulheres em duas filas, à frente, e, após o vigário, os homens. Fervorosos, caminharam por um quilômetro e meio, até a igreja de Nossa Senhora Aparecida, bem no entroncamento da estrada de rodagem com a via férrea, a Rede Mineira de Viação. Bem penitencialmente e cheio de boa vontade, Pe. Alderígi decidiu continuar a procissão por um caminho mais longo, pela via férrea, até à estação, junto da cidade. Só que ele não imaginara qual a distância deste novo percurso. E lá foi ele rodeando montes e mais montes. Suando, o povo tentava seguir seu herói. Mas, as mais idosas, por mais que se esforçassem, foram se atrasando e até ficando pelo caminho. Depois, não só as mais idosas. Jovens e crianças também foram se distanciando, parando e se sentando à beira da estrada. Outros foram vencidos pelas bolhas nos pés. No final, só mesmo o Pe. Alderígi, seguido de um punhado bem reduzido de gente, levando o crucifixo e os dois candelabros de velas já apagadas havia tempo, totalmente suados, cansados e exaustos. Percorreram um quilômetro e meio até a capela, e mais 8 até a matriz.

Arrependido por ter tomado um trajeto sem antes se informar melhor, mas, dando gostosas gargalhadas, provocadas pelo lado cômico de tudo isso, mandou um caminhão recolher os estropiados, movido pelo seu bom coração.

Este fato, trazendo muito riso, sempre era relembrado, quando os futuros vigários anunciavam: «Nesta semana teremos as procissões das rogações».

CONTRIBUIÇÃO: Romeu H. Campos Caridade (1910), fiscal de renda de Minas Gerais, hoje aposentado
Av. Lavandisca, 665 – Fone: 542-4723 * Moema * São Paulo, SP

Pe. Alderígi, amigo dos estudantes (1921 – 1923)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

“De 1921 à 1923, precisamente na época em que o Pe. Alderígi pilotava o Colégio São José, eu fazia escola de farmácia em Pouso Alegre. Como eu tivesse alguns amigos na escola do Pe. Alderígi, de vez em quando ia eu visitá-los e lá me encontrava com aquele padre alto e magro, o maior amigo dos estudantes. Sei que era bravo, mas, ninguém ficava ressentido com isso. Bravo, sim, mas, apenas quando era necessário.”

Através do Sr. Jurandir, fiquei sabendo que maior do que a energia do bom diretor, eram sua bondade, alegria, dinamismo e jovialidade.

Sua autoridade não diminuía por entrar em campo de futebol e lutar para vencer, lutar para ganhar, correndo com sua batina preta, suspendida e amarrada à cintura, fazendo-o mais ágil ainda. O termômetro de sua autoridade não abaixava. Pelo contrário. Quem não amaria um chefe amigo, quase colega na alegria do esporte?

 

CONTRIBUIÇÃO: Jurandir Ferreira (1905), bioquímico e cronista. Entrevista em 01.12.87.
Rua: Rio de Janeiro, 24 # Fone: (035) 721-2445 * 37.700 Poços de Caldas – MG.

Um aluno fala de seu professor (1925)

Crônica de Côn. Luiz Gonzaga Ribeiro

1925. Revejo o Pe. Alderígi na sala de aula de nosso tradicional ginásio São José de Pouso Alegre, onde, como aluno, eu recebia suas apreciadas aulas de Geografia (em que ele, habilmente, introduzia Religião, História, Moral). Alto, espadaúdo, magro, mãos impressionantemente grandes, vestindo sua batina preta – era o professor esclarecido, bondoso, amigo dos alunos.

Era, também, o diretor do ginásio. E que diretor! Estava presente em toda a parte, com seu visível entusiasmo pela prática religiosa e pela fervorosa devoção a Nossa Senhora. Saudosos meses de maio! Digam-no seus ex-alunos, hoje médicos, engenheiros, padres, empresários.

Tudo isto exigia um dinamismo em toda hora, sem esmorecimento, com iniciativas que se multiplicavam, sob o esforço diuturno do diretor.

Uma vez, como sineiro do seminário, eu o surpreendi, pela manhã, numa sala de aula, extenuado, dormindo sobre uma carteira, com seu inseparável breviário de orações aberto, ao lado. Não dormira no quarto… adormecera, vencido pelo cansaço e pelo trabalho.

Naquele tempo (1925-26), o Ginásio São José teve dias de glória, num ambiente de alegria, estudo e piedade. O diretor promovia tudo… “Padirígi” pra qui; “Padirígi” pra lá. Era só o que se ouvia. E ele se sentia feliz em toda aquela multiplicada movimentação: festas religiosas, competições esportivas, campanhas culturais.(…)

 

CONTRIBUIÇÃO: Partes do artigo multicopiado do Cônego Luiz Gonzaga Ribeiro.
Caixa Postal 511 * 86.600 Rolândia – PR.

Campainhadas (1928-1933)

Assunto: Pe. Alderígi acaba com ponta-pé a bagunça dos coroinhas, durante procissão eucarística

Dos 7 aos 12 anos, Zé Bouças foi aquele esperto coroinha, colega de outro, não menos esperto ainda, o Naio (Apolinário Barbosa), cunhado de Frei Felipinho. Eram os tempos do jovem convalescente Pe. Alderígi, magro e alto, qual poste, lá de cima, tudo vendo, tudo iluminando.

Já naquela época, havia a procissão diária, conduzindo o Santíssimo Sacramento da capela própria para o altar mor, de onde era dada a bênção solene, com a custódia dourada ou só com a âmbula, revestida de seda. Essa procissão era acompanhada do sacristão, com a umbela aberta (aquele guarda-sol, de cabo comprido, e lá em cima aquele círculo branco, de pano, aberto por barbatanas retilíneas, para proteger honrosamente o sacerdote que transportava a Eucaristia). À frente, abrindo a procissão, iam dois coroinhas, soando as campainhas, vibrando-as, alternadamente: Um fazia-a soar “blém” e o outro, “blem-blém”. E assim, toda a procissão. Blém. Blem-blém. Blém. Blem-blém.

Mas, coroinha só tem cabeça para pensar em brincadeiras, quase sempre inocentes, como naquela noite: Em vez de fazerem soar as campainhas com pequenos e rápidos golpes do punho, faziam-nas soar batendo-as nas costas do outro. E aqueles blém, blem-blém não durou muito, entre risos dos dois inocentes, que se esqueceram que, lá de cima, o grande Pe. Alderígi a tudo observava. Disse que não durou muito, pois logo-logo, tudo terminou com aquele ponta-pé, rápido vapt-vupt, no trazeiro dos dois alegres meninos.

O que Jesus ficou pensando da liturgia daquela época, entremeada de piedade, ordem e ponta-pé, ninguém sabe. Só foi sabido que as moças de branco, as filhas-de-Maria, e as senhoras do apostolado da oração tiveram dificuldade de continuar cantando, devido a tantos risos e risadas, risadas camufladas para que o jovem sacerdote não ficasse mais bravo ainda.

CONTRIBUIÇÃO: José Bouças (1921), pedreiro. Testemunho contado pessoalmente, aos 22 de maio de 1993.
Rua Felipe Burza, 10 * 37775-000 – Santa Rita de Caldas, MG

Pe. Alderígi, homem penitente

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Pe. Alderígi, quando ia celebrar missa no Jaguarizinho, pousava na família dos Barbosa. As encarregadas do serviço caseiro, com todo o carinho, arrumavam a cama para que descansasse da melhor maneira possível. Tamanha era a surpresa da turma, ao ver, no outro dia, como a cama do querido hóspede tinha permanecido do mesmo jeito, sem ter sido usada.

Ele dormia sentado e rezando, à luz de lamparina. Quando as crianças iam perguntar para ele o porquê de não ter dormido na cama, aí ele respondia bravo:

– Vão trabalhar! Eu dormi, sim.

 

CONTRIBUIÇÃO: Joana Barbosa de Melo (62 anos), doméstica. Entrevista em 20.04.87.
Rua: Pref. Sebastião Januzzi, 166 # Fone: (035) 734-1188 * 37.775 Santa Rita de Caldas – MG.

Pe. Alderígi tenta plantar a paz em Camanducaia (1931-1932)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Camanducaia era uma cidade culta, bela, plantada no encantamento das montanhas do Sul de Minas. Todavia, sem paz, dividida, retalhada. No ar, cheiro de sangue e nos corações dos políticos, tramas escuras a causar contínuas inquietações. Os Escobar – os da situação – dum lado; os Dantas – os da oposição, do outro. No centro, o povo pobre, angustiado, pagando o pato que não devia, nem comeu.

Quando o médico Dr. Plínio Gayer chegou do Rio Grande do Sul, reacenderam-se as brigas. Na casa dele, uma lista. Quem nela assinasse seria companheiro. Quem se opusesse, já era inimigo, candidato a algum problema, num futuro não muito remoto. O mesmo existia na casa do Valêncio Ferreira Dantas.

Para começar, no dia 1o. de março de 1931, Valêncio e Lair tombaram num tiroteio. O primeiro morto, baleado pelo Dr. Plínio. O segundo, por Pedro Pantaleão. Quando, porém, o Dr. Plínio caiu por terra, o mulherio quase o matou com pancadas, usando até mesmo um limpa-pés, arrancado de não sei onde.

Dentro da igreja quem continuou reinando foram os Escobar. Da. Conceição, filha do Sr. Estelita Escobar, casada com Dr. Plínio, era quem enfeitava os altares e tocava o harmônio nos casamentos e cultos religiosos. Todavia, quando se dirigia ao templo, tinha que ir pelo meio da rua e não pela calçada, porque uma e outra calçada orlavam a frente das casas de alguém dos Dantas. A matrona Da. Aurora, mulher do Estelita, era presidente do Apostolado. Da. Rita, mulher do Sr. Eliseu Marzagão, partidário dos Dantas, queria também participar dessa confraria. Se entrasse, porém, os Escobar crer-se-iam ofendidos e o Sr. Estelita pôde categoricamente anunciar:

– Se entra essa mulher no Apostolado da Oração, eu tiro a minha de confraria!

Foi nessa época e dentro desta paisagem estreita, mesquinha, politiqueira, que chegou o pacificador da cidade, o Pe. Alderígi, um santo homem. Era mesmo um grande santo.

O clima de briga, mais por motivos políticos, era terrível e foi efervescendo até a festa de São Sebastião. No dia do santo soldado, a praça da igreja estava vazia. Todos estavam mais acima, dentro da festa, também o Sr. Cecílio Santos, pai de José, Chico e Ceci. Cecílio é amigo do Dr. Plínio, defendendo-o a todo o custo. E quando Cecílio descia para o centro, sem perceber as nuvens escuras e baixas, tecidas nos silêncios das maquinações inimigas, foi repentinamente fulminado pelo fogo dum revólver. Tombou perto da igreja. Ceci, seu filho, forte e grande, queria sair para a praça, procurando desforra instantânea. Pe. Alderígi, mais forte que ele, barrou-lhe o caminho, impedindo mais um morto na família.

O tiroteio continuou por muito tempo, entre gritos de ódio e o choro, súplicas e rezas das mulheres e filhas.

Esta é a Camanducaia que o Pe. Alderígi viu e sofreu.

 

CONTRIBUIÇÃO: Onofre Vargas (1913), advogado. Entrevista em 07.10.87.
Pça. Benjamim de Macedo, 132 # Fone: (035) 433-1025 * 37.650 Camanducaia – MG.

Pe. Alderígi salvando suas ovelhas da morte (1932)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Nos tempos quentes de brigas e de morte de Camanducaia (MG), Pe. Alderígi não se dobrava nem para este nem para aquele partido. Embora cada um quisesse puxá-lo para a sua facção, ele se conservou apolítico, servindo religiosamente a todos, em seu ofício de pastor e guia espiritual de todos.

Os Dantas gostavam dele: os Escobar, outro tanto, embora em cada guarda-roupa se escondesse uma carabina 44. Foi o Dr. Mário Casassanta, que já o conhecia doutros tempos, lá no Colégio São José de Pouso Alegre, que pediu ao Sr. Bispo, D. Otávio Chagas de Miranda, o conduzisse a Camanducaia, tal qual homem único capaz de pôr um basta a tanta ignorância.

No entanto, na noite de São Sebastião, houve tiroteio muito grande na cidade e o Sr. Cecílio Santos ficou estendido morto, no meio da praça. Os Escobar queriam invadir o centro da cidade e os Dantas esperavam-nos armados. Ninguém lá podia chegar, tanto o pipocar das balas. Só o Pe. Alderígi entrou, como um toureiro em arena sangrenta de touros invisíveis. Entrou pedindo calma, clamando pela paz. Entrou e assim evitou uma mortandade tremenda. Graças à calma, à energia e coragem desse homem de Deus é que as coisas, pouco a pouco, foram serenando.

 

CONTRIBUIÇÃO: Altino Dantas (1900), coletor e ex-Prefeito de Santa Rita de Caldas. Entrevista em 08.10.87. * Rua: Dionísio Machado, 120 # Fone: (035) 421-1684 * Bairro Santa Lúcia * 37.550-000 Pouso Alegre – MG.

Pe. Alderígi, homem pacificador e homem de coragem (1932)

 Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Quando o Pe. Alderígi voltou de Camanducaia (1933), voltou nervoso. Naquela cidade, onde fora trabalhar como pacificador de um povo altamente político, mataram um líder da política de lá. “Tive de atravessar de gatinho a praça – disse ele a seu irmão, José Torriani – para gritar ao ouvido de quem estava morrendo que se arrependesse.” Depois de dar a extrema-unção, o padre foi à casa do morto. Ao entrar, o filho do falecido ia saindo, com revólver na mão. O padre empurrou-o para o quarto, tentando convencê-lo de que não saísse lá fora, para não piorar a situação. “Você quer morrer? – disse o padre – Não saia!” Mas o jovem teimava em sair. Se ele saísse, as mortes aumentariam. Então o padre teve de dar um soco na cara do jovem e derrubá-lo na cama.

Por outras tantas, já trabalhando em Santa Rita de Caldas, o padre não deixou o Bispo crismar uma criança, cujo padrinho era amasiado. O filho do amasiado, então, queria matar o vigário. Mas ele não se deixou dobrar. Um dia, esse quase-padrinho entrou, de joelhos, na igreja, para pedir perdão ao Padre Alderígi, que naquela ocasião agira dura, mas, corretamente.

 

CONTRIBUIÇÃO: + José Torriani (72 anos), irmão do Pe. Alderígi e industrial. Entrevista em 27.01.87.
Rua: Barão de Motta Paes, 597 # Fone: (0196) 51-2085 * 13.990 Espírito Santo do Pinhal – SP.

Pe. Alderígi também sofria com seu pai impertinente (1932 e 1942)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Em 1932, Pe. Alderígi deixou Santa Rita de Caldas para fazer um trabalho de pacificação em Camanducaia. Era um sério pedido de Dom Otávio Chagas de Miranda e o padre foi, enquanto o seu pai, Vicente Torriani, aqui ficou a esbravejar: “O Alderígi é o culpado. Foi o Alderígi que se ofereceu para ir.”

Depois de um pouco mais de um ano e meio, cansado e nervoso, voltou o nosso vigário. As duas da madrugada, ele desembarcara do trenzinho, Rede Mineira de Viação, na estação de Ouro Fino, e de manhã bem cedo, estava chegando em nosso meio, para continuar sua via-sacra de sofrimentos, mas, de muita paciência também. Veio a pé de Ouro Fino até aqui, sem falar com ninguém. Era uma promessa que fizera, tanto nosso bom vigário gostava da gente.

Em 1942, os padres redentoristas de São João da Boa Vista o convidaram para passar lá uns dias de descanso. Pe. Alderígi aceitou o convite. Arrumou uma tesoura de podar parreira, pois o padre entendia disso e iria suar dentro das vinhas de seus amigos.

No dia de partir, chegou o padre em sua casa com uma mala emprestada, para arrumar os pertences que levaria consigo. Aí começou a encrenca do Sr. Vicente: “Onde se viu um padre que não tem nem mala para viajar, que não tem agasalho para sair! Tudo o que ele tem ele vai dando para os outros. É essa mania de só pensar nos pobres e é isso… e é aquilo…”e foi falando, falando. Para terminar com todo esse barulhão, o Pe. Alderígi pegou sua mala, suas coisas, seu guarda-pó, e foi para a casa de Da. Marina, sua irmã, para terminar de fazer as arrumações e esperar a condução, longe da falação impertinente do pai nervoso, arreliento.

Os santos também têm as cruzes que o povo comum está carregando.

 

CONTRIBUIÇÃO: José Benedito da Silveira (Zé Policarpo/1915), ex-sacristão do Pe. Alderígi e atualmente lavrador. Entrevista em 20.04.87. Rua: Joaquim Teodoro, 110 * 37.775-000 Santa Rita de Caldas – MG.

Pe. Alderígi queria que seus coroinhas fossem exemplos (± 1943)

 Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

O Pe. Alderígi, muito devoto do Sagrado Coração de Jesus, levava todas as crianças do Grupo Escolar para a igreja, a fim de se confessarem, nas primeiras quintas-feiras do mês. Primeiro, confessavam só os meninos da roça. Enquanto isso acontecia, ficávamos – pelo menos na intenção – sentadinhos nos bancos, sob os olhos tutelares das professoras. Depois, quando a fila dos meninos da roça terminava, as crianças da cidade voavam para o confessionário, e formavam longas filas, meninas de um lado e garotos de outro. Cada um queria confessar-se o quanto antes, pois após a confissão estaríamos livres para retornar às brincadeiras. Além de corrermos para pegarmos os primeiros lugares, havia os que ficavam passando, à força, uns na frente dos outros.

Lá por 1943, o Antônio do Zé Chato, garoto forte e briguento, pelo menos naquela época, passou à minha frente. Se eu passasse na frente dele, haveria briga e eu, mais fraco, perderia. Que fazer? Fiquei quieto. Mas, na hora em que ele se ajoelhou para se acusar, eu também me ajoelhei ao mesmo tempo e, ao mesmo tempo, os dois se acusavam, um mais depressa que o outro. De dentro do confessionário, o padre, em vez de um par de olhos, via dois pares. Ouvia não uma, mas duas vozes, e isto em tempo em que ninguém pensava em confissão comunitária.

Então, o Pe. saiu do confessionário para ver o que era aquilo e viu o gordo, que não era coroinha e eu, coroinha querido, mas que não estava dando bom exemplo. O Pe. não pensou duas vezes. Tirou-me de onde eu estava e me deu aquele ponta-pé que me levou longe. Que vergonha, todas as meninas presenciando isto! Quase que deixei tudo: ser coroinha, religião e não sei mais o quê.

Mas depois, com muito amor, o Pe. veio falar comigo, pedindo desculpas e me explicando que, realmente, o coroinha devia dar bom exemplo e que ele me entendia e me queria muito bem. Essa conversa de amigo para amigo me fez mais bem ainda. E fiquei honrado com a amizade que ele tinha para comigo.

 

CONTRIBUIÇÃO: Frei Felipinho Gabriel Alves (1932), pregador e antigo coroinha do Pe. Alderígi. Elaborado em 12.03.87. Convento São Francisco
Lg. São Francisco, 133 # Fone: (011) 3291-2400 * 01005-010 – S. Paulo – SP.

Pe. Alderígi se arrependia de seus gritos

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Para que o povo fosse em ordem para a comunhão, o Pe. Alderígi pediu à Presidente do Apostolado da Oração, Da. Ritinha Martins Barbosa, que no momento certo, saísse ela do banco e puxasse a fila. Certa vez, igreja repleta, ela se levantou e começou o seu ofício. Nisto, nervoso e não muito litúrgico, o Padre gritou, mandando-lhe sentar. Sentou-se, amassada de vergonha, como se a terra tivesse afundado com ela.

Um dia, estava Da. Ritinha à janela de sua casa, lá perto da ponte do Rio Claro, quando viu o Padre descendo a rua. Pensou ela fosse o zeloso pastor visitar algum doente. Mas, não era. Ele ia à casa da Presidente do Apostolado da Oração, para pedir-lhe perdão.

 

CONTRIBUIÇÃO: Ritinha Martins Barbosa (83 anos), Presidente do Apostolado da Oração e serviçal de escola. Entrevista em 27.01.87
Rua: Pref. Nestor Martins, 105 # Fone: (035) 734-1135 * 37.775-000 Santa Rita de Caldas – MG.

Influência do Pe. Alderígi sobre as crianças

(DOIS DEIXAM DE BRIGAR)

Crônica de Antônio Bartolomeu de Carvalho

Zé Milton e Ildeu, filhos de Antônio Martins, estavam brigando na Praça da Matriz. Havia muita gente, uns atiçando, outros tentando apartar a briga. Aí alguém gritou: “Pe. Alderígi vem vindo aí” e os dois correram.

CONTRIBUIÇÃO: Antônio Bartolomeu de Carvalho (51 anos), comerciante. Entrevista em 03.12.85.
Praça Pe. Alderígi, 179 (fundos) * Fone: (035) 734-1113 * 37.775-000 Santa Rita de Caldas MG.

Prudência e humildade do Pe. Alderígi diante dos milagres

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Domingo, na varanda da casa paroquial. Ali fora na praça, o jardim onde as roseiras e hortências dominavam o ambiente e as buganvílias eram cachos de alegria colorida. As crianças, os tico-ticos e os canários tagarelavam.

Enquanto se processava a digestão duma gostosa macarronada, regada com o FERREIRA, ótimo vinho, quase negro, de Santa Rita de Caldas, o bate-papo entre o Pe. Alderígi e seu sobrinho visitante, José Luiz, virou conversa séria:

– Tio, estava prestando atenção numa conversa sobre o Sr. Não sei, porém, se lhe devo contar.

– Somos amigos, não? Entre amigos não se deve ter receio de perguntar coisa alguma, nem devemos esconder nada.

– Bem. Eles falavam sobre um milagre seu…

– Eles me atribuem tantos milagres e se esquecem não ser eu nem santo nem Deus para realizar essas coisas. É a fé em Deus e na Santíssima Virgem Maria, que tudo concede a nós. Mas, qual é esse novo milagre?

José Luiz lhe contou a história duma bilocação (estar em dois lugares ao mesmo tempo), em que ele, enquanto dirigia uma reunião na igreja, atendeu a um parto dificílimo e, embora tombasse tremenda tempestade, nem se molhou.

Contou-lhe tudo e olhou firmemente dentro de seus olhos, para ver algum traço ou sinal de dúvida. Mas, apenas viu aquele olhar transmitindo amor e mais nada.

– Não acredite em nada que os outros falam! – afirmou o tio.

– …

– Não. Não estou chamando ninguém de mentiroso. Apenas dizendo que querem eles que eu seja santo, realize milagres. Nisto estou totalmente contra. Não que sejam mentirosos; querem, porém, que algo de fantástico aconteça. Pense bem! Quem conta um conto, aumenta um ponto.

Pe. Alderígi foi muito importante para esse sobrinho que desta maneira se expressou sobre ele:

“Vejo meu tio não como padre, o que realmente o foi. Mas, como homem, e um grande homem, inteiramente dedicado a seu povo, principalmente aos pobres e necessitados. Seus ensinamentos até hoje soam firmes e seguros em mim. Com ele fui aprender o valor e a necessidade de ajudar aqueles que realmente necessitam de apoio moral, um conselho sábio, como ele dizia: “Um apoio moral, um conselho sábio, eqüivale a mil velas acesas no altar.”

 

CONTRIBUIÇÃO: José Luiz Gonzaga Torriani (1936), industrial. Por escrito em 24.11.87. – Rua: Luiz Carlos Paraná, 51 – Jd. Cidália # Fone: (035) 563-2494 – cep: 04.651 São Paulo – SP.

Pe. Alderígi, quando jovem também amou (± 1945)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Quando a minha irmã Judith queria ir para o convento, foi ela pedir conselhos ao bom Padre Alderígi, pois nesta época gostava muito de certo rapaz.

Ele respondeu: “Isto não impede a entrada no convento, não. Eu também, em meus 16 ou 17 anos, gostei muito de uma moça. Ela queria que eu saísse do seminário.” E explicou como a gente precisa superar estas tendências, para uma consagração total a Deus.

CONTRIBUIÇÃO: Judith Alves (58 anos), professora. – Entrevista em 26.02.87. * Rua Antônio Dalmarco, 400 – Bl 04 apto 23 – Fone: (041) 248-0324 * Fazendinha * 81.320-420 Curitiba – PR.

