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terça-feira, 19 março, 2024.

Padre Cícero

Padre Cícero Romão Batista

Nascimento:24 de março de 1844

Morte: 20 de julho de 1934

Padre Cícero Romão Batista nasceu em Crato (Ceará) no dia 24 de março de 1844. Era filho de Joaquim Romão Batista e Joaquina Vicência Romana, conhecida como dona Quinô. Aos seis anos de idade, começou a estudar com o Prof. Rufino de Alcântara Montezuma. Um fato importante marcou a sua infância: o voto de castidade, feito aos 12 anos, influenciado pela leitura da vida de São Francisco de Sales.

Em 1860, foi matriculado no Colégio do renomado Padre Inácio de Sousa Rolim, em Cajazeiras – Paraíba. Aí pouco demorou, pois, a inesperada morte de seu pai, vítima de cólera-morbo, em 1862, o obrigou a interromper os estudos e voltar para junto da mãe e das irmãs solteiras.
A morte do pai, que era pequeno comerciante no Crato, trouxe sérios aperreios financeiros à família, de tal sorte que, mais tarde, em 1865, quando Cícero Romão Batista precisou ingressar no Seminário de Fortaleza, só o fez graças à ajuda de seu padrinho de crisma, o coronel Antônio Luiz Alves Pequeno.

Biografia

Padre Cícero Romão Batista

Nascimento:24 de março de 1844

Morte: 20 de julho de 1934

Biografia

Padre Cícero Romão Batista nasceu em Crato (Ceará) no dia 24 de março de 1844. Era filho de Joaquim Romão Batista e Joaquina Vicência Romana, conhecida como dona Quinô. Aos seis anos de idade, começou a estudar com o Prof. Rufino de Alcântara Montezuma. Um fato importante marcou a sua infância: o voto de castidade, feito aos 12 anos, influenciado pela leitura da vida de São Francisco de Sales.
Em 1860, foi matriculado no Colégio do renomado Padre Inácio de Sousa Rolim, em Cajazeiras – Paraíba. Aí pouco demorou, pois, a inesperada morte de seu pai, vítima de cólera-morbo, em 1862, o obrigou a interromper os estudos e voltar para junto da mãe e das irmãs solteiras.
A morte do pai, que era pequeno comerciante no Crato, trouxe sérios aperreios financeiros à família, de tal sorte que, mais tarde, em 1865, quando Cícero Romão Batista precisou ingressar no Seminário de Fortaleza, só o fez graças à ajuda de seu padrinho de crisma, o coronel Antônio Luiz Alves Pequeno.

ORDENAÇÃO

Padre Cícero foi ordenado no dia 30 de novembro de 1870. Após sua ordenação retomou ao Crato, e enquanto o bispo não lhe dava par para administrar, ficou do Latim no Colégio Padre Ibiapina, fundado e dirigido pelo Prof. José Joaquim Teles Marrocos, seu primo e grande amigo.

CHEGADA A JUAZEIRO

No Natal de 1871, convidado pelo Prof. Semeão Correia de Macêdo, Padre Cícero visitou pela primeira vez o povoado de Juazeiro (então pertencente a Crato), e aí celebrou a tradicional missa do galo.
O padre visitante, de 28 anos de idade, estatura baixa. pele branca, cabelos louros, olhos azuis penetrantes e voz modulada impressionou os habitantes do lugar. E a recíproca foi verdadeira. Por isso, decorridos alguns meses, exatamente no dia 11 de abril de 1872, lá estava, de volta, com bagagem e família, para fixar residência definitiva no Juazeiro.
Muitos livros afirmam que Padre Cícero resolveu fixar morada em Juazeiro devido a um sonho (ou visão) que teve, segundo o qual, certa vez, ao anoitecer de um dia exaustivo, após ter passado horas a fio a confessar as pessoas do arraial, ele procurou descansar no quarto contíguo à sala de aulas da escolinha, onde improvisaram seu alojamento, quando caiu no sono e a visão que mudaria seu destino se revelou. Ele viu, conforme relatou aos amigos íntimos, Jesus Cristo e os doze apóstolos sentados à mesa, numa disposição que lembra a última Ceia, de Leonardo da Vinci. De repente, adentra ao local uma multidão de pessoas carregando seus parcos pertences em pequenas trouxas, a exemplo dos retirantes nordestinos. Cristo, virando-se para os famintos, falou da sua decepção com a humanidade, mas disse estar disposto ainda a fazer um último sacrifício para salvar o mundo. Porém, se os homens não se arrependessem depressa, Ele acabaria com tudo de uma vez. Naquele momento, Ele apontou para os pobres e, voltando-se inesperadamente ordenou: E você, Padre Cícero, tome conta deles!

