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terça-feira, 19 março, 2024.

Dom Helder Câmara

Existiu um homem no século XX, que esteve sempre à frente do seu tempo, da sua geração. Sua vida foi um exemplo vivo de que Deus escolhe seus servos, capacita esses escolhidos, ampara-os na fraqueza e os faz santos. Este homem predestinado, chamava-se HELDER CAMARA. Era um arrojado discípulo do Mestre, fazendo com que nada permanecesse igual, depois dele… Cearense, de corpo franzino e oriundo de uma família numerosa, foi a estrela que pairou sobre a Igreja que escolheu como Mãe, transformando sua vocação e seu talento na mais importante voz do seu século.

Neste espaço – a cada dia -, refletiremos sobre essa pessoa especial, de vida comum, como qualquer brasileiro, mas de destinação universal, pela sabedoria e coragem com que se entregou a missão escolhida – a de ser PADRE.

Descubra, aqui:

  • Quem foi HELDER CAMARA?
  • Onde viveu HELDER CAMARA?
  • Que pessoas entraram na vida de HELDER CAMARA?
  • Como viveu HELDER CAMARA?
  • Quando a igreja o proclamará SÃO HELDER CAMARA?

Essas colocações serão feitas, por alguém que viveu ao lado desse extraordinário homem por muitos anos, colaborando com o imenso trabalho que ele desenvolveu na Arquidiocese de Olinda e Recife, lendo seus escritos, ouvindo sua palavra sabia, partilhando o imenso privilégio de estar próxima, durante o exercício de sua santidade. E que hoje continua, nas Obras de Frei Francisco (herdeira do Dom), tentando exercitar, no dia-a-dia, o ideário que fez dele o arrojado padre, bispo, educador, aconselhador, discípulo, SANTO!

E que o Pai nos ajude nessa proeza!

Helder Pessoa Camara

Dados Biográficos:

Nascimento: 07 de fevereiro de 1909

Local: Fortaleza. Ceará – Brasil
Falecimento: 27 de agosto de 1999

Local: Igreja de N.Sª da Assunção das Fronteiras – Recife / Pernambuco- Brasil;

Pais: João Eduardo Torres Camara Filho – jornalista / guarda-livros.
Adelaide Rodrigues Pessoa Câmara – professora primária.

Batizou-se em 31 de março de 1909.
Primeira Eucaristia em 29 de setembro de 1917.

· Educado no Seminário de São José na Prainha, Fortaleza / Ceará.

· Ordenado padre em 15 de agosto de 1931, com apenas 22 anos e meio de idade, sendo necessária uma licença especial do Papa.

· Até 1936 exerceu na capital cearense atividade sacerdotal, entre homens de letras e operários.

· Nesse período é nomeado diretor do Departamento de Educação, cargo hoje correspondente a Secretario de Estado.

· Foi para o Rio de Janeiro em 1936.

· Exerceu, entre outras funções, o cargo de Diretor Técnico do Ensino de Religião da Arquidiocese.

· Em 1948 foi nomeado Monsenhor.

· No ano de 1950, expõe ao amigo Monsenhor Montini (futuro Papa Paulo VI) seus planos para fundar a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) – fundada em 14 de outubro de 1952 – da qual se torna Secretario Geral de 1952 a 1964 e Secretario da Ação Social entre 1964 e 1968.

· Sagrado Bispo no dia 20 de abril de 1952, na Igreja da Candelária, no de Janeiro, pelas mãos de Dom Jaime de Barros Câmara.

· Nomeado Arcebispo Auxiliar do Rio de Janeiro em 1955.

· Em 1955 organiza o famoso Congresso Eucarístico Internacional.

· Cria o Banco da Providência e a Cruzada São Sebastião, primeira etapa para o combate as injustiças sociais.

· Trabalha na criação, em 1955, da Conferência Geral do Episcopado Latino Americano (CELAM) e permanece como seu vice-presidente de 1958 a 1964 quando é nomeado Arcebispo de Olinda e Recife.

· Toma posse em Olinda e Recife em 12 de abril de 1964.

· Passa a desenvolver com grande relevância ações sociais junto `as comunidades carentes, e luta pelos direitos humanos e a justiça social, destacando-se como fundador:

do “Banco da Providência” (Recife, 1964),

da “Operação Esperança” (Pernambuco, 1965),

do “Instituto de Teologia do Recife” (1968),

do “Encontro de Irmãos” (em 1969 como ponto de partida para criação de 230 Comunidades Eclesiais de Base) ,

da “Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese (1979)

da criação de 19 Paróquias.

· Ficou mundialmente conhecido como o arauto dos “sem vez e sem voz”.

· Durante o regime militar sua voz é ouvida apenas na Rádio Olinda, de 1964-83, sendo proibido e censurado na mídia.

· Liderou o movimento da não violência e das Minorias Abraâmicas, trabalhando para construir um mundo mais justo e mais humano.

· No Plano Internacional (Santa Sé): Membro do “Conselho Supremo de Imigração” da comissão “Para Disciplina do Clero”, preparatória do Concílio Vaticano II (1962-1965), onde foi Padre conciliar nas 4 sessões, membro da Comissão ” Apostolado dos Leigos e Meios de Comunicação Social, no Concílio Ecumênico – 1964 e Delegado do Episcopado Brasileiro no III Sínodo dos Bispos (1974).