Pe. Alderígi, quanto a moda, também evoluiu (± 1945)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

“Meu tio, Pe. Alderígi, era imenso. Era uma pessoa estranha que não sei explicar. Gordo. Alto. Aquela mão grande, enorme, toda pintadinha de manchas pretas, coloridas pela idade. Mão gorda e leve.

Olhos tristes, profundos, parecia que trazia toda a dor do mundo. Quando ele vinha à casa da vovó – nem se fala – era aquela festa.” – Foi o jeito da Denise, sobrinha do Pe. Alderígi, se expressar, resumindo o mistério duma pessoa que tanto impressionou o mundo, muito mais uma menina que teve a honra de chamá-lo “Tio Padre”.

Quando Denise era pequena, o santo vigário era muito rigoroso com as modas. E um dia, Da. Maria Lavínia, mãe dela, disse às três filhas:

– Amanhã, vamos visitar o Tio Padre! – e tomou todos os seus vestidos, os da Lia, os da Dida e os da Denise e desceu todas as barras. Ficaram horrorosas, feias, fora de moda. Pareciam crentes e ninguém queria mais ir. Mas, “tem que ir”, imagine ficar aqui etc., e toda aquela lenga-lenga para convencê-las forçadamente. Só sei que foram. Lá foram, a mãe, toda orgulhosa, esperando o belo elogio que o “Tio Padre” haveria de dar para a mãe exemplar, a cuidar galhardamente da pureza e virgindade das filhas, dentro dum mundo mau e perverso e tal e tal.

Qual nada. Foi ele quem tirou o maior sarro, na maior alegria e brincadeira, nas quais ele era especialista:

– Dá pra ver que vocês são do Paraná! Que feiúra os vestidos de vocês, como se fossem jecas e caipiras. Olhem só como estão fora da elegância das meninas de Santa Rita… Hoje todas de mini-saia e vocês desse jeito!!!

Só sei dizer que ele era formidável e soube acompanhar a moda conservando o bom senso e o bom gosto.

 

CONTRIBUIÇÃO: Denise de Cássia Ferri (1957), sobrinha-neta (Pedro Torriani, seu avô) e professora. – Entrevista em 07.11.87. * Rua: Guaporé, 224 * 86.025 Londrina – PR.

Pe. Alderígi, um santo que se zangava e pedia perdão (1950-1959)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Um dia Pe. Alderígi – segundo a narração de Da. Maria Barbosa Peçanha – sempre fiel aos chamados dos doentes, em qualquer hora do dia ou da noite, foi atender a uma confissão no Albertão. Se as estradas eram péssimas, pior ainda eram por aquelas paragens, onde não havia estrada e às vezes, nem trilho sequer. Cansado, acabou dormindo sobre o cavalo e se perdeu pelos campos. Quando acordou, não sabia onde estava e demorou a achar o rumo certo.

Além do cansaço de tanto procurar doentes, havia o cansaço de longas horas dentro do confessionário, chegando mesmo a cochilar, ou até mesmo dormir, enquanto algum penitente estivesse ajoelhado. Se a gente o acordava, ele agradecia: “Deus lhe pague, filha boa!” e continuava atendendo até altas horas.

Entre os anos de 1950 a 1959, Maria Barbosa Peçanha teve a honra de ser escolhida por ele para cuidar da igrejinha de São Bento, em São Bento de Caldas. Aí ela pôde notar como o cansaço do zeloso e incansável pastor o tornava nervoso e como sua santidade o levava a se penitenciar.

Assim, por exemplo, ele pediu à responsável pela igreja para pôr os bancos do povo mais para frente, mais perto do altar. Ela obedeceu e ele reclamou: “Por que os colocou tão perto do altar? Assim não dá. Estorva.” Aí, ela reclamou não saber como fazer para lhe agradar, pois, se os colocava mais para trás ele reclamava; se os colocava mais para frente ele reclamava do mesmo jeito. Então, santamente, o simples e puro Pe. Alderígi se humilhou, pedindo-lhe perdão: “Me perdoe, filhinha boa! O padre está caduco. Ele não podia ter feito isso com a filha!”

 

CONTRIBUIÇÃO: Maria Barbosa Peçanha (1935), professora. Entrevista em 20.04.87.
Sítio São Bento * Distrito de São Bento de Caldas * 37.775-000 Santa Rita de Caldas – MG.

Penitência do Pe. Alderígi

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Comumente era o Zé Borda quem levava o Pe. Alderígi nas roças, na falta de um cavalo. Mas, o motorista sempre notava que o bom vigário levava consigo vários jornais. Como sempre ficava encabulado com isso, lá um dia, lhe perguntou:

– Por que o Sr. leva tanto jornal, seo Padre?

– Para eu ler, ora.

Mas, os tais jornais eram velhos e talvez não fosse essa a resposta correta.

Mais tarde, o motorista ficou sabendo que era para forrar o chão para dormir, pois sua cama quase sempre amanhecia intacta.

Nosso Santo Padre fazia muita penitência em favor dos pobres e dos pecadores. O sonho dele era que todos nós nos reuníssemos no paraíso.

 

CONTRIBUIÇÃO: João Vicente de Carvalho (82 anos), vinhateiro. – Entrevista em 22.03.87. Rua dos Imediatos, 50 * Fone: (035) 3735-1327 * 37.780 Caldas – MG.

Pe. Alderígi não quis que o coroinha fosse ao enterro (1958)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Havia um enterro, em 1958, e ao Cléber, meu sobrinho, com 6 ou 7 anos, o Padre disse: “Você é pequeno e não vai, não.” E o Cléber foi, mas escondido. Lá na casa do defunto, o padre, vestido de pluvial preto; o Luiz Roberto, outro sobrinho meu, segurando uma ponta do pluvial, mais outro coroinha segurando a outra ponta. Na hora de o Padre Alderígi tomar o aspergil e jogar água benta sobre o defunto, o Cléber, que estava escondido por trás do Padre, levantou o pluvial e apontou só sua cabecinha para ver o que estava acontecendo. Quando o padre o viu, logo a ele a quem recomendara diretamente que não fosse, tomou o aspergil e… toc, toc,… na cabeça do menino, que se safou, logo, logo, por onde tinha entrado.

 

CONTRIBUIÇÃO: Luzia Alves Silveira (1925), doméstica Entrevista em 02.12.86.
Rua: João Brandemburgo, Bl. I, Apto. 3 * Fone: (19) 3272-9827 * 13.031-240 Campinas – SP.

Vida de humildade do Pe. Alderígi (± 1958)

(TRECHO DA CARTA DE ZIZINHA JANUZZI D”AMBROSIO)

Tive a felicidade de viver à sombra da santidade do Pe. Alderígi, por mais de vinte anos, e desejo e acho justo que se propague o seu exemplo edificante de vida. (…)

Posso testemunhar, pela convivência que tivemos, a santidade do Pe. Alderígi. Viveu ele a humildade, a caridade, a pobreza, o sacrifício, o desprendimento pelas coisas terrenas.

Para ele, o maior pecado era o orgulho. Deste se originavam todos os outros males da vida.

Dormia no assoalho frio para fazer sacrifícios, além de abster-se de alimentos, dizendo: “É necessário que habituemos o corpo a privações, para quando tiver a mente de sacrificar-se, estar preparado.”

Um dia, lhe perguntei por que deixara o cigarro. Ele me respondeu: “Ser filho de Deus é algo de tão sublime que é impossível ser, ao mesmo tempo, escravo de um rolinho de papel, contendo fumo.”

A santidade do Pe. Alderígi é comprovada nas pequeninas coisas, nos pequeninos atos. A beleza de sua vida é tamanha que se torna indescritível. Em toda a minha vida, posso lhe afirmar: não encontrei ninguém onde as virtudes se concentrem, como se concentravam nele.

 

CONTRIBUIÇÃO: Zizinha Januzzi D”Ambrosio (54 anos), professora universitária. Através de carta de 08.12.86. * Rua: Cap. Afonso Junqueira, 202 * Fone: (035) 721-3891
37.700 Poços de Caldas – MG.

Amor à natureza e a Deus (1960)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

“No frio mês de junho, por 4 vezes, tivemos a honra e a alegria de hospedar o Pe. Alderígi em nossa casa. Vinha ao nosso meio para descansar um pouco de suas contínuas fadigas e perto de nós nos ensinar a beleza de sua vida de oração e seu grande amor à natureza. Pena que permanecia em nossas montanhas apenas 3 ou 4 dias. Levantava cedo, rezava o breviário, tomava um copo com açúcar e ia ao curral beber o leite quente da vaca, tirado na hora.” – Foi o início da narrativa de Da. Maria da Glória na sacristia do Santuário de Santa Rita.

Uma manhã, era 23 de julho de 1960, mais ou menos, amanheceu tudo branquinho. Tinha nevado. Os ramos dos arbustos estavam inclinados, sustentando aquela brancura maravilhosa. Seus olhos, grandes para beber tanta beleza, pediram ao dono da casa buscasse um raminho, com todo o cuidado, para ele. E ele dizia: “Corram cá, chamem a família, chamem a Zélia (sua fiel auxiliar por muitos anos)! Nunca tinha visto isto no Brasil…” E falou longamente de sua infância na Itália, onde o brasileirinho teve de viver dos 5 aos 10 anos, onde via, a cada ano, tanta neve e tanta beleza.

Como amava o ar puro, o orvalho, a beleza da roça! Como gostava de beber a água fresca da fonte! “Vá, Zélia, buscar-me água fresca da mina! Esta é límpida e sem perigo!”, dizia ele.

Às 11:00 hs, ia à capela celebrar a missa e, quando terminava, sentava-se numa grande pedra e lá ficava conversando com o povo simples, contando anedotas, dando conselhos, contando casos e recebendo de presente broa de fubá, que ele gostava de comer, e frango, para a Zélia levar para a cidade.

À hora do almoço, Da. Maria da Glória fazia, para ele, ravióli com frango, seu prato preferido. Brincalhão como era, no final do almoço colocava, disfarçadamente, os ossos nos pratos dos outros, principalmente no da Zélia, e dizia: “Vejam! Não comi nada de frango. É preciso preparar outro.”

Às 5:00 hs da tarde, celebrava outra missa, e mais gente ia para ouvir seus sermões e seus conselhos. Para a janta, preferia tomar um prato de sopa de farinha de milho, com ovo inteiro dentro, sem desmanchar, o que chamamos de escaldado de alho. Quando a noite vinha, rezava o terço com a família, à luz das lanternas, e conversava mais ainda sobre as coisas bonitas da religião. Para dormir, preferia os colchões bem altos, enchidos com palha de milho.

Além de sua espiritualidade, ensinou aos camponeses a ternura de seu coração, que o levava a derramar lágrimas sempre que alguém lhe oferecia uma florzinha dos campos, ou quando, numa festinha, lhe ofereciam uma poesia ou um pequeno discurso.

 

CONTRIBUIÇÃO: Maria da Glória Venâncio (1942), doméstica. Entrevista em 17.04.87.
Santa Rita dos Campos (Capela do Município de S. Rita de Caldas)
37.775-000 – Santa Rita de Caldas – MG.

Pe. Alderígi, embora sendo grande santo, era humano e tinha lá os seus medos

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

D. Otávio, seu bispo, enviou Pe. Alderígi para Camanducaia em começos de 1932, por causa das grandes brigas políticas daquela cidade. Afirmava ele que foi para lá com muito medo. Tinha também medo do pai, pois, quando este bebia, ficava brabo e desorientava toda a família.

Tinha medo do bispo, em suas visitas pastorais, pois sabia que o bispo chamar-lhe-ia a atenção por sua desordem constante, uma vez que seus livros de escritura estavam sempre por completar. Tinha medo do bispo mas este o amava e dizia: “Oh Monsenhor, o Sr. é um santo! Mas, é desordeiro” e carinhosamente colocava a cabeça do Padre em seu ombro.

No hospital, em sua última doença, tinha medo de ficar sozinho. Então dormia segurando a mão de Da. Zélia, sua fiel governanta e secretária e não a deixava puxar a mão para se afastar.

 

CONTRIBUIÇÃO: + Zélia Martins (70 anos), ex-sacristã e ex- enfermeira do Pe. Alderígi. – Entrevista em 23/05/85. * Rua Pref. Sebastião Januzzi, 79 * 37.775-000 Santa Rita de Caldas – MG.

Pe. Alderígi, homem de oração, das coisas bonitas e do amor (1960 a 1977)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

«Coisa feia! Isto não funciona. Tem dó do Padre! Mande arrumar esse telefone!» – Assim, mais de uma vez, o Pe. Alderígi reclamou dos velhos telefones de magneto, funcionando mal e porcamente numa cidade pequena, sem importância para o Estado, perdida nas alturas das montanhas, cercada antigamente de parreiras e pessegueiros e bom figo.

Mas, não demorava muito, o telefone chamava novamente. Era ele, bondoso e triste, pensando ter magoado as telefonistas:

– Perdoa o Padre! Ele está velho. Cansado.

“Esse homem humilde era também homem de oração – explicava-me a antiga telefonista Auta Maria – e muito próximo de Deus. Era eu quem consertava seus terços e fazia colchetes com arame para sua batina e para seus paramentos litúrgicos, principalmente as capas de asperges e véus de ombro. É que as mãos dele eram muito grandes e os outros colchetinhos só lhe dificultavam a vida. Mas, seus terços eram gastos. As correntes de arame eram afiladas pelo uso, onde os espaços eram maiores, junto das contas dos pai-nossos. O alicate para isso foi presente dele. Como o guardo com carinho!”

Auta Maria descreveu-me como este santo era homem de oração e também de caridade, gastando tempo junto do Zezinho, o jovenzinho canceroso que ele levou para sua casa. Junto da beirada da cama, naquele quarto limpinho, ele ficava lendo Tio Patinhas e os dois juntos riam que riam.

Zézinho morreu. Bem que queria sarar para ser padre, tal qual o Pe. Alderígi que o ensinou a viver.

 

CONTRIBUIÇÃO: Auta Maria Barbosa (1946),ex-telefonista. Entrevista em 02.12.87.
Rua Eng. Harry Amorim da Costa, 112 * 37.775-000 Santa Rita de Caldas – MG.

Pe. Alderígi, homem voltado também para as coisas alegres do mundo

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

A alegria do Padre Alderígi era contagiante. Gostava de futebol. Quando houve uma Copa Mundial, em cada jogo ele hasteava uma bandeira brasileira em frente à sua casa. Era o único que fazia tal coisa. Como gostava, com os olhos vibrantes de admiração, das festas escolares! Como gostava de sinos e de foguetes! Em qualquer festa, os sinos e os foguetes tinham de encher a cidade de sons e de alegria.

Como gostava de música! Sob sua influência, Célio Ribeiro organizou a fanfarra do ginásio e como ele vibrava quando ela desfilava em nossas ruas!

 

CONTRIBUIÇÃO: André Avelino da Silva (53 anos), advogado e líder paroquial. Entrevista em 07.02.87. * Rua Luiz Possato, 1400 * Fone: (43) 557-1344 – residencial * Caixa Postal: 69
84.990-000 Arapoti – PR

Pe. Alderígi trocava revistinhas com outra criança (1961 - 1964)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Em sua infância, Mauro Facco era vizinho do Pe. Alderígi. Da casa dos dois sempre se via, ao longe, a majestosa serra azul da Gineta e perto, a dez passos, só atravessar a rua, o belo jardim, cuidado pelo Dito Camilinho, cheio de hortênsias e primaveras roxas, vermelhas e amareladas, muitas rosas e bancos debaixo das árvores.

Como todo o garoto, Mauro, menino de 6 a 9 anos, gostava de, nesses bancos, exibir a seus pequenos colegas suas figurinhas e gibizinhos. E o Pe. Alderígi gostava muito destas suas revistinhas, principalmente o Tio Patinhas. Quando, de sua casa, o padre o via subindo a ladeira da Pça. Pe. Alderígi, entre essas árvores e arbustos floridos, carregando alguma revistinha na mão, o chamava em sua casa, para fazerem uma troca. Mauro subia ligeiro a rampa da casa do Padre, o que o honrava muito, e quantas vezes o garoto não trocava a própria por outra já lida pelo velho amigo! Pegava a dele e lhe dava outra que o Padre ainda não conhecia.

E pensar que aquele homenzarrão, alto e gordo, extraordinário, voltado para Deus e para tudo quanto era pobre, era amigo das crianças e até lia as revistinhas que tinham comprado. Era muita honra para a gente pequena, não?

 

CONTRIBUIÇÃO: Mauro Facco (1955), comerciante. Por escrito em 20.10.87.
Pça. Pe. Alderígi, 213 # Fone: (035) 734-1223 * 37.775-000 Santa Rita de Caldas – MG.

Pe. Alderígi e Tio Patinhas

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

– Alô! É de Santa Rita de Caldas, da casa da Grace? Aqui é o Frei Felipinho que quer notícias sobre o Pe. Alderígi. Soube que ele gostava de revistinhas em quadrinhos… Estou escrevendo um livro sobre ele…

– … Faz tanto tempo… Pouco me lembro daquela época. Mas, isso é verdade. Ele gostava de ler nossas revistinhas. Quando eu era criança, ainda não tinha consciência da sabedoria e do valor do grande Pe. Alderígi. Tinha sim aquele respeito diante de nosso grande líder. Grande herói. Chefe de nossa cidade.

Naquela época, sempre que eu comprava revistas de histórias em quadrinho, lia-as e as levava para esse nosso grande amigo, sem condições para comprar as suas, pois seu dinheiro era todo derramado nas mãos dos mais pobres.

– Qual a revista que ele mais gostava?

– Ele tinha uma caixa cheia dessas revistas. A mais querida por ele era o Tio Patinhas. O meu colega de escola, o Mauro, filho do Dito Facco, também levava as suas revistas para ele. Lia-as, dava gargalhadas, e só sei que nunca nos devolvia. Pra que devolver, se nós podíamos comprar outras mais e os seus amiguinhos pobrezinhos, não?

– Legal! Muito obrigado! Felizes os que têm coração simples e que podem olhar o mundo com olhos de criança! Abraços à sua turma toda!

 

CONTRIBUIÇÃO: Grace César Januzzi de Carvalho e Paula (1957), professora. Entrevista por telefones em 22.08.87 – Fone: (035) 734-1127
Pça. Pe. Alderígi, 127 * 37.775-000 Santa Rita de Caldas – MG.

Pe. Alderígi pacificador dos políticos (Abril de 1962)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

“A política em nossa cidadezinha de interior, Santa Rita de Caldas, era um saco de gatos e nós sempre estávamos em brigas, onde valia tudo. Se eu era fanático, não menos o era a família que morava em frente à minha casa, apenas que de partido contrário. Quando o Jânio Quadros ganhou as eleições em 1962, a vizinha da frente, só para me humilhar e provocar, cruzou duas vassouras, símbolo do vencedor, em sua janela, e, bem alto, deixou um disco rolar o dia inteiro: “Encosta sua cabecinha em meu ombro e chora!” Ela era terrível e ninguém falava e insultava como ela. Eu também não me calava e sabia reagir à altura.

«Lá um dia, cercaram minha casa. Eram mais de 20 inimigos políticos querendo não sei o quê, pois eu também, ferinamente, os havia antes provocado a todos, colocando um alto falante numa camionete e saindo por aí falando horrores. Neste dia, a situação estava feia. E quem veio me salvar foi o próprio vigário, o bom Pe. Alderígi, que chegou e acalmou a todos.” – E assim o advogado André Avelino começou a falar do grande pacificador, o Pe. Alderígi.

Realmente todos o respeitavam. O que o delegado, ou a polícia, ou o Prefeito não podiam fazer, ele fazia. Chegava dentro duma briga, pegava um pelo braço pra cá, outro pelo braço pra lá, e ninguém falava nada. Só nas brigas do Dr. André ele entrou em mais de 10.

Em abril de 1962, para a comemoração da vitória do Jânio foi marcada uma festa pra valer. Cedo, bem cedo, prepararam banda, gente, algazarra e foram para a frente da casa do Dr. André. Era mais ou menos cinco horas. Acordou ele com ódio e andou dando uns tiros para o ar e a primeira fase da comemoração foi encerrada. Mas, à tarde, aconteceu o que ninguém esperava. Mais de 500 dúzias de fogos foram colocadas sobre a caixa d”água que seria inaugurada, tudo comprado com o auxílio do próprio povo. Muita gente estava reunida com banda, churrasco, alegria e muita festa. Infelizmente o fogueteiro – segundo dizem – tinha bebido umas e outras e não percebeu que as faíscas dos foguetes, antes de subirem, se projetavam sobre a montanha das dúzias de foguetes, estendidos. De repente, aconteceu o inesperado: o incêndio sobre a caixa d”água. Foi um “Deus nos acuda.” Gente correndo, gente caindo, gente sendo pisoteada. No final, uma criancinha ficou estendida no chão, morta.

A partir deste dia, os ânimos se acalmaram. E o nosso bom vigário que tanto amava as festas, os sinos, os foguetes, passou 8 a 10 anos sem soltar um único foguete a mais. Falando Dr. André sobre isso, com Da. Zélia, ela lhe segredou:

– O Pe. Alderígi não quer que solte mais foguete!

A dor daquele acontecimento foi maior que seu gênio alegre, pois ele era o pai amoroso de todos os seus paroquianos e qualquer desgraça com um de seus filhos, ele sentia como se fosse no seu próprio coração.

 

CONTRIBUIÇÃO: Dr. André Avelino da Silva (1934), advogado. Entrevista em 13/06/87.
Rua Luiz Possato, 1400 # Fone: (43) 557-1344 – residencial * Caixa Postal: 69
84.990-000 Arapoti – PR.

Pe. Alderígi, o homem muito humano

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Quando o Pe. Alderígi falava, sua fé, que era tão grande, transmitia-se para a gente. No entanto, era por demais simples e humano. E como amava as crianças! Embora tivesse uma ferida na perna, ia a pé na romaria anual a Caldas. Ia cercado de crianças. Ia contando histórias. Totalmente sem maldade e sem malícia. Também muito desordeiro. As anotações de seus batizados eram feitas em papeisinhos, que depois se perdiam. A sobrepeliz, que usava para as confissões ou para a distribuição da comunhão, deixava-a em qualquer lugar, sobre os bancos da igreja, bem como a toalha na qual enxugava as mãos. Quando as crianças faziam arte e Da. Zélia ficava zangada, ele dizia, brincando com as crianças: “Não se importem com essa velha caduca!”

Tinha problema com a família, que o desorientava: O pai bebia e era brabo para ele. Os irmãos, a madrasta, a mãe da madrasta, todos dependiam dele, no começo, e a paróquia era pobre. Quando o pai queria dinheiro, o padre tinha que arranjar. As dívidas da família iam aumentando nos armazéns, e ninguém mais queria vender. Era o Sr. João Batistinha quem, às vezes, salvava a situação.

Com mais idade, dormia cedo, pelas 20hs, tendo ao lado uma garrafa de chá de erva-cidreira e mistura. Comia à noite. Sendo alto e gordo, muitas vezes dizia à Da. Zélia: “Você me mata de fome.” Mas as paroquianas lhe traziam de tudo, pão, pão de queijo, rosca, biscoito etc. Gostava de uma cerveja, de quando em quando, embora tivesse medo de escandalizar. Após receber a notícia do Sr. Bispo que teria novo vigário, ficou triste. Sua governanta lhe disse: “Não liga! Vai dar certo. Vou fazer uma janta e buscar uma cerveja”. “Você acha?” “Sim!” E ele deu uma boa risada gostosa, que só ele sabia dar. (Gostava da revista Tio Patinhas. Lia, relia, e dava aquelas risadonas).

 

CONTRIBUIÇÃO: + Zélia Martins (68 anos). Ex-sacristã e ex-enfermeira de Pe. Alderígi. Entrevista em 23/05/85. * Rua: Sebastião Januzzi, 79 * 37.775-000 Santa Rita de Caldas – MG.

Pe. Alderígi, homem de doce simplicidade

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Como o Pe. Alderígi era homem de idade e muito gordo, tinha dificuldades para se inclinar e tirar os sapatos. Então, lá por 1962, inventou uma estória-chave para indicar o seu desejo: “O Pe. de Ouro Fino, ao abaixar-se para desatar os sapatos, morreu. Quer você, Zélia, que eu morra?” Da. Zélia acudia: “Claro que não.” Ele completava: “Então, tire os meus sapatos!”

Quando estava cansado, ele em seu chinelão ficava lendo e relendo Tio Patinhas, e dava risadas gostosas.

