Os jovens e o sucesso

    “Trabalhar por um mundo melhor”. Este é o desafio lançado pelo Papa Francisco aos jovens. O Santo Padre se inspira na intenção de oração deste mês para incentivar os jovens a responderem com generosidade à própria vocação, considerando seriamente também a possibilidade de se consagrarem a Deus “no sacerdócio ou na vida consagrada”. O Papa os convida a não viverem “na ilusão de uma liberdade que se deixa levar pelas modas do momento”, mas que apostem alto. Pede o Papa: “Não deixe que outros sejam os protagonistas da mudança! Vocês, jovens, têm o futuro. Peço-lhes que o construam que trabalhem por um mundo melhor” (1).

    “Piedade de mim? Não, não/ fica com a tua piedade para os jovens,/ que já não precisam de mim./ Eu velho poderei fazer a minha escolha:/ uma boa morte./ Aos jovens resta ainda a escolha/ entre uma realidade irreal/ e dezessete canais.”

    Assim o poeta inglês Peter Russell (1921-2003) descrevia a triste escolha de muitos jovens, expostos à virtualidade (a “realidade irreal”) do monitor do computador e incertos sobre quais das dezenas e dezenas de canais informáticos e televisivos sintonizar.  No fim de tudo pode explodir neles o desejo de evasão: vaguearem pelo mundo, entrarem em experiências extravagantes, precipitarem-se nos abismos das dependências da droga.

    Exorta o cardeal dom Gianfranco Ravasi, Presidente do Conselho Pontifício da Cultura: “Pais, educadores, comunidades civis e eclesiais têm de ajudar estes rapazes a sair da cave e a desligar os auscultadores para escutarem uma palavra e um som diferentes, e abrir os olhos a um rosto vivo e amoroso, como acontece ao filho menor na parábola de Lucas” (Lucas 15, 11-32) (2).

     

    A não abertura para tratar as questões da crise que muitos jovens levam como vergonha, por exemplo: o desemprego, é o primeiro passo para saber as condições dos tempos atuais e detectar possíveis casos de depressão ou ansiedade.

     

    Temos que ser conscientes de que a desesperança é um dos principais gatilhos para que se instale um episódio depressivo. Atualmente houve um aumento nos casos de depressão diagnosticados na geração atual de jovens em relação à geração anterior. A atual situação econômica, política, social e cultural, marcadamente negativa, está afetando toda uma geração de jovens com sentimentos e expectativas negativas. Muitos se sentem assim e estão vivendo desse modo, mas é difícil se expressar. Justamente antes da situação piorar ainda mais, havia a esperança de que essa geração não tivesse que esperar tanto tempo para que a situação se normalizasse. Agora vemos que esse era um ponto de vista muito otimista, que a crise se agravou e a única solução é seguir caminhando.

     

    Suicídio de Jovens

     

    Enquanto o suicídio segue sendo um assunto sobre o qual se fala pouco, o número de pessoas que tiram a própria vida avança silenciosamente. No Brasil, o índice perde apenas para homicídios e acidentes de trânsito entre as mortes por fatores externos (o que exclui doenças). Em todo o mundo, entre os jovens, a morte por suicídio já é mais frequente que por HIV. Entre idosos, assim como entre pessoas de meia-idade, os índices também avançam.

     

    Falar de suicídio, na maioria das vezes, é falar de depressão. Falar de depressão, no entanto, não necessariamente é falar de suicídio.

     

    A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou uma cartilha anual de recomendação para a prevenção do suicídio. Nela, são apontadas 15 causas frequentes que influenciam na retirada da própria vida, como o uso de álcool e drogas, perda ou luto e outros transtornos mentais, como a esquizofrenia. A maior parte dos casos são executados por pessoas com depressão, independente de sexo, faixa etária ou qualquer outra característica.

     

    O relatório da OMS afirma que “as tentativas de suicídio de adolescentes estão muitas vezes associadas a experiências de vida humilhantes, tais como fracasso na escola ou no trabalho ou conflitos interpessoais com um parceiro romântico”.

     

    “Estudos feitos na cidade de São Paulo sugerem que a falta de perspectivas de vida para muitos jovens – insegurança física e econômica, desemprego ou falta de acesso – aliada à desatenção e ao despreparo do sistema público de saúde agravam ainda mais a situação” (3).

     

    Diante de tantos desafios, temos forças para combater as incompatibilidades, há em nós a resiliência que faz vencer as tormentas da vida e a coragem para construirmos um mundo melhor. Não é possível alcançar grandes vitórias sem antes enfrentar as grandes lutas. Compreender  que as derrotas e fracassos fazem parte da vida rumo ao sucesso. Ter consciência que a persistência, o diálogo, a amizade, a fé e o meio familiar são ferramentas e mecanismos  importantes  para superar as dificuldades e prosseguir focando altos objetivos.

     

    O sucesso dos jovens de fato e de verdade se encontra no amor de Deus, no viver do Evangelho de Cristo, na família unida, fraterna e cheia de ternura, numa comunidade viva e acolhedora que realiza investimentos pela causa dos jovens, nos adultos que dão exemplos de dignidade, nos líderes religiosos que dão testemunhos de santidade e numa sociedade que ofereça toda oportunidade para bem-estar dos jovens. Somos o resultado do que absorvemos.

     

    Frei Inácio José do Vale
    Psicanalista Clínico
    Professor e Conferencista
    Sociólogo em Ciência da Religião
    Formador da Fraternidade de Charles de Foucauld
    E-mail: pe.inacio.jose@gmail.com

    Notas:

    (1) https://mail.google.com/mail/u/0/#inbox/15b3a5ce41253e79
    (2) http://www.snpcultura.org/o_rapaz_da_cave.html
    (3)http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/suicidio-e-preciso-falar-sobre-esse-problema.ghtml

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