· Durante todo o seu sacerdócio foram- lhes conferidas várias homenagens, cujo acervo de condecorações perfaz um total de 716 itens.

· Tem 23 livros publicados, sendo 19 deles traduzidos para 16 idiomas.

· Membro de 41 organizações internacionais e 05 nacionais..

· Distinguiu-se com prêmios da Paz entre eles René Sande; Martin Luther King; Memorial João XXIII de Pax Christ; Artesões da Paz; Prêmio Popular da Paz; Niwano Peace Prize. Doutor honoris (32) incluindo Harvard University, St. Louis University, Louvain, Florença, Fribourg, Amsterdan, Sorbonne.

· Recebeu trinta (30) títulos de Cidadão Honorário, no Brasil e Exterior.

· Foi saudado pelo Papa João Paulo II quando da visita de Sua Santidade ao Brasil em 1980 com o título de “Irmão dos Pobres meu Irmão“.

· Afastou-se da Arquidiocese em 1985, por limite de idade, com o título de Arcebispo Emérito de Olinda e Recife, mas, não abandonou a atividade pastoral.

· Fundou, em 1984 as “Obras de Frei Francisco” (OFF), cujo Conselho Curador presidiu até a data de seu falecimento. Pertencem a esta Instituição a

Casa de Frei Francisco” (Coelhos- Recife-Pe, fundada em 1986) e o

Centro de Documentação Helder Camara”- CEDOHC (inaugurado em 5 de fevereiro de 1999).

· Deixou – em testamento, datado de 20 de julho de 1984 – para Obras de Frei Francisco, todos os bens e direitos autorais de suas obras que terão continuidade através das atividades culturais e dos projetos sociais dentro da Campanha por ele fundada em 1991 “Ano 2000 Sem Miséria” que inspirou o esforço nacional contra a fome, o desemprego e a luta pela cidadania dos excluídos.

A escolha do nome Helder

07 de fevereiro de 1909… Domingo de Carnaval… Nascia em Fortaleza, no Ceará, o menino HELDER PESSOA CAMARA, 11º filho do Guarda-livros, João Eduardo Torres Camara Filho e da Professora Primária, Adelaide Rodrigues Pessoa Camara… Era costume dar-se aos filhos o nome de antepassados ou nomes comuns, na época… Os 10 filhos já nascidos tinham recebido esses nomes de tios, de avos ou nomes conhecidos, preferidos pela família… Para aquele, o pai – numa inspiração -, foi na estante onde a esposa guardava seu material de trabalho docente, abriu um livro ao acaso e pousou os olhos sobre lugares do mundo. Seu dedo foi passando por paises, por ilhas, por cidades… E, ao olhar lugares do norte da Holanda, seu dedo parou sobre o nome Helder, pequenino ponto naquele mapa, atribuído à um Forte… O pai, categórico, afirmou: “este filho vai se chamar HELDER“…. Só depois descobria que o nome escolhido significava “céu claro” ou “claridade“… Santa premonição!!!

Palavras do profeta
Quando houver contraste
entre a tua alegria e um céu cinzento
ou entre a tua tristeza e um céu sem nuvens
bendiz o desencontro:
é aviso divino de que o mundo
não começa e nem acaba em ti.

(Helder Camara)

Fontes:
Acervo Centro de Documentação Dom Helder Camara – CEDOHC, Recife.
PILETTI, Nelson & Praxedes, Walter. Dom Helder Camara – Entre o poder e a profecia. São Paulo. Ed. Atica.1997.
ROCHA, Zildo (coord.). Helder, o Dom. Recife, 2000.
www.domhelder.com.br

Helder - Os tempos de menino - seus pais

Fortaleza, cidade natal de Helder era, no final do século XIX, uma cidade calma, arborizada, com cerca de cinqüenta mil habitantes que usavam animais para seus deslocamentos. Aí vivia seu pai – João Eduardo Torres Camara Filho -, guarda-livros desde os vinte anos, que chegava à idade de constituir família. E a chance apareceu quase por “milagre”, quando viajava ele para Araçoiaba (terra dos parentes de sua madrasta): um acidente com o trem em que seguia viagem fez com ele se encontrasse com uma decidida professora, muito jovem, nascida na Vila de São João de Inhamuns, interior do Ceará – Adelaide Rodrigues Pessoa – que, assustada com um ferimento por ele sofrido, arrancou uma tira da sua anágua (um gesto ousado demais para a época) e com ele estancou o sangramento. João Eduardo ficou encantado… Apaixonou-se. Trocaram cartas cautelosamente guardadas. Casou-se com ela. Tiveram 13 filhos, muitos dos quais morreram ainda pequenos. Um, ganharia a imortalidade: Helder, o 11º da grande prole cearense do guarda-livros e da professorinha…

Palavras do profeta
“Quem pensa e proclama
que ama demais, ama de menos…
Em ultima análise,
só ama a si mesmo ou a si mesma
e não sabe o que é o amor….”
(Helder Camara)

Fontes:
Acervo Centro de Documentação Dom Helder Camara – CEDOHC, Recife.
CÂMARA, Helder. Um Olhar sobre a cidade. São Paulo / SP. CIP, 1995
PILETTI, Nelson & Praxedes, Walter. Dom Helder Camara – Entre o poder e a profecia. São Paulo. Ed. Atica.1997.
ROCHA, Zildo (coord.). Helder, o Dom. Recife, 2000.
SOUTO MAIOR, Mario. O Menino Helder Câmara. Recife. Ed. Massangana (FUNDAJ), 2001.
www.domhelder.com.br