APOSTOLADO

Uma vez instalado, formado por um pequeno aglomerado de casas de taipa e uma capelinha erigida pelo primeiro capelão Padre Pedro Ribeiro de Carvalho, em honra a Nª Sª das Dores, Padroeira do lugar, ele tratou inicialmente de melhorar o aspecto da capelinha, adquirindo várias imagens com as esmolas dadas pelos fiéis.
Depois, tocado pelo ardente desejo de conquistar o povo que lhe fora confiado por Deus, desenvolveu intenso trabalho pastoral com pregação, conselhos e visitas domiciliares, como nunca se tinha visto na região. Dessa maneira, rapidamente ganhou a simpatia dos habitantes, passando a exercer grande liderança na comunidade.
Paralelamente, agindo com muita austeridade, cuidou de moralizar os costumes da população, acabando pessoalmente com os excessos de bebedeira e a prostituição.
Restaurada a harmonia, o povoado experimentou, então, os passos de crescimento, atraindo gente da vizinhança curiosa por conhecer o novo capelão.
Para auxiliá-lo no trabalho pastoral, Padre Cícero resolveu, a exemplo do que fizera Padre Ibiapina, famoso missionário nordestino, falecido em 1883, recrutar mulheres solteiras e viúvas para a organização de uma irmandade leiga, formada por beatas, sob sua inteira autoridade.

MILAGRE

Um fato fora do comum, acontecido em 10 de março de 1889, transformou a rotina do lugarejo e a vida de Padre Cícero para sempre.
Naquela data, ao participar de uma comunhão geral, oficiada por ele, na capela de Nossa Senhora das Dores, a beata Maria de Araújo ao receber a hóstia consagrada, não pôde degluti-la pois a mesma transformara-se em sangue.
O fato repetiu-se outras vezes, e o povo achou que se tratava de derramamento do sangue de Jesus Cristo e, portanto, um milagre autêntico.
As toalhas com as quais se limpava a boca da beata ficaram manchadas de sangue e passaram a ser alvo da veneração de todos.

REAÇÃO DA IGREJA

De início, Padre Cícero tratou o caso com cautela, guardando sigilo por algum tempo. Os médicos Marcos Madeira e Idelfonso Correia Lima e o farmacêutico Joaquim Secundo Chaves foram convidados para testemunhar as transformações, e depois assinaram atestado afirmando que o fato era inexplicável à luz da ciência. Isto contribuiu para fortalecer no povo, no Padre Cícero e em outros sacerdotes a crença no milagre.
O povoado passou a ser alvo de peregrinação: as pessoas queriam ver a beata e adorar os panos manchados de sangue.
O professor e jornalista José Marrocos, desde o começo um ardoroso defensor do milagre, cuidou de divulgá-lo pela imprensa.
A notícia chegou ao conhecimento do bispo D. Joaquim José Vieira, irritando-o profundamente. Padre Cícero foi chamado ao Palácio Episcopal, em Fortaleza, a fim de prestar esclarecimentos sobre os acontecimentos que todo mundo comentava.
Inicialmente, o bispo ficou admirado com o relato feito por Padre Cícero, porém depois, pressionado por alguns segmentos da Igreja que não aceitavam a idéia de milagre, mandou investigar oficialmente os fatos, nomeando uma Comissão de Inquérito composta por dois sacerdotes de reconhecida competência: Padres Clicério da Costa Lobo e Francisco Pereira Antero.
Os padres comissários, vieram, assistiram as transformações, examinaram a beata, ouviram testemunhas e depois concluíram que o fato era mesmo divino. O bispo não gostou desse resultado e nomeou outra Comissão, constituída pelos Padres Antônio Alexandrino de Alencar e Manoel Cândido.
A nova Comissão agiu rapidamente. Convocou a beata, deu-lhe a comunhão, e como nada de extraordinário aconteceu, concluiu: não houve milagre!
O povo, José Marrocos, Padre Cícero e todos os outros padres que acreditavam no milagre protestaram.
Com a posição contrária do bispo, criou-se um tumulto, agravado quando o Relatório do Inquérito foi enviado à Santa Sé, em Roma, e esta confirmou a decisão tomada pelo bispo. Todos os padres que acreditavam no milagre foram obrigados a se retratar publicamente, ficando reservada ao Padre Cícero uma punição maior: a suspensão de ordem.
Durante toda sua vida ele tentou revogar essa pena, todavia, foi em vão. Aliás, ele até que conseguiu uma vitória em Roma, quando lá esteve em 1898. Entretanto, o bispo, por intransigência, manteve a posição.