Um dia, lá por 1967, o Pe. viu uma moça muito decotada entrar na igreja. Escandalizado e admirado da coragem dela, cutucou o Zito, seu sacristão:

– “Ziiiito, oooolha!”

E o Zito olhou. Assim que o sacristão olhou, o padre se arrependeu e acrescentou: “Tire os olhos! Não olhe, não! É tentação!”

 

CONTRIBUIÇÃO: Zélia Martins (70 anos). Ex-sacristã e ex-enfermeira de Pe. Alderígi. Entrevista em 20/12/86. * Rua Sebastião Januzzi, 79 * 37.775-000 Santa Rita de Caldas – MG.

Pe. Alderígi e o defunto que se mexeu (1965)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Numa das viagens que meu irmão Antônio fez com o Pe. Alderígi em seu carro de praça, ouviu dele uma história que o fez rir um bom bocado de tempo. É o caso dum velório.

O povo, triste e sonolentamente, ia enfrentando os constantes ataques de sono, com o lerdo-lerdo desfilar das contas do santo rosário.

Entre as velas acesas, lá estava o defunto imóvel – é claro – coberto de flores e com as mãos amarradas com uma fita. Amarradas, certamente para achegá-las ao ponto certo, dando aquela piedade a que são obrigados os defuntos, quer queiram, quer não, mesmo que nunca tenham rezado na vida.

Provavelmente, devido a uma lenta e imperceptível pressão, provocada pelo inchaço do morto, lá pelas tantas da madrugada, a tal fita arrebentou-se. E daí? As mãos do morto, brusca e macabramente, se levantaram. Quando o povo viu aquilo, desembestaram todos para todos os lados, numa desembalada corrida de horror e pavor, de berros e gritos. Só o padre permaneceu. Firme em seu lugar.

– Não ficou com medo, padre? – arriscou meu irmão a pergunta.

– Bem. Um pouco de receio quem não teria, né?

 

CONTRIBUIÇÃO: Antônio Gabriel Alves (1919), motorista. Entrevista em 27/09/87.
Rua Carlos Chagas, 1602 – Z5 * Fone: (044) 224-4058 * 87.015-240 Maringá – PR.

Nervosismo do Pe. Alderígi e humildade em pedir perdão (± 1965)

Crônica de João Lorena

Pe. Alderígi, de há tempos, extraíra os dentes. Sua dicção não era perceptível. Para os que com ele tinham convivência, bem: entendiam-no muito bem. Isto não acontecia com a maioria dos romeiros. Certa pessoa lhe diz tal coisa. O Padre, para sanar tal caso vai ao dentista, Dr. Laércio Lago, lá por 1965, e pede-lhe não uma dentadura – as duas. Quem já as tem, sabe o quanto é chato os primeiros meses. E o Padre se nos aparece com as duas. Uma só já é dose pra burro… e duas na mesma hora? O rosto do Padre incha. A dentadura o incomoda. Torna-o nervoso, irritado, chateado mesmo.

Lá vou eu visitá-lo. Entro na casa paroquial. Bato à porta de seu quarto. Entro. Lá está ele rezando o breviário, com o rosto como uma bola.

– O quê! O Padre está gordinho, dentadura nova!

– Sai daqui! Lorena, sai daqui!

O que tive que fazer foi voltar, sem graça. Pouco depois, Da. Zélia me manda um recado que era para ir à casa paroquial. Fui, bati, entrei. Lá estava o Padre, com outra atitude, sorrindo, pegando-me pelas suas grandes mãos.

– Perdão, Lorena, perdão. Não era para fazer isso com você. Me perdoe! O padre está velho, está nervoso.

E continuamos a conversa, como se nada tivesse acontecido.

 

CONTRIBUIÇÃO: João Lorena (1927), professor, líder paroquial e amigo do Padre. Cópia de folheto inédito, elaborado para os festejos dos 50 anos de paroquiato do Padre.
Rua Major Bonifácio, 43 * 37.775-000 Santa Rita de Caldas – MG.

O futuro sobrinho do Pe. Alderígi entra na cidade com o repicar dos sinos

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

“Meu marido, antes de se casar comigo, precisou de fazer uma promessa: “Se eu passar no vestibular de medicina, farei uma peregrinação de Poços de Caldas, a pé, até Santa Rita de Caldas””. – contou a Beth, uma das sobrinhas do Pe. Alderígi.

E não é que passou, de verdade? No entanto, o difícil mesmo foi ter a coragem para cumpri-la, pois eram nem mais nem menos que 49,5 seríssimos quilômetros, em alegres descidas e tristes subidas, em direção à terceira cidade mais alta do Brasil. O tempo de indecisão pôde-se espichar por quatro longos anos. Apenas em janeiro de 74, é que ele e mais um colega partiram de Poços, às 19:00 hs, eles sofrendo no pé e a Beth, sofrendo no coração, de pena e dó.

Pela meia-noite, ela fez a primeira viagem, de carro, atrás deles para averiguar como e onde estavam, levando-lhes lanche e café quentinho. Pela madrugada outra viagem, com mais lanche e mais café quentinho de novo.

Às 7:00 hs da manhã, o Pe. Alderígi já sabia que os dois, tendo deixado o asfalto atrás, estariam apontando no alto da cidade, através do atalho de terra, encurtando distâncias em caminhos mais planos, tendo à direita a Serra do Maranhão e o cume da Pedra Branca (1764 m) e, à frente, o azul dos três picos da Serra da Gineta. Logo mais, os dois estariam vendo bem baixo as duas torres do Santuário e a Vila Nova levantada atrás, embora o vale fundo do Rio Claro os separasse.

Esse bom Padre, que vibrava com tudo que era vida, se paramentou com alva e estola e esperou os dois romeiros, de braços abertos, na porta da igreja. Solenemente – e por que não dizer? – exaustos, foram os dois peregrinos chegando, ouvindo alegres e sorridentes a surpresa do campanário exultante em festa matinal. É que o jovial vigário mandou que se repicassem todos os sinos.

 

CONTRIBUIÇÃO: Elisabeth Martins Lúcio Marcelino (Beth/1952), professora, industrial e sobrinha do Pe. Alderígi. Entrevista em 02.10.87.
Pça. São João Batista, 549 # Fone: (035) 534-1133 * 37.955 Itamogi – MG.

O chinelo do Pe. Alderígi

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Um dia, Da. Nílber foi visitar o Pe. Alderígi. Como ele conhecia o desejo dela de servi-lo, em tudo que precisasse, disse à sua secretária: “Zélia, fale para ela!” A secretária, então, lhe contou como o bom velhinho gostaria de ganhar um chinelo, pois o dele estava todo rasgado: Um chinelo cinzento, feito de lã, completamente fora da época e, infelizmente, com quase todos os dedos olhando para fora através de furos, feitos pela idade e pelo uso.

Por sorte, uma amiga de Da. Nílber, passando por Santo André, SP, encontrou chinelos como aqueles, numa loja de liquidação: mesma cor, mesmo feitio, número certo 44. Pena que comprou somente um par. E este único par, ele os acabou esquecendo em Itaici, numa reunião junto dos bispos da CNBB.

Certa vez, passando sua amiga Nílber por São Paulo, fez de tudo para arrumar novamente outro chinelo igual àquele. Andou ela por tudo e nada. Cansada de procurar, do hotel mesmo onde se hospedava, telefonou para as lojas Mappin e recebeu como resposta: “Já está fora de linha. Mas por acaso, existem ainda dois pares, e número 44”. Pediu ela os fosse embrulhando que logo os haveria de pegar. Assim, pôde levar os dois pares e lhe disse: “Um, para usar e outro, para perder.” Ele riu muito e ficou todo feliz.

 

CONTRIBUIÇÃO: Nílber Nogueira (1920), bordadeira. Entrevista em 11.05.87.
Rua São Francisco, 197 # Fone: (035) 721-3568 * 701-000, Poços de Caldas -MG.

Pe. Alderígi confessa seu defeito (1966)

Crônica de João Lorena

Em 1966, Pe. Sebastião Del Pogetto estava na casa de Dalva Lorena. Ele e Madalena (Lena do Zizinho) estavam enfeitando um andor para uma festa . Foi preciso que Lena fosse à igreja, tomar certa medida das colunas. Lá foi ela. Pe. Alderígi no confessionário. Como de costume, a cortina, meio cerrada. Lena sobe num banco e começa a medir a coluna. Havia muita gente na igreja. O sacerdote coloca seu rosto fora e diz:

– Que é isso, moça? Não está vendo que e igreja está cheia de gente? E você aí, atrapalhando tudo…

Lena sai, vendendo azeite, queimada, chorosa. Volta para a casa em pranto, dizendo: «Porcaria. Não volto lá mais. Não quero saber mais de igreja, de enfeite, de nada.» Pe. Sebastião dá boas gargalhadas. Ri a valer.

– Pois bem, Lena. Volte lá – disse Pe. Sebastião – e tenha coragem para ver o que vai ouvir!

E Lena, meio a contragosto, foi.

Assim que o Padre a viu, começou a falar:

– Lena, venha cá! Você vai me perdoar. Perdoa o Padre velho. O Padre velho está cansado. Fica nervoso à toa. Não podia fazer isso. Você me perdoa?

Tomou as mãos dela entre as suas e se pôs a rezar com ela.

Lena não sabia o que dizer ou o que fazer.

CONTRIBUIÇÃO: João Lorena (1927), professor, líder paroquial e amigo do Pe. Alderígi. Cópia do folheto inédito, elaborado para os festejos dos 50 anos de seu paroquiato. Rua Major Bonifácio, 43 * 37.775-000 – Santa Rita de Caldas, MG

Pe. Alderígi, homem que influenciava homens importantes (+ ou - 1966)

Pe. Alderígi era um homem culto e que procurava atualizar-se, comprando livros, principalmente sobre a Bíblia e era leitor assíduo da Revista Eclesiástica Brasileira (REB). Era político tremendo e sabia fazer acordos, visando o bem comum. Mas, pertencia sempre ao partido da situação.

Sabia usar de sua influência sobre pessoas importantes, para ajudar a todos quantos precisavam de ajuda. Se um funcionário público, que tivesse nascido e vivido em Santa Rita de Caldas, estivesse para ser transferido, bastava um pedido do Pe. Alderígi e a transferência era cancelada. Se uma mãe tivesse um filho no Banco Moreira Sales e se esse filho estivesse para ser transferido e ela fosse falar ao Padre: «Padre, meu filho vai ser transferido. Dê um jeito para mim», o Padre escrevia para a Diretoria e o filho ficava.

Quando o Juiz de Caldas foi pressionado pelo Exército, no tempo de Costa e Silva, a pôr na cadeia gente que, inadvertidamente, tinha praticado atos sem importância, o Padre dizia: «Sr. Juiz, você não pode prender. Você não pode prender aquele senhora! Não faça isso!» E o Juiz sempre o atendia.

Sua influência atingia até Belo Horizonte. Entre os diversos casos em que Dr. André Avelino da Silva participou diretamente, há um especial que muito revela a influência deste homem de Deus. «Em 1965 ou 66, fizemos uma viagem a Belo Horizonte. Éramos 11 membros, mais o Prefeito Laércio Lagos, lotando uma kômbi e um carro. Precisávamos ganhar o ginásio, o acesso asfaltado até a cidade, luz da Cemig e outras coisinhas. O Padre tinha que ir junto, pois era a pessoa mais conhecida do Sul de Minas. Pe. Alderígi chegou ao governador Magalhães Pinto, levando algumas medalhinhas e santinhos: «Não sei se o Sr. é católico. Se é, estou deixando umas lembranças de Santa Rita». Ele sempre era o último a falar. Quando ele começava sua conversa, nós nos retirávamos, deixando-o só, como fosse uma confissão. E ele falava, falava, e a cidade ganhou tudo o que fomos lá pedir.

CONTRIBUIÇÃO: André Avelino da Silva (53 anos), advogado e líder paroquial. Entrevista em 07.02.87. * Rua Luiz Possato, 1400 – Fone residencial: (043) 557-1344 – Cx. Postal 69 84.990-000 – Arapoti, PR.

Pe. Alderígi, pacificador de punho firme (31-01-1971)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Havia muita gente na Câmara de Santa Rita de Caldas, para o momento de transmissão do cargo de Prefeito, aos 31 de janeiro de 1971. Saía o Sr. Nestor Martins e entrava o Dr. Laércio Lago. Assinam-se os documentos legais. A palavra é franca. Começam a sair tantas coisas, que dão medo e assustam. Quando o Dr. Laércio falava, o Sr. Nestor o aparteava constantemente. O clima é insuportável. Os ânimos se alteram e os presentes se entreolham. O nervosismo toma conta de todos. Quando o Sr. Napoleão Martins começou a falar, ele, provocativo, apontou o dedo para o Dr. Laércio e tentou sua agressão: «Vocêêêê, seu coisiiiiiinha…» Se deixá-lo prosseguir, não se sabe o que vai acontecer.

Pe. Alderígi, simplesmente, se levanta e diz, dando um soco na mesa: «ESTAMOS AQUI PARA A TRANSMISSÃO DO CARGO. Ele já foi transferido. VAMOS para a casa!»

Foi água na fervura. Silenciosos todos saíram. Estava terminada a posse do novo prefeito.

 

CONTRIBUIÇÃO: João Lorena (1927), professor e político. Entrevista em 22.12.86.
Rua Major Bonifácio, 43 * 37.775-000 – Santa Rita de Caldas, MG

Pe. Alderígi, homem político com letra maiúscula (+ ou - 1975)

Crônica do Ex-Prefeito Laércio Lago

Tenho para mim que nunca vou encontrar outra pessoa como o Pe. Alderígi: altruísta, desprendido, sem nunca pensar em si. Para mim, ele era um HOMEM. Era a ele que o povo procurava, em primeiro lugar. E eu não saía em viagem política, procurando o bem da terra, sem antes ir conversar com ele. Embora, na política, ele fosse sempre do lado do governo, sempre lutou, pela união de todos. E como sofria quando havia algum desajuste! Os políticos hostilizados recorriam a ele, fossem eles de que partido fossem, e ele os acolhia na ternura de pai. Era, de verdade, o pai de todos.

Mas, como homem político, foi dos que mais se esforçaram e mais viajaram em prol da emancipação de nosso Município . Estava presente em tudo, seja na escola, seja nos problemas financeiros, seja nos problemas entre professores. Quando precisávamos de eletricidade, precisávamos de estação rebaixadora, ou levar energia para o distrito de São Bento de Caldas, Pe. Alderígi se dirigiu, pessoalmente, ao Ministro Tibau, mostrando-lhe todo o problema. E tudo foi se resolvendo.

Quando Joaquim Menino queria me matar, sendo eu Prefeito da cidade, a presença do Padre foi importante. Dirigiu-se à Prefeitura, falou, pediu, insistiu e tudo foi se serenando até que o sorriso surgisse nos lábios, antes cerrados, e os braços de abrirem para encontro fraterno. Tudo deu certo. Em sinal de obediência e de respeito ao vigário, Joaquim Menino, num gesto simbólico e dramático, jogou as balas da arma no chão.

 

CONTRIBUIÇÃO: Laércio Lago (66), protestante, dentista e antigo pr3feito da cidade. Entrevista em 22.12.86.
Rua Harry Amorim da Costa, 54 – Fone: (035) 734-1225 * 37.775-000 – Santa Rita de Caldas, MG

Sinos anunciando nascimento (1977)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O:F:M.

«Meu tio Padre – assim todos os sobrinhos chamavam o Pe. Alderígi – era sensibilidade e gostava demais de mim.

Em 1976 e 1977, estando eu grávida de minha primeira criança, me preparei alegre e confiante para parto normal. Foram 9 meses ótimos e a data para a chegada da criança era prevista para 5 de maio». Assim começou a conversa com Beth, na casa paroquial de Itamogi.

Mas, a ansiedade começa a despontar quando viu que 14 dias já eram passados e o neném nem sonhava em querer nascer. No dia 20 de maio, desconfiado, o médico pediu-lhe ultrassom, depois raio x e, por fim, resolveu induzir o parto. No entanto, ela sentia apenas cólicas; contrações mesmo, nada.

No dia 22 de maio, ele optou por cesariana. A sobrinha, porém, foi categórica: «Não. Quero primeiro falar com o Tio Padre».

Em Santa Rita de Caldas, fervia o dia da maior festa. A cidade, explodindo de peregrinos, romeiros, barraqueiros, gritos, alto-falantes, foguetes. Um mundo de vai-e-vem e vozerio. Com mil dificuldades, conseguiu ouvir o tio, através do telefone: «Tenha calma, minha filha! Santa Rita escolheu o seu dia festivo para o neném nascer. Assim que nascer me avise! Estou rezando por você».

Imediatamente, o Tio Padre entrou no santuário e conduziu todo o mundo a rezar por sua sobrinha. No interior dela acontece uma transformação. Na hora. Ficou calmíssima e, serenamente, aceitou a cesariana. Só que, devido à anestesia, nem sequer pensou em avisar ao Tio Padre, sobre a chegada da criança e que se chamaria Carolina.

Às 15:00h, ele ligou para a Santa Casa. Só então, é que ficou sabendo de tudo. A alegria dele foi tanta que os milhares e milhares de romeiros, de repente, ouviram todos os sinos do santuário a repicarem festivamente, anunciando que a vida é mais forte, que o amor existe, que Carolina chegara para que o mundo acreditasse que Deus ainda confia na humanidade.

Só mesmo esse maravilhoso tio seria capaz d e inventar surpresas assim tão puras e gostosas.

 

CONTRIBUIÇÃO: Elisabeth Martins Lúcio Marcelino (Beth/1952), professora, industrial e sobrinha do Pe. Alderígi, filha de Marina Torriani Martins. Entrevista em 2.10.1987.
Pça. São João Batista, 549 – Fone: (035) 534-1133 * 37.955-000 – Itamogi, MG

Pe. Alderígi e o problema da perna (1970 e 1975)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O . F.O .

Ultimamente, os seus últimos anos de vida, Pe. Alderígi andava sempre apoiado numa bengala e celebrava suas missas assentado. Suas crises de erisipela faziam sua perna inchada e arder-se em febre. A pele trincava e ele sentia muita dor, oferecendo-as para a salvação dos pecadores. Gordo como era, o peso do corpo pesava sobre as pernas e aumentava seus sofrimentos. As varizes, então, sangravam à toa. Numa primeira sexta-feira do mês de 1970, mais ou menos, o sangue esguichava tanto delas que foi preciso lavar o colchão. O sobrinho de Da. Zélia, o José da Dita, que dormia na casa do Padre, foi correndo chamar a tia. Vendo a gravidade, Da. Zélia mandou chamar o Dr. João Loures. Assim que este chegou, cuidou de tudo da melhor maneira e deixou a perna enfaixada.

Um dia, em 1975, em que ele foi a Pouso Alegre, para uma reunião do clero, Da. Zélia viu-o chegar antes do tempo, trazido por um seminarista. Fora o Sr. Arcebispo, Dr. José D”Ângelo Netto, quem o mandou de volta, pois o velho sacerdote estava com febre.

Sua governanta buscou uma bacia com água. Para lhe ajudar a tirar a meia. Aí, foi visto uma pequena ferida no tornozelo. Pequena, mas, profunda. Foi levado a Poços de Caldas. Dr. Benedictus Mourão, especialista em pele, ensinou à governanta como remover da perna, espécie de crosta, utilizando pinça e depois passar pomada.

No fim da vida, o bom velho só se locomovia em cadeira de rodas, embora tivesse médico só para as varizes.

 

CONTRIBUIÇÃO: + Zélia Martins ( 1917 ), ex-sacristã e governanta do Pe. Alderígi. Entrevista em 02.12.87. Rua Pref. Sebastião Januzzi, 79 * 37.775-000 Santa Rita de Caldas, MG.

Pe. Alderígi e a carroça do prefeito (1983)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

«Pe. Alderígi era sempre meigo e rezava muito. Admirava sua paciência e aprendi com ele a verdadeira caridade». – Assim começou a falar do Pe. Alderígi o atual Prefeito da cidade, Laércio Vieira (1930), que por muito tempo tinha uma farmácia, perto da ponte do Rio Claro. Os doentes tinham ordem do vigário para passar em sua farmácia e pegar os remédios que precisassem.

Em fevereiro de 1983, Laércio assumiu a prefeitura de Santa Rita de Caldas. Todavia, já em novembro, caiu sobre ele e seus correligionários um profundo desânimo: Além de não chegarem os esperados recursos estaduais, os políticos se isolavam, em desarmonia e desunião, sem contar as brigas internas e externas.

Mas, uma noite ele teve um sonho: Eram três, ele e dois companheiros. Empurravam uma carroça pesada, morro acima, sem burro, sem nada e eles não conseguiam subir. Só escorregões, só muque, só suor. Puro fracasso. Esforço à toa.

Nisto apareceu Pe. Alderígi. Nem precisou arregaçar as mangas. Deu um empurrãozinho na carroça e ela andou.

Aquilo foi uma força para o Prefeito ao despertar. Logo chamou seus companheiros e lhes contou o sonho. Eles também se reanimaram e estão indo para a frente.

 

CONTRIBUIÇÃO: Laércio Vieira (1930), farmacêutico e prefeito municipal de Santa Rita de Caldas. Entrevista em 13.04.87. * Rua Nestor Martins, 38 – Fone: 734-1118
37.775-000 – Santa Rita de Caldas, MG

O Calvário

Pe. Alderígi na carona do médico (+ 1954 e 1977)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Para o Dr. João Loures, o Pe. Alderígi era homem de Deus, revestido de santidade. O que mais impressionava ao médico era o marcante espírito de caridade do sacerdote, gastando toda a vida em prol dos pobres doentes e indigentes.

Lá por 1954, Dr. João vai atender a um doente, fora da cidade, e não lhe custava oferecer carona ao bom vigário. Claro que aceitou. Pesado, gordo, difícil de entrar no carro. Mas entrou.

Assim que deixaram as ruas da cidade, o piedoso padre tomou o terço e foi e voltou rezando, durante todo o trajeto. Rezava sozinho, uma vez que o médico, embora dedicado e competente e bom, não era muito nem de igreja nem de orações.

Quando porém, os dois terminaram o trabalho, na casa do doente, alguém da família perguntou-lhes quanto devia. Dr. João, semi-envergonhado, percebeu que o amigo tivera o mesmo trabalho, percorrera a mesma distância e mesmo assim respondeu, baixinho:

— Para mim nada. Basta-me a bênção de Deus.

Pouco a pouco, Dr. João foi vendo Pe. Alderígi se envelhecer e se alquebrar: Foi percebendo que aquela hipertensão, acompanhada de excessivo peso, não era bom para tanta idade. O médico, no final da entrevista, me afirmou: “A doença dele se agravou. Ele soube resignar-se à situação. Aceitou a doença, com grande humildade em obedecer às minhas ordens médicas. Sabia que ia morrer. Morreu. Era um santo.”

 

CONTRIBUIÇÃO: Dr. João Loures ( 1925), médico. Entrevista em 01.04.90.
Rua Marechal Floriano, 31 # Fone: (035) 734-1235 * 37.775-000 – Santa Rita de Caldas, MG.

Privilégio de ser médico do Pe. Alderígi (1972 - 1977)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M

Padre Alderígi foi um personagem muito marcante a todos os que o conheceram, principalmente a Dr. Mesquita, cardiologista de Poços de Caldas que teve a honra de tê-lo como seu grande amigo. Hoje, em seu consultório, vê-se na parede , uma foto deste santo ancião, junto ao seu eletrocardiograma.

Interrogado sobre Pe. Alderígi, Dr. Mesquita começou a falar:

“Em 1972 ainda não o conhecia. Certa feita, chegando ao meu consultório, o vi à minha espera: Junto ao relógio floral, aquele ancião de batina preta, sua bengala e mais um acompanhante. Uma semana depois voltou, mas, sem a bengala. Que simpatia! Como era cativante! Chamava a atenção o seu semblante sereno, a fisionomia alegre, todo bondade. Fez questão de mostrar que já não usava a bengala que antes tanto o atormentava e que caminhava agora sem problemas. Só uns vinte dias depois é que fiquei sabendo quem tinha sido meu paciente. Homem totalmente desprendido dos bens materiais, despojado do gosto pelo poder e da ambição, vivendo sempre em função do próximo e fazendo tudo para os necessitados tivessem um pouco mais de bens e um pouco menos de dor.

