Papa Francisco diante do ícone da Mãe de Deus durante a Divina Liturgia na Eslováquia (Vatican Media)

O arcebispo greco-católico, Dom Cyril Vasil’ se detém particularmente no caráter ecumênico da viagem apostólica do Papa Francisco. Da Eslováquia, de onde o Pontífice se despediu na quarta-feira (15), há grande satisfação pelos gestos, palavras, encontros e liturgias que bem representaram o rosto universal da Igreja

Michele Raviart – Vatican News

Na Eslováquia, no coração da Europa, a viagem apostólica do Papa Francisco deixou uma forte marca ecumênica. O tema da abertura – o Pontífice partiu com um convite aos cristãos para serem construtores do diálogo em meio aos egoísmos – marcou os encontros nesta terra, entre o Oriente e o Ocidente, assim como na Hungria. Algumas horas após o final da visita de Francisco, Dom Cyril Vasil’, Eparca greco-católico de Kosiçe, recorda as etapas.

O que ficou da visita do Papa para a Igreja e o povo eslovaco?

Todos poderão tirar conclusões desta visita, encontrar alguns gestos ou algumas expressões em vários níveis. No nível social, por exemplo, seu encontro com representantes do Estado, a Presidente da Eslováquia e outros representantes do governo teve impacto na opinião pública porque pôde-se ver que há a possibilidade de diálogo com o mundo secular, o mundo político e a fé católica. Eles também representam o desejo de fazer o bem comum. Portanto, o Santo Padre, dirigiu-se tanto para o mundo social e político e, durante o encontro ecumênico, quanto aos bispos e sacerdotes na Catedral de São Martinho. Lembrou-lhes precisamente da maneira evangélica de se colocar no mundo de hoje, com maior humildade e vontade de aceitar desafios, não em tom de desafio, mas com a oportunidade de dar testemunho da fé, da verdade e do Evangelho.

Participantes na Divina Liturgia na Eslováquia
Participantes na Divina Liturgia na Eslováquia

Desta viagem, o que ficou marcado para o senhor? Especialmente no dia em Kosiçe, que é sua cidade?

O Santo Padre chegou em Kosiçe e depois foi a Présov, onde celebrou a Divina Liturgia de São João Crisóstomo, celebrada com uma devoção que expressa a beleza do rito bizantino e oriental. Foi um belo testemunho da universalidade da Igreja. Pela primeira vez na jovem história da Eslováquia, durante as visitas papais – recordemos também as visitas anteriores de São João Paulo II – foi celebrada a liturgia oriental, a liturgia eucarística que é a expressão máxima da unidade da Igreja. Ter uma liturgia presidida pelo Papa, com tantos bispos e arcebispos maiores, metropolitanos e irmãos latinos, foi para nós um belo testemunho do que significa respirar com dois pulmões na Igreja Católica, porque existe também o “pulmão” oriental. Em seguida, a visita continuou no bairro habitado principalmente pela comunidade cigana, que é considerada problemática em muitos aspectos devido a suas características culturais e sociológicas. O bairro fica na periferia da cidade, no sentido real e material, mas também é frequentemente considerado como periferia do interesse da maioria da sociedade. A visita do Santo Padre foi, portanto, uma mensagem tanto para a comunidade na Eslováquia quanto para toda a comunidade cigana, à qual ele procurou encorajar, sobretudo em seus esforços para conseguir uma maior integração. O Papa Francisco quis dizer que somos todos bem-vindos na Igreja, somos todos irmãos, e esta é uma mensagem muito importante. A celebração final em Kosiçe foi o encontro com os jovens no estádio Lokomotiva. O Papa foi recebido em um clima de verdadeira alegria. Também ali falaram de testemunhos da vida real: preparação para o casamento, castidade pré-matrimonial, as dificuldades de viver o sacramento da Reconciliação. O Santo Padre dirigiu-se aos jovens, criando um diálogo com a multidão presente, recordando-lhes precisamente esta coragem em seguir escolhas difíceis, mas que se baseiam na confiança na Providência de Deus. Não ter medo de decisões, não viver temporariamente e depois também seguir um ideal, mas não os sonhos e ilusões que muitas vezes são oferecidos pela maneira mundana de viver a própria vida. O encontro que se realizou com os jovens, também com muitas pessoas que estavam fora do estádio, teve um clima realmente muito alegre.

Com relação à Divina Liturgia, houve uma atenção especial pela Igreja Greco-Católica. Há alguma palavra, algum gesto que o tenha tocado durante a viagem apostólica?

Para mim, uma recordação particularmente cara é que durante a liturgia ficou exposto o ícone da Mãe de Deus do vilarejo de Klococov, onde este ícone chorou 351 anos atrás, em um período difícil. O ícone original não pode mais ser encontrado, este que foi exibido é uma cópia que recentemente foi em peregrinação da nossa diocese até Roma na Festa de São Pedro e São Paulo, e ficou exposto no altar da Basílica de São Pedro. Desta vez, o Santo Padre veio restituir a visita que o ícone lhe fez em Roma e o coroou novamente com duas coroas de prata. Após terminar sua oração, o Papa começou a se mover e de repente parou e olhou novamente para o ícone, como se houvesse uma oração especial entre eles ou ainda houvesse algo a dizer um ao outro, antes de partir. Pelo menos foi assim que eu percebi este pequeno gesto, esta “nuance espiritual”.

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