VIDA POLÍTICA

Proibido de celebrar, Padre Cícero ingressou na vida política. Como explicou no seu Testamento, o fez para atender aos insistentes apelos dos amigos e na hora em que os juazeirenses esboçavam o movimento de emancipação política.
Conseguida a independência de Juazeiro, em 22 de julho de 1911, Padre Cícero foi eleito Prefeito do recém-criado município. Além de Prefeito, também ocupou a Vice-Presidência do Ceará. Sobre sua participação na Revolução de 1914 ele afirmou categoricamente que a chefia do movimento coube ao Dr. Floro Bartolomeu da Costa, seu grande amigo. A Revolução de 1914 foi planejada pelo Governo Federal com o objetivo de depor o Presidente do Ceará Cel. Franco Rabelo. Com a vitória da Revolução, Padre Cícero reassumiu o cargo de Prefeito, do qual havia sido retirado pelo governo deposto, e seu prestígio, cresceu. Sua casa, antes visitada apenas por romeiros, passou a ser procurada também por políticos e autoridades diversas.
Era muito grande o volume de correspondências que Padre Cícero recebia e mandava. Não deixava nenhuma carta, mesmo pequenos bilhetes, sem resposta, e de tudo guardava cópia.
Com respeito a Lampião, Padre Cícero o viu apenas um vez, em 1926. Aconselhou-o a deixar o cangaço, e nunca lhe deu a patente de Capitão, como foi dito em alguns livros.

IMPORTÂNCIA

Padre Cícero é o maior benfeitor de Juazeiro e a figura, mais importante de sua história. Foi ele quem trouxe para Juazeiro as Ordens dos Salesianos e dos Capuchinhos; doou os terrenos para construção do primeiro campo de futebol e do aeroporto; construiu as capelas do Socorro, de São Vicente, de São Miguel e a Igreja de Nª Sª das Dores; incentivou a fundação do primeiro jornal local (O Rebate); fundou a Associação dos Empregados do Comércio e o Apostolado da Oração; realizou a primeira exposição da arte juazeirense no Rio de Janeiro; incentivou e dinamizou o artesanato artístico e utilitário, como fonte de renda; incentivou a instalação do ramo de ourivesaria; estimulou a expansão da agricultura, introduzindo o plantio de novas culturas; contribuiu para instalação de muitas escolas, inclusive a famosa Escola Normal Rural e o Orfanato Jesus Maria José; socorreu a população durante as secas e epidemias, prestando-lhe toda assistência e, finalmente, projetou Juazeiro no cenário político nacional, transformando um pequeno lugarejo na maior e mais importante cidade do interior cearense.
Os bens que recebeu por doação, durante sua quase secular existência, foram doados à Igreja, sendo os Salesianos seus maiores herdeiros.
Ao morrer, no dia 20 de julho de 1934, aos 90 anos, seus inimigos gratuitos apregoaram que, morto o ídolo, a cidade que ele fundou e a devoção à sua pessoa acabariam logo. Enganaram-se. A cidade prosperou e a devoção aumentou. Até hoje, todo ano, religiosamente, no Dia de Finados, uma. grande multidão de romeiros, vindos dos mais distantes locais do Nordeste, chega a Juazeiro para uma visita ao seu túmulo, na Capela do Socorro.
Padre Cícero é uma das figuras mais biografadas do mundo. Sobre ele, existem mais de duzentos livros, sem falar nos artigos que são publicados freqüentemente na imprensa. Ultimamente sua vida vem sendo estudada por cientistas sociais do Brasil e do exterior.
Não foi canonizado pela Igreja, porém é tido como santo por sua imensa legião de fiéis espalhados pelo Brasil.
O binômio oração e trabalho era o seu lema. E Juazeiro é o seu grande e incontestável milagre.

