Solenidade de Corpus Christi

    A Festa de “Corpus Christi” é a celebração em que solenemente a Igreja comemora o Santíssimo Sacramento da Eucaristia; sendo o dia do ano em que, oficialmente previsto na liturgia, o Santíssimo Sacramento sai em procissão às nossas ruas. Neste ano, em virtude da pandemia da COVID-19, não haverá a tradicional procissão que sempre envolve toda a nossa amada Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro. Eu irei presidir a Santa Missa, às 10hs, na Igreja de Santana, Santuário de Adoração Perpétua, depois iremos levar o Santíssimo pelas ruas do centro, sem procissão, em direção da Catedral Metropolitana de São Sebastião do Rio de Janeiro onde darei a Bênção do Santíssimo Sacramento para a nossa cidade e arquidiocese. Nesta festa os fiéis agradecem e louvam a Deus pelo inestimável dom da Eucaristia, na qual o próprio Senhor se faz presente como alimento e remédio de nossa alma. A Eucaristia é fonte e centro de toda a vida cristã. Nela está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, o próprio Cristo.

             Na Solenidade de Corpus Christi, a Igreja revive o mistério da Quinta-Feira Santa à luz da Ressurreição. Também a Quinta-Feira Santa acontece a procissão Eucarística, com a qual a Igreja repete o êxodo de Jesus do Cenáculo para o monte das Oliveiras. Jesus, naquela noite, sai e entrega-se ao traidor, e, precisamente assim, vence a noite, vence as trevas do mal. Desta forma, o dom da Eucaristia, instituída no Cenáculo, encontra o seu cumprimento: Jesus entrega realmente o seu corpo e o seu sangue. Atravessando o limiar da morte, torna-se pão vivo, verdadeiro maná, alimento inexaurível para todos os séculos. A carne torna-se pão de vida.

             Na procissão da Quinta-Feira Santa, a Igreja acompanha Jesus ao monte das Oliveiras: a Igreja, orante, sente um desejo profundo de vigiar com Jesus, de não o deixar sozinho na noite do mundo, na noite da traição, na noite da indiferença de muitos. Na festa de Corpus Christi, retomamos esta procissão, mas na alegria da Ressurreição. O Senhor ressuscitou e precedeu-nos. A procissão da Quinta-Feira Santa acompanhou Jesus na sua solidão, rumo à “via crucis”. A procissão de Corpus Christi, ao contrário, responde de maneira simbólica ao mandamento do Ressuscitado: precedo-vos na Galileia. Ide até aos confins do mundo, levai o Evangelho a todas as nações. Sem dúvida, para a fé, a Eucaristia é um mistério de intimidade.

             O Senhor instituiu o Sacramento no Cenáculo, circundado pela sua nova família, pelos doze apóstolos, prefiguração e antecipação da Igreja de todos os tempos. Neste Sacramento, o Senhor está sempre a caminho no mundo. Este aspecto universal da presença eucarística sobressai na procissão da nossa festa. Nós levamos Cristo, presente na figura do pão, pelas estradas da nossa cidade. Nós confiamos estas estradas, estas casas a nossa vida quotidiana à sua bondade. Que as nossas estradas sejam de Jesus! Que as nossas casas sejam para Ele e com Ele! A nossa vida todos os dias estejam penetradas da Sua presença. Com este gesto, colocamos sob o seu olhar os sofrimentos dos doentes, a solidão dos jovens e dos idosos, as tentações, os receios toda a nossa vida. A procissão pretende ser uma bênção grande e pública para a nossa cidade: Cristo é, em pessoa, a bênção divina para o mundo o raio da sua bênção abranja todos nós!

             Essa solenidade é celebração agradecida de uma Presença. Nessa festa a mãe igreja quer chamar a atenção de seus filhos para a real presença de Cristo Jesus nas espécies eucarísticas do pão e do vinho consagrados. Sim, nelas o Cristo morto e ressuscitado encontra-se tão verdadeiramente presente, que ali já não há mais pão, não há mais vinho, mas o Senhor Jesus, Cordeiro glorioso e imolado, no seu estado de eterna imolação por nós.

             Quando dizemos que o pão e o vinho consagrados são o próprio Cristo, devemos ter o cuidado de recordar que o Senhor aí está presente com sua história, seu amor, seu modo de viver como pobre, como aquele que se entregou totalmente ao Pai por amor de nós. O Cristo eucarístico é aquele que “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1). Comungar seu corpo e seu sangue é entrar neste caminho de Jesus, é ter em nós seus sentimentos (Fl 2,5), é fazer nossas as suas opções, fazendo da existência uma pró-existência, uma vida doada ao Pai e aos irmãos. Afinal, O cálice de bênção que abençoamos não é comunhão com o sangue de Cristo? O pão que partimos não é comunhão com o corpo de Cristo?” (1Cor 10,16).

    ‘        O culto eucarístico, cujo momento supremo é, sem dúvida, a celebração da Missa, traz a pessoa de Cristo, tão real e verdadeiramente como está no Céu, ao simples quotidiano de cada um de nós. Abre-nos as portas do Paraíso e permite-nos participar, por instantes e de forma imperfeita, naquela liturgia celeste que as bem-aventuradas almas celebram com a Senhora e os Anjos na presença da Trindade.

             Convido a todos a meditar e nos alegrar com quão grande celebração que é neste dia. O Senhor se faz tão pequeno para adentrar em nossa vida e em nossos corações para que nós homens nos tornemos semelhantes a Ele. Ser como o Cristo, manso e humilde de coração. Na Eucaristia, vemos a grande Kenosis de Jesus. Ele se fez pequeno para permanecer conosco.

     

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