Helder - Os tempos de menino - seus irmãos / seu batizado

A menina Adelaide tornara-se professora na Escola Normal de Fortaleza e assumira uma cadeira docente por concurso, em escolas públicas, em cidades interioranas, até ser transferida para a capital, em 1896. Casou-se com João Eduardo no mesmo ano e foi morar próximo ao passeio Público de Fortaleza. Ali teve seus primeiros filhos: Gilberto, João, Maria (Maroquinha) e Ethelberto. Em 1901, a família Camara mudou-se para a Praça dos Martírios, onde nasceriam José, Rubens e Zeneida. Uma epidemia de crupe, em 1905, levaria a morte os quatro filhos mais novos: Ethelberto, José, Rubens e Zeneida… Três meses após essa perda nasceria Eduardo, depois Adelaide, Mardônio e, em 1909, Helder, tão fragilzinho que, ao batizar-se em 31 de marco daquele ano, o Padre José Menescal, oficiante da cerimônia, usou água morna, temendo por ele… A irmã Maroquinha foi a Madrinha de Apresentação; a tia, Diva Pamplona, casada com um dos irmãos do pai, foi a Madrinha de Batismo; e o Vice-Presidente do Estado, Dr. Mauricio Gracho Cardoso, o Padrinho. Na capela da Santa Casa de Misericórdia do Ceará, o pequenito iniciava sua vida de santidade, que os anos consolidariam…

Palavras do profeta
“Como reconciliar
o oprimido com o opressor
se este não cede uma linha,
continua arrancar dinheiro
em nome do povo
e nem deixa o povo ver
a cor do dinheiro?….”
(Helder Camara)

Fontes:
Acervo Centro de Documentação Dom Helder Camara – CEDOHC, Recife.
PILETTI, Nelson & PRAXEDES, Walter. Dom Helder Camara – Entre o poder e a profecia. São Paulo. Ed. Atica.1997.
PIMENTA. Ir. Maria do Carmo. Ano 2000 – 500 anos de Brasil (Uma visão de fé, esperança e amor nas mensagens fraterna de Dom Helder Câmara. Obras de Frei Francisco. São Paulo, Paulinas, 2000.
ROCHA, Zildo (coord.). Helder, o Dom. Recife, 2000.
www.domhelder.com.br

Helder - Os tempos de menino - vida no dia-a-dia

No mesmo ano do nascimento do pequeno Helder (1909), um acidente levaria para o Pai o segundo filho daquela família, João. Depois, dois outros irmãozinhos nasceriam na casa dos Camara: Nair (a quem Helder sempre chamou de “Maninha”) e João, que recebia o nome daquele irmão que se fora… Os filhos foram todos alfabetizados pela “professora” Adelaide. Pequeno ainda, Helder e o mano Mardônio tiveram de freqüentar a sala de aula da própria casa, pois era ali que agora a professora Adelaide recebia suas sessenta alunas (todas meninas) e os seus dois meninos mais novos, Mardônio e Helder, ambos envergonhados por estudarem numa classe feminina… Fora dos rígidos horários de aulas, a vida dessas crianças era um ir e vir ao grande quintal cheio de arvores frutíferas; eram de brincadeiras diante do córrego que ali havia (o pequeno Pajeú), onde davam asas à imaginação; eram as estripulias no grande corrimão da escada de acesso ao primeiro andar, por onde desciam, escorregando, para desespero dos pais… E, nos fundos da casa, onde viviam três famílias pobres, em casinhas humildes (com a permissão dos donos da casa), Helder exercitaria sua sensibilidade para com os menos favorecidos, ajudando esses irmãos, sempre que podia.

Palavras do profeta
“Quem ensinou às aves
os volteios deliciosos
que enchem nossos olhos
de encantamento e de paz?
Quem ensinou aos astros
o ballet incomparável
de milhões que não se chocam
em disparada pelas alturas?.”

(Helder Camara)

Fontes:
Acervo Centro de Documentação Dom Helder Camara – CEDOHC, Recife.
CÂMARA, Helder. Um Olhar sobre a cidade. São Paulo / SP. CIP, 1995
PILETTI, Nelson & PRAXEDES, Walter. Dom Helder Camara – Entre o poder e a profecia. São Paulo. Ed. Atica.1997.
ROCHA, Zildo (coord.). Helder, o Dom. Recife, 2000.
www.domhelder.com.br

Helder - Os tempos de menino - lições de vida

Muito pequeno ainda aquela criança especial aprenderia, com a mãe sábia, uma inesquecível lição de ecumenismo. Era costume, para os católicos daquela área e daquele tempo, descerem a calçada em frente ao templo evangélico, numa clara lição de separação, de incompreensão, de preconceito religioso… Ele, pequenino, caminhando ao lado da mãe, repete o gesto aprendido com crianças mais velhas, soltando-se de sua mão e descendo também a calçada, para andar junto ao meio fio. Nem sabia porque deveria fazer assim… Ela estranha o gesto, pergunta por quê e, percebendo a intenção de separar e não de unir, obriga o pequeno Helder a passar várias vezes pela frente daquela igreja, dando-lhe uma sabia lição de fraterno convívio… Valeu muito aquela ecumênica lição. Jamais ele segregaria alguém…E assim cresceu aquele especial cearensezinho, dizendo sempre que “quando crescesse queria ser padre” e ouvindo do pai a advertência de que nada seria fácil, se viesse a cumprir esse desejo.