Você Sabia?

…que sobre Padre Cícero já foram editadas centenas de livros e folhetos de cordel, além de inúmeras reportagens em jornais e revistas de circulação nacional e internacional, bem como documentários de televisão (SBT, MANCHETE, GLOBO, BANDEIRANTES, etc), filmes e peças de teatro. Ultimamente tem sido alvo de estudos por parte de pesquisadores de universidades do Brasil e do Exterior, de onde têm saído diversas dissertações de mestrado e teses de doutorado?
…que um grande sonho marcou a sua vida e é apontado por muitos como a causa que determinou a sua ida para Juazeiro? Conforme esse sonho, por ele mesmo relatado a amigos íntimos, certa vez, ao anoitecer de um dia exaustivo, após ter passado horas a fio confessando pessoas, no humilde povoado de Juazeiro, onde estava atendendo convite para celebrar a Missa de Natal, ele procurou descansar no quarto vizinho à sala de aula da escolinha, onde improvisaram um alojamento, quando caiu no sono e a visão que mudaria seu destino se revelou. Ele viu Jesus Cristo e os doze apóstolos sentados à mesa, numa disposição que lembra a Última Ceia, de Leonardo da Vinci. De repente, o local é invadido por uma multidão de sertanejos famintos, conduzindo seus míseros pertences em pequenas trouxas. Então Jesus Cristo, virando-se para os famintos, falou da sua decepção com a humanidade, dizendo, porém, que ainda estava disposto a fazer um último sacrifício para salvar o mundo. Entretanto, se os homens não se arrependessem depressa, Ele acabaria com tudo de uma vez. Naquele momento, Cristo, apontando para os famintos, falou: E você, Padre Cícero, tome conta deles.
…que foi ele quem trouxe para Juazeiro a Congregação Salesiana; construiu as Capelas do Socorro, de São Vicente, de São Miguel e a Igreja de Nossa Senhora das Dores; incentivou a fundação do Jornal O Rebate (O primeiro de Juazeiro; fundou a Associação dos Empregados do Comércio; dinamizou o artesanato como fonte de renda; incentivou a instalação do ramo de ourivesaria; contribuiu para instalação de muitas escolas, entre as quais a famosa Escola Normal Rural (a primeira do Brasil).
…que recebeu o título de Doutor, conferido pela Escola Livre de Engenharia do Rio de Janeiro.
…que rejeitou o que mais ambicionava na vida – a reabilitação de suas ordens – para não deixar de morar em Juazeiro, conforme a proposta que lhe foi feita pelo bispo Dom Quintino. Prevaleceu seu amor a Juazeiro e aos romeiros.
…que Padre Cícero foi o Primeiro Prefeito de Juazeiro. Também foi o primeiro Prefeito de Juazeiro a ser deposto do cargo, por questões políticas?
…que era filiado ao Partido Republicano Conservador – PRC – Ceará?
...que sua primeira missão eclesiástica, depois de ordenado, em 1870, foi no distrito de Trairi, então pertencente à Freguesia de Parazinho, atual Paracuru, Ceará, onde demorou dois meses?
…que era nacionalista confesso, místico, carismático, visionário e bom conselheiro?
…que salvo raras exceções, no Nordeste as pessoas chamadas de Cícero ou Cícera têm estes nomes como homenagem a ele, geralmente como pagamento de promessa?
…que houve um tempo em que os padres não podiam batizar crianças com o nome de Cícero, porque o Bispo de Olinda, Pernambuco, Dom Luís de Brito, em 26 de fevereiro de 1910, publicou uma Circular recomendando que os vigários não aceitassem tal nome, que era sinal de arraigado fanatismo?.
...que mensalmente, no dia 20, desde a sua morte, em 1934, é celebrada missa em sufrágio de sua alma na Capela do Socorro, em Juazeiro, onde foi sepultado, à qual comparece sempre uma imensa multidão vestindo, em sua maioria, roupa preta, em sinal de luto. Que essa missa é celebrada em atendimento a um pedido feito por ele em seu testamento?
…que foi ele que introduziu no Nordeste, o hábito de usar no pescoço o rosário da Mãe de Deus, costume ainda hoje largamente usado não somente pelos romeiros, mas também por gente de todas as classes sociais?
…que gostava de ler livros sobre ciências ocultas e isto foi um dos motivos pelos quais o Reitor do Seminário da Prainha de Fortaleza quis impedir sua ordenação?
…que o Padre Cícero tinha pele alva, cabelos louros, olhos azuis pequeninos, nariz adunco, discreto prognatismo, voz modulada e firme altura: 1,60m?
…que o Padre Cícero tinha o hábito de dormir a cavalo, sobre a sela, quando fazia excursões através das cidades do Cariri?
…que certa vez, ao censurar delicadamente um colega de batina que contraíra o vício do álcool, fora por este sacrificado pelo fato de ser grande tabaquista e que isto foi o suficiente para deixar definitivamente de fumar?
…que logo que chegou ao povoado de Juazeiro, como Capelão, procurou moralizar os costumes reinantes no lugar, acabando pessoalmente com as rodas de samba e cachaça?
…que quando o professor Miguel Couto disse que os distúrbios renais de que Padre Cícero padecia provinham da água de Juazeiro, ele passou a beber somente água de coco e chá?
…que o Padre Cícero é chamado de Meu Padrim. As pessoas que trabalhavam em sua casa o chamava de Seu Padre, exceção da beata Mocinha (Joana Tertulina de Jesus) que geralmente o chamava pelo título de Padre?
…que aos 82 anos de idade Padre Cícero foi eleito Deputado Federal, mas não assumiu a vaga?

