Ele nos conhece por dentro

    Estamos celebrando o terceiro domingo da Quaresma. A Quaresma é um tempo de conversão e de renovação. Mas não acontece verdadeira e autêntica renovação se não se passa por uma corajosa revisão da própria vida moral e da própria vida litúrgica – com palavras mais simples, dos próprios costumes e da própria oração.

    Na Primeira Leitura (Ex 20,1-17), o povo de Israel recebeu uma legislação privilegiada, pois os Mandamentos são sabedoria de Deus e caminho seguro para a vida eterna. São indicadores de vida e de segurança social. O Decálogo é uma escolha de vida que Deus propõe ao homem: Olha que hoje ponho diante de ti a vida com o bem, e a morte com o mal; observes seus mandamentos, suas leis e seus preceitos, para que vivas e te multiplique se não obedeceres e se te deixares seduzir eu te declaro neste dia: perecereis (Dt 30,15ss). O Decálogo é para o homem, não contra ele; não quer amarrar ou limitar sua liberdade, mas antes soltá-la. Aquilo que proíbe é o que compromete antes de tudo o próprio homem e sua possibilidade de ter relações equilibradas com os outros, de ser, em outras palavras, autenticamente pessoa humana.

    Na segunda leitura (1Cor 1,22-25), São Paulo fala do Cristo Crucificado para o povo de Corinto”! Uns pedem sabedoria e outros sinais, mas nós anunciamos Jesus Cristo! Eis o paradoxo de sempre e que nós iremos celebrar de modo especial na semana santa. Nós não estamos sozinhos diante da lei; entre nós e o Decálogo existe Jesus Cristo crucificado e ressuscitado. Ele é a “sabedoria de Deus” (1Cor 1,24) para nós, isto é, a nossa lei.

    No Evangelho (Jo 2, 13-25), Jesus se apresenta “expulsando os vendedores de bois, ovelhas, pombas e os cambistas”. O templo era um lugar muito sagrado para os judeus, todo judeu deveria ir ao templo ao menos uma vez por ano para oferecer um sacrifício a Deus. Como bom judeu, Jesus exige respeito pelo templo. Desrespeitá-lo significava desrespeitar o próprio Deus, pois templo significa a presença de Deus entre os seres humanos. O gesto ousado de Cristo não é apenas zelo de purificação do templo. As ofertas para os sacrifícios faziam girar muito dinheiro e provocavam abusos e exploração. “Tirai isso daqui! Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!” (Jo 2, 16). As relações do homem com Deus, e também para com o próximo, têm que ser orientadas pela retidão, pela sinceridade. São João afirma que Jesus purificou o templo, expulsando dele os vendedores com as suas mercadorias, quando já estava próxima a “Páscoa dos Judeus”.

    O Templo, lugar do encontro de Deus com o seu povo, transformado numa espelunca, numa casa de comércio, um lugar de prostituição do coração, de idolatria, ganância, impiedade, é reduzir a religião a um negócio lucrativo pensando que se pode manipular Deus! O Senhor previne: “Eu sou o Senhor vosso Deus que não aceita suborno!” (Dt 10,17). Por isso, Jesus age de modo violento: “Fez um chicote de cordas e expulsou todos do Templo, junto com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas e derrubou as mesas dos cambistas. Disse aos que vendiam pombas: ‘Tirai isso daqui! Não façais da Casa de meu Pai uma casa de comércio!’”. O que significa este gesto de Jesus? É uma pregação pela ação, uma ação profética, uma ação, um gesto que vale por uma pregação.

    A Igreja, durante a Quaresma, caminhando para a Páscoa parece repetir o gesto de Jesus, convidando os cristãos à purificação do templo do seu coração para que possam prestar a Deus um culto mais purificado. Que nunca percamos de consideração primordial a centralidade da salvação em Jesus Cristo, o novo Templo de Deus. Jesus falou de outro templo, infinitamente digno, “o Templo do Seu Corpo” (Jo 2, 21), ao qual fazia alusão quando dizia: “Destruí este Templo, e em três dias Eu o levantarei” (Jo 2,19). Saibamos olhar para Cristo e assim a cada dia tenhamos um coração puro e que faça a cada dia a vontade do Pai.

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