GOSTARÍAMOS DE VER JESUS

             Estamos nos aproximando daquela que é chamada de semana maior da Igreja. Aproveitemos para reafirmar nossos propósitos de intimidade como Senhor e de espírito de conversão próprios do tempo de quaresma. Com a celebração do quinto domingo da Quaresma, inauguramos a Semana da Paixão. A semana da Paixão é a semana que antecede a semana santa e recebe este nome exatamente pela referência explícita que será feita à Paixão e Morte pelo próprio Cristo, conforme vemos relatado no Evangelho deste domingo. Também na liturgia podemos rezar prefácios próprios desta semana e, pode-se conservar o costume de cobrir as cruzes e imagens da igreja. As cruzes permanecerão veladas até o fim da celebração da Paixão do Senhor, na Sexta-feira Santa. As imagens, até o início da Vigília Pascal.

             Esta semana terá um momento especial para nós: no dia 25, celebramos a solenidade da Anunciação do Senhor, onde contemplamos de maneira viva a generosidade de Deus, que se digna habitar no meio de nós e a generosidade humana, representada no FIAT, no faça-se de Maria. Dois grandes mistérios da nossa fé que poderemos celebrá-los e atualizá-los em tão poucos dias.

             A Palavra de Deus proclamada neste 5º Domingo vai mostrando a grandeza do que está para acontecer com o mistério da Paixão e morte de Jesus. Aos olhos humanos, veremos a injustiça humana e a aparente vitória do mal. Na realidade, está sendo realizada a Nova e Eterna aliança selada por Deus no coração do homem por meio do Sangue do Cordeiro Imolado.

    O Evangelho (Jo 12,20-33) começa mostrando o pedido feito a Filipe, de alguns estrangeiros (gregos) que queriam ver Jesus: “Aproximaram-se de Filipe, que era de Betsaida da Galiléia, e disseram: ‘Senhor, gostaríamos de ver Jesus.’ Jesus dá uma resposta imediata, mas bem diferente da que se esperaria neste momento.  A resposta dada por Jesus aos estrangeiros que querem vê-lo, anuncia já o caráter de universalidade da salvação presente no sacrifício redentor. Jesus responde manifestando o mistério de sua paixão e morte. Jesus vai mostrando este mistério através de várias imagens ricas de significado que se encontram em seu discurso: “Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado. Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas se morre, então produz muito fruto.” A morte que gera vida. O imolar-se de um único grão que produz assim vários frutos a partir dele.  Encontra-se com Jesus é encontrar-se com o caminho da cruz, com o caminho da entrega, com o caminho de um amor sem limites; é encontrar-se com Aquele que, mesmo sendo de condição humilhou-se, sendo obediente até a morte e morte de cruz.

     Jesus prossegue em seu discurso: (…) Agora sinto-me angustiado. E que direi? `Pai, livra-me desta hora!’? Mas foi precisamente para esta hora que eu vim. Pai, glorifica o teu nome!’ (…)Jesus, sendo Verdadeiro Deus e verdadeiro homem, sente a aflição pela morte, mas é sustentado pela fé e amparado pelo Pai. Tal episódio nos faz lembrar o que acontecerá no Getsêmani, na noite em que Jesus foi entregue.

     Na parte final, Jesus apresenta uma das frases mais emblemáticas de todo o seu discurso: É agora o julgamento deste mundo. Agora o chefe deste mundo vai ser expulso, e eu, quando for elevado da terra, atrairei todos a mim.’ Este versículo nos faz relembrar o episódio da serpente de bronze narrado no livro dos Números: assim como aqueles que olhavam para serpente de bronze eram curados, quando o Senhor for levantado da terra, curará a ferida deixada pelos nossos primeiros pais e restaurará a comunhão com Deus. Eis o mistério da paixão de Cristo: o mistério da entrega de Jesus por amor aos homens, e que carrega sob os ombros o peso e a pena que eram nossos. Ao voltar o nosso olhar para cruz, vemos um pouco do quanto o ser humano é capaz do mal, mas o que se destaca é a grandeza do Amor de Deus em sua entrega sem limites.

    A primeira leitura (Jr 31, 31-34) fala da promessa de uma nova aliança e de como esta será selada.  O Antigo Testamento fala das muitas vezes que Deus fez aliança com os homens, alianças estas que marcam a história de Israel. Deus promete uma aliança que será superior a todas as outras alianças feitas e que será eterna: não será superada e jamais será anulada, será a Nova e Eterna Aliança: a promessa de uma nova e eterna aliança que será gravada no coração do ser humano, não mais em pedras ou com o sangue de animais, mas no interior do coração do homem. A partir desse pacto prometido por Deus é que podemos entender melhor as palavras utilizadas no momento da consagração, onde o sacerdote profere estas palavras sobre o vinho: “Este é o cálice do meu sangue, o sangue da nova e eterna aliança, que será derramado por vós e por todos para a remissão dos pecados.” No sacrifício da missa, temos uma atualização do mistério Pascal, seus frutos são continuamente derramados sobre o povo de Deus e sobre o mundo.

    O salmo 50, que é por excelência o salmo da penitência e do perdão, onde se clama a Deus por piedade e pede-se um coração puro que corresponda à Nova Aliança. A nova aliança prometida na 1ª leitura será selada no coração. O Salmista pede um coração puro, que seja digno de selar e receber os frutos dessa aliança.

    Na segunda Leitura (Hb 5,7-9), a Carta aos Hebreus exalta Cristo como servo obediente, mesmo em sua condição de glória: Cristo, nos dias de sua vida terrestre, dirigiu preces e súplicas, com forte clamor e lágrimas,

    àquele que era capaz de salvá-lo da morte. E foi atendido, por causa de sua entrega a Deus. Mesmo sendo Filho, aprendeu o que significa a obediência a Deus por aquilo que ele sofreu. Mas, na consumação de sua vida, tornou-se causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem.”

    Adentremos a semana Santa com fervor. Que o Senhor nos renove, nos sustente e nos faça cada dia mais abertos à ação da sua graça. Acompanhemos Jesus nos passos de sua paixão, sabendo que a história da paixão de Cristo é a história das nossas vidas, em nossas lutas, nossos tropeços, mas em nosso desejo de cumprir a vontade do Pai a todo momento. Rezemos pelos que sofrem. Rezemos por nossos doentes e por todos os desempregados. Rezemos por aqueles que precisam de forças para carregar a cruz de cada dia. Deus abençoe e guarde a todos.

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