Palavras do profeta
“Deus é e quer ser Pai
de todas as Criaturas Humanas,
de todas as Raças
de todos os Tempos,
de todas as cores,
de todas as Línguas,
de todas as Crenças
e todas as Ideologias..”

(Helder Camara)

Fontes:
Acervo Centro de Documentação Dom Helder Camara – CEDOHC, Recife.
CÂMARA, Helder. Utopias Peregrinas. Recife, Ed. Universitaria – UFPE, 1993
PILETTI, Nelson & PRAXEDES, Walter. Dom Helder Camara – Entre o poder e a profecia. São Paulo. Ed. Atica.1997.
ROCHA, Zildo (coord.). Helder, o Dom. Recife, 2000.
www.domhelder.com.br

Helder - Os tempos de menino - tragédia inesperada

O tempo era de lazer em família. Simplicidade e partilha eram as formas de vida na casa daquele pai e daquela mãe. O jogo com “bola-de-meia” e os barquinhos de papel no pequeno córrego nos fundos da casa eram as brincadeiras em casa… A vendinha onde os meninos compravam guabiraba e o cinema eram as atrações maiores, lá fora, na Fortaleza daquela época… Helder e seus irmãos adoravam ir às sessões de cinema com o pai, como aconteceu no dia em que se inaugurou o novo cinema Magestic-Palace, moderno e bem construído. Na festa de abertura, os meninos deliciaram-se com a Banda que tocava na entrada, com a atriz de sucesso da época, que se apresentou e encantou a todos. Ao voltarem para casa, com a alma em festa, a vontade do pequeno Helder era estender aquela alegria para a mãezinha que ficara, junto ao leito do irmão, Eduardo, adoentado. Não se contendo de felicidade Helder pula para a cama, dando cambalhota; a garrafa de álcool em cima do colchão vira e derrama álcool: a vela em cima do móvel cai e ateia fogo no colchão, no irmãozinho doente e até na mãe, que se agarra ao filho tentando salvá-lo… Dias de dor física para Eduardo e de dor na alma para Helder, que confessaria esse acidente como “pecado”, na sua primeira confissão, para a 1ª Eucaristia…

Palavras do profeta
“A cada instante
as surpresas rebentam
e temos que ter humildade
e imaginação criadora
para ir salvando o essencial
através do inesperado
de cada instante…”
(Helder Camara)

Fontes:
Acervo Centro de Documentação Dom Helder Camara – CEDOHC, Recife.
PILETTI, Nelson & PRAXEDES, Walter. Dom Helder Camara – Entre o poder e a profecia. São Paulo. Ed. Atica.1997.
ROCHA, Zildo (coord.). Helder, o Dom. Recife, 2000.
www.domhelder.com.br

Helder - Os tempos de menino - outro inesperado

Maroquinha era irmã mais velha do que Helder e tinha sido sua Madrinha de Apresentação. Jovenzinha, apaixonou-se e amargurou uma desilusão… Tentou afogar-se. Tentou morrer. Ficou gravemente doente e abalada emocionalmente. Por dias a família velou ao seu lado, vendo-a desacordada e temendo pela sua vida. No dia da 1ª Eucaristia de Helder e Mardônio, a sábia Adelaide pede aos filhos que, na hora de comungarem pela primeira vez, pedissem a Nosso Senhor que ajudasse Maroquinha, pois, segundo ela, “o Cristo não sabe negar nada a quem faz a primeira comunhão“… Eles, fervorosamente pediram. Na mesma ocasião, em casa, Maroquinha abre os olhos, pede a presença de um sacerdote e anuncia que, arrependida do que fizera, ia dedicar sua vida ao Senhor, tornando-se freira. E assim aconteceu. Em 1924 ela foi acolhida na ordem franciscana do Maranhão, ingressando na vida religiosa, vindo a ajudar muito o irmão e afilhado, quando também ele decidiu-se pela vida religiosa, preparando-se para ser padre,

Palavras do profeta
“Quanto mais negra
é a noite,
mais carrega em si
a madrugada…”
(Helder Camara)

Fontes:
Acervo Centro de Documentação Dom Helder Camara – CEDOHC, Recife.
PILETTI, Nelson & PRAXEDES, Walter. Dom Helder Camara – Entre o poder e a profecia. São Paulo. Ed. Atica.1997.
ROCHA, Zildo (coord.). Helder, o Dom. Recife, 2000.
www.domhelder.com.br

Helder - Os tempos de menino - sabedoria materna

Outras importantíssimas lições materna o pequeno Helder viria a receber… Como a lição de tolerância, no dia em que não cumpriu corretamente uma lição de casa e recebeu da mãe-professora um santinho como presente, com a frase “ao meu querido filho, Helder, de quem estou exigindo um esforço acima das suas forças…“. Ou a aula de sexualidade dada por ela, usando seu próprio corpo como exemplo, para introduzir o conceito de que “se alguém disser que partes do nosso corpo foram criadas pelo diabo, não acredite; da cabeça aos pés, fomos feitos por Deus. No corpo humano, não existem partes feias, indecentes ou imorais. O que pode haver é o uso indecente do corpo“… Ou ainda surpreendê-lo cumprimentando uma pessoa da vizinhança, apontada como prostituta, numa clara demonstração de estar acima dos preconceitos vigentes… E, muito especialmente, como exemplo de fé crista, de católica praticante, levando-o a dizer, deste pequeno, que seria PADRE. Aquela mãe vinda do interior, que criara tantos filhos e educara muitos outros jovens, marcaria a vida e a definição de vocação do seu menino magrinho, que sofrera com sarampo e catapora, aos dois anos e ate febre tifóide, aos dez anos.

