Semana da Unidade dos Cristãos

    A cada ano celebramos a Semana da Unidade dos Cristãos. É uma antiga tradição em nossa Arquidiocese. Neste ano estamos celebrando esta semana sem a presença de nossos fiéis, cujo o lema é: “gentileza gera gentileza”. Aqui no Rio de Janeiro esse lema tem conotações bem populares com os textos inscritos no viaduto no início da Avenida Brasil e que é patrimônio cultural. O texto base para a reflexão é o livro dos Atos dos Apóstolos cap. 28. O período tradicional, no hemisfério norte, para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos vai de 18 a 25 de janeiro. Essas datas foram propostas em 1908 por Paul Watson porque cobriam os dias entre a festa de São Paulo, tendo, portanto, um valor simbólico. No hemisfério sul, já que janeiro é tempo de férias, as Igrejas frequentemente acham outros dias para celebrar a Semana de Oração, como, por exemplo, ao redor de Pentecostes (de acordo com o que foi sugerido pelo movimento Fé e Ordem em 1926), que é também uma data simbólica para a unidade da Igreja.

             A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (SOUC) é promovida mundialmente pelo Conselho Pontifício para Unidade dos Cristãos (CPUC) junto com o Conselho Mundial de Igrejas (CMI). No Brasil, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil junto com o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic) coordena as iniciativas para a celebração da Semana em diversos estados. Aqui no Rio de Janeiro a Comunidade Bom Pastor, a nossa Comissão Arquidiocesana de diálogo ecumênico junto com o CONIC do Rio de Janeiro tem uma longa tradição desse diálogo e dessa semana culminando com uma vigília.

             A Semana de Oração deste ano foi preparada pelas Igrejas cristãs de Malta e Gozo e tem como tema o versículo dos Atos dos Apóstolos “Trataram-nos com gentileza” (28,2). Na introdução do documento base pode-se ler: “No dia 10 de fevereiro, em Malta, muitos cristãos celebram a Festa do Naufrágio do Apóstolo Paulo, comemorando e agradecendo pela chegada da fé cristã naquela ilha. O trecho dos Atos dos Apóstolos proclamado para a ocasião da festa é o mesmo escolhido como tema da Semana de Oração deste ano”.

             O termo ecumenismo provém do grego oikoumene, que, por sua vez, encontra sua raiz no substantivo oikós (casa, habitação) e no verbo oikein (habitar). Já os autores clássicos, como Heródoto, usaram a palavra oikomene, para designar terra habitada. No Novo Testamento, encontramos o termo oikoumene usado para designar tanto a terra habitada, mesmo fora das fronteiras dos Impérios (cf. Mt 24,14: “O evangelho do reino será proclamado em toda a oikoumene), quanto a unidade política do mundo romano (cf. Lc 2,1: “Naqueles dias, apareceu um edital de César Augusto ordenando que se fizesse o recenseamento de toda a oikoumene”).

             Na literatura patrística, o Ecúmeno (como costumamos grifar em português) pode significar tanto a extensão geográfica do mundo inteiro, onde ressoa a mensagem de Cristo, quanto a Igreja que se espalha por toda a terra. Foi Orígenes quem primeiro definiu a Igreja como um Ecúmeno. De fato, a Igreja representa um mundo novo, uma nova humanidade unificada, já não por um princípio cultural ou jurídico, mas pela fé e pela presença de seu Senhor, o Cristo. Nesse sentido, os Concílios que representavam a Igreja em sua universalidade receberam o nome de ecumênicos, e a fé que eles enunciavam era a fé ortodoxa ecumênica. Daí também o qualitativo ecumênico aplicado aos grandes doutores da Igreja e às sés patriarcais mais importantes.

             O grande movimento que foi uma mola propulsora nas últimas décadas foi o Concílio Ecumênico Vaticano II.  O fruto mais conhecido do Concílio, no campo ecumênico, é o Decreto Unitatis Redintegratio, aprovado no dia 21 de novembro de 1964. Neste decreto se declara explicitamente que “a reintegração da Unidade entre todos os cristãos é um dos objetivos principais do Sagrado Sínodo Ecumênico Vaticano II” (n.1). Não pretende, porém, ser um guia único para todos os cristãos, mas apenas “quer propor a todos os católicos os meios, os caminhos e os modos que lhes permitiam corresponder” à vocação divina de restaurar a unidade entre todos os discípulos de Cristo. O Decreto de Ecumenismo está dividido em três capítulos: 1 – Sobre os “princípios católicos do ecumenismo”, tem caráter mais teológico e reconhece que o movimento ecumênico é fruto da graça do Espírito Santo. 2 – Focaliza “a prática do ecumenismo”, insiste sobretudo no ecumenismo espiritual. 3 – Procura uma maior compreensão e um melhor relacionamento com “as Igrejas e comunidades eclesiais separadas da Sé Apostólica Romana”, com considerações diferentes para as Igrejas Orientais e para as Igrejas e comunidades eclesiais no Ocidente. Em relação a umas e outras, esforça-se por mostrar as convergências e a comunhão já existente, embora incompleta. O decreto termina com um apelo a todos os católicos para que se empenhem no ecumenismo e para que ponham a sua esperança na oração de Cristo pela Igreja.

             Contudo, esta semana que celebramos a semana da Unidade dos Cristãos é fruto de muito diálogo e oração ao longo dos tempos. Nesta semana quero convidar a todos a pedir o Divino Espírito Santo que ilumine a todos e que conduza a nossa Igreja e as demais Igrejas e Comunidades Eclesiais.

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