Jesus quer misericórdia e não sacrifício!

    A Palavra de Deus deste 10º Domingo do Tempo Comum repete, com alguma insistência, que Deus prefere a misericórdia ao sacrifício. A expressão deve ser entendida no sentido de que, para Deus, o essencial não são os atos externos de culto ou as declarações de boas intenções, mas sim uma atitude de adesão verdadeira e coerente ao seu chamamento, à sua proposta de salvação. É esse o tema da liturgia deste dia.

    Na primeira leitura (Os 6,3-6), o profeta Oseias põe em causa a sinceridade de uma comunidade que procura controlar e manipular Deus, mas não está verdadeiramente interessada em aderir, com um coração sincero e verdadeiro, à aliança. Os atos externos de culto – ainda que faustosos e magnificentes – não significam nada, se não houver amor (quer o amor a Deus, quer o amor ao próximo – que é a outra face do amor a Deus). Oséias dirige duras críticas às práticas religiosas infecundas e exteriores do sacerdócio e do povo de Israel. Ofereciam sacrifícios e holocaustos que não correspondiam ao amor divino, pois pareciam ofertas a divindades pagãs, idolatria. O profeta denuncia tais práticas e anuncia que o Senhor prefere misericórdia a qualquer oferta ou sacrifício.

    Na segunda leitura (Rm 4,18-25), São Paulo apresenta aos cristãos (quer aos que vêm do judaísmo e estão preocupados com o estrito cumprimento da Lei de Moisés, quer aos que vêm do paganismo) a única coisa essencial: a fé. A figura de Abraão é exemplar: aquilo que o tornou um modelo para todos não foram as obras que fez, mas a sua adesão total, incondicional e plena a Deus e aos seus projetos.

    O Evangelho (Mt 9,9-13) apresenta-nos uma catequese sobre a resposta que devemos dar ao Deus que chama todos os homens, sem excepção. O exemplo de Mateus sugere que o decisivo, do ponto de vista de Deus, é a resposta pronta ao seu convite para integrar a comunidade do “Reino”. Jesus viu Mateus e o chamou para o discipulado. Mateus era um pecador público, cobrador de impostos, visto e chamado por Jesus, levantou-se e o seguiu. A prontidão e a imediaticidade de Mateus em levantar-se, deixar para trás o que fazia para ir com Jesus, se assemelha à vocação dos primeiros discípulos (Mt 4,18-22). Jesus chamou pobres pescadores e agora chama pecadores públicos. Com estas pessoas, gente considerada impura e afastada de Deus, talvez não praticante da Lei de Moisés, Jesus faz comunhão de mesa, estabelece intimidade. Respondendo à reprovação dos fariseus, Jesus descreve dois aspectos de sua missão, os quais devem ser seguidos por seus discípulos e por toda a Igreja. Primeiro: Jesus veio para salvar a todos, mas em especial os pecadores (os doentes). Estes são os que mais precisam do divino médico. Quem já se acha saudável e salvo, física e espiritualmente, não precisa de cuidados salvíficos do médico, enviado por Deus. Segundo: citando a Primeira Leitura – Os 6,6 – Jesus declara a sua opção pelos vulneráveis e pelos pecadores, sua opção pela prática da misericórdia, mais que por ações religiosas endurecidos da Lei: “Quero misericórdia e não sacrifício!”.

    A Palavra de Jesus – que converte um coletor de impostos em seguidor – nos mostra que a atitude fundamental da vida só pode ser o perdão. Jesus não aceita o que pudesse haver de injusto no trabalho dos que colaboravam com a dominação romana, mas recrimina com maior força o julgamento condenatório, que, entre outras coisas, esconde a hipocrisia. Tenhamos, pois, sempre atitudes de misericórdia, pois ela abre a todos nós, pecadores, todos os caminhos do discipulado!

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