Palavras do profeta
“Acabem com esse lema que diz:
– cada um por si e Deus por todos -.
Não é cristão, é pagão…
O nosso lema é assim:
– cada um por todos e todos por um..”
(Helder Camara)

Fontes:
Acervo Centro de Documentação Dom Helder Camara – CEDOHC, Recife.
CASTRO, Gustavo do Passo. As Comunidades do DOM – Um estudo de CEBs no Brasil. Recife, FUNDAJ, 1987
PILETTI, Nelson & PRAXEDES, Walter. Dom Helder Camara – Entre o poder e a profecia. São Paulo. Ed. Atica.1997.
ROCHA, Zildo (coord.). Helder, o Dom. Recife, 2000.
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Helder - Os tempos de menino - saúde fragilizada

Magrinho mas saudável, o menino Helder não se livrou das doenças tão comuns às crianças, hoje combatidas com a vacinação sistemática, nem de uma doença perigosa, face às condições precárias do saneamento da sua Fortaleza. Aos dois anos teve sarampo e, seis meses depois, catapora. Com pouco mais de dez anos, teve uma febre repentina, violentas dores de cabeça, caindo de cama, com fortes dores por todo o corpo. O médico recomendou isolamento e medicação, diagnosticando febre tifóide, contraída face às constantes brincadeiras e pescarias no córrego que corria atrás de sua casa e nas atividades na rua, com tantos problemas a serem resolvidos, como esgoto, água potável, recolhimento de lixo, etc. Foi um susto enorme! A mãe, cautelosa e experiente em tratar os filhos doentes, velou à sua cabeceira, seguindo a risca a orientação medica, conseguindo que ele ficasse bom. A irmã Maninha (Nairzinha), fez uma promessa a Nossa Senhora, de tornar-se “Filha de Maria”, se o irmãozinho melhorasse e, para cumprir sua promessa, cresceu afastada dos bailes das festas mundanas e dos rapazes, como convinha a quem vivesse esse compromisso de cristã. Curado, Helder voltou a sua vidinha de menino feliz, evitando brincar em lugares que poderiam ser considerados perigosos para a sua saúde. A irmã, jamais namorou, cumprindo a promessa feita para salvar o irmão querido.

Palavras do profeta
“As árvores
que jamais perdem o viço
que são perenemente verdes
olham, com uma ponta de inveja,
as árvores
que se desnudam de folhas
e lembram esqueletos…
Quando a primavera irrompe
só quem foi despojado vibra
com o milagre da ressurreição.
(Helder Camara)

Fontes:
Acervo Centro de Documentação Dom Helder Camara – CEDOHC, Recife.
CASTRO, Gustavo do Passo. As Comunidades do DOM – Um estudo de CEBs no Brasil. Recife, FUNDAJ, 1987
PILETTI, Nelson & PRAXEDES, Walter. Dom Helder Camara – Entre o poder e a profecia. São Paulo. Ed. Atica.1997.
ROCHA, Zildo (coord.). Helder, o Dom. Recife, 2000.
www.domhelder.com.br

Helder - Os tempos de menino - vocação consolidada

O pequeno Helder gostava de cinema, de música, de assistir os ensaios e apresentações teatrais do tio Carlos, o artista da família. Era aluno aplicado e estudioso. Gostava do Francês, tendo desenvolvido um apurado senso critico na leitura de livros nessa língua, sobretudo pela influencia do irmão mais velho, Gilberto, francófilo explicito. Só não gostava de castigar ninguém nas sabatinas, quando aquele que errasse perguntas feitas pelos colegas teria de ser por este justiçado, com a palmatória… “Professora, sou incapaz de bater em alguém“, repetia o tímido menino, cheio de boas intenções. Sua resistência, nesse tipo de castigo, então muito comum nas escolas, levou sua professora, Dona Salomé, a suspender o castigo físico nas suas classes. Uma primeira vitória, do seu senso de justiça. E a firme decisão de ser PADRE foi se consolidando enquanto ele crescia, secretamente aspirada pela mãe e assumida pelo pai, no dia em que o interrogou, afirmando “você sabia que uma pessoa para ser padre não pode ser egoísta, não pode pensar só em si mesma? Ser padre e ser egoísta é impossível: são duas coisas que não combinam…” E continuou: “os padres acreditam que, quando celebram a Eucaristia, é o próprio Cristo quem está presente. Você já pensou nas qualidades que devem ter as maos que tocam diretamente o Cristo?” E o pequeno – sem nenhuma sombra de duvida -, afirma: “PAI, É UM PADRE ASSIM QUE EU QUERO SER“. “Então”, diz o pai, “pois que Deus te abençoe!