Beata Maria de Araújo

O Padre Cícero explica o Milagre:

“Quando dei à beata Maria de Araújo a Sagrada Forma, logo que a depositei na boca, imediatamente transformou-se em porção de sangue, que uma parte engoliu, servindo-lhe de comunhão, e outra correu pela toalha, caindo algum no chão; eu não esperava e, vexado para continuar com as confissões interrompidas que eram muitas ainda, não prestei atenção e por isso não apreendi o fato na ocasião em que se deu; porém, depois que depositei a âmbula no sacrário, e vou descendo, ela vem entender-se comigo, cheia de aflição e vexame de morte, trazendo a toalha dobrada, para que não vissem, e levantava a mão esquerda, onde nas costas havia caído um pouco e corria um fio pelo braço, e ela com temor de tocar com a outra mão naquele sangue, como certa de que era a mesma hóstia, conservava um certo equilíbrio para não gotejar sangue no chão.

Decisão do Padre Cícero depois que a Igreja condenou o “milagre”:

“Não quero de forma alguma sustentar nem defender os fatos ocorridos em Juazeiro, quando já declarei e torno a declarar que, uma vez que a Suprema Congregração do Santo Ofício os condenou eu reprovo, obedecendo sem restrição, nem reserva, à sua decisão e decretos, como filho submisso obediente da Santa Igreja.
É uma grandiosíssima calúnia dizer que tenho revolta contra a Igreja. Eu nunca tive dúvidas sobre a Fé Católica; nunca disse nem escrevi, nem em cartas particulares, nem em jornais, nem em qualquer escrito nenhuma proposição falsa, nem herética, nem duvidosa, nem coisa alguma contra o ensino da Igreja”.

Fonte: Walker, Daniel. “O Pensamento Vivo de PADRE CÍCERO”. Martin Claret Editores, São Paulo, 1988.

Padre Cícero era uma pessoa culta?

Antônio de Alencar Araripe, escritor: “Nas centenas de vezes em que estive em sua residência, onde inexistia biblioteca… aí permanecendo horas a fio, nunca o vi ler qualquer livro, fascículo ou jornal, nem se referir ao respectivo conteúdo, a não ser quando remontava ao seu tempo de estudante ou professor”.

