REI MORTO, REI POSTO

    É de todos conhecida essa dinâmica das sucessões imperiais. Tivemos uma recentemente no cenário da família real inglesa. No campo político podemos considerar as transições de mandatários, sejam estes eleitos democraticamente ou não. No campo social ou artístico muitos reis e rainhas dominam consciências e atos comportamentais de seguidores para todos os gostos e idades cronológicas. Na música, na arte, na filosofia, no jeito de ser… temos reis e rainhas pra tudo. No meio financeiro e empresarial, nem se fala. Até um Rei do Gado é capaz de ser reverenciado. Rei dos Parafusos, das Baterias, do Bom bocado, das Pizzas, do Samba e do Futebol, das Quebras Demandas… e por aí vai!

                No entanto, Rei do Universo só temos um… E diz Ele que seu reino não se mistura com os nossos, “não é deste mundo”. Do alto de sua cruz, rodeado por dois ladrões, condenado por subversão ao reinado do poder romano, Jesus, o Rei dos reis, Aquele que fora apontado ironicamente com rei dos judeus e que se negou a “salvar-se” a si mesmo, ouviu do “bom ladrão” a súplica de toda humanidade crucificada e espezinhada pelos poderes deste mundo: “Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu reinado” (Lc 23, 42). Foi essa a última das reconciliações humanas com o Rei vivo, posto entre nós. Logo mais estaria morto, mesmo que momentaneamente. E assumiria em definito seu trono de Justiça e Amor, seu posto Soberano e Eterno! Pudesse a humanidade entender esse mistério… e viveríamos novos tempos! Não mais precisaríamos nos curvar aos falsos e transitórios “reis” que ainda pensam ter poderes sobre nós! O reinado de Cristo está em outra dimensão, mais ampla e bela, mas a origem deste começa aqui, no meio de nós, dentro de nós. Eis seu mistério!

                Entender e penetrar esse mistério é dom de fé. E a fé não se explica, se vive! Até podemos dizer que ela nos submete ao mistério que ronda e sempre rondou nossa existência, que só a fé é capaz de justificar a súplica daquele condenado ao lado do Cristo, que bem entendeu a amplitude de seu Reino; e foi aceito nele naquele mesmo dia. O Reino de Deus começa aos pés da cruz de seu Filho, ao redor dos atos e ações que a justiça dos homens pensa praticar.  Começa onde os tentáculos ridículos dos reinados humanos pensam agir, possuir, dominar, subjugar, governar… O diálogo de Jesus naquele calvário, rodeado por representantes das injustas condenações que os poderes humanos sempre praticaram e ainda praticam, é revelação clara e suscinta da missão de sua Igreja no mundo -“não vim para condenar, mas para salvar”- cuja ação primeira é libertar o povo humilde e massacrado das eventuais garras dos poderes mundanos. Jesus não julga ninguém pelos seus atos, mas convida a todos para reformular seus conceitos de vida… ou morte, independência ou submissão, progresso ou regresso, desordem ou vida. Ordem ou progresso. Entendam como quiserem!

                Só não podemos nos esquecer que por aqui tudo passa, tudo é transitório, fugaz, circunstancial. Que os governantes de hoje não serão os mesmos logo mais. Que tudo está vinculado a um plano maior de governabilidade e aprimoramento na condução do povo, este sim o único e legítimo herdeiro da única e real justiça, aquela que vem do Alto! Porque, se desejarmos vislumbrar o Reino de Deus entre nós, olhemos para a aparente derrota do nosso rei crucificado, Rei Morto por circunstâncias da justiça dos homens, mas Ressuscitado para honra Daquele que criou céus e terra e que sempre reinará em sua cátedra de poder universal. A Ele, somente a Ele, toda honra e glória para sempre…

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