Santidade e perfeição!

    A liturgia do sétimo Domingo do Tempo Comum convida-nos à santidade, à perfeição. Sugere que o “caminho cristão” é um caminho nunca acabado, que exige de cada homem ou mulher, em cada dia, um compromisso sério e radical (feito de gestos concretos de amor e de partilha) com a dinâmica do “Reino”. Somos, assim, convidados a percorrer o nosso caminho de olhos postos nesse Deus santo que nos espera no final da viagem.

    A primeira leitura (Lv 19,1-2.17-18) que nos é proposta apresenta um apelo veemente à santidade: viver na comunhão com o Deus santo, exige o ser santo. Na perspectiva do autor do nosso texto, a santidade passa também pelo amor ao próximo. A exortação inicial da primeira leitura coincide com a última do Evangelho: “Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo!”. Mas como ser santo ou perfeito como Deus? Não odiar, praticar a correção fraterna, não vingar, nem guardar rancor. Tudo isso corresponde ao que Jesus ensina no Evangelho: não retribuir o mal recebido, fazer e oferecer o bem a todos – sem expectativas de recompensa, amar ao próximo como a si mesmo. Esse é o caminho da perfeição e da santidade!

    No Evangelho(Mt 5,38-48), Jesus continua a propor aos discípulos, de forma muito concreta, a sua Lei da santidade (no contexto do “sermão da montanha”). Hoje, Ele pede aos seus que aceitem inverter a lógica da violência e do ódio, pois esse “caminho” só gera egoísmo, sofrimento e morte; e pede-lhes, também, o amor que não marginaliza nem discrimina ninguém (nem mesmo os inimigos). É nesse caminho de santidade que se constrói o “Reino”.

    A história humana quase sempre é marcada pelo espírito de ódio, da vingança, da ambição que atropela a todos sem a mínima condescendência. Nesse contexto, como testemunho e como modo de buscar a própria salvação, os cristãos são convidados a pautar e a direcionar a sua vida na contramão do mundo. Percebamos que, após cada ensinamento, Jesus apresenta a necessidade de que o discípulo seja diferente, agindo diversamente dos cobradores de impostos e dos pagãos. Em que nos diferenciamos como testemunhas do amor de Cristo? São João Crisóstomo observa os graus da virtude: “O primeiro grau é não injuriar; o segundo, quando injuriados, não nos vingarmos; o terceiro, não aplicar sobre o autor o mesmo castigo com o qual nos fere, mas sim com mansidão; o quarto, oferecer-se voluntariamente a sofrer injúrias; o quinto, oferecer ao injuriador muito mais do que ele nos exige; o sexto, não odiar a quem nos faz semelhante injustiça; o sétimo, inclusive amá-lo; o oitavo, ainda favorece-lo. Finalmente, o nono: rogar a Deus por Deus. Vês o auge da virtude?”.

    Na segunda leitura(1Cor 3,16-23), Paulo convida os cristãos de Corinto – e os cristãos de todos os tempos e lugares – a serem o lugar onde Deus reside e Se revela aos homens. Para que isso aconteça, eles devem renunciar definitivamente à “sabedoria do mundo” e devem optar pela “sabedoria de Deus” (que é dom da vida, amor gratuito e total). A comunidade cristã é o templo vivo de Deus e nela, portanto, não pode haver divisão. O endeusamento dos pregadores e a consequente divisão acabam por destruir o “templo de Deus” e contradizem a essência da comunidade cristã, que é a união em Cristo.

    Nestes dias se celebra o Carnaval: uma festa que marca o tempo litúrgico com o início da Quaresma em vistas da celebração da Páscoa do Senhor. É um momento de sadio divertimento, mas sempre lembrando de que o nosso corpo é templo do Espírito Santo. Um alerta: à meia noite da Quarta-feira é início da Quaresma – dia de jejum e de abstinência de carne. Nesta hora o carnaval cessa e inicia-se o tempo favorável de oração, jejum, penitência e esmola!

    É fundamental nos perguntarmos: o que estamos fazendo de mais, sobretudo, quando ondas de intolerância, ódio e violência invadem até mesmo os ambientes religiosos? Deus não nos trata segundo nossas falhas, mas segundo a sua própria bondade. Por isso mesmo, enquanto oramos por nossos inimigos e não cedemos à lógica de retribuir o mal com o mal, continuamos a descobrir a bondade que se encontra dentro de nós mesmos e nos outros. E então, com atitudes concretas, podemos dar ao mundo o testemunho de que a justiça do Reino é a resposta transformadora, criativa e pacífica contra todo ódio, maldade e violência!

    Lembremos, sempre, de que esta liturgia hodierna nos convida a amar a todos sem exceção, até os eu não nos querem bem. Assim nos aproximamos da santidade e da perfeição do Pai do céu e somos reconhecidos como seus filhos e filhas.

    DEIXE UMA RESPOSTA

    Please enter your comment!
    Please enter your name here