Palavras do profeta
“Não, não pares.
É graça divina começar bem.
É graça maior
persistir na caminhada certa,
manter o ritmo…
Mas a graça das graças
é não desistir….”
(Helder Camara)

Fontes:
Acervo Centro de Documentação Dom Helder Camara – CEDOHC, Recife.
PILETTI, Nelson & PRAXEDES, Walter. Dom Helder Camara – Entre o poder e a profecia. São Paulo. Ed. Atica.1997.
PIMENTA. Ir. Maria do Carmo. Ano 2000 – 500 anos de Brasil (Uma visão de fé, esperança e amor nas mensagens fraterna de Dom Helder Câmara. Obras de Frei Francisco. São Paulo, Paulinas, 2000.
ROCHA, Zildo (coord.). Helder, o Dom. Recife, 2000.
SOUTO MAIOR, Mario. O Menino Helder Câmara. Recife. Ed. Massangana (FUNDAJ), 2001.
www.domhelder.com.br

Helder - Os tempos de seminário - inicia-se o aprendizado

O Seminário Diocesano de Fortaleza fora inaugurado em 1864, sob a orientação dos padres da Congregação da Missão Lazarista. Como sua sede ficava próxima à praia, ficou conhecido como Seminário da Prainha. Foi ali que o menino Helder se inscreveu, para cumprir sua sincera e apaixonada vocação. Seu pai precisou investir recursos financeiros para isso, pagando as taxas estabelecidas, providenciando todo o enxoval, os medicamentos solicitados e tudo o mais, que era obrigação da família arcar. No ano de 1923 Helder Câmara tornou-se Seminarista. Calças curtas ainda, pouco conhecimento do latim, que era obrigatório, rotina pesada para o franzino menino, o candidato ao sacerdócio exercitou silêncios, sessões de orações obrigatórias em comunidade, austeridade na alimentação, essa apenas quebrada com algumas guloseimas que sua mãe – a vigilante Adelaide – trazia, nas visitas do domingo, como bolos, frutas, doces… E vieram as aulas em classe, as banca de estudos individual, a arrumação da sala para as aulas que se seguiriam… As refeições partilhadas por todos, os jogos de futebol, de pingue-pongue ou de barra, no recreio, o chá com bolacha da noite, constituíam a rotina dos meninos, que só tinham folga nas quartas-feiras… Nas primeiras de cada mês, os meninos bem comportados podiam sair, sozinhos ou em grupos, sempre usando batina e chapéu preto, apelidados, pelo povo, de “formigões“.. A ordem expressa era não conversar com estranhos pelo caminho, principalmente meninas.

Palavras do Profeta
“Temos sede de eternidade…
O amor verdadeiro
nós o queremos para sempre.
Nada de amor a conta-gotas,
de relógio marcado,
de calendário
contando dias, meses,anos…
O amor só merece
esse belo nome de amor
quando começa no tempo
mergulha na eternidade.”
(Helder Câmara)

Fontes:
Acervo Centro de Documentação Dom Helder Camara – CEDOHC, Recife.
CÂMARA, Helder. Um Olhar sobre a cidade. São Paulo / SP. CIP, 1995
PILETTI, Nelson & PRAXEDES, Walter. Dom Helder Camara – Entre o poder e a profecia. São Paulo. Ed. Atica.1997.
ROCHA, Zildo (coord.). Helder, o Dom. Recife, 2000.
www.domhelder.com.br

Helder - Os tempos de seminário - esperadas visitas

Todas as quartas-feiras, afora a primeira de cada mês e aos domingos, os seminaristas podiam receber visitas no próprio Seminário, conversar livremente, abastecerem-se com mimos trazidos pelos familiares. Dona Adelaide não perdia essas oportunidades de estar com sem menino… Levava-lhe doces caseiros, pão com manteiga, canjica… Todas as comidas eram rigorosamente vistoriadas, assim como cartas e recados que chegassem também o eram, expressão da disciplina rígida daquela casa de formação. Todo o tempo da visita a mãe de Helder demonstrava o carinho que sentia pelo filho, beijando e abraçando o pequeno, chamando a atenção de todos pelo apego que demonstrava e que era correspondido por ele. No começo, Nairzinha acompanhava a mãe e encontrava-se com o irmão querido. Depois, o Padre-Regente – Padre Cabral – achou melhor que ela e as demais meninas visitantes, não mais entrassem no Seminário, afastando qualquer devaneio de seus pupilos. Para Nair isso era terrível. Mas, conformada, esperava a saída da mãe para saber noticias através dela. Eram medidas expressas em um Regulamento rígido, que se cumpria em regime de disciplina rigorosa e medidas coercitivas duras, se necessário. Helder iria contrapor-se a muitas dessas medidas, à medida que fosse crescendo…

Palavras do profeta
“Sonha sem medo,
sem limites, sem censura
e põe teus sonhos
a serviço
da monotonia cotidiana,
da mesmice cansativa,
da eterna fragilidade,
da mediocridade humana.
(Helder Câmara)

Fontes:
Acervo Centro de Documentação Dom Helder Camara – CEDOHC, Recife.
PILETTI, Nelson & PRAXEDES, Walter. Dom Helder Camara – Entre o poder e a profecia. São Paulo. Ed. Atica.1997.
PIMENTA. Ir. Maria do Carmo. Ano 2000 – 500 anos de Brasil (Uma visão de fé, esperança e amor nas mensagens fraterna de Dom Helder Câmara. Obras de Frei Francisco. São Paulo, Paulinas, 2000.
ROCHA, Zildo (coord.). Helder, o Dom. Recife, 2000.
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Helder - Os tempos de seminário - questionamentos 1

