Nossa casa comum

    Volta e meia nos defrontamos com temas ou assuntos envolventes e questionadores. A profundidade, bem como a atualidade, além da abrangência comum a todos, fazem deles um motivador de debates e busca de rumos que norteiem muitas das nossas lideranças (sejam estas políticas, sociais ou religiosas). É o caso da Campanha Missionária de 2016, recém-lançada pela Igreja do Brasil: “Cuidar da casa comum é nossa missão”. À primeira vista, trata-se apenas de um acréscimo à Campanha da Fraternidade desse mesmo ano, cujo tema e lema já debateram o assunto à exaustão, bem como a histórica encíclica do Papa Francisco, Laudato Si, reconhecida e aplaudida mundialmente como o mais completo dos documentos voltados à preservação da vida e da natureza. Então, o que nos acrescenta essa retomada de assunto?
    Se considerarmos a indiferença de muitos ante a espiritualidade e religiosidade dos povos ou mesmo do indivíduo enquanto praticante de uma denominação religiosa, pouco ou nada se extrairá de positivo ante os desafios que o assunto proporciona. Como perguntaria Ageu em seu pequeno livro bíblico: “Por quê? Porque minha casa está em ruínas, enquanto que cada um de vós só tem cuidado da sua” (Ag 1,9). Essa é a triste realidade do mundo, cujos interesses comuns são ocultos sob a laje da indiferença e do imobilismo de muitos, preocupados que estão em defender o próprio prato, aquilo que representa seu bem mais precioso, sua ideologia, seus princípios, sua própria fé. “Cuide do que é seu, pois do meu cuido eu” – ressuscitam do baú dos direitos individuais, enquanto os direitos comuns a todos sucumbem vergonhosamente. Construímos ilhas ao redor do que julgamos possuir, proteger, conquanto a nau que nos conduz – a terra que nos abriga e sustenta – navega ao léu, sem rumo, sem destino, sem um porto seguro que lhe garanta sustentabilidade, autonomia de maiores e mais amplas descobertas.
    Ao passo que a valorização da experiência do outro, da descoberta de novos caminhos, do respeito à individualidade das crenças e da proclamação nunca impositiva, mas sempre propositiva de conceitos dogmáticos ou religiosos que ampliem a experiência da solidariedade entre povos, raças e culturas, isso sim, é missão transformadora. Esse é o grande desafio das igrejas cristãs – em especial – cuja doutrina de igualdade e fraternidade traz em seu bojo o olhar misericordioso do Criador: “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1, 31). Ora, se na perspectiva divina o mundo e a vida que Dele herdamos era agradável a seus olhos, onde erramos, onde perdemos o rumo? Essa resposta precisamos reencontrar com urgência, posto que sem ela sucumbiremos todos. Eis aqui a urgência da missão. Eis o porquê da insistência da Igreja em nos confrontar com a realidade do mundo. Não só cuidar da vida espiritual, daquilo que a fé nos mostra como realidade sobrenatural, mas também valorizar e preservar o mundo que nos cerca, a riqueza de um mundo perfeito e maravilhoso onde Deus construiu nossa casa comum. Isso também é questão de fé. Essa mesma que nos obriga a confrontar o mundo, o semelhante, o ateu ou o crente, o rico ou o pobre, o cristão ou o muçulmano e neles encontrar algo de bom. Algo de positivo que se some ao que nos é comum. Que embeleze nossa casa comum, a vida, o mundo e mostre a todos o privilégio que temos de pisar um mesmo chão e admirar um mesmo céu de estrelas. Porque essa é nossa missão: cuidar da casa que ainda temos. E também da casa que somos, templos vivos…

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