Dicionário Bergoglio: as palavras-chave de um Pontificado

Benedetta Capelli/Mariangela Jaguraba – Vatican News

A apresentação on-line do livro “Dicionário Bergoglio: as palavras-chave de um Pontificado” está prevista para esta quinta-feira (18/02), às 18h da Itália, nos canais Youtube e Facebook da Edição Terra Santa. A obra é de Francesc Torralba, professor de filosofia e antropologia da Universidade Ramòn Llull de Barcelona, consultor do Pontifício Conselho para a Cultura. Uma viagem nas palavras para compreender a profundidade, iluminá-las, um itinerário nas expressões cunhadas por Francisco que se tornam centros do seu magistério, síntese de conceitos elevados e facilmente acessíveis a todos. Um percurso que começa com trechos de entrevistas, discursos, encíclicas, homilias e documentos oficiais.

Palavras de esperança para o mundo

Segundo o autor, “muitas dessas palavras fazem parte do pensamento de Jorge Mario Bergoglio. Já as usava no magistério oral e escrito, muito antes de chegar à cátedra de Pedro, quando era sacerdote em Buenos Aires”. Por isso, Francesc Torralba escolheu fazer o “Dicionário Bergoglio”.

Torralba: O meu livro nasceu com o desejo de compreender quais são as palavras, as categorias, os conceitos fundamentais deste Pontificado. Vejo que existe uma unidade de pensamento, existe uma grande originalidade na forma de representar e entender os aspectos da condição humana, do mundo. Parece-me que esta é a chave para a compreensão, mesmo por parte daqueles que não são parte ativa da Igreja, porque veem no Papa Francisco uma mensagem de esperança positiva. Uma mensagem que pode ser entendida porque é uma linguagem não muito intra-eclesial, mas mais extra-eclesial, para os que estão longe e isso me parece muito interessante. Por exemplo, quando Francisco fala da globalização da indiferença, enfatiza o problema da indiferença em relação à terra, ao outro, ao estrangeiro, em relação a Deus, ou toda a reflexão sobre as periferias do mundo, as periferias existenciais. São palavras, expressões que não têm uma leitura teológica única, mas também uma leitura do ponto de vista laical e isso faz com que a mensagem vá além. Para mim, este é o desejo deste Papa: sair de si mesmo para chegar ao outro e levar a boa nova, o Evangelho.

Na história de Bergoglio, essa propensão para criar neologismos não é nova.

Torralba: Claro, existem categorias e palavras em espanhol, mas num espanhol com acento argentino muito difícil de traduzir. Por esta razão, no “Dicionário Bergoglio” existem dois verbetes que também estão em espanhol, por exemplo “balconear”, a atitude de ficar na janela e observar o outro, mas sem fazer nada. É a atitude passiva de ver as tragédias do mundo e permanecer tranquilo. Depois vem o “primeirear” que significa ser o primeiro a fazer alguma coisa, não ser passivo, não ser uma pessoa que espera, ter força e vontade de fazer alguma coisa. Parece-me interessante.

Como o senhor conseguiu explicar as palavras sem ter a possibilidade de mostrar os gestos que acompanham os neologismos do Papa Bergoglio? Muitas vezes são os gestos que melhor explicam o significado de um termo, de uma palavra.

Torralba: Certamente esta é uma grande dificuldade porque o Papa também fala com gestos, com as  mãos e com os olhos, fala com seus trajes, com a disposição de seu corpo no espaço. O Papa também fala mais com gestos do que com palavras, diz mais coisas com as coisas que faz. Isto já foi dito muitas vezes, mas também na mensagem verbal, nas palavras, há uma força inovadora, no âmbito filosófico e teológico que às vezes não foi enfatizado. “Alzheimer espiritual” é um termo que não existia no pontificado de Bento XVI ou de São João Paulo II. É evidente que há uma inovação, um crescimento, uma complexidade e cada Papa oferece a sua originalidade, sua singularidade como um dom para a Igreja e na história da Igreja.

Neste seu percurso de descoberta dos neologismos, existem termos que, a seu ver, foram mal entendidos pela opinião pública?

Torralba: Sim, isto é muito fácil porque para entender bem um conceito precisamos de tempo, por exemplo, para entender a globalização da indiferença ou da mundanidade espiritual. Estas são palavras que a priori parecem muito fáceis, mas há um fundo, um substrato que se for rápido não se entende bem. Acredito que esta é a dificuldade, porque se lê a frase mas não se lê o contexto em que se encontra, e então chega-se a conclusões falsas.

Existe uma palavra que o senhor descobriu nesses neologismos e que tenha apreciado particularmente? Uma palavra preferida no dicionário Bergoglio?

Torralba: Eu gosto da expressão “sair de si mesmo” que na língua materna do Papa é “salir de uno mismo”. É uma Igreja em saída, um fiel em saída, porque para mim é a expressão da essência da vida do cristão que é sair para encontrar o outro e especialmente o outro vulnerável e frágil. É sair para comunicar o que se acredita e cuidar do outro, contra a tendência de parar, de ficar confortavelmente em casa, no seu próprio mundo.

As palavras são o espelho de uma sociedade que muda, existe um novo olhar para a realidade de hoje através das palavras de Bergoglio?

Torralba: Sim, acredito que nos ajude a entender que há um mundo novo emergindo e outro está terminando. Estamos todos nessa transição. Creio que a missão deste Papa é antes de tudo entender este mundo, conseguir comunicar uma mensagem de esperança. Porque quando tudo está em crise, crise de saúde, crise econômica, crise social, cultural, antropológica, é muito fácil cair no desespero. Pensemos na Laudato si’. O objeto central é refletir sobre as transformações ecológicas do mundo, sobre a crise climática e é muito fácil chegar à conclusão de que estamos no ponto sem volta, mas no Papa Francisco há o desejo de dizer que ainda existe uma possibilidade, que se fizermos uma conversão ecológica, podemos mudar. Acredito que a virtude fundamental que o Papa quer comunicar aos outros seja a esperança.

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