O jovem seminarista era estudioso e esforçava-se para superar até mesmo a dificuldade com o latim, que era o seu maior desafio. Começavam também, para ele, as preocupações teológicas… Um dia, estudando os dez mandamentos da Lei de Deus, dirigiu-se a um dos mestres – um padre holandês -, pedindo explicações sobre o que chamou de “negativo” naquele decálogo… Argumentou, dizendo “como é que Deus, que é Amor, pode impor tantos “não pode”, “não pode”, “não pode”? E completou: “se fosse o Antigo Testamento daria para entender, mas o Cristo não veio para mudar a Lei?” O padre, impressionado com a argumentação do jovenzinho, lembrou-lhe que foi o próprio Cristo quem definiu, como maior mandamento, “amar a Deus sobre todas as coisas…” completando-o com “e amar ao próximo com a si mesmo!” Aí – disse ele – está a lei , estão os profetas, tudo. Helder compreendeu e guardou no coração aquela impressão nova sobre as Leis de Deus. Jamais se esqueceria disso, pelo resto da sua vida!

Palavras do profeta
“Precisamos de um Brasil
que sinta necessidade de auscultar
a Sabedoria Popular
de quem não tendo, muitas vezes,
a Ciência bebida em Escolas,
possui o Saber bebido na Vida
o saber de experiências feito…”
(Helder Camara)

Fontes:
Acervo Centro de Documentação Dom Helder Camara – CEDOHC, Recife.
PILETTI, Nelson & PRAXEDES, Walter. Dom Helder Camara – Entre o poder e a profecia. São Paulo. Ed. Atica.1997.
PIMENTA. Ir. Maria do Carmo. Ano 2000 – 500 anos de Brasil (Uma visão de fé, esperança e amor nas mensagens fraterna de Dom Helder Câmara. Obras de Frei Francisco. São Paulo, Paulinas, 2000.
ROCHA, Zildo (coord.). Helder, o Dom. Recife, 2000.
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Helder - Os tempos de seminário - questionamentos 2

O espírito audacioso daquele seminarista haveria de levá-lo a se envolver em discussões memoráveis, polêmicas e apaixonantes, postura que manteria pela vida toda… Um dos seus Reitores, o padre francês Tobias Dequidt, exercia absoluto controle sobre aquilo que era privativo de cada um dos estudantes. Possuía, inclusive, a duplicata da chave dos cadeados das bancas onde guardavam seus livros, seus materiais de escola, seus papéis… Um dia, Helder foi pegar um livro de orações em sua mesa e, antes que a abrisse, foi advertido por um colega, em relação aos papéis que guardava, dizendo-lhe que, se sentisse falta de alguma coisa, fosse pedi-la ao Reitor. Ao abrir a banca, estava ela toda revirada… Helder percebeu as faltas, mas permaneceu calado, deixando passarem-se os dias, sem reclamar nada ao responsável pela ação. Um dia, o Reitor o abordou, perguntando-lhe se “não estava sentindo falta de seus papéis“… Com a sinceridade e o respeito de sempre o jovem foi categórico em dizer que “queria evitar o constrangimento dele, que havia mexido na sua banca pela madrugada, como um ladrão, levando papéis que não lhe pertenciam” e completou dizendo “quis livrá-lo dessa humilhação…” O Reitor ficou abalado mas comovido com o firmeza do jovem… Prometeu que jamais repetiria isso…Mas, antes de devolver-lhe tudo, quis interrogá-lo sobre a mania de escrever versos…

Palavras do profeta
“Corrigir um erro é uma arte difícil…”
Quem gosta de ser corrigido?
É preciso que quem errou
sinta que,quem corrige,
não vem contra,
não vem com rudeza,
não vem com ar de quem não erra
e de quem é mestre
e nasceu para corrigir e ensinar…
(Helder Camara)

Fontes:
Acervo Centro de Documentação Dom Helder Camara – CEDOHC, Recife.
CAMARA, D. Helder. Um olhar sobre a cidade. São Paulo, Paulus, 1995.
PILETTI, Nelson & PRAXEDES, Walter. Dom Helder Camara – Entre o poder e a profecia. São Paulo. Ed. Atica.1997.
ROCHA, Zildo (coord.). Helder, o Dom. Recife, 2000.
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Helder - Os tempos de seminário - questionamentos 3

O Reitor do Seminário havia recolhido escritos de Helder, guardados na banca de estudos. Sobretudo, poemas… E interrogou o seu seminarista, dizendo que ele corria perigos por causa da poesia, pela imaginação vagando… E ele, categórico, afirmou: “Poeta, Senhor Reitor, não é só quem faz versos , mas quem vibra diante da beleza, como o senhor… E prosseguiu, defendendo o direito de expressar-se em poesia – ou meditações -, como ele as chamava -, como um dom de Deus, sem medos e temores. O Reitor temia que a poesia pudesse levá-lo tão longe, que o afastasse do caminho do sacerdócio. E ele, num gesto de renúncia e de sabedoria, compromete-se a não mais fazer poesia, ate o dia de sua ordenaçãopedindo, no entanto, que o Reitor confiasse nele e não mais bisbilhotasse as suas coisas, nem a dos colegas. Padre Tobias, confirmando essa confiança, devolveu-lhe a cópia da chave de sua banca. Ele retrucou, dizendo: “não quero isso apenas para mim. Não quero privilégios“… O padre ainda questionou-o sobre “nem todos teriam a maturidade que ele já apresentava”… E ele, firme, lamenta que o Reitor não confiasse na juventude e não fizesse um apelo para a lealdade de todos, que certamente seria pactuado. Convencido, o Reitor resolveu arriscar e devolveu todas as cópias de chaves aos respectivos donos. Havia lágrimas nos olhos daquele padre tão experiente, diante da capacidade de defender a si e aos outros, daquele seminarista tão especial…

