FEMINICÍDIO, A BARBÁRIE DA IGNORÂNCIA.

O feminicídio é a evidência diante de nossos olhos de que a     barbárie de uma sociedade que afronta os valores do respeito e da valorização da vida superou limites inimagináveis.

Ignorância é toda e qualquer atitude de omissão e indiferença aos atos de violência cometidos contra os seres humanos, principalmente os mais vulneráveis, no caso, as mulheres. Constatamos a triste realidade de que o tecido social está contaminado, eivado da tríplice omissão do “não vi, não ouvi e nem falei.”.

O que mais impressiona e nos foge à compreensão é a postura de conivente aceitação desse estado de coisas, por parte das mulheres.  Agem como que anestesiadas, sem reação para assumir qualquer atitude de inconformismo para denunciar e erradicar de vez essa tortura física, psíquica e espiritual que sofrem. Atos que não somente denigrem o “ser” da mulher como pessoa, filha de Deus, como a mantêm refém dessa situação absurda.

Elas ainda não perceberam a prodigiosa força de que são dotadas e que aflora e as mobiliza quando se organizam e partem para o enfrentamento a esses Golias machistas e covardes que se vangloriam da ideologia do machismo reprodutor e assim se aproveitam da vulnerabilidade feminina. Esses vilões reprodutores que as exploram a ponto de transformá-las em propriedade privada e produto descartável, para uso e abuso.

É vergonhosa a postura de indiferença por parte de homens que assistem a tudo isso passivamente, e assim legitimam essa selvageria do feminicídio com o seu silêncio covarde. Lavam as mãos como Pilatos – como se fosse possível lavar as consciências –, e entregam as mulheres, indefesas, à própria sorte. Condenam-nas aos julgamentos mais cruéis, para serem torturadas e crucificadas no calvário das ruas de nossas cidades, tudo sob os holofotes dos meios de comunicação, que aproveitam para expor essa sua desgraça nos espaços jornalísticos da mídia, tal como um produto de grande índice de ibope.

A solução está numa mobilização nacional a ser articulada pelos poderes públicos constituídos, no sentido de que sejam implantadas leis mais rigorosas, com a aplicação de penas pesadas aos agressores. E, ainda mais, que sejam oferecidos todos os recursos necessários para o tratamento e recuperação desses desvirtuados.

Que haja um envolvimento sério, ético, dos meios de comunicação social, para a divulgação de políticas públicas a serem adotadas pelas autoridades.

Uma mobilização dos cidadãos no sentido da conscientização, para a preservação e valorização da vida. Projetos sociais de educação permanente, voltada para a infância masculina, desde a mais tenra idade. Promoção e valorização das famílias.

A sociedade brasileira precisa urgentemente ser exorcizada dos demônios geradores da ignorância e da praga do fatalismo (conformismo), que legitima a subserviência das mulheres aos idólatras. Uma cultura (ou a falta de cultura e abertura de mente!), que teima em manter essa Idéia preconceituosa da diferenciação e discriminação de classes. (Afinal, no âmbito da família e na sua mais extensa acepção, a sociedade, não deve haver, jamais, qualquer discriminação, posto que, homem e mulher, cada qual tem, por natureza, a sua função biológica, social, laborativa).

Na realidade em que vivemos, o elemento masculino está “acima” do feminino, perpetuando-se (até quando?) o chavão que diz “ser a mulher o sexo frágil”, e que “ela precisa do homem para protegê-la e guardá-la”, como bijuteria no” me engana que eu gosto”.

Somos seres humanos. Temos sentimentos, e a nossa verdadeira vocação é amar e sermos amados. Na nossa constituição genética estão presentes os elementos “masculino” e “feminino”. Isso quer dizer que somos capazes de olhar, cada um ao outro, com os olhos do coração e nos enxergarmos tais como somos e como o outro é, na sua essência.

Desse modo poderemos ver o outro como expressão da imagem divina. Perceberemos que nós somos o divino que se revela na simbiose “Eu e Tu”. Eu sou você e você é eu.  Assim sendo, a prova de que sou amado sãos os atos de amor que emanam de mim em direção ao outro. Quem vive rodeado de pessoas que emanam sinais de morte, vegeta e morre. Em contra-partida, quem vive em meio a pessoas que são sinais de vida, vive a vida e desfruta dela. .

É hora de despertarmos e percebermos que nossa vida tem um prazo de validade. O tempo urge, e cada minuto é um milagre que não se repete.  A ignorância é vencida pelo conhecimento, e o conhecimento é fruto de uma educação integral.   O que me faz ser homem ou mulher não são somente as características físicas protuberantes (externas) e sim, e principalmente, o jeito que eu me vejo e me acolho nas entranhas do olhar do outro. Quem se sente amado passeia no coração de quem o ama.

Pe. Luiz Roberto Teixeira Di Lascio

Arquidiocese de Campinas – São Paulo

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