A Obra do Calvário

    “Deus amou o mundo de tal modo, que deu seu Filho único, para que todos o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16).

    A obra do Calvário é a mais alta expressão do amor de Deus. Sem ela não haveria a manjedoura, a Páscoa e a Igreja. Por essa gloriosa obra há profundas revelações e conexões: Anás, Caifás e a inquisição religiosa, Barabás e a multidão, Pilatos e a bacia, Pedro e o galo, Simão Cireneu e a cruz, Maria e os amigos, o soldado e a lança, o ladrão e o paraíso.

    Foi dito: “verdadeiramente este era filho de Deus”. Viu alguém morrer de amor, entendeu que essa obra é toda de amor de Deus. Essa é a mais sublime confissão de fé declarada no Calvário. “Sangue, água e a Igreja”, (Sacramentos e o Corpo de Cristo) fundamentos e sustentáculos dos discípulos que caminham no amor do reino de Deus.

    A suprema beleza está no amor, sobre o Calvário, o amor se entrega completamente para ser pregado, pobre, humilhado e nu, esse é o lugar para morrer de amor.  Belíssimo é quem morrer de amor! A cena do Calvário é a mais abissal que existe na face da terra. É paradoxal e tomado de mistério…
    As  representações da Semana Santa tem uma capacidade de mobilizar multidões cuja essência ultrapassa claramente os limites da crença devocional, do domínio eclesiástico, do contexto turístico-cultural, das crises humanas e sociais. Tudo por causa do amor que respinga do Calvário.

    “Ecce Homo”, é a expressão mais conhecida do drama da Paixão evocando o julgamento de Cristo, quando o governador romano Pôncio Pilatos se dirigiu à multidão e proclamou “Eis o Homem”, em latim “Ecce Homo”. Ou seja, “Eis o Amor” que é entregue gratuitamente por todos. “Eis o Homem”. O conjunto da obra de amor: três pregos, a cruz, o condenado, o pregador, a rejeição e o Calvário.

    Diante desse fato colossal e dramático da Paixão, quantos não fazem parte do sistema religioso que ainda hoje crucificam  inocentes? Assim  também, muitos miseráveis, excluídos  restam tão somente para eles o amor do Calvário em prol da  sua remissão!

    Os desgraçados são os protagonistas do espetáculo de horror e adentram no que há de mais primitivo da raça humana crucificando assim mesmo e onde existem expressões de amor. Quem não é participante da crucificação com  eles é também crucificado, no entanto é partícipe da graça, ou seja, são agraciados pelo amor de Deus.

    Para o filósofo alemão Friedrich Nietzsche que condena o cristianismo como algo próprio de fracos, de doentes, de escravos, de pessoas que inverteram os valores próprios da vida, fazendo da doença, da fraqueza, da submissão os novos bens. No entanto, é melhor ser fraco, leigo, ou a ralé de crucificados, do que ser poderosas autoridades civis  e eclesiásticas crucificantes! Tais autoridades são desconstruidoras do Calvário do amor pela vida, e construtores de calvários que eliminam seus opositores. Ninguém crucifica tão bem quantos os líderes religiosos que fazem pela posse de poder, pela inveja e pelo ódio, usando e abusando o nome de Deus.

    O Calvário é expressão máxima do amor de Deus para aqueles que não têm vez  e nem voz, nem eira e nem beira. Para o pobre pecador arrependido.

    Frei Inácio José do Vale
    Professor e conferencista
    Sociólogo em Ciência da Religião
    Doutor em História do Cristianismo
    Formador dos Irmãozinhos da Visitação da Fraternidade de Charles de Foucauld
    E-mail: pe.inacio.jose@gmail.com

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