Vinha freqüentemente ao meu consultório e eu tive o privilégio de ser o seu médico, escolhido por ele mesmo. Ele não tinha medo de morrer, embora tivesse um grande amor pela vida, gostando de vivê-la plenamente. O coração dele, bom; o eletro normal; a mente sempre lúcida. O que precisava, contudo, era controlar o peso.”

Obedecia humildemente às prescrições de seu médico, colaborando sempre que podia. Quando, porém, o peso aumentava, aquele sorriso doce e franco acompanhava sua confissão de extravagância cometidas. Se Dr. Mesquita adiantava a confissão, dizendo: “Comendo muito doce? O seu peso não colabora comigo”, ele simplesmente ria e o médico ficava desarmado em ver diante de si um homem diferente: tão simples, tão santo, tão humano.

“Como eu gostava dele! – continuou o cardiologista – Por causa de minha ausência, porém, sua ultima internação foi feita por Dr. Carlos de Carvalho. Todavia, sempre o visitava socialmente, procurando às escondidas, dar uma olhadela nos exames e receitas, mesmo conhecedor da competência do colega. Era meu amor por esse santo ancião que me levava a essas curiosidades. Quando fui me despedir dele, pegou em minhas mãos, dizendo:

– Quero agradecer por tudo que fez por mim, durante todo esse tempo.

– Creio que está havendo uma confusão. Foi meu colega quem o tratou. Só estive com o senhor como amigo.

– Não. Por tudo que fez por mim. Não só desta última internação.

Senti que ele estava se despedindo para sempre. Como se ele estivesse pressentindo sua morte. Procurei logo mudar de assunto:

– Ainda vamos tomar uns bons cafezinhos…

É lá se foi meu grande amigo, certamente um grande santo que eu amei de verdade.”

 

CONTRIBUIÇÃO: Dr. José Roberto H. Mesquita (1943), médico cardiologista. Entrevista em 04.08.87. * Rua Rio de Janeiro, 28 – Edifício Emisa, apto. 34 # Fone: (035)7214945
37.700 Poços de Caldas – MG.

Pe. Alderígi e seu sucessor (1977)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O . F. M.

Pe. Alderígi, por 50 anos, pastoreou sua paróquia de Santa Rita de Caldas. É verdade que recebeu um coadjutor, em 1959. Infelizmente o velho pároco não estava psicologicamente preparado para ter um novo vigário coadjutor a seu lado. Pouco, muito pouco, conseguiu fazer Pe. Sebastião Dal Poggetto, ao lado do bom e venerado ancião, todavia, superpatriarcal.

Mas, 1977, o peso dos anos, as doenças, a cadeira de rodas, exigiam, não mais um coadjutor, mas sim, um substituto. Até comissão de leigos responsáveis chegou a Pouso Alegre, para falar com o Sr. Arcebispo, Dom José D”Ângelo Netto, pedindo-lhe medidas corajosas. Após muita e séria ponderação, foi nomeado o novo pároco, Pe. Braz Tenório da Rocha. O próprio arcebispo veio trazer ao alquebrado e debilitado patriarca a notícia que abateu sobre ele, como uma parede pesada que vai soterrando sonhos, festas, abraços, palmas, risos, pobres, mendigos, tudo, tudo. Pobre Padre Velho! 50 anos de pastor, de pai, de líder, de chefe, de irmão, de médico, de conselheiro, de bom samaritano, de bom Cireneu, de Vicente de Paula, de Francisco de Assis e, de repente, sem ser nada, sem ter nada. “Não passo `de um par de chinelo velho, jogado num canto”, foi seu gemido de desabafo, junto à Da. Zélia Martins, arcado sob o peso dum velho cobertor às costas. Mas, uma cervejinha, oferecida pela sua governanta, veio desdramatizar o ambiente gelado, salpicado de dor. Não foi a cerveja, não. Foi sim o contínuo modo de meditar os mistérios dolorosos, seguidos dos mistérios gloriosos de seu gasto rosário, a ponto de ter calos nos dedos polegar e indicador, por onde, sem parar, passavam as contas de sua ingente e terna devoção.

Chegou o Pe. Braz, cheio de bondade, sabedor das dificuldades que iria enfrentar, pois substituir um gigante, um santo, que liderou patriarcalmente é o mesmo que exigir dos astros o brilho do sol.

A santidade profunda de um e o bom-senso claro e firme do outro fizeram com que tudo se harmonizasse. Todos os dias, Pe. Braz vinha visitar o santo velhinho, sempre trazendo frutas, biscoito de polvilho, rosca, queijo, legumes ou cereais ou qualquer outra coisa. E o homem da bondade proverbial, agradecido, gritava:

– Zélia, venha ver que bom é o Pe. Braz. Ele é bom demais.

Volta e meia, choviam os elogios, ora a respeito de assunto particular, como, “O Pe. Braz pregou hoje muito bonito. Gostei do sermão que ele fez na minha missa”, ou elogios gerais, como, “Se viesse outro padre, poderia fazer tudo diferente; ou evoluído demais ou incompreensível. Como está, o Pe. Velho fica muito contente. Como Deus é bom!”

Um dia, o santo se foi, levando toda a admiração e encantamento e uma dose de desorganização. Ficou o prudente Pe. Braz com algumas de suas virtudes, mais organização e a vontade generosa e firme de vencer.

 

CONTRIBUIÇÃO: Pe. Braz Tenório da Rocha ( 1935 ), pároco de Santa Rita de Caldas. Entrevista em 01.04.90.
Rua. Dr. Simões de Almeida, 55 – Fone: (035) 651-1035 * 37.660-000 – Paraisópolis, MG.

Pe. Alderígi encontrava forças nas dores de nosso Senhor (1977)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O . F. M.

“As pernas de meu tio, Pe. Alderígi, eram varizes terríveis, com dores atrozes. O sofrimento dele, incrível, principalmente em sua última doença.”- Foi o que o sobrinho do Padre, José Asdrúbal, me contou.

Quando o enfermeiro veio fazer o curativo, o padre estava no hospital de Poços de Caldas. José Asdrúbal viu que, ao retirar as gazes , a pele da perna era toda trincada e uma funda ferida o fez arrepiar. Seu semblante se contraiu, demonstrando grandes dores. Imediatamente lhe perguntou: “Esta doendo?” e ele respondeu: “Não, não. Não dói, não.” Logo a seguir, ele disse: “Você já pensou na dor de Nosso Senhor?”

Diante dos sofrimentos de Jesus, ele se sentia pequeno e volta e meia dizia uma ou outra dessas expressões: “Está bom!” ou «Está bem» ou «Não dói”.

Mas todos viam que ele estava sofrendo.

 

CONTRIBUIÇÃO: José Asdrúbal Amaral (1937), sobrinho do Padre e advogado. Entrevista em 18. 04. 87. * Rua Pernambuco, 870 # Fone: (035) 721.2504 * CEP – 37.700 Poços de Caldas, MG.

Pe. Alderígi em sua última doença (1977)

Crônica de Irmã Emília Alves de Oliveira

Pe. Alderígi era um santo. Como o admirava em sua grande veneração pela confissão, atendendo irmãs e funcionários de nosso hospital!

Ele era um verdadeiro sacerdote. E com que amor se dirigia à santa missa! “Uma vez que não posso celebrar a minha missa – nos pedia ele – levem-me ao menos para assistir à missa do Mons. Carlos.” E como estava muito fraco, ia apoiado em nós. Mas, constante era o seu agradecimento: “Deus lhes pague! Deus lhes pague!” Para qualquer coisinha que fazíamos a ele, sempre aparecia, em seus lábios, entre seu sorriso franco o invariável “Deus te abençoe!”

Terminada a missa, costumava permanecer na capela o tanto de tempo quanto nós lhe permitíamos. Quanto maior o tempo permitido, para ele era melhor.

Com que paz, com que serenidade, com que alegria suportava seus sofrimentos! Em grande paciência, vivia sua dores e humilhações, oferecendo tudo a Nosso Senhor.

Como era muito estimado em Santa Rita de Caldas, todo o mundo vinha ao nosso hospital para visitá-lo. Mas, por ordem médica, as visitas foram proibidas. Então, docemente, ele acatava também essas proibições.

 

CONTRIBUIÇÃO: Irmã Emília Alves de Oliveira ( 1934), Sacristã. Entrevista em 18.04.87. Hospital da Santa Casa * Pça. Francisco Escobar, s/n # Fone: (035) 721-0333
37.700 Poços de Caldas MG.

Doenças do Pe. Alderígi e obediência aos médicos (1977)

Comunicação de Dr. Paulo Januzzi de Carvalho

O que mais me impressionou no Pe. Alderígi é que ele não dava bola para a doença. Obedecia à risca e fazia tudo direitinho o que nós médicos mandávamos.

Doenças do sacerdote:

 

Insuficiência cardíaca congestiva, ascite epatomegalia (aumento do fígado), edema generalizado, hidrocele bilateral, parafimose aguda, produzida pela hidrocele, com dores fortíssimas.

 

CONTRIBUIÇÃO: Dr. Paulo Januzzi de Carvalho ( 36 anos ), médico. Entrevista por telefone em 09.12.86. * Av. Iguaçu, 525 # Fone: (035) 721-7979 * 37.700 Poços de Caldas – MG.

Pe. Alderígi, serenidade em sua doença (1977)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O . F. M.

Mons. Alderígi foi internado várias vezes no hospital de Poços de Caldas. Depois que a doença se agravou, ele demonstrou estar submetido, realmente, à vontade de Deus, com toda a paciência, com toda a conformidade de homem santo, suportando toda a humilhação do mal de suas vias urinárias.

Sua doença era tremendamente dolorida, mas, ele continuava a demonstrar continuamente sua paz e tranqüilidade, totalmente sereno. E meio às maiores dores e provações, só se ouvia sua frase predileta: “Seja feita a vontade de Deus! Seja tudo por amor de Deus e para a salvação dos pecadores!”

Tendo sua doença se agravado mais ainda, conservou a calma, o sorriso e a verdadeira conformidade, sem nunca expressar um pingo de impaciência.

Era sempre aquela máxima calma e aquela máxima bondade. Sentia que precisava dos outros e a todos se mostrava reconhecido e agradecido.

Estava sempre com o terço na mão e continuava sereno e tranqüilo.

“Quando percebeu que seu caso não tinha mesmo solução, sem esperança de cura, pediu alta do hospital. O médico lhe fez a vontade. E eu fiquei chorando. Subi à capela e orei por ele e o entreguei nas mãos do Senhor.”- Estas foram as últimas palavras da Irmã Bernardete Locore, que com tanto amor e carinho cuidou do Pe. Alderígi, em sua última doença.

 

CONTRIBUIÇÃO: Irmã Bernardete Locore (1913), enfermeira. Entrevista em 18.04.87.
Rua Lavínia de Abreu, 40 * Cep: 13.890-000 – Água da Prata – SP – Fone: (019)642-1334

Detalhes da última doença do Pe. Alderígi (1977)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Numa tarde, em Santa Rita de Caldas, reuniram-se os dois maiores amigos e confidentes do Pe. Alderígi, para conversarem comigo. E a conversa agradável se prolongou por um bom espaço de tempo.

Zito: Estava eu com o Pe. Alderígi, na última festa de Santa Rita. Estava muito bonita, tendo vindo banda de Poços de Caldas. Aí , ele me disse: “Meu filho, esta é a última festa que passamos juntos!”

Zélia: O Padre ficou muito chocado quando o Sr. Bispo lhe disse: “Vem o novo Vigário. Você não é mais o vigário. Agora é o Pe. Braz.” O padre abaixou a cabeça, triste, sob o peso de um cobertor às costas. Aí, eu lhe disse: “Ah, Padre, não fique triste, não! Em sua saúde, vamos tomar uma cerveja!” “Você acha?”. Eu respondi que sim. Então, ele deu aquela risada.

No hospital de Poços de Caldas, quando o sofrimento era muito, ele só segurava firme a minha mão.

Zito: Quando o médico me pedia para dar-lhe algum remédio, o Padre me perguntava: “Este remédio é para tirar a dor? Se é, não quero. Vai perguntar.”

Às vezes, ele gritava com a Zélia no hospital: “Mãe! Mãe! Nunca vi uma mãe que abandona o filho!” e as freiras riam disso. O Padre quase não lhe deixava tempo para ela tomar café.

Em Poços de Caldas, um dia, o santo velhinho esteve para morrer. Dormiu e , ao acordar, viu que sua governanta tinha chorado. Olhou para ela e disse: “Não chore, não! Não é minha hora”.

Um dia, tudo estava pronto para voltarem a Santa Rita. E ele começou a piorar. Sua inseparável ajudante pediu à superiora uma ambulância e um enfermeiro. Tudo resolvido, ele veio deitado.

“Viemos rezando o terço, de Poços até aqui. Oh, que terço atrapalhado, pulando contas! Ao chegarmos, pediu que abrisse as portas da igreja, para se despedir de Santa Rita. Eu lhe levantei a cabeça, e ele despediu-se de sua santa, abanando com a mão.”- Finalizou Da. Zélia.

 

CONTRIBUIÇÃO: + Zélia Martins ( 69 anos), ex-sacristã, e Zito (José Manuel Israel, 58 anos), ex-sacristão e companheiro nas horas de piedade e confidências. Entrevista em 20.12.86.
Zélia: Rua Pref. Sebastião Januzzi, 79
Zito: Pça Cônego Macário, 39 * 37.775-000 Santa Rita de Caldas – MG.

Pe. Alderígi e a sua doença (1977)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O . F. M.

Segundo o médico, o Padre estava muito mal. Era doença de muita humilhação. Ele fazia um olhar triste e dizia: “Jesus, o sofrimento é para completar a sua paixão”. Tinha loucura por Nossa Senhora. Falava muito dela em sua última doença. Pedia-lhe socorro e gritava por ela, no dia em que descobriu sua enfermidade.

Tinha as pernas inchadas e erisipela. Devia ir ao hospital porque aqui não fazia repouso.

Ultimamente, na cama, passava o dia todo passando contas do rosário.

Depois de dias de sofrimento, Da Zélia pensou que ele ia morrer. Ele dormindo, e ela chorando. Então o Padre abriu os olhos e lhe disse: “Boba, não vai ser hoje não!”

“Um dia, era 3 de outubro de 1977, os médicos deixaram-no voltar para Santa Rita de Caldas. Saímos de Poços de Caldas às 2:00 horas. Chegamos às 4:00 horas. Fez rezar o terço de Poços de Caldas até aqui. Quis parar à porta da igreja, para ver Santa Rita. Pe. Braz abriu as duas portas. O padre deu só com a mão, pois não podia levantar a cabeça. Chegando à casa paroquial, quis comungar.

Ficou cantando, enquanto fui ao santuário buscar a comunhão. Seu canto era “Bendito, louvado seja”, embora desafinado. Fazia questão que houvesse duas velas, flores e toalha. Para a comunhão, sempre usava sobrepeliz e estola. Hoje, não”. Completou sua governanta.

 

CONTRIBUIÇÃO: + Zélia Martins ( 68 anos ), ex-sacristã e enfermeira do Pe. Alderígi. Entrevista em 23.05.85. * Rua Pref. Sebastião Januzzi, 79 * CEP 37.775-000 Santa Rita de Caldas, MG.

Morte do Pe. Alderígi (3/10/1977)

Crônica de Zélia Martins

Após a comunhão, Pe. Alderígi, disse que queria jantar “Zélia quero a comida que você sabe fazer”. A comida foi feita por Regina Carvalho Couto e Eunice Lorena. Disseram-me: “Zélia, fique na cozinha que ele pensa que foi você quem fez” Foi feito carne moída, macarrão e arroz. Eu tinha prometido a ele uma cerveja, para quando tivéssemos chegado em Santa Rita de Caldas e o padre lembrou-se dela. Mandei alguém buscá-la no bar. Ele bebeu um pouco e alimentou-se bem. Depois dormiu até às 22 horas.

Eu é que devia dar-lhe a comida na boca. Ele mostrava o banquinho e nele me sentava e lá ficava, de “castigo”, servindo. Assim fiz muitas vezes, assim fiz pela última vez.

Às 22 horas, pediu qualquer coisa para comer. Como a maçã estava dura, ele apenas provou. Ofereceram-lhe uma fatia de melão. Comeu apenas um pedacinho. Como, depois disto, o líquido da bexiga esparramou-se e molhou-se toda a batina com que estava vestido, saí do quarto para os homens trocarem-lhe a roupa. Após isto, entrou em coma. Bem que ele me disse a mim, que sempre dormia em minha casa: “Hoje não vai embora. Hoje é o meu dia.”

Perto das 23 horas, Zé Diogo me disse: “Credo! Que cara de defunta você tem, Zélia. Senta no sofá e durma um pouco!” Sentei-me no sofá. Pouco depois, uns 10 minutos, Zé Diogo gritou: “Zélia, venha depressa! Parece que ele esta virando os olhos”. Acorri logo e disse: “Não, não está virando os olhos. Ele está morrendo. Chamem o padre e o médico!” Eles saíram e me largaram sozinha. Havia um crucifixo na parede. Com este crucifixo, ele tinha , muitas vezes, dito: “Jesus, a dor está mais forte. Será que vou agüentar?” Quando falava isto, ele ficava com vergonha e sorria. Agora, em seu último momento, peguei o crucifixo e dei-lhe para que beijasse. E a morte foi rápida e calma. Logo depois, foi chegando gente. Era dia 3 de outubro de 1977, às 23 horas.

 

CONTRIBUIÇÃO: + Zélia Martins ( 70 anos ), ex-sacristã e enfermeira do Padre. Entrevista em 20.12.86 * Rua Pref. Sebastião Januzzi, 79 * 37.775-000 – Santa Rita de Caldas, MG.

Sinos anunciando morreu um santo (3 e 4/10/1977)

Crônica de Edmea Maria Silva Maia

Pe. Alderígi tinha medo de tomar injeção. Quando tinha de receber alguma, ele se agarrava fortemente a mim. Também gostava de festa.

Morreu às 23 horas do dia 3 de outubro de 1977. Quando morreu, os bêbados, entre eles Carlos do João Nem, se ajuntaram perto de sua casa. Lá pela uma hora da madrugada, chegou Pe. Sebastião e admirou-se de encontrar o pequeno grupo de fiéis colaboradores, ajoelhados, rezando o terço. “Gente, quero dar os parabéns. Pensei que encontraria um tumulto muito grande e todos calmos, rezando.”

Tia Yeda deu a opinião de que não batesse o sino, para não atrair o povo antes de tudo arrumado. Mas, quando o corpo desceu à igreja, os sinos dobraram, a cidade veio em peso. A rádio de Poços de Caldas, sem parar, ia dando a notícia do falecimento. Poços de Caldas decretou luto de três dias. Meus parentes que viviam em Alfenas vieram todos. Chegou gente de Caldas, Ipuiúna, Ibitiúra, Andradas, Poços de Caldas, Alfenas, Pouso Alegre, Jacutinga, Campo Belo e outras cidades. O povo chorava amargamente, beijando suas mãos.

CONTRIBUIÇÃO: Edmea Maria Silva Maia ( 1932), professora, líder paroquial, diretora de escola estadual e amiga do Pe. Alderígi. Entrevista em 03.12.86
Rua Pref. Uriel Alvim, 69 # Fone: (035) 3734-1208 * 37.775-000 – Santa Rita de Caldas, MG.

O Enterro

Velório do Padre Alderígi (04/10/1977)

Crônica de João Lorena

Na casa paroquial, as primeiras providências foram tomadas. Pe. Braz está preocupadíssimo e tristonho. Telefonemas para os parentes. Euza, de sua casa, telefona para Pouso Alegre, Poços, Aparecida e todas as cidades vizinhas. O Padre já estava paramentado. Seu rosto era de paz, de tranqüilidade. Sua cor voltara. Parecia-nos estar dormindo. Suas mãos cruzadas sobre o peito. Adormecera para sempre. Partira para a casa do Pai. Pe. Braz assume o comando de tudo. Pouco tempo depois, eis que nos chega o Pe. Dal Pogetto. Os amigos da praça são avisados. Um grupo de senhoras se ocupa do arranjo da igreja. A disposição será a mesma do velório de Mons. Noronha. Busca-se uma urna. É pequena. Outra, ídem. Um carro parte de imediato para Poços, atrás de outra maior. O povo se aglomera na praça. Nada de aviso.

São três para quatro horas. Chegam seus familiares. Chegam os amigos. Avisos para o São Bento, Pião, Ipuiúna, Caldas, Ouro Fino. A igreja já está preparada. Flores e mais flores. Os lustres, todos ligados. Já é hora do translado para o velório. Pe. Braz ordena que se dobrem os sinos. Em procissão, recitando o terço, o corpo sai da casa paroquial para a matriz. Já somos uma multidão. Com o dobrar dos sinos, toda a população santarritense é acordada e, em segundos, toda ela prestando sua última homenagem ao Velho e Santo Pai que partira. Ante a urna, forma-se uma corrente contínua de pessoas, que passam silenciosas e chorosas, em fila, rezando e procurando tocá-lo. O corpo dele, coberto de flores, fica logo sem elas. Nova camada de rosas. Outras camadas e, assim, até o seu sepultamento. Pe. Braz inicia a Santa Missa, que é participada por todos. Outros sacerdotes presentes. Missa de hora em hora. O sol já está à vista e o povo chegando, mostrando a tristeza no semblante. Todos querem vê-lo, tocá-lo, senti-lo. E a fila continua.

Dom José D”Angelo, de Pouso Alegre, comunica-se com todos os padres da Diocese e, pouco a pouco, chegam eles a Santa Rita, todos celebrando por alma do Padre. De todas as regiões vizinhas chegam caravanas de amigos. O dia vai passando e os amigos chegando. Um desentendimento se fez sentir pela madrugada. Familiares do Padre querem que seu corpo seja sepultado na Matriz, desconhecendo-se, assim, os preceitos canônicos. Trocam-se idéias. Opiniões várias surgem. O mais certo será esperar pelo Sr. Arcebispo. Teremos, com ele, a última palavra, é o pastor e o dirigente de nossa igreja. A conclusão é clara: O Padre será sepultado na capela do nosso cemitério. Todas as providências são tomadas. Tudo volta à calma.

 

CONTRIBUIÇÃO: João Lorena (1927), professor, líder paroquial e amigo do Padre.
Cópia de folheto inédito, elaborado para as festividades dos 50 anos de paroquiato do Padre e com acréscimo de 1985. * Rua: Major Bonifácio, 43 * 37.775-000 – Santa Rita de Caldas, MG

Enterro do Pe Alderígi era procissão de ressurreição (04/10/1977)

Crônica do Pe. Elias Pereira da Silva, C.SS.R.

Quando os médicos de Poços de Caldas deram alta ao Pe. Alderígi, permitindo-lhe a volta à sua cidade, ele bateu palmas como uma criança.

Assim que soubemos de sua morte, eu e meus amigos fomos a Santa Rita de Caldas. Pe. Albertinho, Pe. Coelho e eu ficamos revezando, conduzindo o povo nas orações. A missa de corpo presente do Pe. Alderígi ia ser celebrada dentro da igreja. Até o bispo queria assim. Aí, nós missionários redentoristas, com maior prática em lidar com multidão, reclamamos: “A missa é para o povo e não para um punhado de gente!” Alguém se opôs: “E o som?” Nisto eu completei: “Eu trouxe microfone corneta”, pois já entrara na cidade prevenido.

Na hora da comunhão, dei o microfone ao Pe. Coelho e ele, entre outras, disse: “Eu me sinto tão pequenino diante deste gigante de Deus.”

O ENTERRO FOI PROCISSÃO DE RESSURREIÇÃO. ERA CLIMA DE CÉU. CLIMA DE AGRADECIMENTO A DEUS PELO DOM QUE ELE NOS TINHA DADO.

 

CONTRIBUIÇÃO: + Padre santarritense e antigo coroinha do Pe. Alderígi, Pe. Elias Pereira da Silva (53 anos), missionário redentorista. Entrevista em 09/02/87 * Pça do Santuário, 11
13.870 – São João da Boa Vista, SP

Pe. Alderígi converte seu amigo, na missa de corpo presente (04/10/1977)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Sr. Altino Dantas foi criado em família espírita. O pai, Nabor Dantas; A mãe, Mariana Dantas. Todos espíritas em Camanducaia (MG). Mas, ele gostava demais do Pe. Alderígi, embora não entendesse suas idéias, suas doutrinas, seus dogmas. Isto, porém, não era importante. Ele pesava mais que suas próprias idéias. Por duas vezes ele lhe salvara a vida.