Jáder de Carvalho, escritor: “Padre Cícero não era o homem culto que muita gente, ainda hoje apregoa… Jamais lhe descobri qualquer traço de intelectualidade”.

Edmar Morel, jornalista: “Desgraçadamente o Padre Cícero não tem amor pelo saber, nem culto à literatura. Sempre viveu alheio aos livros e sem a amizade de homens de valor cultural. Era um ignorante, sem cultura, mesmo no campo religioso”.

Luís Sucupira, escritor: “Padre Cícero era possuidor de elevada cultura para seu tempo, tendo adquirido um lastro bem sólido de conhecimentos intelectuais, como ótimo aluno que foi de História, Geografia e Teologia no Seminário de Fortaleza”.

Cândido Mariano da Silva Rondon, militar: “O Padre Cícero tem palestra interessante de letrado. Fala com fluência sobre História, Literatura e Política, discreteando sobre a vida nacional, cujas tricas conhece palmo a palmo”.

Phillip Von Luetzelberg, naturalista: “Padre Cícero é um homem que dispõe de instrução e saber invulgares. Aborda com igual facilidade a política e a história brasileira; tem conhecimentos profundos de história universal, ciências naturais, especialmente quanto à agricultura”.

Amália Xavier de Oliveira, educadora e escritora: “Os assuntos de suas palestras eram sempre edificantes; jamais uma conversa fútil e muito menos leviana”.

Qual a contribuição de Padre Cícero para a educação em Juazeiro?

“Deixo a maior parte dos meus bens para a benemérita e santa Congregação dos Salesianos, a fim de que ela funde aqui no Juazeiro os seus colégios de educação para crianças de ambos os sexos”.

Padre Cícero Romão Batista

Lourenço Filho, educador e escritor: “Padre Cícero nunca se interessou pela instrução e até a tem embaraçado algumas vezes”.

Jáder de Carvalho, escritor: “Tive vários encontros com o Padre Cícero. Dele jamais consegui um prédio para a instalação de uma escola”.

Otacílio Anselmo, militar e escritor: “Para um povo carente de instrução, não fundou escolas. Aliás, sua aversão ao ensino foi comprovada em 1922, ocasião em que, como Prefeito Municipal, não permitiu a instalação de um grupo escolar em Juazeiro”.

Edmar Morel, jornalista: “Esperava-se, pelo seu contato com os grandes centros científicos, num País onde o Rei dirigia uma cruzada de alfabetização, que o Padre Cícero, ao chegar no Juazeiro, cuidasse de abrir escolas primárias e mandasse buscar na capital professores experimentados. O capelão não faz nada no terreno educacional. Populações inteiras vivem na ignorância. Só sabem desfiar o rosário nos dedos e cantar benditos… A ele interessa este lamentável estado de coisas. Tivesse um espírito culto, progressista e teria prestado um relevante serviço ao Brasil, abrindo escolas para a infância, orfanatos e colégios”. Na verdade, abandona o problema educacional, para ser personagem principal de um ciclo lendário de crendices religiosas”.

Amália Xavier de Oliveira, educadora e escritora: “O que foi possível fazer o Padre Cícero fez: fundou algumas escolas particulares, gratificando, do próprio bolso, alguns professores quando as mensalidades recebidas não cobriam suas despesas com a manutenção. Em 1896, por iniciativa do Padre Cícero, foi instalada a escola feminina, sob a regência da Professora Isabel Montezuma da Luz. O Orfanato Jesus Maria José, iniciado nesta cidade em 1916, teve como fundador o Padre Cícero, coadjuvado por Joana Tertuliana de Jesus. O fim desta instituição que ainda hoje existe funcionando com as mesmas finalidades, foi amparar as crianças do sexo feminino, pobres e órfãos, dando-lhes uma educação adequada capaz de lhes garantir viver honestamente, quando pela idade ou outras circunstâncias tiverem que deixar a tutela da entidade de sua formação. A Associação dos Empregados do Comércio de Juazeiro, fundada no dia 3 de julho de 1926 sob os auspícios do Padre Cícero, desde a sua fundação teve como objetivo principal a instrução primária dos sócios e de seus dependentes”.

