Síndrome do céu azul

    O Rio Grande do Sul enfrenta uma tragédia de proporções devastadoras, com centenas de pessoas entre vítimas fatais e desaparecidas, e milhares de desabrigados devido às recentes chuvas.
    Ao final do Regina Coeli deste domingo, 5 de maio, o Papa Francisco também manifestou sua solidariedade, pedindo que o Senhor acolhesse os mortos e confortasse suas famílias, assim como àquelas que deixaram seus lares.
    Neste momento de dor e sofrimento, é essencial que a Igreja e os católicos de todo o Brasil se unam em solidariedade para apoiar os irmãos e irmãs que passam por esta situação, assim como fizemos em outros tantos momentos da história.
    A solidariedade está enraizada nos ensinamentos de Jesus Cristo e é central nos ensinamentos deixados por Ele. Além dos trabalhos da igreja com suas pastorais e departamentos sociais unidos à defesa civil dos municípios e aos trabalhos dos militares necessitamos de dar alguns passos.
    Aqui em nossa região, após uma das tragédias que sofremos, um irmão bispo criou essa frase: cuidado com a “síndrome do céu azul”. Na semana passada a nossa Província Eclesiástica esteve reunida com os bispos e com os responsáveis da área social e ecológica para conversar sobre esse assunto, pois também sofremos muito com esse tipo de ocorrência e que se repete continuamente em nossas cidades.
    Neste momento difícil nós unimos nossas forças para minimizar a tragédia que ocorre no sul do Brasil como o fazemos também em nossas regiões. Isso faz parte de nossa vida cristão que vê as dificuldades de seus irmãos e irmãs e parte em socorro deles.
    Porém, passado o momento crítico tudo se estabiliza e nenhuma das providências estudadas ou anunciadas vai adiante. Muitas famílias continuam sem habitações e com dificuldade de sobreviver com consequência do ocorrido. Ficam pendentes muitas questões: o desassoreamento dos rios, as matas ciliares, o problema da sustentabilidade ecológica, o local da construção das habitações, a solução para os desabrigados, a segurança das estradas e das pontes, etc.
    O momento atual é de socorro imediato como temos feito em todo o Brasil, divulgando o número do pix do Regional Sul 3, incentivando os voluntários para fazerem parte da defesa civil, levando gêneros alimentícios e de higiene em nossas bases militares para serem transportados até o Rio Grande do Sul, além das orações que fazemos pelas famílias enlutadas e pelos falecidos na tragédia. Além das pastorais sociais, as comunidades também desempenham um papel importante na promoção da solidariedade no Brasil. Muitas congregações religiosas mantêm obras sociais, como escolas, creches, hospitais e abrigos, que atendem diretamente às comunidades carentes e marginalizadas. Recordamos o Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro que se une aos irmãos do sul para o resgate de pessoas com sua equipe especializada.
    Mas não podemos nos acomodar com a chegada do “céu azul”. Quais as medidas que poderemos tomar com relação aqueles que tudo perderam? Quais medidas para prevenir futuros incidentes parecidos? Quais atitudes devemos tomar para que no futuro tenhamos situações mais controladas diante das catástrofes ambientais?
    Ao longo da história do Brasil, a Igreja Católica tem sido um constante apoio e esperança para as comunidades afetadas por tragédias naturais. Mas, além da assistência de urgência necessitamos das transformações mais profundas na legislação e nas atitudes concretas dos responsáveis em servir á nação.
    Na Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, todos se solidarizam ao povo do Rio Grande do Sul. Estamos distantes geograficamente, mas muito próximos de seus corações sofridos. Neste momento de dor e grande sofrimento, invocamos a proteção de Deus, nosso Pai misericordioso, e a intercessão de Nossa Senhora, para que ampare todos os atingidos por esta tragédia. Que a esperança contagie a todos neste tempo de solidariedade fraterna olhando a reconstrução futura.
    Rogamos, especialmente, pelas almas daqueles que foram chamados à Casa do Pai e pelos que aqui permanecem, enfrentando a perda de seus entes queridos, lares e meios de subsistência. Que a certeza da Ressurreição console a todos neste tempo pascal.
    Encorajamos as paróquias, comunidades, grupos e fiéis da de todo o Brasil a continuarem mobilizando-se em gestos concretos de auxílio e
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    fraternidade. Alguns aeroportos e bases aéreas também estão recebendo doações para serem levadas para nossos irmãos do sul, assim como a divulgação do número do pix para as doações em dinheiro.
    Porém, enquanto o socorro vai chegando e a vida vai se estabilizando diante de uma catástrofe como essa, não podemos nos acomodar. Como fazer para prevenir outras no futuro? Que tipo de atitudes somos chamados a ter e que trabalhos devemos fazer em nossos territórios para que durante o tempo do “céu azul” façamos a nossa parte para que, quando ocorrer outro tipo semelhante de situação as nossas regiões estejam preparadas e organizadas para enfrentar o problema?
    A tragédia no Rio Grande do Sul é um chamado à ação para toda a Igreja Católica e o povo de Deus. É um momento para demonstrar solidariedade, apoio e amor ao próximo, seguindo os ensinamentos de Cristo. Que a união e a esperança guiem nossos esforços de socorro e reconstrução, fortalecendo os laços de fraternidade e compaixão. Mas é muito importante também pensar no futuro, não só do Rio Grande do Sul, mas de todas as regiões que continuamente sofrem com a intempéries da natureza.
    Mais uma vez, unimo-nos aos irmãos Bispos do Regional Sul 3 da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil neste momento de dor, perda, sofrimento e catástrofe natural. Queremos apresentar aos nossos queridos irmãos, ao clero e ao amado povo gaúcho nossa proximidade espiritual para que vencidas as chuvas o povo possa reconstruir suas vidas com dignidade, sem nunca perder a esperança de que Cristo nos guia e ilumina em todas as situações, particularmente nas adversidades.
    Que São Sebastião, seja um símbolo de esperança e coragem para todos os envolvidos. Com fé e confiança no Senhor, podemos superar juntos este tempo de provação.

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