Também não podia entender nem concordar que o povo das roças e interior de Santa Rita de Caldas, para onde o Sr. Altino fora transferido, viesse à cidade buscar seu amigo para seus doentes, 4 ou 5 léguas distantes, trazendo cavalo para o Padre. Ele ficava louco de bravo e xingava:

– Ele vai mas é de automóvel. Não em cavalo trotão, uai! Pudera!

Todavia, em 4 de outubro de 1977, Santa Rita de Caldas, uma cidade fervilhando tristeza e gente, pregada diante do caixão desse homem puro, bom, dócil, cordeiro e leão, servidor e empreendedor, odiado por ninguém, amado por Deus e por todo o mundo. Altino, o mais triste, num canto, reflexivo, tal qual um boi naquele curral apertado de gente sem pastor, sem entender mais nada, embora sua morte fosse tão lógica.

No meio da massa, ficou pensando no que vira fazer aquele homem gigante, como fizera tudo certo, como vivera só para o bem de todos e de cada um. – Começou a missa e ele lá, matutando: “Eu, espírita, filho dum credo que não vivia há muito tempo, homem de brigas, corrido, ameaçado, que bateu, que apanhou, alma tão diferente…” Nisto, picou sua mente um pensamento: “Dez ou 12 padres distribuindo a comunhão… Ah se o Pe. Alderígi me achar digno de que eu coma aquilo que nunca recebi e que ele comia todos os dias, crendo ser a carne de Cristo!… Se ele me achar digno, ele que sempre falou da misericórdia de Deus para com os pecadores, os miseráveis!… que um daqueles padres venha até mim com a comunhão, sem ter eu de caminhar até ele…”

Nem tinha arrematado o pensamento, quando um dos concelebrantes se aproximou dele, atravessando toda aquela massa de gente e lhe deu a santa comunhão. – Assim, naquela hora, Deus o fez católico praticante, até hoje.

 

CONTRIBUIÇÃO: + Altino Dantas, 1900, coletor e ex-Prefeito de Santa Rita de Caldas. Entrevista em 08/10/87
Rua: Dionísio Machado n
° 120 * Fone: (035) 421-1684 * 37.550-000 – Pouso Alegre – MG.

Luzia no enterro do Pe. Alderígi (4/10/1977)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Em Campinhas, Tio Chico telefonou para a minha irmã Lurdes e a Lurdes para outra irmã, a Luzia, contando da morte do Padre Alderígi. Imediatamente esta telefonou para seu filho, o Luiz Roberto, e para a Neide, sua cunhada. No carro de Luiz Roberto foram Neide, Luzia e outras pessoas. No caminho, Luiz Roberto teve que parar num posto de gasolina, e disse: “Apresse com a gasolina. Que estamos indo para o enterro de um futuro santo.”

“Fui trocar de roupa na casa de Da. Zezé, colocando meu vestido escuro. Estava chorando, pois era a perda de um pai. Era o pai em quem a gente podia chegar e ser orientada. Era presença em tudo. Até a 5 reuniões seguidas ele dava presença. Era o pai que nos amava e dizia: “Eu vou para o céu e quero ver todos lá, nem que demore cem anos.” – Explicou-me a Luzia.

O corpo ficou exposto na igreja, e havia ali fila dos dois lados. Num canto da igreja, se viam os pobrezinhos, com a roupinha melhorzinha que tinham. Entre eles estavam Tonha Feliciano e Idalina.

Havia gente na cidade como se fosse festa de maio, mas todos tristes, como se tivessem perdido alguém da família. Como não caberiam todos na igreja, foi armado um tablado na porta da igreja. Ai chegou o Pe. Vítor e disse: “Morreu o nosso coroinha. Sabem por quê? A Basílica da Aparecida abria às 5:00hs da manhã e ele ajudava da primeira à última missa.”

O Sr. Bispo disse: “Morreu o padre mais jovem da Diocese. Não nos cabelos brancos, mas na obediência. Era o padre que acolhia todas as mudanças da Igreja após o Concílio.”

 

CONTRIBUIÇÃO: Luzia Alves da Silveira (1925), doméstica. Entrevista em 02/12/86
Rua: João Brandemburgo, 53 – Bloco: I – Apto: 3 – Fone: (019) 3272-9827
Bairro: São Bernardo * 13031-240 – Campinas , SP

Flores e mais flores na morte do Pe. Alderígi (4/10/1977)

Crônica de José Torriani

Saí do Espírito Santo do Pinhal (SP) às 6:00hs do dia 4 de outubro de 1977. Dona Zezé foi a primeira a me cumprimentar. Então, entrei no Santuário de Santa Rita e comecei a chorar. Lá encontrei minhas irmãs Lalá e Marina e nos abraçamos sem nada falar.

Os cravos vermelhos que cobriam o corpo de meu irmão falecido foram substituídos três vezes, pois o povo os levava para casa, como lembrança. Até minha irmã Lalá queria um pedaço de fita de sua sobrepeliz. Então, eu tive de arrumar uma tesoura e cortá-la.

No cemitério custei para chegar junto à capelinha onde ele seria sepultado, tamanha a multidão que se apertava. Quando lá cheguei, o guarda, que não me conhecia, barrou-me a entrada. Aí o João Lorena lhe disse: “Este é da família”.

Até um deputado queria discursar. O bispo, temendo o número de discursos sem fim que se seguiriam, não queria permitir. Então o deputado reclamou: “Eu saí de Belo Horizonte só para vê-lo. Como poderia agora deixar de falar?

 

CONTRIBUIÇÃO: + José Torriani (72anos), irmão do Padre Alderígi e industrial. Entrevista em 27/01/87. * Rua: Barão de Motta Paes, 597 – Fone: (0196) 51-2085 * 13.990 – Espírito Santo do Pinhal, SP

Um deputado no enterro do Pe. Alderígi (4/10/1977)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

No dia 1o. de dezembro de 1987, subi até o apartamento do Dr. Navarro, em Poços de Caldas, e ele me contou:

“A Santa Rita de Caldas, eu subia para rezar, para me confessar e para visitar o Pe. Alderígi. Este era um santo e como era simples! Levava vida paupérrima, dentro duma casa pra lá de modesta. Se era delicado, se era atencioso, era também bravo e enérgico, sempre que preciso. Um dia o vi sob o arco da capela do Santíssimo Sacramento, zangado com o povão que ia indo direto para o arco central do presbitério, sob o qual repousa a urna de Santa Rita. E o Pe. Alderígi gritou: «Primeiro aqui! Primeiro, adoração ao Santíssimo Sacramento! Depois devoção à Santa Rita!»”

O ex-deputado contou-me como viu o enterro, com muita gente chorando. Talvez mais de dez mil pessoas presentes, tomadas de emoção, debaixo dum pesado silêncio. Naquele momento, dentro do cemitério, junto aos túmulos simples, quais simples caixas de cimento, pintadas de azul, à beira do corredor central, ele não se sentiu mais o deputado daquele povo. Sentiu-se, sim, um irmão, nivelado a todos pela régua da imensa dor, acalcada pela partida do amigo querido. Ele que falava, tantas vezes, a grandes multidões, em discursos eloqüentes, naquele instante, sua voz trêmula não passava dum eco da pungente desolação de milhares de amigos que só sabiam soluçar. E sua emoção clamou mais alto que a trombeta do anjo, sobre a única torre da capelinha que ainda agora protege seus restos mortais:

– Essa multidão presta a última homenagem ao padre, verdadeiramente sacerdote, simples e humilde e, por isso, respeitadíssimo por toda a população.

Falou ainda da sua pobreza, da imensa caridade e da tremenda perda que fazia todas as almas soluçarem.

 

CONTRIBUIÇÃO: Sebastião Navarro Vieira (1911), dentista e ex-deputado federal. – Entrevista em 01/12/87.
Rua: Assis Figueiredo, 1155 apto. 1601 – (035) – Fone:721-8540 * Poços de Caldas, MG

A estima do Pe. Alderígi (4/10/1977)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

“O que posso afiançar ainda é que durante os festejos de maio, quando se comemora Santa Rita milagrosa, toda a população devota desta santa não deixava de beijar a mão do Pe. Alderígi, consagrado como verdadeiro santo, ou, parte da dupla “Santa Rita e ele” – São palavras do Dr. Dalmo Roberto Ribeiro da Silva (1949) ex-vice-prefeito de Ouro Fino, numa interessante carta a mim dirigida, no décimo aniversário da morte do santo de Santa Rita de Caldas.

Pe. Alderígi era tão estimado e venerado na cidade deste político, que em sua gestão ela ganhou uma praça chamada “Pça. Mons. Alderígi”.

Quando em 1977, a notícia da morte deste homem de Deus estourou em Ouro Fino, foi aquele alvoroço. De imediato começou o povo a pensar como chegar a Santa Rita de Caldas e participar dos funerais de tão grande santo. Dr. Dalmo e seus amigos lotaram um carro e em pouco tempo venceram as 6 léguas de distância e avistaram a cidadezinha fervendo de peregrinos. Um mar de devotos e amigos, lotando a praça toda.

“De minha cidade, foram vários carros para o seu sepultamento, o que entristeceu toda a região e principalmente aqueles que conheciam suas virtudes extraordinárias de verdadeiro santo de Deus” – afirmou Dr. Dalmo em sua carta.

Chegados que foram ao cemitério, em meio a tantas lágrimas, o político, profundo admirador do Pe. Alderígi, chegou o mais perto possível da capela onde o corpo venerando seria enterrado e fez um solene discurso, traduzindo toda a dor de toda a população e enaltecendo-lhe as virtudes: “Recordo-me rapidamente – continua o Dr. Dalmo em sua carta – quando afirmei que, não somente a região sul-mineira, como também todos aqueles que chegaram a conhecê-lo, perdiam um verdadeiro apóstolo de Cristo, pois foi o Mons. Alderígi um verdadeiro Deus da pobreza, um confessor extraordinário que, com sua humildade costumeira, conseguia transportar para todos a verdadeira paz e amor ao próximo”.

 

CONTRIBUIÇÃO: Dr. Dalmo Roberto Ribeiro Silva (1949), advogado. Carta enviada em 03/10/87.
Rua: João Pinheiro, 140 – Fone: (035) 441-1492 * 35.570 – Ouro Fino , MG

Virtudes do Pe. Alderígi (4/10/1977)

Crônica de Edmea Maria Silva Maia

Padre Alderígi reiniciou sua vida de santo em nossa terra, de dedicação extrema, aliada a um profundo amor a Deus e ao próximo. Ele rezava e trabalhava, trabalhava e rezava. Época dura e difícil. Seu pastoreio ou campo de trabalho, extremamente grande: atende, de qualquer maneira ou modo, Ibitiúra de Minas e Ipuiúna. Sua atenção aos pobres não tem medida. Atende aos mais idosos, aos velhos. Gosta da juventude. Sua casa sempre cheia de gente. Não sabe dizer não. Seus pais partem para a casa do Pai. Seus irmãos se casam e seguem novos rumos. Por aqui, só fica em nosso meio o Padre Alderígi.

Atende na cidade. Visita as capelas e, nelas, junto à igrejinha, faz questão de instalar uma escola. É o SACERDOTE DE DEUS E DA PÁTRIA, o que consta no programa de seu jubileu de ouro em nossa paróquia.

Três grandes virtudes aureolavam sua pessoa de santo: pureza, obediência e humildade. E no cultivo destas virtudes, em meio a bons e maus, Pe. Alderígi foi, aos poucos, conquistando seu povo para Deus.

Permaneceu em nossa terra por 50 anos, e aqui deixou fama de santidade. Alguns anos antes de sua passagem, já bem alquebrado, celebrava sua Missa num altar provisório e, quase que o tempo todo, permanecia sentado numa cadeira, fazendo um esforço tremendo para se pôr de pé para a consagração. Era um sacerdote do confessionário. Sacerdote dos tempos de então, com muita clareza e acatamento, aceitava as modificações impostas pelos tempos modernos.

Aos 70 anos, já se percebia o peso dos anos naquele corpo, outrora tão dinâmico. A cabeça branca como algodão, dava-lhe ar sereno de fisionomia de santo. Após muito sofrimento, entregou sua alma a Deus no dia 3 de outubro de 1977.

Chorado por pobres e ricos, crianças e velhos, homens e mulheres, seguiu para o cemitério seu corpo santo, acompanhando por mais de 10 mil pessoas.

Hoje, sentimos tantas saudades daquelas mãos que souberam abençoar, daqueles lábios que souberam rezar, daqueles braços que souberam receber. De uma coisa, entretanto, temos a certeza: lá no céu, ele descansa junto ao Pai e reza por nós que aqui ficamos, vivendo de seus exemplos.

 

CONTRIBUIÇÃO: Edmea Maria Silva Maia, 1932, professora, líder paroquial e amiga do Padre, ajudada por seu filho, Israel – Fone: (035) 3734-1208
Rua: Pref. Uriel Alvim, 69 – * 37.775-000 – Santa Rita de Caldas, MG

As flores de Da. Imaculada no enterro do Pe. Alderígi (4/10/1977)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O.F.M.

Da. Imaculada acompanhou o enterro do Pe. Alderígi, com um punhado de flores. Eram lírios e rosas. Mas, era tanta gente, tanta gente se acotovelando no enterro que, quando chegou à Pça. Cônego Macário, junto ao cemitério, não tinha mais flor nenhuma em seu ramalhete.

“No cemitério, os túmulos ficaram cheios de gente que neles subia para ver melhor. Eram só braços que se levantavam, abanando os lenços. Eu só chorava, sem flor nem lenço para meu santo que partia, deixando-me triste e sem consolo” – completou a sua história Da. Imaculada, pobre professora rural da raça negra. Seus olhos, rasos d”água, ainda eram ninhos de saudades.

CONTRIBUIÇÃO: Imaculada Mateus (1931), professora rural aposentada. Entrevista em 20/12/86
Rua: Projetada G,22 * 37.775-000 – Santa Rita de Caldas, MG

Enterro do Pe. Alderígi (4/10/1977)

Crônica de João Lorena

Antecedendo o sepultamento do Pe. Alderígi, por decisão do Arcebispo, missa concelebrada. O corpo é transladado para a rampa fronteiriça da Igreja. Por gentil determinação e em demonstração de amor e respeito ao Padre, o comandante do destacamento policial reúne seus comandados e, em uniforme de gala, determina guarda especial de honra ao corpo exposto no tempo. A praça da matriz está repleta. O sol declina. Todos choram. São lágrimas de dor, de sentimento, de gratidão, de amor, de veneração. O constrangimento é geral. O Sr. Arcebispo fala. Sua voz é entrecortada pela tristeza e dor. Terminada a cerimônia em frente á matriz, seu corpo é levado para a sua última morada. Todos querem carregá-lo. A multidão se aglomera e o caminho até o cemitério está repleto de amigos. As sirenes da ambulância são acionadas até sua potência máxima. É um verdadeiro choro de crianças, vendo o pai partindo. No campo santo, todos se acotovelavam. São as últimas homenagens. São as últimas preces. Junto à capela, uma voz se faz ouvir. É o Dr. Dalmo Ribeiro da Silva que fala em nome da população de Ouro Fino. O silêncio é geral. Sente-se o choro abafado de todos. De um carneiro, mais atrás, outra voz se levanta. É o Professor Lorena, falando em nome dos santarritenses. O sol está bem baixo. Reina silêncio. O Sr. Arcebispo, os padres, todos os familiares aguardam. Encarregados trabalham. Não é preciso água. As lágrimas são tantas para isso justificar… Pouco a pouco, a urna se cobre. Todos lá estão, sem arredar um passo. Tudo acabado. O sol declina. Vem a noite. No céu, as primeiras estrelas. Na casa do Pai, os Coros dos Anjos, Arcanjos, Querubins e Serafins, Tronos e Potestades, a Virgem Maria, Santa Rita, todos os santos da Milícia Celeste cantam hinos de louvor à Trindade, pela entrada, no reino que não terá fim, dessa alma que deixou a todos um exemplo de religiosidade, humildade, amizade, sinceridade.

Acabara o Padre Alderígi? Não. Dentro da perspectiva da vida, foi o seu corpo, a matéria, que não pode mais suportar a vida. Suas carnes já não conseguiam manter presa ao corpo, aquela alma que aspirava à eternidade. Pe. Alderígi simplesmente nos antecedeu. Partiu antes de nós, depois de ter vivido a vida que Deus lhe dera. Antecipou-nos sim, e lá está ele, vivo a olhar e a interceder por todos nós.

 

CONTRIBUIÇÃO: João Lorena (1927), professor, líder paroquial e amigo do Padre. Cópia do folheto inédito, elaborado para os festejos dos seus 50 anos de paroquiato.
Rua: Major Bonifácio, 43 * 37.775-000 – Santa Rita de Caldas, MG

Um santo que parte (1977)

Poesia de Vanda Maria Oliveira Figueiredo

Os corações emudecidos e tristes,
Choram a perda do santo padre,
No alto, ao lado do Pai Celestial,
Mons. Alderígi está e nos olha e nos abençoa,
Para uma viagem infinda,
infinita.

Ele partiu…
Uma porta se abre
Na noite que se estende.
Anjos entoam cânticos.
Há alegria. Há festa
Murmuram os querubins…
Eis que um santo chega!

O Homem que na terra,
Foi humilde, foi pobre,
Estendia a mão a todos
Que dele necessitavam.
Espalhou amor, a caridade!
Lá ele está, juntinho de Deus, nosso Pai.

A terra reclama a sua ausência.
Nos olhos ainda há lágrimas.
Querem dissimular a saudade,
Que é tão grande.
Querem um dia reencontrá-lo,
Reclamam o exemplo vivo da Fé.

 

CONTRIBUIÇÃO: Vanda Maria Oliveira Figueiredo (1952), professora e orientadora educacional. Poesia feita 6 dias após a morte do Pe. Alderígi em 09/10/77.
Rua: Sofia Loures Felipe, 33 * 37.775-000 – Santa Rita de Caldas, MG

Santinho de recordação da passagem do Pe. Alderígi (1977)

Recordando sua piedosa morte, agradecemos a Deus nô-lo ter dado. Choramos por vê-lo partir, alegramo-nos por vê-lo, carregado de méritos, chegar na eternidade.

Nós Vô-lo entregamos, ó Pai, porque Vós nô-lo pedistes. Ele é mais vosso do que nosso. E porque Vô-lo damos com amor, como um dia nô-lo destes, nós Vos pedimos que nos deis muitos outros sacerdotes como ele.

Glorificação

Pe. Alderígi e o progresso de Santa Rita de Caldas (1942)

Crônica de José César Martins

Quando, em 1927, o Revmo. Pe. Alderígi chegou a Santa Rita de Caldas, minha terra era um verdadeiro caos, resultante de dois partidos locais que se degladiavam sem cessar. (…) E o Pe. Alderígi foi, então como o anjo da paz, enviado pelo altíssimo, a fim de desfazer as redes de ódio em que se emaranhavam meus contemporâneos, comunicando-lhes, ao mesmo passo, um novo sentido de viver.

… Mas o infatigável soldado de Cristo não parou aí: na sua mente de homem de ação, outros projetos iam-se elaborando, à medida em que os primeiros, postos em prática, se coroavam de êxito. E uma nova aspiração, mais empolgante, surgiu-lhe no espírito, cresceu, tomou corpo, até fazer-se o desejo de todos os instantes: a elevação do distrito a município autônomo, ideal que presentemente o domina e a todos os santarritenses de boa vontade.

 

CONTRIBUIÇÃO: José César Martins – Trecho do artigo José César Martins, copiado do caderno “A Figura Anchietana do Pe. Alderígi Torrani “( 1942) Santa Rita de Caldas. Este caderno se encontra na Biblioteca Rui Barbosa. * Rua Rui Barbosa, 37 * 37.775-000 – Santa Rita de Caldas, MG.

Pe. Alderígi,um homem que se consome como uma vela pelo povo (1957)

(Trecho do discurso do Dr. André Avelino da Silva, pronunciado em 27.03.57, nas homenagens ao Pe. Alderígi, pelo seu 30.° aniversário de Paroquiato em Santa Rita de Caldas).

Bem já dissera Cristo de seus sacerdotes: “Vós sois a luz do mundo”. Eis, senhores, que este Pároco bom e piedoso aqui viveu há 30 anos! Sua vida é feita no sacrifício e na oração, no trabalho e na alegria. Os seus dias decorrem puros como puros e brilhantes são os cristais que brilham nas rochas da montanha. Trabalho e oração, sacrifício e alegria parecem formar a sua divisa. Para ele não há descanso, porque se repousa nas caladas noturnas e o chamam, aberto está ele para todas as eventualidades.

Não teme a condução que se lhe apresentam, não reclama, não desanima…. Para ele uma só coisa é necessária: Salvar almas.

Se a caminhada é íngreme e o moribundo jaz no tétrico enlace da agonia, se o animal que lhe trouxeram fraqueja, está pronto a chegar a pé. Não importa! É o padre que se forjou para Deus e para os homens.

Sua vasta paróquia que compreende quase duas dezenas de capelas, é por ele constantemente visitada. Em cada recanto que passa deixa a sua bênção de pai e enviado de Deus que é.

Para ele não há distinção da cor ou a suntuosidade e magnificência que o dinheiro pode dar.

Se necessitam de seu apoio moral ou religioso, não lhe importa se estes pertencem ou deixam de pertencer ao grêmio santo da Igreja. Trata cada um como se fosse o mais dileto filho. Os seus anos de vida só servem para o tornar mais venerável diante dos homens. É o sacerdote que não se verga aos trabalhos de uma austera e insana vida de obreiro profícuo da Igreja e defensor perpétuo das Santa Religião Católica.

Há 30 anos ele vive conosco!…..

Quantas vezes o vemos pregar contra o analfabetismo! E vezes quantas, ainda, o vemos empenhado na fundação de escolas rurais para melhor aproveitamento da juventude! E a sua própria cultura e inteligência, quem pode desconhecê-las?

Padre de Deus e dos homens, aí está ele…

 

CONTRIBUIÇÃO: Original deste discurso de André Avelino da Silva ( 1934 ), advogado e líder paroquial, se encontra em sua própria biblioteca.
Rua Luiz Possato, 1400 # Fone: residência: ( 043) 557-1344 Cx. 9.69 * 84.900 – ARAPOTI, PR

Por suas virtudes, Pe. Alderígi recebe a dignidade de Monsenhor (1958)

Notícia no Jornal “Santuário de Santa Rita”

ELEVAÇÃO À DIGNIDADE DE MONSENHOR CAMAREIRO SECRETO

DE SUA SANTIDADE, O PAPA

Este título foi pedido por Dom Oscar de Oliveira, DD.Bispo coadjutor de Pouso Alegre, num gesto de agradecimento às virtudes, trabalhos e bens espirituais emanados de seu fecundo ministério sacerdotal de Monsenhor Alderígi. Nada tão justo e tão acertado para o nosso caríssimo Pároco, como esta elevação.

( … ) Em se referindo a essa nomeação de Mons. Alderígi pelo saudoso Pio XII, Dom Oscar de Oliveira assim se expressou: “Um santo nomeando um santo!” O nomeado tinha, então 38 anos de sacerdócio.

 

CONTRIBUIÇÃO: Jornal de Santa Rita de Caldas, ano II n° XVIII – 22.10.58
37.775-000 – Santa Rita de Caldas, MG

Tancredo e Pe. Alderígi (1961)

Em 1961, Tancredo Neves passou por Santa Rita de Caldas, procurando votos, pois era candidato a governador de Minas Gerais.

Neta ocasião, num grande comício em praça pública, cercado de políticos e povo, ele declarou:

– O povo de Santa Rita de Caldas é um povo feliz, pois, dentro daquela igreja pontifica o Pe. Alderígi.

 

CONTRIBUIÇÃO: Dr. André Avelino da Silva ( 1934 ), advogado e líder paroquial. Entrevista em 07.02.87. * Rua Luiz Possato, 1400 – Cx. P. 69 – # Fone: resid. ( 043) 557-1344 * 84990-000 – ARAPOTI, PR

Qualidades do Pe. Alderígi (+ 1969)

Possuidor de virtudes incontáveis, seus dotes de aprimorada inteligência, seu espírito realizador são apreciados e aplaudidos por todos os que o conhecem.

Possuindo um modéstia própria dos santos, é uma pessoa realmente extraordinária, que atrai e que fascina.

