A virtude do desapego

    Aa virtude do desapego é de suma importância na vida do cristão. Ela se opõe à avareza. Possuir as coisas é legítimo, pois são dons de Deus para a própria subsistência e ajuda ao próximo. O dinheiro e tudo mais que se possua devem servir e não serem servidos. São instrumentos e não os senhores. O mau uso dos bens é que se transforma num mal. A reta administração de tudo que Deus concede é louvável, mas a cupidez é um pecado condenado por Cristo. Este disse claramente: “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24). São Paulo então declarou claramente que “a avareza é uma idolatria” (Col 3,5). Quem pratica a virtude do desapego não é insensível aos males alheios e procura saná-los dentro de suas possiblidades, sobretudo auxiliando as Obras Sociais da Igreja que socorrem com discernimento aos mais necessitados, não sendo também omisso na ajuda ao próximo mais próximo que são os que vivem sob o mesmo teto. Quem vive em função do dinheiro está sempre inquieto e isto pode levar a grandes pecados condenados pelo sétimo mandamento da Lei de Deus. Este não admite nenhum dano ao próximo, por menor que seja este prejuízo, bem como condena um trabalho mal feito, infringindo o contrato estabelecido e o não pagamento do salário justo aos funcionários e operários. Não se pode, igualmente, emprestar dinheiro a outra pessoa exigindo juros exorbitantes. Neste rol entra também tomar as coisas emprestadas e não as devolver. Enfim, toda injustiça precisa ser cuidadosamente evitada. O desapego requer que se paguem rigorosamente em dia as dívidas, não extorquindo o que a outro pertence. Por tudo isto, se pode bem aquilatar que o dinheiro é bom servidor, mas um mau conselheiro, como diz um provérbio popular. No afã de se ter sempre mais, multiplicam-se os danos aos outros. É o querer exageradamente muito, não sabendo usufruir com sabedoria o que se tem. Segundo Santo Ambrósio, embora possuindo muitas coisas, quem não é desapegado se sente sempre pobre. Trata-se de uma verdadeira chaga que os teólogos chamam de “bulimia da alma”. Eis porque São Paulo na carta a Timóteo assegura que “a raiz de todos os males é o amor do dinheiro” (Tm 6,10). Nem se pode esquecer que um desejo imoderado de coisas materiais pode levar a uma carência afetiva doentia de se querer sempre todas as atenções para si mesmo. Não se trata de suprimir a fonte da afeição humana, mas esta deve ser transfigurada e purificada da febre emocional. Do contrário o cristão é levado a uma carência afetiva que gera uma série de problemas interiores. É preciso sempre procurar o equilíbrio na própria vida espiritual e afetiva, isto é, a conciliação do desapego absoluto em relação a tudo que não é de Deus e o cultivo sincero de tudo de bom que existe na humanidade. Todos os grandes santos viveram intensamente a virtude do desapego e deixaram exemplos práticos de como o praticar. Isto porque esta virtude é de suma importância para a vida de fé. É essencial a austeridade cristã numa sociedade que vive em função do consumismo e do triunfo a qualquer preço. O seguidor do Evangelho se desapega de si, de suas próprias maneiras de agir e de pensar o que o leva a acatar a sabedoria alheia e a abrir espaços para Deus dentro de si mesmo. Deus não pode ocupar um coração que não esteja vazio de si mesmo. Não se trata de se desprender do que Deus concede a cada um. Mister se faz, porém, se afastar das injunções meramente humanas. O coração desapegado atrai a Deus e este o conduz às riquezas espirituais muito mais valiosas do que as ilusões terrenas. Observe-se, entretanto, que o desapego não quer dizer não valorizar o que se tem ou o amor que se deve aos outros, mas exige o combate ao narcisismo, ao egocentrismo. Amar os outros de uma maneira inteiramente gratuita, tal como o outro é em sua estrutura, com seu perfil caracterológico, Não amar simplesmente para ser amado. Cultivar sempre um amor desinteressado que abranja todas as pessoas. Portanto, o desapego leva a apreciar todas as dádivas divinas, utilizando-as criteriosamente e a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo e isto desinteressadamente.

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