Palavras do Profeta
“Pai, dirige, por alguns segundos,
Teu olhar divino,
não tanto sobre os oceanos
que a nós chegam a lembrar
o Infinito…
Contempla,
por um instantes,
os riachos humílimos
e as quedas dŽágua
que não se cansam
de cantar os Teus louvores…”
(Helder Camara)

Fontes:
Acervo Centro de Documentação Dom Helder Camara – CEDOHC, Recife.
CAMARA, D. Helder. Um olhar sobre a cidade. São Paulo, Paulus, 1995.
PILETTI, Nelson & PRAXEDES, Walter. Dom Helder Camara – Entre o poder e a profecia. São Paulo. Ed. Atica.1997.
ROCHA, Zildo (coord.). Helder, o Dom. Recife, 2000.
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Helder - Os tempos de seminário - premonição?

O compromisso assumido com o Reitor do Seminário, de não mais escrever meditações, abateram o jovem seminarista… Claro que ele cumpriria essa promessa, guardando seu dom de fazer poesia para, mais tarde, deixá-lo desabrochar. Mas, naquele momento de renúncia, pesava-lhe a pena a que se obrigara, deixando-o acabrunhado. E foi assim que a mãe foi encontrá-lo, na visita seguinte… Helder falou a ela do desaparecimento dos seus escritos, do pacto que firmara com o Padre Tobias Dequidt a respeito de não mais fazer poesia até a sua ordenação, das conseqüências boas para os colegas, na retirada daquela absurda forma de proceder, que vinha sendo mantida, como medida disciplinar, mas de uma profunda desconfiança. Adelaide tentou distraí-lo, conversando, tentando tocar-lhe o coração magoado… No final da visita, já de saída, ela levanta as duas mãos para o alto e diz para o filho, como se fosse uma “senha”: “coragem, José!“… Helder jamais esqueceu essas palavras, que lhe pareceram mágicas… José viria a ser o nome com o qual ele invocaria o seu anjo-da-guarda… José seria sua assinatura especial, em escritos que haveria de fazer, pela vida afora… Nascia o “José” cujas “meditações” o mundo haveria de descobrir, um dia!

Palavras do Profeta
” Tão escuro ainda!
E as horas se arrastando…
Não haverá perigo
de a Noite
emendar com a Noite?
Galos todos,
que despertais a Aurora,
cantai!
Mais alto ainda!
É terrível quando
a própria Madrugada não desperta
e não nos desperta!”
(Helder Câmara)

Fontes:
Acervo Centro de Documentação Dom Helder Camara – CEDOHC, Recife.
CAMARA, D. Helder. Um olhar sobre a cidade. São Paulo, Paulus, 1995.
PILETTI, Nelson & PRAXEDES, Walter. Dom Helder Camara – Entre o poder e a profecia. São Paulo. Ed. Atica.1997.
ROCHA, Zildo (coord.). Helder, o Dom. Recife, 2000.
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Helder - O funcionário público vacila

Helder – 0 funcionário público vacila…

Na repartição pública onde trabalhava, Padre Helder era muito querido e muito requisitado… Seus colegas faziam-lhe confidências, faziam dele um “diretor espiritual”, confiando seus problemas, pedindo conselhos. Nem na hora do cafezinho, que era o momento de lazer no meio da rotina de trabalho, ele deixava de ser procurado… Também levavam a ele as “fofocas” dos bastidores da Política, os mexericos com uns e outros dentre os que ocupavam posições de destaque naquele momento… E o padre que ele era, tão verdadeiro e tão vocacionado, começou a ficar cansado de tudo aquilo, até mesmo porque que sonhara ser um padre-pregador, que levasse saísse falando de Deus para os seus irmãos e o trabalho o prendia, o limitava, o mantinha distante daquele sonho. E ele um dia, corajosamente, pede ao amigo Alceu do Amoroso Lima (Tristão de Athaide), que interceda junto ao Cardeal Leme, para desobrigá-lo de continuar funcionário público, voltando a ser apenas um padre. Dom Leme não aceitou os argumentos. Ponderou que ter um padre-educador na posição privilegiada em que estava o Padre Helder, era importante para as reivindicações da própria Igreja Católica, para agir entre os católicos não-praticantes, para defender interesses dessa Igreja à qual pertencia. Padre Helder obedeceu. E, mesmo sonhando outra forma de ação, naquele momento disse novamente SIM, como Maria.

Palavras do profeta
“Só pode dizer que ama
quem pode responder,
como Deus,
– em qualquer instante,
– em qualquer consciência,
– em qualquer lugar:
envolvendo-te e levantando-te,
levando-te e, ao mesmo tempo,
sendo levado por Ti….!”
(Helder Camara)