Azarias Sobreira, Sacerdote e escritor: “Não é de hoje que se vem dizendo, ordinariamente com segundas intenções, ser o Patriarca de Juazeiro um obscurantista, figadal inimigo da alfabetização do seu povo. Se, entretanto, nos dermos ao paciente esforço de tirar a limpo essa tese sustentada com indisfarçável ênfase, esbarraremos em ilações diametralmente opostas. É que contra fatos a mancheias não podem prevalecer argumentos. Bem ao contrário do que se tem dito, às vezes de oitiva, o Padre Cícero viveu sempre idealizando a felicidade e, portanto, a alfabetização de sua gente, na maior escala possível. Apenas se fixou em Juazeiro, embora ali já funcionasse uma escola, andou dando aulas particulares a um ou outro rapazito que lhe pareceram com alguma aptidão e gosto para aprender”.

Fernandes Távora, médico, político e escritor: “O meu ilustre amigo Lourenço Filho afirma que não pôde conseguir a boa vontade do Padre Cícero no sentido de incrementar a instrução primária em Juazeiro. Eis outro paradoxo aparente, só compreensível e explicável pelos que conheceram intimamente os homens e as coisas daquela terra. Padre Cícero sempre amou a instrução e desejou vê-la difundida em sua cidade, como poderão dar testemunho diversos moços que, a expensas dele, se educaram desde a escola primária até os cursos superiores. Se não atendeu ao esforçado e digno Diretor da Instrução Pública do Ceará, terá sido por causa estranha à sua vontade”.

Neri Feitosa, Sacerdote e escritor: “Padre Cícero fez as duas coisas: instruiu e educou seu povo. Quanto à instrução, o Padre Cícero fez de Juazeiro um modelo”.

Antônio Teixeira Junior, jornalista: “Padre Cícero preocupou-se com escolas a ponto de no seu testamento legar todos os seus bens aos Salesianos, com a condição de esses religiosos construírem um colégio”.

Era o Padre Cícero um paranóico?

“Não sou doido! Não sou idiota! Não entendo de magia! O que vos digo, o que vistes, eu ouvi, me foi predito. Jesus Cristo derramou Seu sangue para nos salvar. Os que acreditarem, Ele o disse, se salvarão. Ele escolheu este lugar.”

Padre Cícero Romão Batista

Nertan Macedo, jornalista e escritor: “As quatro pastorais do bispo dom Joaquim, sábias e incisivas, de condenação ao milagre da beata Maria de Araújo, feriram profundamente o Padre do Juazeiro: na sua paranóia, crença e amor-próprio.”

Helvídio Martins Maia, sacerdote e escritor: “Após examinarmos, cuidadosamente, o pronunciamento de teólogos e cientistas, consideramos o Padre Cícero um paranóico de fundo místico e não um louco”.

Fernandes Távora, médico, político e escritor: “Se analisarmos, com atenção, a vida do Padre Cícero, verificaremos que ela foi sempre deficiente, não só em relação à mentalidade, como a outras funções fisiológicas. Bastariam, para justificar esta asserção, os constantes êxtases em que caía, durante horas, e a sua absoluta castidade, ou melhor, frigidez, por todos propalada. E, realmente, nunca houve quem lobrigasse, na longa vida do velho sacerdote, a sombra de uma mulher… Foi nesse organismo mioprágico que o choque profundo do desentendimento com as autoridades eclesiásticas evidenciou a paranóia. Eu não encontro motivos para discrepar do que formulei, há tantos anos e agora reitero, com integral convicção”. (Depoimento de 1943).

Fernandes Távora: “Padre Cícero era um homem de ótimas qualidades morais, e estas nunca deixaram de manifestar-se no decurso de sua vida patológica: não esqueceu velhas amizades; dava esmolas; educava, por sua conta, grande número de moços pobres…”. (Depoimento de 1961).

