Vigário Apostólico: medo e incertezas afugentam cristãos do Catar

Doha (RV) – Muitas famílias católicas “deixaram o Catar” nestas últimas semanas, devido às tensões entre Doha e o bloco de países da região do Golfo liderados pela Arábia Saudita. Já se fala de uma “crise do ponto de vista social”, que levou “muitas pessoas a perder o trabalho” e a “gerar uma situação de incertezas para o futuro”.

É o que relata à Agência Asianews o Vigário Apostólico da Arábia Setentrional (Kuwait, Arábia Saudita, Catar e Barhrein), Dom Camillo Ballin, ao descrever a situação vivida pelos católicos no Catar, a grande maioria imigrantes atingidos pelas controvérsias entre Riad e Doha.

“Esta situação – prossegue o prelado – acaba envolvendo os cristãos, que não têm interesses pessoais nos acontecimentos da política local”. A incerteza – acrescenta – “não encoraja os investimentos, e o resultado é um país bloqueado”.

“Batalha final” pelo domínio no Oriente Médio

O grupo liderado pela Arábia Saudita acusa o Catar de apoiar movimentos terroristas islâmicos, e sobretudo de manter laços diplomáticos e comerciais com o Irã, inimigo número 1 dos sauditas no Oriente Médio.

Na realidade, segundo alguns analistas – esta seria a “batalha final” pelo domínio no Oriente Médio entre wahhabitas e Irmandade Muçulmana, com sérias repercussões no setor do turismo e do trabalho.

A carta com a resposta ao ultimato recebido da Arábia Saudita e de outras nações do mundo árabe com uma lista de exigências – assinada pelo Emir do Catar – foi entregue esta segunda-feira ao Kuwait (mediador da crise), pelo Ministro do Exterior Mohammed bin Abdul Rahman Al Thani.

A resposta virá na quarta-feira, após ser analisada pelas autoridades dos países envolvidos. Caso for rejeitada, serão impostas sanções.

Presença de imigrantes cristãos poderá diminuir no país

Até o momento – sublinha o Vigário Apostólico – “não existem ainda números precisos” sobre quantos cristãos abandonaram o país, todavia, é certo que “diversas famílias já partiram”. Dos 300 mil fiéis no período pré-crise, “o número poderá cair”.

A comunidade católica local – explica o prelado – é formada por “migrantes econômicos e trabalhadores, provenientes a maior parte de países da Ásia, sobretudo Índia e Filipinas, seguidos por Bangladesh e Paquistão”.

“Os cristãos trabalham em diversos setores, alguns dos quais “especializados”, como “enfermeiros, farmacêuticos, doutores, professores”; outros ainda são “operários genéricos” que se adaptam às profissões mais variadas possíveis, “a fim de manter as famílias de origem”.

“Na vida cotidiana ainda não se percebem os efeitos da crise – prossegue Dom Ballin – porque o Irã e a Turquia suprem todas as necessidades do país. Estas importações são porém mais caras e acabam influenciando a vida da faixa mais pobre da população”.

Crise

O temor – explica o prelado – é que “se houver outras sanções ou os países que congelaram as contas decidirem retirar seu dinheiro dos depósitos bancários, será um a tragédia para o Catar. E os primeiros a sentirem os efeitos, também neste caso, serão os mais pobres”.

Os efeitos – acrescenta – “são perceptíveis no mercado de trabalho e pelo fato de que os grandes investidores não querem fazer novos projetos. A instabilidade é um perigo evidente e é um fenômeno existente há algum tempo em nível regional, consequência da queda do preço do petróleo.

Temor de novo conflito

Naturalmente, não faltam temores de um novo conflito para a região, com ulteriores repercussões, sobretudo em nível de trabalho e vidas humanas”.

“Os que partiram – avalia o Vigário Apostólico de origem italiana – certamente não o fazem com a intenção de voltar no futuro, ao menos não num primeiro momento.

Nós procuramos ajudar quem permanece, mesmo não sendo fácil, porque as necessidades são grandes e o clima de incertezas não ajuda. De resto, a Igreja não pode assumir o sustento de milhares de famílias, e se não existe trabalho, a única alternativo é partir”.

 

Fonte: Rádio Vaticano

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