É ele o homem, o sacerdote, o amigo, o mestre, o educador consumado.

É o amigo dos jovens, tão admirado pelo povo, tão aplaudido e venerado pela pobreza. É o homem empreendedor e incansável na lides espirituais e materiais. É o pai que sabe sorrir nas horas de contentamento e que se entristece e chora, quando vê um filho sufocado pelas agruras. ( … )

 

CONTRIBUIÇÃO: Ildeu Martins ( 1942 ), advogado, por ocasião do aniversário do Pe. Alderígi – 74 anos . Trecho de artigo no Diário de Poços de Caldas, de 19.11.69 – Poços de Caldas – MG.
Rua Israel Silva, 30 # Fone: (035) 734-1146 * 37.775-000 – Santa Rita de Caldas, MG

Cartaz propaganda da festa do jubileu de ouro sacerdotal do Pe. Alderígi (1970)

Amor… gratidão…reconhecimento a ele que sempre combateu o bom combate. A família de Santa Rita de Caldas, pelo seu Prefeito, pelo seu Legislativo, carinho de todos, presta ao seu querido e estimado Pai espiritual, Mons. Alderígi Maria Torriani….o seu preito de reconhecimento, gratidão e amor pelo transcurso de seu jubileu de ouro sacerdotal – 50 anos de padre, 44 anos vividos a nosso serviço. Pelas suas mãos abençoadas, três para quatro gerações dele receberam: sacramentos, instrução religiosa, assistência material, conforto nas horas amargas da vida.

Sorri com os que sorriem. Chora com os que choram. A todos deixa uma palavra, vendo em cada semblante uma imagem de Cristo. Sua fé, seus exemplos, sua palavra, seus ensinamentos, sua grandeza e humildade de homem consagrado às coisas divinas, levam o nome de nossa terra, de nossa igreja, hoje santuário, já celebrizado por tantas comunidades paroquiais, a todo o Estado, aos mais longínquos páramos da Pátria. É um homem de todas as lides. Luta e se sacrifica pela paz de todos, tanto paz material como paz espiritual, paz religiosa como paz política. É um pai nas horas fáceis. É um chefe nas horas necessárias. Aos ricos pede um pouquinho da sua sobra…. Aos menos afortunados, entrega tudo o que possui. É contagioso vê-lo em certas rodas; é mais comovente vê-lo cercado de seus pobres, aos quais sempre dedica todo o seu empenho. É gostoso vê-lo acariciando uma criança e é mais comovente vê-lo à cabeceira de um filho que parte, deixando a vida, a orar por sua partida, consolando os que ficam. ( … )

Sua atenção sempre esteve à imensidade de sua paróquia, mesmo quando esta compreendia os municípios de Santa Rita de Caldas, Ibitiúra e parte do município de Andradas. É um homem da Pátria e do Altar. Construiu capelas e ajudou a fundar escolas. Plantou povoados e emancipou distritos. Semeou a palavra divina de fé ou prece, sobretudo, de sua confiança na Providência divina. Este é o apóstolo dos nossos dias. Este é o padre que Deus nos deu. Este é o homenageado. É este o seu amigo.

 

CONTRIBUIÇÃO: Cópia do cartaz que se encontra na Biblioteca Rui Barbosa.
Rua Rui Barbosa, 37 *
37.775-000 – Santa Rita de Caldas, MG

Pe. Alderígi, iluminado pela caridade, abre novos caminhos (1970)

Na sua luminosa trajetória, Pe. Alderígi, V. Revma. não se mostra apenas o chefe a ditar normas costumeiras, a seguir o caminho batido, mas, ao contrário, traça sempre novos roteiros, não se intimidando com os obstáculos que podem surgir neste mar revolto de apego às coisas materiais.

V. Revma. constitui uma estrela a brilhar no firmamento de nossa terra. Credenciou-se à estima de seus paroquianos e de todos que o conhecem, pelas excelentes virtudes de que se imantou, na chefia de seu rebanho, sempre o conduzindo pelo bom exemplo, pelo conselho e, sobretudo, convencendo-o de que o certo é o Caminho de Deus. (…)

A CARIDADE é a emanação de Deus, porque ele é a própria caridade. Essa é a virtude que, por graça divina, tem iluminado o caminho de V. Revma. na terra, permitindo a projeção de sua personalidade entre os homens, com a edificação para as almas e de proveito para a sociedade.

Pe. Alderígi é, de fato, o homem entregue a Deus para o serviço de Deus. Pois, na alma iluminada de V. Revma. há, sobretudo, o encantamento que advém da prática da caridade, que, na imanência de sua força, não é só virtude, mas poder de todas as virtudes.

 

CONTRIBUIÇÃO: Trechos do discurso de Ildeu Martins, por ocasião da inauguração do busto de Pe. Alderígi na praça Pe. Alderígi, em seu jubileu sacerdotal. Cópia do manuscrito da Biblioteca Rui Barbosa.
Rua Rui Barbosa, 37 * 37.775-000 – Santa Rita de Caldas – MG.

Pe. Alderígi, alma pura de menino (1970)

Trecho discurso de Dr. Paulo Maia ( 1927 ), Juiz de Direito de Caldas, MG, por ocasião das homenagens que Caldas prestava ao Pe. Alderígi, por ocasião de seu jubileu de ouro de ordenação sacerdotal, 15.09.70 – 1ª. Parte ).( … )

Padrinho Alderígi: estamos aqui na casa da Justiça terrestre, com o coração em festa e a alma de joelhos, para expressar-lhe o tributo de nossa gratidão e estima.

Cinqüenta anos vividos a causa do próximo, ao humilde e ao necessitado, foi a constante de sua vida.

Meio século de candura, de piedade, dando tudo de si, nada pedindo em proveito próprio, e dando o que nunca jamais possuíra ao seu semelhante.

Sondar abismos divinos é empresa que coloca os sábios ao nível dos loucos. Querer perscrutar o porquê de sua santidade, o poder de suas mãos abençoadas, a grandeza deste coração gigantesco, a beleza de sua alma pura de menino, o toque mágico de sua voz paternal; desafia a tudo e a todos, que tiveram a aventura de amá-lo.

Eu pedi perdão e o senhor não tem motivo para pedi-lo. Não há necessidade. Deus é testemunha.

Instrumento da paz, mensageiro do amor, recebendo sempre o desviado com um sorriso e uma prece, levando sempre luz onde há trevas, de há muito o senhor soube que a cruz era senhora do mundo, sem que o orgulho e a riqueza tivessem adivinhado porquê.

Sempre na pobreza material, jamais se descuidou de seus pobres, que são seus filhos em Cristo. Cuida dele com seu carinho e com as esmolas recebidas, que é nada para quem dá, muito para quem recebe, tudo para Deus.

 

CONTRIBUIÇÃO: Original deste discurso se encontra na biblioteca do Dr. André Avelino da Silva (1934 ), advogado e líder paroquial.
Rua Luiz Possato, 1400 – Cx. P. 69 – # Fone: resid. ( 043) 557-1344 * 84990-000 – ARAPOTI, PR

Paulo Maia ( 1927), Juiz de Direito, atualmente de Uberaba.
Rua Antônio Carlos, 245 # Fone: (034) 333-4848 * 38.100 – Uberaba, MG

Pe. Alderígi, o juiz bom (1970)

(Trecho do discurso de Dr. Paulo Maia (1927), Juiz de Direito da Comarca de Caldas, MG, por ocasião das homenagens que Caldas prestava ao Pe. Alderígi, por seu jubileu de ouro de ordenação sacerdotal, em 15.09.70 – 2a. parte).

Como é justa e implacável a Justiça Divina! É a única que temo. A nossa, a terrena, exercida por nós, é facciosa, falha, não corresponde à verdade. Como seria tranqüilo e confortador, se pudéssemos ter juizes na terra, homens do quilate do Pe. Alderígi, de sua bondade, de seu saber, de sua compreensão e de sua ternura, principalmente de seu desinteresse de todo o prazer e luxúria, que faz parte integrante desta miserável vida terrena.

Olhem, senhoras e senhores, a beleza do quadro que assistimos agora!

Se pudéssemos transformar este sonho em realidade!

Se fosse ele o nosso juiz!

Com fé e esperança, as partes aqui entrariam, em busca de seus direitos violados! Acabariam as demandas, cessariam os ranger de dentes, irmão não mataria irmão, pais não estuprariam as suas filhas. Viam nele o exemplo. Haveria mais respeito pela lei fria e ameaçadora, mas, haveria também mais temor a Deus.

Sairiam daqui como saem de sua igreja: lágrimas transformadas em sorrisos, desesperos em alegrias, e o hoje incerto de cada um seria transformado num amanhã risonho e promissor.

Meu querido padrinho Alderígi, não visto hoje minha toga de magistrado para recepcioná-lo, para que ela não veja sua pequenez, ante sua batina, que se respeita por amor. Minha toga que algumas vezes é acatada pela espada e pela força, não pode abraçar sua batina que tem a protegê-la a cruz de nosso Pai crucificado.

Não quero que ela se core e nem se recorde das injustiças praticadas em nome da lei, quando, suas vestes, quase sagradas, suplanta a Lei, ignora a Lei, exige da Lei que compreenda que o ser humano é imperfeito e é passível de perdão.

Às vezes, a lei é baixa com os grandes, arrogante com os miseráveis, serve ao opulento sem altivez e aos indigentes sem caridade; o contraste, o inverso do modo de pensar e agir deste juiz divino-humano que aí está.

 

CONTRIBUIÇÃO: O original deste discurso se encontra na biblioteca do Dr. André Avelino da Silva (1934), advogado e líder paroquial.
Paulo Maia ( 1927), atualmente juiz de Direito em Uberaba.
Rua Antônio Carlos, 245 # Fone: (034) 333-4848 * 38.100 – Uberaba,- MG

Padre Alderígi, missão cumprida (1970)

(Trecho do discurso de Dr. Paulo Maia, Juiz de Direito da Comarca de Caldas, MG, por ocasião das homenagens que Caldas prestava ao Pe. Alderígi, por ocasião de seu jubileu de ouro de ordenação sacerdotal, em 15.09.70 – 3a. parte)

Vão esculpir seu busto em bronze, na sua Santa Rita de Caldas, tão preciosa.

Não há necessidade. Santa Rita de Caldas é sinônimo de padrinho Alderígi. Lá tudo gira em função de sua pessoa. Os pássaros que cantam. O badalar dos sinos, o choro de uma criança faminta, o olhar mórbido de um moribundo, tudo isto requer sua presença.

É chegada a hora de seu descanso, que só os justos e bons têm direito.

Olhe para trás! Vê a sua longa e penosa caminhada. Observe seus cabelos brancos, alvos, da cor da sua alma generosa! Desobedeça este coração do tamanho do universo, para que ele pare de pulsar um pouco em benefício do próximo, porque já amou demais e cansado se encontra! Refreie este temperamento inquieto de menino fujão, ficando ao aconchego de seu lar, evitando madrugadas chuvosas e frias, para dar sua bênção ao moribundo que parte. O senhor já fez muito e semeou demais. Passe a cruz a outrem e peça a Deus que ela não pereça no meio do caminho! Os caminhos estão floridos. O senhor os floriu. Os corações estão cheios de virtude. O senhor fez com que eles compreendessem. Os lares estão repletos de alegria. O senhor os abençoou. Cristo está sendo amado como desejava. O senhor fez com que saíssemos das trevas e o amássemos. Então, nada mais há que fazer. Missão cumprida.

Gostaria que as palmas que marcarão o término destas palavras sejam flores a coroar a fronte deste apóstolo de Cristo e que minhas expressões façam coro, com os sentimentos de todos vocês.

CONTRIBUIÇÃO: A cópia completa deste discurso está com Dr. André Avelino da Silva (1934), advogado e líder paroquial. * Rua Luiz Possato, 1400 – Cx. P. 69 – # Fone: resid. ( 043) 557-1344
84990-000 – ARAPOTI, PR
Paulo Maia ( 1927), atualmente Juiz de Direito em Uberaba. Rua Antônio Carlos, 245 # Fone: (034) 333-4848 * 38.100 – Uberaba, MG

Os escolhidos (+ 1970)

Fiz hoje uma viagem inesperada
A Santa Rita. Que beleza infinda!
Vi Santa Rita já glorificada
E o Alderígi que não foi ainda.

Na redoma por Deus, já venerada,
Ela foi para o céu, formosa e linda,
E ele continua na berlinda
Desta existência rude e malfadada.

Ambos, segundo prediz a história
Hão de encontrar no apogeu da glória,
Numa sublime e primorosa festa.

Ele agora uma velhice aflige,
Beija esse cravo que ela traz na testa
E ela canta as virtudes do Alderígi.

UMA SIMPLES QUADRA

Na doçura do olhar e na pobreza
do humilde roupeta
advinha-se logo a singeleza
do vulto desse novo Anchieta.

CONTRIBUIÇÃO: Poesias do poeta de Poços de Caldas, Lopes Ribeiro. O original se encontra na Biblioteca Rui Barbosa. * Rua Rui Barbosa, 37 * 37.775-000 – Santa Rita de Caldas, MG

Piedade, jumildade e amor do Pe. Alderígi (1971, 1987 e 1988)

(Discurso de Dr. José Asdrúbal do Amaral, no lançamento do livro “Pe. Alderígi, O SANTO BRASILEIRO QUE TRANSMITE CORAGEM E ALEGRIA”)

Horas caladas foram gerando esse tão esperado livro sobre o Pe. Alderígi. Com esse livro começou o processo de beatificação do santo dessas nossas terras.

Eu sobrinho; Pe. Alderígi, meu tio, meu confessor, meu amigo.

Em Cássia, ele parou à porta do santuário e eu fui à frente. Olhava eu para trás e ele não vinha. Voltei e lhe perguntei o porquê. Ele me respondeu: ” Você não sabe que eu devo rezar pelo meu povo?”

Quando afinal ele entrou, não passou da corrente que impedia chegarmos até à urna, onde repousam os restos mortais de Santa Rita. Baixinho lhe lancei uma idéia: «Tio, vamos chegar até lá!»

– Não.

Por três vezes insisti e por três vezes veio a mesma negativa, acrescentando na ultima: “Zé , eu não sou digno de pôr a mão sobre essa urna”.

Quando visitamos Palermo, terra de São Benedito, visitamos tudo o que falava e relembrava o grande santo negro. O lugar onde ele rezava era uma espécie de nicho na parede. Em baixo, era escuro. Havia um pedaço de madeira onde o santo costumava colocar a mão para orar. Um dia, passei por lá e coloquei minha mão no mesmo lugar onde o santo colocava as suas. Senti que a madeira estava gasta pelo tempo, mostrando facilidade para eu retirar uma de suas lasquinhas. Tirei assim uma pequena relíquia. No dia seguinte, cheguei perto do tio e lhe mostrei:

– Olhe, eu tirei um pedacinho da madeira onde São Benedito colocava a mão para rezar. É uma relíquia para meu pai.

– Isto está errado. Não podia fazer tal coisa. É pecado.

– Pecado por que?

– Porque não tirou um pedacinho para a Zélia. Vai lá e tire um pedacinho para ela também.

Meu tio era mesmo extraordinário. Devo ser o porta-voz da família para os agradecimentos ao Frei Felipinho Gabriel Alves, por ter tido a coragem de escrever a vida desse homem de Deus. Tenho certeza que esta tarefa tão árdua e tão nobre trará muitas bênçãos para esse escritor.

 

CONTRIBUIÇÃO: Frei Felipinho Gabriel Alves ( 1932), pregador e antigo coroinha do Pe. Alderígi, tomou nota deste discurso, na hora, no dia 18.05.88.
Convento São Francisco * Largo São Francisco, 133 # Fone: (011) 3291-2400 * 01005-010 – São Paulo, SP

José Asdrúbal do Amaral ( 1937 ), sobrinho do Padre e advogado.
Rua Pernambuco, 870 # Fone: (035) 721-2504 * Poços de Caldas – MG.

Pe. Alderígi, um santo que nos basta (1971)

( Trecho do discurso de Dr. André Avelino da Silva, pronunciado diante do povo, dando boas vindas, pela volta do Pe. Alderígi da Itália, onde foi tentar buscar o corpo de São Benedito, em 1.971).

Sentimos, ainda, que nosso querido Mestre de Almas deve ter se aborrecido algum tanto, pois a viagem não lhe trouxe aquele feliz troféu a que tanto almejava. O senhor almejava e nós todos o queríamos de coração aberto para nós e para nossa terra, para a nossa gente.

Sentimos, todavia, que, se houve uma espécie de fracasso, essa espécie de fracasso deve ter se convertido numa outra espécie de bênção, para Santa Rita de Caldas e para a sua gente.

Como dizia um amigo de Pe. Alderígi, um destes que tem até muito pouca religião e que talvez, quase nenhuma fé: “Não quero perder a amizade de Pe. Alderígi, porque ter amizade com o Pe. Alderígi é ter amizade com um santo.”

Não nos cabe saber porque um santo não quis acompanhar o outro santo… Talvez, quem sabe, nos desígnios da Providência Divina, um só santo nos baste por agora…

Nós nos alegramos, só porque o temos de volta ao nosso convívio e ao nosso meio. Nada poderemos lamentar por não ter vindo até nossa terra o santo dos mais humildes, dos homens mais abandonados, daqueles que muitas vezes até sentem, em virtude de sua mesma cor, como que os filhos de uma segunda natureza.

Por hora, ainda quer a Providência Divina que apenas um e não dois santos estejam presentes em nosso templo. E a nós cabe apenas isto: Dizer a Deus: “Senhor, nós lhe agradecemos porque Pe. Alderígi está de volta, está novamente conosco, está aqui bem perto de todos os que o Sr., Senhor dos céus, lhe deu como filhos.

 

CONTRIBUIÇÃO: O original deste discurso de André Avelino da Silva (1934), advogado e líder paroquial, se encontra em sua própria biblioteca.
Rua Luiz Possato, 1400 – Cx. P. 69 – # Fone: resid. ( 043) 557-1344 * 84990-000 – ARAPOTI, PR

Admiração de Dom Macedo ao Pe. Alderígi (+ - 1971)

Quando, em 1971 ou 72, eu levava Dom Macedo, Bispo de Aparecida, SP, auxiliar de Cardeal Motta, à cidade de Caldas, ele me disse: “Quando Mons. Aderígi morrer, deve-se começar logo o processo de canonização». Foi pela visita da Imagem de Nossa Senhora Aparecida a Santa Rita de Caldas.

A admiração do Cardeal Motta pelo Pe. Alderígi era tanta, que permitiu a ele levar a imagem verdadeira de Nossa Senhora Aparecida à nossa cidade de Santa Rita de Caldas, quando todos sabem que somente bispos têm este privilégio. Quando este assunto surgiu numa roda de amigos, Pe. Alderígi completou: “Mas o Cardeal gosta de mim”. Dom José D” Ângelo Netto arrematou: “Quem não gosta do senhor? “

Realmente, todos gostavam dele, pois ele gostava de todos. Comum era a expressão nos lábios desse santo e simples homem de Deus: “Como é bom o nosso Papa! ” ou “Como é bom fulano” ou “sicrano que acaba de fazer isso” ou “aquilo!”

 

CONTRIBUIÇÃO: André Avelino da Silva ( 53 anos), advogado e líder paroquial. Entrevista em 07.02.87. * Rua Luiz Possato, 1400 – Cx. P. 69 – # Fone: resid. ( 043) 557-1344 * 84990-000 – ARAPOTI, PR

O arcebispo chama o Pe. Alderígi de santo vivo (21/04/1.977)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O .F . M.

Pe. Alderígi, tão santo, tão voltado para Deus e para o próximo, tinha também bom gosto e gostava de saborear um bom prato.

Em 1972, mais ou menos, lá um dia ele pediu à Da. Nílber Nogueira, sua amiga de Poços de Caldas:

– Minha filha, sabe você fazer costela de porco com nabo e polenta? É um prato italiano. Meu pai sabia fazê-lo e o fazia muito bem. Estou com vontade de comê-lo.

Da Nílber não o sabia, mais daria um jeito. Foi à casa de Da. Ida, esposa do professor Júlio Bonasi. O que não faria para seu grande amigo, a quem devia mil obrigações?

– Da. Ida, sabe fazer o tal prato italiano, feito de costela de porco, com nabo, acompanhado de polenta?

– Por quê?

– Porque o Pe. Alderígi está com vontade.

– Não é difícil, não. Peça ao Pe. Alderígi que venha aqui que terei máximo prazer em fazer direitinho para ele.

– Está certo. Darei o recado. Dê-me, porém a receita.

Um dia, Da. Nílber telefonou para Da. Zélia, a governanta do Pe. Alderígi, pedindo-lhe que prepara-se na manhã seguinte a célebre polenta italiana, cortada com fio de linha. Antes do almoço, a amiga chegaria a Santa Rita para completar o prato especial. A carne de porco já estava sendo preparada: costela temperada em vinho branco, azeite, alho, cenoura e louro. Tudo preparado de véspera.

Na manhã seguinte, bem cedinho, lá se foi a cozinheira de Poços de Caldas a Santa Rita de Caldas, vencendo milhares de morros, atravessando povoações, campos de gado, plantações de milho e feijão, beirando no final a Serra da Pedra Branca. Aquele ônibus matutino era especial para ir parando de curva em curva, apeando ou recebendo novos passageiros, quase todos ossudos, magros, relembrando Dom Quixote, camponeses proseadores, com seus “r” e “l”, típicos do sotaque caipira. Em duas horas, vencidos os 45 quilômetros, chegou à Pça. Pe. Alderígi, atravessou o jardim que separa o ponto de ônibus e a casa paroquial, quando deu de cara com o Sr. Arcebispo, Dom José D”Ângelo Netto. Deixava ele a casa do padre e foi logo explicando:

– Fui à igreja ver a santa morta (o fac-símile do corpo incorrupto de Santa Rita) e vim aqui ver o santo vivo. Você também?

 

CONTRIBUIÇÃO: Nílber Nogueira (1920), bordadeira. Entrevista em 17.06.88.
Rua São Francisco, 198 # Fone: 9035 721-3568 * 37.701-000 – Poços de Caldas, MG

Pe. Alderígi na renovação carismática (+ 1976)

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O . F. M.

Em 1976 ou 77, houve um congresso na Renovação Carismática em Pouso Alegre. Eram uns dois mil participantes, dirigidos por Pe. Eduardo Dougherty e pelo Pe. Aroldo Rahm. Estavam presentes mais de 20 sacerdotes, dispostos em lugar de destaque, e junto com eles, o próprio Arcebispo, D. José D”Ângelo Netto. A Faculdade de Direito abrira suas portas para receber todo esse mundo de gente, que procurava maior entrega a Cristo, sob o lema “Javé é a nossa bandeira.”

E aquele padre velhinho ( mais de 80 anos), alto e gordo? Era o Pe. Alderígi. Todo o mundo perguntava entre si: “O que esse padre antigo, ultrapassado, veio fazer junto desse povo tão aberto, tão renovado?”

Mas, quando o viram entrar no salão…( como ele louvava, erguendo os braços! Como vibrava, cantando feliz!) desmanchou-se toda a dúvida. Surpreendentemente, logo-logo arrebatou todo mundo por sua figura tão carinhosa. Era o participante mais aberto, o mais renovado de todo o congresso. Aí, cada um, contrariamente ao que se prejulgou, queria beijar a mão dele ou tocar em sua batina preta, tentando captar um pouco de sua santidade.

CONTRIBUIÇÃO: Ivão Luiz Pinto ( 35 anos ), professor. Entrevista em 05.02.89.
Rua Francisco Palma, 233 3 Fone: (035) 471 – 3171 * 37.540 – Santa Rita do Sapucaí, MG

Pe. Alderígi admirado por não católico

Artigo de Benedito Lázaro dos Reis, Presbítero da Igreja Metodista

Nasci e fui criado em Santa Rita de Caldas, tendo vivido aqui todos os dias de minha vida, tendo por isso possibilidade de conhecer e admirar o Pe. Alderígi Maria Torriani. Era um servo de Deus, dedicado inteiramente à sua vida espiritual. Dele jamais tivemos conhecimento de algum deslize, por menor que fosse, quer na vida religiosa, quer na vida particular, sendo de fato inteiramente dedicado à sua religião, a qual ele amava e por ela viveu plenamente.