José Leite Maranhão, psiquiatra e professor: “O Padre Cícero teve uma personalidade normal, o seu psiquismo foi hígido e equilibrado com raro poder de autocrítica e inteligência. Sei que é temeroso avançar esta afirmação, numa espécie de perícia póstuma, para juízo dos homens cultos, à luz da ciência e da sociologia. É todavia, um dever de quem o conheceu de perto e acompanhou a sua projeção na história, restabelecer a verdade numa visão histórica serena e científica à luz da psicologia e percepção sociológica. Posso, pois, afirmar: o Padre Cícero não é paranóico. Como definir a personalidade do Patriarca? Dentro da classificação biopatológica de Kretschmer, aliás da escola alemã, o Padre Cícero é um ciclóide, biótipo admiravelmente caracterizado na sua organização psicossomática, e na confluência dos fenômenos sociais, políticos e religiosos que o envolveram. O Padre Cícero não é paranóico. Talvez não se deve dizer, nem mesmo para exaltar a obra que ele realizou e legou à posteridade de uma grande cidade, um grande povo…”.

Antônio Teles, médico e escritor: “Inimigo político, de longa data, do Patriarca, a quem, muitas vezes, atacou ferozmente pela imprensa, até injustamente, como ele próprio reconhece, e outrora partidário fanático do Coronel Franco Rabelo apeado do poder pelos bacamartes dos romeiros do Padre Cícero, o sr. Fernandes Távora jamais lhe perdoou a deposição do seu antigo chefe e atirou-lhe, por isso, a pecha de paranóico, como um ajuste de contas póstumo. O diagnóstico de paranóia não se coaduna com o comportamento do Padre Cícero, todo ele balizado pelos princípios evangélicos da humildade, da abnegação e do amor ao próximo”.

Abelardo F. Montenegro, advogado, professor e escritor: “Padre Cícero não era um paranóico, um megalomaníaco ou um paciente digno de um consultório psicanalítico. Mas, sim, um psicólogo que conhecia perfeitamente o meio e o homem do sertão”.

Padre Cícero foi heresiarca?

“É uma grandiosíssima calúnia dizer que tenho revoltas contra a Igreja. Eu nunca tive dúvidas sobre a Fé Católica, nunca disse nem escrevi, nem em cartas particulares, nem em jornais, nem em quaisquer outros escritos nenhuma proposição falsa, nem herética, nem duvidosa, nem coisa alguma contra o ensino da Igreja. Eu condeno tudo o que a Santa Igreja condena. Sigo tudo o que ela manda como Deus mesmo. Quem não ouvir e obedecer a Igreja deve ser tido como pagão e publicano. Fora da Igreja não há salvação.”

Padre Cícero Romão Batista

Euclides da Cunha, escritor: “Padre Cícero é um heresiarca sinistro”.

Otacílio Anselmo, militar e escritor: “Inegavelmente, o Padre Cícero começou bem… Só depois, numa progressão lenta, mas continuada, ele mudou de rumo, dando um sentido nebuloso ao seu sacerdócio, para finalmente transformá-lo em heresia, movido pelo impulso de pendores ancestrais (recorde-se que o pai era mitômano) e pela influência decisiva do primo e inseparável amigo José Marrocos”.

Manuel Diniz, advogado, educador e escritor: “Heresiarca por que, se Padre Cícero jamais deixou de obedecer até mesmo ao zelo inexplicável dos seus superiores?”.

José de Medeiros Delgado, Arcebispo e escritor: “Padre Cícero teve mil oportunidades para ser um heresiarca e não o foi. Pôde erguer o estandarte do cisma e não o fez”.

Padre Cícero foi líder?

“Sou responsável por este povo. Por ele sacrificarei até minha vida.”

Padre Cícero Romão Batista

Leandro Konder, escritor: “Padre Cícero era um líder de massas comprometido com o atraso das massas que liderava”.

Helvídio Martins Maia, sacerdote e escritor: “Padre Cícero era um líder de fanáticos”.

Ayres de Montalvo, escritor: “Padre Cícero foi o maior líder natural que já deu o nosso povo. Um líder verdadeiro a cuja influência bem pouca gente pôde ficar indiferente: ou o amava ou o odiava”.

Napoleão Tavares Neves, médico e escritor: “Padre Cícero foi, inquestionavelmente, um grande líder popular e religioso, líder realmente carismático, com uma extraordinária visão do futuro e uma ímpar capacidade de prever para tentar prover”.

Neri Feitosa, Sacerdote e escritor: “No Brasil, não consta que alguém já tenha tido uma liderança maior e mais duradoura que a do Padre Cícero”.