O Ano Litúrgico C, que se inicia com o Tempo do Advento, destaca o Evangelho segundo São Lucas como a principal fonte das leituras dominicais. Lucas é conhecido como o evangelista da misericórdia, da alegria e da salvação universal, características que permeiam sua obra e oferecem uma mensagem de esperança e amor a todos os povos.
Quem foi Lucas?
Lucas é tradicionalmente identificado como médico e companheiro de São Paulo, como mencionado nas cartas paulinas: “Lucas, o querido médico, vos saúda” (Cl 4,14). Ele é também autor do Evangelho que leva seu nome e do livro dos Atos dos Apóstolos, formando uma obra em dois volumes que narra a vida de Jesus e o início da Igreja.
Embora não tenha sido testemunha ocular dos eventos narrados, Lucas baseou-se em fontes confiáveis e em relatos daqueles que vivenciaram a vida de Jesus. Ele mesmo declara no prólogo de seu evangelho: “Depois de ter investigado tudo cuidadosamente desde o princípio, também eu decidi escrever-te um relato ordenado” (Lc 1,3).
As Características do Evangelho de Lucas
O Evangelho de Lucas possui características únicas que o distinguem dos outros evangelhos sinóticos (Mateus e Marcos). Essas particularidades revelam o coração do evangelista e sua visão teológica:
- A Misericórdia Divina:
Lucas apresenta Jesus como o rosto da misericórdia de Deus. Parábolas como a do Filho Pródigo (Lc 15,11-32), da Ovelha Perdida (Lc 15,1-7) e do Bom Samaritano (Lc 10,29-37) são exclusivas de seu Evangelho e ilustram o amor incondicional de Deus por cada ser humano.
- A Universalidade da Salvação:
Diferentemente de Mateus, que se concentra no cumprimento das promessas feitas ao povo de Israel, Lucas enfatiza que a salvação é destinada a todos os povos. Desde o cântico de Simeão – “meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos” (Lc 2,30-31) – até a inclusão dos marginalizados, como pecadores, samaritanos e gentios, o evangelho destaca que o amor de Deus não tem fronteiras.
- A Atenção aos Pobres e Excluídos:
Lucas é conhecido como o evangelista dos pobres. Ele mostra Jesus como o defensor dos humildes, proclamando as bem-aventuranças de forma concreta: “Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus” (Lc 6,20). A atenção às viúvas, órfãos e doentes reflete o coração compassivo de Cristo.
- O Papel das Mulheres:
No Evangelho de Lucas, as mulheres têm um papel destacado. Maria, Isabel, Ana e as mulheres que acompanham Jesus ao longo de sua missão são apresentadas como exemplos de fé e fidelidade. A Anunciação (Lc 1,26-38) e o Magnificat (Lc 1,46-55) são exclusividades que exaltam a dignidade e a missão da mulher no plano de Deus.
- A Alegria do Evangelho:
Lucas transmite a alegria que acompanha a presença de Jesus. Desde o anúncio do nascimento de João Batista e de Jesus até a ressurreição, o evangelho está permeado de cânticos e expressões de júbilo, como o Magnificat, o Benedictus e o Nunc Dimittis. Essa alegria reflete a chegada do Salvador e a inauguração de uma nova era.
Lucas e o Ano Litúrgico C
Ao longo do Ano C, o Evangelho de Lucas nos convida a mergulhar no coração misericordioso de Deus e a viver como discípulos de Jesus, comprometidos com o anúncio da salvação e com o cuidado dos mais necessitados. Sua mensagem é um lembrete de que todos são chamados a fazer parte do Reino de Deus, independentemente de sua condição ou história de vida.
A ênfase de Lucas na misericórdia é particularmente relevante para os tempos atuais, marcados por desigualdades e divisões. Ele nos desafia a sermos instrumentos do amor de Deus no mundo, acolhendo os marginalizados, perdoando com generosidade e vivendo com alegria o evangelho de Cristo.
Conclusão
Lucas, o evangelista da misericórdia e da universalidade, oferece uma mensagem atemporal que continua a inspirar a Igreja em sua missão evangelizadora. Durante o Ano C, somos chamados a redescobrir a beleza de sua obra e a colocá-la em prática, vivendo com esperança, alegria e um compromisso renovado com o Reino de Deus.
Que possamos, a exemplo de Lucas, testemunhar o amor de Cristo e proclamar, com nossas palavras e ações, que a salvação é para todos. Assim, seremos verdadeiros discípulos D’Aquele que veio para buscar e salvar o que estava perdido (Lc 19,10).
+Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá (PR)