Soubesse eu escrever com mais facilidade, bem poderia compor um livro para citar todos os seus gestos de bondade, ajuda, dedicação e amor ao próximo! Mesmo sendo eu evangélico metodista, sempre recebia o sorriso amigo e atencioso daquele santo homem. Jamais teve uma palavra de ofensa a outras religiões. Se algumas radicalizavam, Pe. Alderígi somente alertava para o inconveniente delas. Mas sempre com palavras de respeito.

Partindo de seus fiéis, temos conhecimento de que, com sua fé em Deus, conseguiu muitas curas, pois com suas orações tudo era possível.

Um ex-prefeito municipal, também metodista, confessa, até hoje, terem as maiores realizações para esta cidade sido conseguidas graças às rezas do Pe. Alderígi.

Realmente Santa Rita de Caldas era uma cidade esquecida, precisando de muita coisa. Por isso, cada vez que o ex-prefeito partia para sua viagens, sempre procurava o velho sacerdote, pedindo orações por si e pela cidade.

Até hoje a morte do Pe. Alderígi é pranteada em toda a região, pois dele nos lembramos com respeito, saudade e veneração.

 

CONTRIBUIÇÃO: Benedito Lázaro dos Reis ( 1936), presbítero da Igreja Metodista e seleiro. Por escrito, em 05.09.87. Rua Elias da Silva Guimarães, 44 * 37.775 – Santa Rita de Caldas, MG

Pe. Alderígi, homem de humildade, simplicidade e fé

Crônica de Mons. Trajano Barroco

Pensando sobre a personalidade do Pe. Alderígi, eu diria que ele foi um homem que abraçou o sacerdócio, de corpo e alma. Com dedicação total, durante toda a vida, pelo menos, durante os anos em que o conheci.

As virtudes que nele mais admirava eram a humildade, a simplicidade e a fé que remove montanhas.

Sua humildade. Devido ao fato de eu ter mais estudo do que ele, a mim ele vinha perguntar, se aconselhar, fazendo-se aprendiz, o que me deixava diminuído diante dele.

Muitas vezes ele vinha até a mim para se confessar comigo, ele que era o maior confessor de toda região.

Sua fé. Como tinha fé no sacerdócio! Fazia questão de beijar as minhas mãos. Como era grande sua fé no sacramento da confissão, do qual foi apóstolo mesmo! Por causa dele, vivia horas e horas na igreja, esperando o povo.

Era agradecido ao extremo, cheio de ternura diante de qualquer coisa que se fizesse para ele. E como sabia valorizar os outros! A escola que fundei, o colégio paroquial para 1200 alunos, a Escola doméstica com aulas de corte e costura e ensinamentos práticos, ele sempre achava que era a coisa mais linda do mundo, uma vez que ele sempre estava voltado para os pobres sofredores.

Em vendo o Alderígi, era do Cura D”Ars que me lembrava.

CONTRIBUIÇÃO: + Mons. Trajano Barroco ( 1918) professor de filosofia e fundador de 3 faculdades e Colégio Paroquial. Entrevista em 18.04.87.
Rua Rio Grande do Sul, 1086 # Fone: (035) 721-2357 * 37.700 – Poços de Caldas, MG

Nota religiosa sobre Pe. Alderígi (1977)

Sempre me admirei do Mons. Alderígi. Aquele homem piedoso. Cabeça baixa. Olhares penetrantes. Por onde passava, tudo se admirava. Era a obediência em pessoa. Era a caridade contagiante. Nas reuniões do clero em que eu me encontrava com Mons. Alderígi, tomava-lhe a bênção, como os outro padres faziam. Ele sorria e apertava as mãos, como desejando-me algo muito profundo.

Todos diziam: “Monsenhor é homem de Deus. O homem de oração, o homem do confessionário. É o homem do povo.” O seu horário era o do povo. A todos ele agradava e o povo era servido.

 

CONTRIBUIÇÃO: Pe. Bráz Tenório Rocha ( 1935 ), substituto, como pároco , de Pe. Alderígi, em notas escritas. Rua Dr. Simões de Almeida , 55 * 37.660-000 – Paraisópolis, MG * Fone ( 035) 3651 – 1035

Pe. Alderígi, o santo que sabia elogiar

Crônica de Frei Felipinho Gabriel Alves, O . F. M.

Assim escreveu a estudante Viviane de Cássia Ferreira: “O Pe. Alderígi foi um verdadeiro santo. Nunca encontrei em alguém tanta piedade, tanta fraqueza, tanto amor e santidade como nele. Um verdadeiro pastor e eu, ovelha de seu rebanho. Nas festas, era uma criança, quando aplaudindo. Verdadeiro menino, quando gargalhava sozinho, lendo estória do Tio Patinhas. Era um homem, diante do qual, outros homens se curvavam, beijando-lhe as santas mãos. Não havia quem não respeitasse sua dignidade. Tão humano. Ninguém pode se esquecer daquele coração enorme, sempre à disposição dos pobres.”

A velha casa do Padre, junto à praça que tinha o seu nome, pouco abaixo da Prefeitura Municipal e em frente à Fabrica de Doces de Pêssego “Gigante”, tinha duas janelas à frente, mais uma sacada no lado esquerdo e um corredor de entrada no lado direito. Marcou a memória de Da. Edmea uma janelinha de madeira com taramela, aberta neste corredor. Sempre escancarada. “Por essa janelinha – lembra Da. Edmea – a gente nem sabe dizer quantos remédios deu aos pobres. Uma receita médica, com a sua assinatura, dava direito ao pobre de comprar o medicamento em sua conta. Por isso, vivia ele sempre endividado nas farmácia da cidade. “

Viviane continua citando Da. Edmea: “Era uma pessoa tão pura que quando, apreciando coisas bonitas, fazia um elogio, a gente até achava engraçado. Um dia, a minha mãe entrou na igreja para tocar harmônio, com um vestido muito bonito, enfeitado de rendas e ao vê-la, Pe. Alderígi chamou a sacristã e lhe disse:

– Zélia, venha ver como a Chiquinha está bonita! “

CONTRIBUIÇÃO: Edmea Maria Silva Maia ( 1932), professora e farmacêutica. Por escrito, em 07.08.87, por Viviane de Cássia Ferreira (12 anos )
Edmea: Rua Pref. Uriel Alvim, 33 * Viviane: Rua Pref. Uriel Alvim, 10
37.775-000 – Santa Rita de Caldas, MG

Pe. Alderígi, homem de virtude

Crônica de Pe. Vítor Coelho de Almeida

Pe. Alderígi era um homem admirável. Eu o admirava por aquela sinceridade. Era homem para todos, principalmente no confessionário. Ele, por sua vez, confessava-se como se fosse um pecador.

Eu ouvi a opinião universal: Pe. Alderígi era um homem de virtude.

 

CONTRIBUIÇÃO: + Pe. Vítor Coelho de Almeida ( 86 anos ). Radialista e muito virtuoso. Entrevista em 18.12.86. Pça. N. Sra. Aparecida, 273 # Fone: (0125) 36 -1031 * 12570 – Aparecida, SP

O que pensa um jovem sobre o Pe. Alderígi (20/04/1.977)

(Trecho duma carta de Lúcio Flavo Burza Lorena )

Itajubá, 20 de abril de 1977.

( … )

Estou emocionado, muito feliz, estou com uma alegria tão imensa, que nem sei contá-la. Sinto-me a pessoa mais feliz do mundo, por estar lhe escrevendo isso; é como se eu escrevesse para o nosso próprio Deus, o Deus irmão, o Deus filho, o Deus pai, o Deus amigo, tão jovem como eu, por possuir tantas armas pra lutar, tanta força, tanta coragem, tanto otimismo de vida.

Você é como o sol de cada manhã, tão cheio de esplendor, tão cheio de vida, de beleza, a iluminar a todos incansavelmente, cada vez com mais força.

Lúcio F. Burza Lorena.

 

CONTRIBUIÇÃO: Lúcio Flavo Burza Lorena (1959), estudante, ex-coroinha. Através de carta por ocasião do jubileu de ouro de paroquiato do Pe. Alderígi. Esta carta se encontra em poder de João Lorena.
Rua Major Bonifácio, 43 * 37.775-000 – Santa Rita de Caldas, MG

Pe. Alderígi envia sua foto, pedindo orações (15/07/1977)

Crônica de João Lorena

Sentindo Pe. Alderígi que sua vida terrena se apagaria breve, enviou a diversos sacerdotes e bispos o seu retrato, com os seguintes dizeres:

(N.N.), sua santa bênção para o pobre velho, Pe.

Alderígi. Santa Rita de Caldas. 15.07.77. Faça

favor de colocar no seu breviário, como um lembrete

para rezar por mim e, conforme a teoria do Pe. Victor, especialmente

depois de minha morte, que não está longe. Sl (salmo) 89,10.

Entre muitas cartas-respostas, temos a do Pe. Goes, em data de 26 de abril de 1977, cujo final aqui transcrevemos:

“O fato é que eu e você octogenários, já estamos caminhando para o fim de nossa peregrinação terrena: eu com as minhas mãos vazias, enquanto você, com um peso de méritos, adquiridos para o céu. Oremos ad invicem.”

 

CONTRIBUIÇÃO: João Lorena ( 1927 ), professor e líder paroquial e amigo do Pe. Aderígi.
Rua Major Bonifácio, 43 * 37.775-000 Santa Rita de Caldas, MG

Profunda paz interior no olhar do Pe. Alderígi

(Trecho da carta de Dom Delfim)

1977

( … ) Contemplando a sua fisionomia serena, o seu olhar que irradia a profunda paz interior que o Senhor sempre soube tão bem cultivar e o sorriso que enche de encantadora vida o seu venerado rosto, eu fico a pensar nas virtudes que lhe exornam o coração, no grande bem que o Senhor vem fazendo ao longo de seu abençoado sacerdócio, tão rico de merecimentos para Deus. E mais do que tudo isso, eu sinto que a força de seu exemplo me convida a continuar colocando em prática os seus sábios conselhos, a fim de que eu possa chegar à perfeição espiritual.

( … )

Com fraterno abraço, sou o seu servo e irmão em Jesus Cristo.

+ Dom Delfim

 

CONTRIBUIÇÃO: + Dom Delfim. O original desta carta ao Pe. Alderígi, se encontra, com João Lorena ( 1927 ) professor. * Pça. Frei Orlando, 130 # Fone: (032) 371-1060 – C.P. 102 * 36.300 – São João Del Rei, MG
João Lorena. * Rua Major Bonifácio, 43 * 37.775-000 – Santa Rita de Caldas, MG

Pe. Alderígi, cura D"Ars de santa Rita de Caldas (1977)

( Trecho do comunicado do Côn . Luiz Gonzaga Ribeiro )

( … ) A missa do Pe. Alderígi era como se fosse a primeira…era como se fosse a última, edificante, piedosa.

( …) Recebi, com atraso involuntário, convite para celebrar seu paroquiato de 50 longos e fecundos anos, que está emoldurado de uma glória ímpar que ninguém arrebata: Foi o Cura D”Ars de Santa Rita de Caldas!

 

CONTRIBUIÇÃO: Cônego Luiz Gonzaga Ribeiro. Copiado da Semana Religiosa, órgão oficial da Arquidiocese de Pouso Alegre, em 21.10.77. * Cx. Postal 511 * 86.60″marRolândia, PR

Arcebispo de pouso alegre louva o senhor pela vida Pe. Alderígi (18/9/1.977)

Trecho da carta de D. José D”Ângelo Netto

Estarei acompanhando com minhas orações este dia tão importante para a sua vida e para a nossa arquidiocese que tanto o estima e tem no Senhor um sacerdote que a enriquece com suas virtudes.

Vamos agradecer as graças que Sua liberalidade divina lhe concedeu neste anos, enchendo-lhe a vida de méritos, consolações e alegrias.

 

CONTRIBUIÇÃO: Esta carta foi enviada ao Pe. Alderígi, por ocasião de seu aniversário de ordenação sacerdotal, por D. José D”Ângelo Netto ( 1917 ), Arcebispo de Pouso Alegre, em 18.09.77

Cópia completa desta carta se encontra nos arquivos de Frei Felipinho Gabriel Alves, O . F. M. ( 1932), ex-coroinha do Pe. Alderígi. Cx. Postal 900 * 01095-970 – São Paulo, SP

Santa Rita de Caldas perde o pai dos pobres (04/10/1977)

Crônica de Antônio Siqueira de Carvalho

Com a morte de Pe. Alderígi, ocorrida ontem, 03/10/77, em nossa cidade, perdeu Santa Rita de Caldas um verdadeiro santo, um moderno São Vicente de Paula, que aqui passou, semeando o bem, durante os 50 anos de paroquiato em nossa cidade. Esse santo sacerdote foi a caridade personificada. Inato no seu coração foi o amor à pobreza, o qual fazia dele verdadeiro “Pai dos Pobres”. Nunca vi homem tão caridoso e tão humilde como esse padre, cuja vida foi um hino de amor ao próximo, cuja alma foi um apostolado de caridade. O seu nome será sempre lembrado com carinho e gratidão por todos os santarritenses. Paz à sua alma!

Santa Rita de Caldas, 04/10/77

Antônio Siqueira de Carvalho.

Vida de recolhimento do Pe. Alderígi e suas obras sociais (05/10/1977)

(05/10/1977)

TRECHO DUM ARTIGO DO JORNAL DA MANTIQUEIRA

“Sendo fiel aos seus votos de pobreza, obediência e castidade, Mons. Alderígi vivia sempre no recolhimento, meditação, orações e bons exemplos. Incrementou largamente as obras de caridade, tendo fundado, na sua paróquia, o ambulatório, o hospital, a gota do leite, e principiou as obras do asilo para os velhinhos, que serão terminadas pelo povo e doadores.”

 

CONTRIBUIÇÃO: Jornal da Mantiqueira, de 05/10/77, n° 573 * 37.700 – Poços de Caldas, MG

Arcebispo entrega Pe. Alderígi para Deus (09/10/1977)

I PARTE – APRESENTAÇÃO DO ARCEBISPO

Entregamos a Deus, no dia 03 de outubro, às 23h e 30m, o presente que ele dera à humanidade no dia 13 de novembro de 1895 e à esta sua igreja que está em Pouso Alegre, como sacerdote, no dia 18 de setembro de 1920 – MONS. ALDERÍGI MARIA TORRIANI.

Entregamos-lhe porque nos pedira, porque mais do que ninguém tinha direito sobre ele, porque lhe pertencia mais do que a nós. De outro modo, gostaríamos de tê-lo sempre presente entre nós, para continuar a ver nele, em sua bondade de Deus Pai, que através dele sempre nos convidou também à bondade, à simplicidade, à santidade. Depois de 57 anos de sacerdócio, 50 de pároco de Santa Rita de Caldas, vividos plenamente para Deus e para seu povo, deixando-nos um exemplo admirável de vida sacerdotal, partiu para a morada definitiva para continuar, agora na contemplação beatífica, o que tão bem soube fazer na terra, no meio de seus ingentes trabalhos paroquiais, rezar, rezar, rezar.

Esta breve notícia que queremos dar nestas linhas, escritas às pressas, é uma pequena homenagem que lhe prestamos neste momento em que choramos sua partida. É, também, uma pálida lembrança do que foi a rica personalidade deste sacerdote, que não tinha apenas uma semelhança física com o Papa João XXIII, mas se parecia muito com ele pela simplicidade, pela bondade, por aquele sorriso fascinante que fazia tantos admiradores, tantos amigos. Dele eu disse o que já dissera de seu colega de ordenação – Monsenhor Joaquim Noronha – quando de sua morte. Sempre quis ser sacerdote e não quis ser outra coisa senão sacerdote, e o foi de modo admirável, como deve ser um santo sacerdote, inteiramente consagrado a Deus e ao serviço de seus irmãos e à salvação da humanidade.

E assim foi um VERDADEIRO HOMEM DE DEUS:

CONTRIBUIÇÃO: + Dom José D”Ângelo Neto (1917), Arcebispo de Pouso Alegre, comunicando ao povo a morte de Pe. Alderígi Maria Torriani. (1ª Parte. Cópia da Semana Religiosa, órgão oficial da Arquidiocese, de 09/10/77.) * Pça D. Otávio, 271 – Fone: (035) 421-1266 * Caixa Postal 12237.550-000 – Pouso Alegre, MG

Pe. Alderígi, homem de oração e homem de igreja (09/10/1977)

II PARTE – APRESENTAÇÃO DO ARCEBISPO

Sua vida foi inteiramente devotada a Ele. Em todos os seus atos, os mais simples, procurou sempre conhecer a vontade do Pai. Basta lembrar, aqui, que foi sempre UM HOMEM DE ORAÇÃO. Pode-se dizer, sem exagero, que chegou a cumprir literalmente o que Jesus recomendou: “É preciso rezar sempre e nunca deixar de rezar” (Lc 18, 1).

Adquiriu o hábito da oração, daquela oração que São Gregório de Nyssa definiu “conversatio sermocinatioque cum Deo est”, pois sentia-se que vivia sempre na presença de Deus, com quem espontaneamente falava em fervorosas jaculatórias. Tinha sempre seu terço nas mãos, principalmente agora que tinha de permanecer longas horas na sua cadeira ou no seu leito. A obediência que prestava a seu Deus era verdadeiramente extraordinária, a julgar pela obediência filial e até escrupulosa que prestava a seu Bispo.

Foi um HOMEM DA IGREJA.

Para não alongar, lembraria apenas a preocupação que tinha por conhecer todas as determinações do Magistério e prescrições diocesanas. O esforço que fazia para adaptar às necessidades pastorais de hoje, para conhecer o espírito e as orientações do Concílio Vaticano II. Sua participação nos diversos encontros promovidos para a atualização do clero. A aceitação de todos os movimentos que surgiram nestes últimos tempos e que ele fazia questão de levar logo a seus paroquianos, ainda que pudesse sentir dificuldades em acompanhá-los. Superava estas dificuldades de um modo admirável e edificante para os sacerdotes mais jovens.

 

CONTRIBUIÇÃO: + Dom José D”Ângelo Neto (1917), Arcebispo de Pouso Alegre, comunicando ao povo a morte de Pe. Alderígi Maria Torriani. (2ª Parte. Cópia da Semana Religiosa, Jornal de Pouso Alegre, MG de 09/10/77.) * Pça D. Otávio, 271 – Fone: (035) 421-1266 * Caixa Postal 12237.550-000 – Pouso Alegre, MG

Pe. Alderígi, homem dos pobres e dos pecadores (09/10/1977)

III PARTE – APRESENTAÇÃO DO ARCEBISPO

Foi um HOMEM POBRE E DOS POBRES.

Nada possuía na vida. Ele mesmo dizia, em sua última enfermidade, sem perceber que proclamava uma grande virtude, pois falava mais para ressaltar a bondade de Deus e dos outros. “Tive sempre minhas mãos abertas para todos, dizia, nada retendo para mim, e agora Deus e os homens abriram suas mãos para mim com tal generosidade, que nada me falta e tenho o que nunca tive na vida. Estou muito rico”, fazendo alusão a uma pequena quantia que lhe sobrou nas mãos, dos proventos da aposentadoria de velho. Tinha uma alegria e um prazer imenso em dar aos que nada tinham, aos que batiam à sua porta pedindo pão, remédio, roupa. Foi mesmo muito explorado por causa de sua bondade. O importante, porém, é ressaltar aqui que sua amizade aos pobres foi uma conseqüência de seu amor a Deus, a Cristo, que ele sempre viu em cada um que se encontrou com ele, em qualquer circunstância. Por isso, era impressionante o respeito que tinha pela fama dos outros. Nunca falava de alguém. Tinha mesmo o costume de fazer esta recomendação aos que o procuravam para receber bênçãos: Não fale mal dos outros.

Foi HOMEM DO CONFESSIONÁRIO. Verdadeiro Cura D”Ars, passava horas intermináveis em atender seus paroquianos e os numerosos romeiros de seu santuário. Chegava a não tomar a refeição para que pudesse ficar à disposição dos penitentes. Substituía, freqüentemente, seu almoço, por uma fruta e um pedaço de queijo, que comia ali mesmo, no confessionário, para que o tempo não escasseasse para o ministério. Homem carismático, procurado insistentemente para dar bênçãos, exigia antes da bênção a confissão.

Agora, no hospital, aflorava de seu subconsciente esta preocupação com o ministério de confessar e a muitos que o visitavam perguntava: “Já fez sua Páscoa? Já se confessou?” Aconteceu, por isso, um fato pitoresco, em um dia em que estava sonolento, sob efeito de medicamento. Estava com ele, para uma visita amiga, seu velho professor, Pe. Marino, de 92 anos de idade, que, assentando-se ao seu lado, foi surpreendido com a mesma pergunta: “O Senhor já fez sua Páscoa? Precisa se confessar.” Ele mesmo, o grande confessor, foi sempre um assíduo e humilde penitente. Disse-me o Pe. Braz, o jovem sacerdote que lhe sucedeu na paróquia, que cada oito dias se confessava.

Esta sua humildade não era só diante de seu Deus. Costumava, anualmente, escrever-me no fim de dezembro e assim fazia ao Chanceler do Arcebispo, para agradecer os favores que julgava ter recebido da gente, e acrescentava, invariavelmente, em suas cartas a mim, que lhe perdoasse todas as faltas que pudesse ter tido durante aquele ano, em seu relacionamento com o Bispo.

CONTRIBUIÇÃO: + Dom José D”Ângelo Neto (1917), Arcebispo de Pouso Alegre. Cópia da “Semana Religiosa”, Jornal de Pouso Alegre, de 09/10/77
Pça D. Otávio, 271 – Fone: (035) 421-1266 * Caixa Postal 122 * 37.775-000 – Pouso Alegre, MG

Estamos diante de um santo (09/10/1977)

IV PARTE – APRESENTAÇÃO DO ARCEBISPO

Não comporta, nesta rápida notícia, um perfeito necrológio. Eu quero apenas registrar no momento nossa grande tristeza pela sua morte (do Pe. Alderígi), e nossa imensa gratidão pelo que ele foi para nossa arquidiocese, para nosso clero, e particularmente, para mim. Não o esqueceremos. Sabemos que o perdemos aqui para ganhá-lo como intercessor junto a Deus. Sua vida foi coroada por uma morte santa. Quis Deus enriquecê-lo de méritos numa longa e dolorosa enfermidade, que ele mesmo desejou e chegou mesmo pedir para que se assemelhasse mais a Cristo Sacerdote.

Durante estes últimos dias, quando suas dores transpareciam nas contrações da face, dizia que não tinha dores e, sem se queixar nem uma vez sequer, rezava e nos pedia que rezássemos para que não perdesse a paz do espírito.

Deus, que sempre foi de uma prodigalidade imensa para com seu servo, quis lhe satisfazer delicadamente a seu desejo. Repentinamente lhe concedeu tal melhora em seu estado, que o médico lhe concedeu alta e permitiu sua volta para sua querida e pobre casa paroquial. Saudou a notícia batendo palmas e festejou seu regresso com os amigos, que logo acorreram à sua casa, na tarde de segunda-feira. Jantou bem, tomou meio copo de cerveja. Às 22:00hs aceitou um pedaço de fruta que lhe ofereceram. E assim, às 23:30hs, tranqüila, serenamente, como sempre foi sua vida, cercado do carinho e das lágrimas dos seus filhos espirituais, partiu definitivamente para a casa do Pai.

Seu sepultamento, no dia 4, depois da celebração eucarística, da qual participaram conosco 40 sacerdotes, foi uma verdadeira consagração de um santo. Presentes 90 padres, muitas religiosas – muitos destes e destas foram frutos de seu sacerdócio – nossos seminaristas, uma multidão de mais de 10 mil pessoas, levado aos ombros pelo povo que ele tanto amou e serviu, foi nosso saudoso Monsenhor Alderígi sepultado na capela do cemitério paroquial de Santa Rita de Caldas. Um impressionante e piedoso silêncio acompanhou todas as cerimônias, exprimindo de um modo extraordinário aquele sentimento que estava dentro de cada um de nós – estamos diante de um santo.

Deus o tenha nos céus, como nosso intercessor, e nos dê novos presentes como ESTE que ELE nos deu há 82 anos para o mundo ficar melhor e fê-lo seu sacerdote, para a igreja cumprir melhor sua missão.

Nós vô-lo entregamos porque vós nô-lo pedistes: porque ele era mais vosso do que nosso. E porque vô-lo damos, pedindo que nos deis muitos outros sacerdotes como ele.

José D”Ângelo Neto – Arcebispo de Pouso Alegre.

