Mística e Política

    No mês em que serão definidos e apresentados oficialmente, os candidatos aos cargos executivos e legislativos, em tempos de acentuada crise política e ética, evidenciada pelas inúmeras denúncias de corrupção, urge resgatar o conceito de mística aqui aplicado à política, à participação cidadã e ao comprometimento responsável, em vista da transformação social que passa, necessariamente, pela conversão pessoal.

    A mística, na ótica latino-americana, é a integração da experiência religiosa e solidariedade concreta. A mística cristã não é uma forma de contemplação desinteressada da verdade, mas, sobretudo, participação e comprometimento. Neste ponto emerge o tema da relação mística e política que, no horizonte da fé cristã, pode ser denominada “santidade política” (cf. Dom Pedro Casaldáliga), ou seja, a política como caminho de santidade, considerando que a política “é uma das expressões mais altas da caridade” (Papa Paulo VI) e meio para a justiça social e o bem comum.

    A santidade política é uma relevante dimensão da mística transformadora. É a mesma santidade de sempre, porém alargada. Não se trata de contraposição, mas de integração. Não desconsidera o âmbito pessoal da conversão, mas se abre e assume as “grandes causas” do Reino de Deus e as virtudes suscitadas pelo Espírito Criador dentro e fora da Igreja. É uma santidade que sai de si e busca os irmãos, é “extra-muros”, ou seja, inserida consciente e criticamente, no mundo, principalmente no lugar social dos vulnerados e necessitados. É a santidade das grandes causas: justiça, paz, novas estruturas, vida com qualidade e dignidade. Em síntese, trata-se de viver e lutar pelas causas de Jesus, exercendo a “diakonia política”, somando forças com todos aqueles e aquelas que lutam pelas mesmas causas maiores, no horizonte do macroecumenismo e da macrossolidariedade (cf. Casaldáliga). É um ato profundamente cristão, contribuir para colocar o mundo dos pobres na agenda política, na ordem do dia, como resultado da incidência da fé cristã no âmbito político-social.

    O cenário político atual não pode gerar em nós sentimentos de resignação, desesperança e conformismo. Antes, pode ser ocasião de mobilização de energias para, sinergeticamente, buscar soluções e colocar a ética na política, na agenda do dia e na consciência de todos e de todas. Por isso, vamos exercitar o direito ao voto com responsabilidade e esperança. É a nossa participação política que fará surgir a nova sociedade. A motivação para a atitude consciente e cidadã emerge do Evangelho de Cristo, da espiritualidade (mística) cristã e das palavras do Papa Bento XVI, em sua Encíclica Deus caritas est: “A Igreja não pode nem deve tomar nas suas próprias mãos a batalha política para realizar a sociedade mais justa possível. Não pode nem deve colocar-se no lugar do Estado. Mas também não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça. Deve inserir-se nela pela via da argumentação racional e deve despertar as forças espirituais, sem as quais a justiça, que sempre requer renúncias também, não poderá afirmar-se nem prosperar. A sociedade justa não pode ser obra da Igreja: deve ser realizada pela política. Mas toca à Igreja, e profundamente, o empenhar-se pela justiça, trabalhando para a abertura da inteligência e da vontade às exigências do bem”.

    Na celebração do meu primeiro ano de Ordenação Episcopal e Apresentação na Arquidiocese de Niterói (05/08/2017), quero agradecer vivamente a todos e todas que me acolheram com tanto carinho, amor, alegria e solicitude. Muito obrigado aos irmãos, no episcopado Dom José Francisco e Dom Alano, aos nossos Padres, Diáconos, Seminaristas, leigos e leigas, povo de Deus, Igreja viva e alegre. Sinto-me muito bem entre vocês. Peço ao Bom Deus que me chamou, a Graça de não faltar em mim a solicitude para com as ovelhas. Gratidão a todos e todas, por tudo e por tanto. O Amor de Cristo e a Cristo nos uniu. Rezem por mim! Com estima, gratidão, orações e bênção!

    + Dom Luiz Antonio Lopes Ricci
    Bispo Auxiliar  de Niterói

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