Pouso Alegre, 05 de outubro de 1977

CONTRIBUIÇÃO: + Dom José D”Ângelo Neto (1917), Arcebispo de Pouso Alegre. Comunicado sobre a morte de Pe. Alderígi Maria Torriani. Cópia da “Semana Religiosa”, Jornal de Pouso Alegre, de 1977
Pça D. Otávio, 271 – Fone: (035) 421-1266 * Caixa Postal 122 * 37.775-000 – Pouso Alegre, MG

Pe. Alderígi homem que confortava

Crônica de Elisabeth Martins Lúcio Marcelino

Os anos em que convivi com o Tio Padre – assim sempre chamei o irmão de minha mãe, o Pe. Alderígi – foi o período mais difícil de minha vida. Não me encontrava e os atritos com minha mãe, minha irmã e minha família me apertavam a alma, o coração, tudo. E nesta época, o Tio Padre era a única pessoa que me entendia. A ele eu podia falar, desabafar sem medo, sem censura.

Ele era meu anjo da guarda. Era? Era e é. Antes de morrer, eu lhe tinha acesso direto e físico. Agora, mais que direto. É pleno.

Era um homem que, o que tinha em altura e peso, sobrava em bondade e compreensão. Era econômico em palavras e o que falava tinha um sentido parabólico, na gostosura de belas histórias e cada história brotava encharcada de lição de vida.

Era um enviado por Deus com a imensa capacidade de confortar as pessoas nos momentos difíceis.

Ainda o tenho em meu coração continuamente. Ouço sua voz. Sinto a força espiritual dele dentro de mim. É presença de cada momento.

CONTRIBUIÇÃO: Elisabeth Martins Lúcio Marcelino (Beth – 1952), professora, industrial e sobrinha do Pe. Alderígi. Entrevista em 02/10/87.
Pça. São João Batista, 549 * Fone: (035) 534-1133 * – Itamogi, MG

Manifesto

Mons. Alderígi Maria Torriani, o Gigante com olhos de criança, eu o conheci. Tive o privilégio de vê-lo de perto e admirar sua simplicidade e sua grandeza, sentir sua presença humana, sempre irradiando as coisas que vêem de Deus. Através dele, Deus nos amava, ensinava, encorajava e acolhia. Embora já tenha partido, Deus continua nos abençoando através dele.

(ass) José Cunha de Lima Vaz

Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro

(Nota: Este manifesto foi feito por D. José Cunha de Lima Vaz, em Santa Rita do Sapucaí (MG), em 1992. Ele figura no livro inédito e in folio A FACE DE DEUS EM FORMA HUMANA NAS MONTANHAS DE MINAS GERAIS, a página 132. O texto original se encontra no arquivo de Fr. Felipe Gabriel Alves)

Santidade do Pe. Alderígi (25/03/1987)

Crônica do Pe. Vítor Coelho de Almeida, CSSR

… Não terei pernoitado em Santa Rita de Caldas mais de três noites. Notei, no entanto, que Pe. Alderígi sumia na sacristia, confessionário e deveres pastorais durante o dia todo.(…) Pude constatar pessoalmente a pobreza, humildade e serena alegria da sua personalidade. Tudo ali condizia com a fama de sua santidade.

 

CONTRIBUIÇÃO: (+) Pe. Vítor Coelho de Almeida (86 anos), radialista e homem de grande virtude, através de carta, em 25/03/87. Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida
Pça. Nossa Senhora Aparecida, 273 * Fone: (0125) 36-1031 * 12.570 – Aparecida, SP

Pe. Alderígi homem mais certo depois de Jesus (07/08/1987)

Crônica de Cláudia Valquíria do Couto

Pe. Alderígi era o homem mais certo que já existiu, depois de Jesus. Tinha bom gênio e de caráter ninguém melhor que ele. Gostava muito de ajudar os pobres e como exemplo disto aí está o asilo para os idosos, feito para os mais pobres, para os necessitados. Por isso que ele nunca teve nada.

CONTRIBUIÇÃO: Pacífico Gabriel da Silva (59 anos), agricultor. Entrevista por escrito em 07/08/87 de Cláudia Valquíria do Couto (13 anos), estudante da 7a. série e crocheteira.
Endereço dos dois: Bairro da Chapada * 37.775-000 – Santa Rita de Caldas, MG

Pe. Alderígi homem de oração

Trecho de uma carta do Padre Geraldo Camilo de Carvalho

Para mim, o milagre da santidade do Pe. Alderígi está no seu grande amor a Cristo e aos irmãos, numa FIDELIDADE INDISCUTÍVEL DO DIA A DIA.

Donde lhe vinha essa graça da fidelidade e perseverança diária? Sem dúvida Deus lhe dava em resposta ao EXTRAORDINÁRIO ESPÍRITO DE ORAÇÃO deste grande rezador que foi o Pe. Alderígi. Falava mais com Deus do que com os homens. Era um verdadeiro Moisés de braços erguidos, para o céu.

Várias gerações desfrutaram da santidade deste homem de Deus, em Santa Rita de Caldas e vizinhanças. Se estivesse nos planos de Deus a canonização desse homem, todos nós choraríamos de alegria.

Estive no enterro dele, juntamente com o Pe. Vítor, seu íntimo amigo, e com o Pe. Albertini. Fiquei impressionado. Todas as cidades vizinhas estavam ali. Todos queriam se expressar, dando-lhe o último adeus. Todos queriam beijá-lo, ele que morreu beijando o seu velho crucifixo.

O povo o CANONIZOU, como as antigas comunidades veneravam os seus santos. Basta isso.

 

CONTRIBUIÇÃO: Por escrito, em 15/05/87, de Padre Geraldo Camilo de Carvalho (1930) redentorista santarritense e ex-missionário na África.
Av. Osório, 172 – CX. P. 85 – Fone: (016) 236-6638 * 14.801-308 – Araraquara, SP

Pe. Alderígi, uma das bem-aventuradas crianças de cristo (23/02/1987)

CARTA DE DOM OSCAR DE OLIVEIRA

(…) Padre Alderígi, a quem pedi à Santa Sé o título de Monsenhor, desejando com isto homenageá-lo publicamente, foi realmente um ” Homo Dei”! Sentia eu, em o vendo, aquela palavra do Divino Mestre: “SE NÃO VOS TORNARDES COMO CRIANÇAS, NÃO ENTRAREIS NO REINO DO CÉU.”

Era ele pároco de Santa Rita de Caldas, Arquidiocese de Pouso Alegre, onde trabalhei como Bispo Auxiliar e depois Coadjutor c.j.s., por cinco anos. Fui por vezes a Santa Rita de Caldas e lá pude apreciar a BELEZA D”ALMA DAQUELE SACERDOTE, VERDADEIRA CÓPIA ESPIRITUAL DE SÃO JOÃO VIANNEY. Puríssimo, angélico, pleno de caridade para com todos, mormente para com sacerdotes, Mons. Alderígi é grande honra do Clero Pouso-Alegrense e glória de Cristo, que ele amou com todas as veras.

Manso e humilde de coração, firme na defesa da fé e dos costumes cristãos, abnegadíssimo, RICO DE TOTAL POBREZA, dedicadíssimo ao sagrado ministério, Mons. Alderígi jamais será deslembrado de todos os que ele beneficiou, de todos os que se edificavam com suas leais virtudes evangélicas e sacerdotais, entre os quais este que lhe faz estas breves referências. Magnífico modelo dos sacerdotes, Pai caridoso – mais firme – de todos os seus paroquianos, este santo, creio, SUBIU DIRETO PARA A GLÓRIA DO PAI! Viva Mons. Alderígi! Ele entrou no Reino do Céu por viver, real e totalmente a palavra de Cristo: “SE NÃO VOS TORNARDES COMO CRIANÇAS, NÃO ENTRAREIS NO REINO DO CÉU.” Mons. Alderígi, fora, pois, uma dessas bem-aventuradas crianças de Cristo Senhor.

 

CONTRIBUIÇÃO: + Dom Oscar de Oliveira (1912), Arcebispo de Mariana e Bispo de Pouso Alegre, no tempo de Mons. Alderígi. As suas palavras foram tiradas da carta escrita a Frei Felipinho Gabriel Alves, em 23/02/87. * Cúria Metropolitana * Rua Direita, 102 – Fone: 270 e 396 – Caixa Postal: 13 35.420 – Mariana, MG

Pe. Alderígi, intercessor no céu (18/05/1988)

Discurso do Prof. João Lorena, no lançamento do livro:

Pe. Alderígi, o Santo Brasileiro que Transmite Coragem e Alegria

Desígnios do Senhor infalíveis. Estava previsto desde toda a eternidade, 03 de outubro, Pe. Alderígi foi entregue a Deus.

Frei Felipinho perguntou-me se tinha eu o discurso pronunciado por mim no enterro desse nosso vigário. Infelizmente não tenho guardado. Sei que depois de ter falado o Dr. Dalmo, eu pedi a palavra:

“Chorem, chorem, amigos! Chorem, parentes!” Errei. Devia ter falado: “Deixem a alegria transparecer em seus semblantes, pois o Pe. Alderígi não morreu, mas foi para a vida. Nós que choramos sua morte tê-lo-emos no céu como intercessor!”

Fizemos uma promessa de orar o terço todos os dias 3 de cada mês. Íamos 10, 50, não sei quantas pessoas. Rezar pela alma dele? Acho que não. Pedir pela alma dele? Duvido um pouco. Vamos lá para tê-lo como intercessor nosso.

Hoje estamos reunidos para fazer uma comemoração ao Pe. Alderígi, para dar-lhe glória? Acho que não.

Um dia fomos pescar em Itutinga e chegamos até São João Del Rei. Na cidade histórica, uma criança serviu-nos de cicerone. Paramos numa praça. “Onde a casa do Bispo?” perguntei ao pequeno. Ele respondeu: “Aqui”. Fomos visitá-lo. Veio Dom Delfim, trêmulo, cabeça branca. Durante a conversa, ele nos contou: “Recebi a foto do Pe. Alderígi, pedindo-me prece porque já previa ele sua morte. Vocês já começaram a fazer um trabalho para sua beatificação?” Diante de minha resposta negativa, o Sr. Bispo continuou: “Façam, sim, porque ele é um santo. Ele me pedia oração, mas é ele quem deve rezar por nós””.

Frei Felipinho, de nossa terra, escreveu o livro: “Pe. Alderígi, o santo brasileiro que transmite coragem e alegria”. Para nós que vimos as dores que o padre sofreu, sabemos que sua coragem era violenta. Ele transmite coragem e alegria. Nos dias em que o Brasil jogava nas copas mundiais de futebol, Pe. Alderígi hasteava a bandeira brasileira, junto à janela de sua casa, coisa que nem o banco, nem as casas comerciais faziam. Dava gargalhadas quando via coisas bonitas.

Como Dom Delfim nos pediu, nós vamos começar o processo de beatificação. Há milagres comprovados pela ciência, operados pelo Pe. Alderígi. Hoje é esse livro. Hoje é dia de satisfação e alegria. Desta data vai sair o nosso propósito de levarmos adiante esse processo. Um dia será o Pe. Alderígi beatificado pelo Santo Padre, o Papa.

 

CONTRIBUIÇÃO: Frei Felipinho Gabriel Alves (1932), pregador e antigo coroinha do Pe. .Alderígi. tomou nota deste discurso, na hora, no dia 18/05/88.
Convento São Francisco – Largo São Francisco, 133 * Fone: (011) 3106-0081 – O1005-010 – São Paulo, SP
João Lorena (1927), líder paroquial e amigo do Pe. Alderígi. * Rua: Major Bonifácio, 43
37.775-000 – Santa Rita de Caldas, MG

Por que iniciar o processo de beatificação do Pe, Alderígi (13/9/1987)

Crônica de Dom Antônio Teixeira de Macedo

Mons. Alderígi era um homem santo. Tinha muitos motivos para dizer, há tempos, que começassem seu processo de canonização, logo após a sua morte, principalmente por ser um homem de fé. De verdade, ele soube viver para sua fé até o último momento de sua vida. Creio mesmo que este santo sacerdote pode ser canonizado.

Ele vinha a Aparecida muitas vezes. Como era devoto de Nossa Senhora! Passava o dia inteiro dentro da Basílica, apenas saindo para o almoço e janta. Além de piedoso, era homem apostolicamente extraordinário.

Por tudo isso, era sempre um prazer para mim me encontrar com ele.

 

CONTRIBUIÇÃO: (+) D. Antônio Teixeira de Macedo (1902), ex-arcebispo de Aparecida. Entrevista em 13.09.87 * Pça. Nossa Senhora Aparecida, 273 # Fone: ( 0125 ) 36-1031
12.570 – Aparecida, MG

Centenário do Pe. Alderígi faixas nas ruas de Santa Rita de Caldas (1995)

100 ANOS MONS. ALDERÍGI – AGRADECEMOS A DEUS NÔ-LO TER DADO
– Obra assistencial Mons. Alderígi

MONS. ALDERÍGI ERA UM SANTO, UM HOMEM DE FÉ (D. Antônio Macedo)
– Comerciantes do Centro.

ONTEM PADRE ALDERÍGI – HOJE UM SANTO
– Fábrica de Santa Rita

O EXEMPLO DE VIDA DE MONS. ALDERÍGI DEVE GERAR SEMENTES DE AMOR EM NOSSO MEIO
– Casa de Carros Lopes

MONS. ALDERÍGI, EXEMPLO DE UM SANTO DO SÉCULO XX, ABERTO AO SOPRO DO ESPÍRITO (D. José A. Ribeiro)
– Com. Pç Pe. Alderígi

MONS. ALDERÍGI, TESTEMUNHO DE AMOR DO PAI PARA CONOSCO. NO CÉU ELE VELA POR NÓS

SANTA RITA ACOLHE DE BRAÇOS ABERTOS OS VISITANTES PARA OS 100 ANOS DE MONS. ALDERÍGI

TINHA MONS. ALDERÍGI UMA ALEGRIA E PRAZER IMENSO EM DAR AOS QUE NADA TINHAM (D. José)
– Barraca do Bilde Mader Pisos

NO CENTENÁRIO DE MONS. ALDERÍGI NOSSO AMOR, NOSSO CARINHO E BOAS VINDAS A TODOS
– Com. Vila Nova

Centenário de nascimento do santo Monsenhor Alderígi (1995)

Assunto: Material exposto no Memorial do Pe. Alderígi, organizado por ocasião de seu centenário de nascimento (1995), em Santa Rita de Caldas.

TRABALHOS ESCOLARES FEITOS POR CRIANÇAS

DO PRÉ À QUARTA SÉRIE

1) Monsenhor Alderígi

Era uma vez:

Monsenhor Alderígi

era um homem

muito pobre.

Alderígi fazia

muitos milagres.

Ele lia também

as histórias do Tio

Patinhas, gostava de

trocar figurinhas.

Ele gostava de todo o mundo

… Depois ele morreu,

virou santo e viveu

feliz para sempre.

2) Mons. Alderígi

Mons. Alderígi em

Jacutinga nasceu

E em Santa Rita faleceu.

“O terço estava sempre em suas mãos”.

3) Mons. Alderígi

“Padre Alderígi

foi um santo para

quem o tempo

se torna sempre presente.

Ele, como bom pescador de almas,

passou por aqui, deixando

bem presente suas pegadas pelo caminho da santidade”

4) Mons. Alderígi

Mons. Alderígi, estrela que brilha,

e brilhará sempre em nossas vidas.

Adorava leitoa assada

e torcia pelo Flamengo.

Homem de humildade, bondoso.

5) ABC de Mons. Alderígi

A – Amor

B – Bondade

C – Caridade

D – Dignidade

E – Entrega

F – Felicidade

G- Generosidade

H – Humildade

I – Igualdade

J – Juventude

L – Lealdade

M – Maria

N- Naturalidade

O – Oração

P – Proteção

Q – Quietude

R – Reza

S – Santa Rita

T – Ternura

U – União

V – Vida

X – Xodó

Z – Zelo

Centenário de nascimento do santo Monsenhor Alderígi (1995)

Cartazes expostos no Memorial do Pe. Alderígi, no dia 13 de nov/1995, em Santa Rita de Caldas – Celebração do 1º Centenário de seu nascimento.

 

Trabalho de Cristiane, 3ª série; Prof: Doca; Escola Estadual Governador Valadares:

Numa paróquia,

no dia 03 de outubro de 1977,

os sinos repicaram de tristeza,

as flores perderam o perfume,

o sol já não era tão belo,

porque a mais linda rosa de todo o jardim havia morrido.

*

 

Cartaz de Ildeu, Pré II; Prof.. Luci:

Um cometa trazendo a foto do Pe. Alderígi em seu centro, rodeado com 22 estrelas, com o nome de 22 crianças. Uma simples frase resumia tudo: “Me ensinaram a gostar de você”.

*

Cartaz da 8ª série B – Noturno:

 

Alderígi Maria, o terço foi sua arma:

Salve Rainha! Salve Alderígi!

1º Mistério – Contemplemos a glória de suas mãos ungidas para perdoar e curar. Mons. Alderígi, rogai por nós!

2º Mistério: Contemplemos a glória de sua devoção à Virgem Maria, sua mãe, assim na terra como no céu. Mons. Alderígi, rogai por nós!

3º Mistério: Contemplemos a glória de sua humildade, cheia de sabedoria. Dai-nos a graça de o imitarmos. Mons. Alderígi, rogai por nós!

4º Mistério: Contemplemos a glória do seu amor aos pobres; semente plantada e frutificada. Mons. Alderígi, rogai por nós!

5º Mistério: Contemplemos a glória de seus cem anos. Nascido para não morrer. Viveu o ontem, o hoje e preparou o nosso amanhã. Mons. Alderígi, rogai por nós!

Mons. Alderígi, exemplo de humildade e santidade.

Fotos do Pe. Alderígi


Pe. Alderígi, mais ou menos em 1970


Pe. Alderígi, mais ou menos em 1940


Pe. Alderígi, mais ou menos em 1950.


Pe. Alderígi, abençoando um casamento em 1960


Pe. Alderígi usando barrete, mais ou menos em 1940.

 


Pe. Alderígi em mais ou menos 1960. Essa foto ele a escolheu para enviar a seus amigos padres e bispos, para colocarem no breviário e orassem por ele, depois de sua morte, sempre que a vissem.


Pe. Alderígi, com alva e estola, mais ou menos em 1970.


Foto do Pe. Alderígi, tirada para passaporte de sua única viagem a Europa, em 1971.


Pe. Alderígi, rindo, com o Pe. Sebastião Dal Poggetto, em 1960.


Pe. Alderígi, em seu aniversário, usando o seu chapéu tão característico em 1960.


Pe. Alderígi, em seu 73º aniversário em 1968.


Pe. Alderígi entre bandeiras.


Pe. Alderígi com o líder político da cidade, João Batista Filho (Batistinha), no centro, em mais ou menos 1930.


Pe. Alderígi, já alquebrado, oficiando assentado, em mais ou menos 1975.


Bodas de Ouro do Pe. Alderígi, em 1970, com muita alegria e fartura. À sua direita se encontra o novo vigário de Santa Rita de Caldas, Pe. Braz.


Missa concelebrada nas bodas de ouro, em 1970, do Pe. Alderígi, ele sorrindo.

 


Missa das bodas de ouro, na hora do evangelho.


Missa das bodas de ouro.


Nas Bodas de ouro do Pe. Alderígi, ele é homenageado no salão.


Busto, em bronze, do Pe. Alderígi, de 1970, colocado em frente à matriz, na praça principal de Santa Rita de Caldas.


O mesmo busto do Pe. Alderígi, visto mais de perto.


Pe. Alderígi, abençoando carro, em frente à casa paroquial.


Casa Paroquial, atrás da palmeira.

 


Jubileu de ouro do Pe. Alderígi, celebrando no salão da juventude, em 1970.


Pe. Alderígi celebrando casamento, mais ou menos em 1970.

 


Pe. Alderígi, totalmente alquebrado, em sua última doença, com Dr. César de Carvalho. Foto triste, mas, de grande valor humano e histórico.


Pe. Alderígi, totalmente alquebrado, em sua última doença, com Dr. César de Carvalho. Foto triste, mas, de grande valor humano e histórico.


A mesma apreciação


A mesma apreciação


A mesma apreciação


Santuário de Santa Rita, em Santa Rita de Caldas, onde o Pe. Alderígi serviu como pároco, por 50 anos.


Idem


Idem


Pe. Alderígi, já usando bengala, devido a artrite e eisipela, em mais ou menos 1965.


Pe. Alderígi entre amigos, mais ou menos em1950.


Frei José é atualmente bispo de Borba (AM) mais ou menos em 1960.


Pe. Alderígi com formandos.


Pe. Alderígi recebendo em Santa Rita a visita da verdadeira imagem de Nossa Senhora, mais ou menos em 1970.


Pe. Alderígi com amigos, mais ou menos em 1926.


Pe. Sebastião foi o seu coadjutor na paróquia de Santa Rita. Foto mais ou menos de 1965.


Dom José D Ângelo Netto era o arcebispo de Pouso Alegre. Foto mais ou menos de 1970.


Enterro do Pe. Alderígi, em 4 de Outubro de 1977.


Missa Campal, com corpo presente do Pe. Alderígi.


Povo presente à missa de corpo presente.


Povo presente à missa de corpo presente.


Povo no cemitério, no enterro do Pe. Alderígi.


Pe. Alderígi, em seu caixão no dia 4/10/77.


Familiares do Pe. Alderígi, mais ou menos em 1965.


Festa de Santa Rita.


Em Romaria a Aparecida, em 1943. Sentada ao lado direito do Pe. Alderígi, se encontra Da. Zélia Martins, sua sacristã e governanta.


Pe. Alderígi impindo as mãos. Foto mais ou menos de 1970.

 


Irmã Celia.

 


Irmã do Pe. Alderígi, Da. Lalá, se encontra a seu lado. Deve ser dia de Festa importante, pois ele está usando os trajes de Monsenhor, em mais ou menos 1965.


Monsenhor


Linda Montagem do Pe. Alderígi e a sua Santa Rita.


Netos do Pe. Alderígi. Pedro Torriani.


Pe. Alderígi.


Pe. Alderígi, mais ou menos em 1965.

 


Pe. Alderígi, mais ou menos em 1970.


Pe. Alderígi, mais ou menos em 1970.


Pe. Alderígi.


Pe. Alderígi, num palanque de festa.

 


Jubileu do Pe. Alderígi, com seu colega de turma, Pe. Noronha, em desfile de carro, em 1970.


Pe. Alderígi.


Romeiros a cavalo.


Pe. Alderígi, lá por 1925.

 


Pe. Alderígi e sua veneração ao Sagrado Coração de Jesus, em procissão com a imagem em carro triunfal, lá por 1960.

 


Pe. Alderígi.

 


Festa com a imagem verdadeira de Nossa Senhora Aparecida, mais ou menos em 1965.


Festa com a imagem verdadeira de Nossa Senhora Aparecida, mais ou menos em 1965.


Festa com a imagem verdadeira de Nossa Senhora Aparecida, mais ou menos em 1965. Onde Pe. Alderígi usa trajes solenes do Monsenhor.


Festa com a imagem verdadeira de Nossa Senhora Aparecida, mais ou menos em 1965.


Pe. Alderígi

 


Festa com a imagem verdadeira de Nossa Senhora Aparecida, mais ou menos em 1965.


Festa com a imagem verdadeira de Nossa Senhora Aparecida, mais ou menos em 1965.


Padres noronha e Pe. Alderígi  recebendo governador, mais ou menos em 1970.


Pe. Alderígi, mais ou menos em 1975

 


Pioli, mais ou menos em 1940.

 


Primeira Comunhão, mais ou menos em 1975.


Pe. Alderígi entre as autoridades municipais, mais ou menos em 1950.


Linda Fotografia dando a 1ª Comunhão a seus sobrinhos.


Pe. Alderígi com o clero e o bispo de Pouso Alegre, Dom Otávio Chagas de Oliveira. Pe. Alderígi está em pé, logo atrás do sr. bispo, mais ou menos em 1940.

Fotos de Viagens do Pe. Alderígi

Fotos de Viagens do Pe. Alderígi


Pe. Alderígi, em 1971, parte para a Itália, numa excursão que ganhou de presente. Ele parte com o sobrinho Dr. José Asdrúbal do Amaral. Visitam Palermo, Roma e Cássia.


Pe. Alderígi chega a Itália.

 


Pe. Alderígi, Chorando de emoção junto de sua padroeira Santa Rita em Cássia.


Pe. Alderígi, em Cássia