Semana das Dores

    A Igreja celebra, piedosamente, a Semana das Dores, tanto na semana que antecede a Semana Santa, ou seja, na 5ª Semana da Quaresma, como na própria Semana Santa. Dessa maneira, a Igreja recorda as dores e os sofrimentos de Maria ao ver o seu Filho sendo crucificado. Já a partir da 5ª Semana da Quaresma, se aproximam os dias da Paixão de Jesus. A própria liturgia tem sugestões de textos próprios (como, por exemplo, prefácio próprio para a quinta semana e outro para os 3 primeiros dias da semana santa), assim como em alguns lugares se conserva o costume de cobrir as cruzes e imagens da igreja. As cruzes permanecerão veladas até o fim da celebração da Paixão do Senhor, na Sexta-feira Santa. As imagens, até o início da Vigília Pascal.

    Nossa Senhora é aquela que “guarda tudo em seu coração” e, em silêncio, como nos diz a Sagrada Escritura. Ela meditava e perscrutava tudo em seu coração. Dessa forma se cumpria a profecia de Simeão, que disse a Virgem Maria que uma espada lhe atravessaria a alma. Por isso, a imagem de Nossa Senhora das Dores tem uma espada cravada em seu peito. E um olhar contemplativo, meditando em tudo que estava acontecendo. De fato, a dor de perder um filho é como se uma espada atravessasse a alma, é uma dor que somente a mãe pode sentir.

    Existe a sugestão para que a partir deste 5º domingo da Quaresma, as paróquias que puderem colocar a imagem da Virgem das Dores em destaque (quando não a forem velar), preparando assim a celebração da semana que se inicia e a Semana Santa que virá depois. E para que os fiéis olhem e observem o olhar contemplativo de Maria e ajude-os a celebrar com piedade, os momentos celebrativos que irão se suceder.

    A Semana Santa é considerada a Semana Maior para todo cristão católico, ou seja, a semana mais importante do ano, pois durante o ano inteiro, não teremos mais nenhuma outra Semana Santa, por isso devemos participar da Semana Santa com fé e piedade, com as devidas precauções sanitárias recomendadas para cada lugar do país. Durante as celebrações da Semana Santa, tínhamos algumas procissões, que neste ano, por orientação do Setor Liturgia da CNBB e também da Congregação para o Culto Divino estão supressas. Mas podemos recordar uma delas como reflexão para nossa piedade: a Procissão do Encontro, ou seja, Nossa Senhora das Dores se encontra com Jesus dos Passos. Podemos revisitar esta piedosa ação litúrgica relembrando estes atos piedosos que estão na memória afetiva de muitos. Isso nos ajudar a vivenciarmos este tempo, mesmo com as restrições atuais. Algumas vezes podemos até mesmo relembrar em vídeos postados nas redes digitais. Esses atos de piedade que se unem aos litúrgicos fazem parte de nossas tradições católicas.

    Nessas piedosas celebrações, Nossa Senhora não grita, não chora alto, mas contempla o rosto do seu Filho e o entrega a Deus e entende que aquela era a vontade de Deus. É assim que devemos lidar com os sofrimentos e as dores do dia a dia, entendendo que tudo que acontece na nossa vida é por vontade de Deus. Na contemplação deste encontro, vamos refletir sobre as perdas e as contingências da Covid-19 e o impacto da dor, separação, sofrimento e morte como consequências nefastas da pandemia. Como sofremos com tantas mortes! Como ficamos preocupados com tantos enfermos! Olhemos para Maria e para Jesus. E se Ele deu aquela Cruz para carregarmos, é porque Ele sabe que seremos capazes de carregá-la até o fim e passaremos pelo calvário e chegaremos à ressurreição. Não há problema ou dificuldade que não possa ser vencida. É claro que é difícil para uma mãe entender a morte de um filho e para tantos é muito difícil enfrentar esses sofrimentos.

    A Semana das Dores são sete dias de oração e reflexão sobre todo o sofrimento da Mãe de Jesus, que o acompanhou no caminho do calvário. Segundo a tradição da Igreja, são sete as dores de Nossa Senhora, e em cada dia da Semana das Dores, podemos contemplar uma dor. Iniciando na segunda-feira da 5ª Semana da Quaresma e indo até o Domingo de Ramos, quando se dá início à Semana Santa.

    Seguem as sete dores de Nossa Senhora para meditarmos durante os dias dessa semana:  Primeira Dor – Profecia de Simeão; Segunda Dor – Fuga para o Egito; Terceira Dor – Maria procura Jesus em Jerusalém; Quarta Dor – Jesus encontra a Sua Mãe no caminho do Calvário; Quinta Dor – Maria ao pé da Cruz de Jesus; Sexta Dor – Maria recebe Jesus descido da Cruz: Sétima Dor – Maria deposita Jesus no Sepulcro.

    Dessa maneira, primeiramente, contemplamos as dores da Virgem Maria, para depois contemplarmos o sofrimento do Filho. Um complementa o outro, e os dois se dirigem para o Pai. Nossa Senhora nos ajuda a refletir sobre o sofrimento do seu filho Jesus. Por isso, celebramos uma semana antes. Devemos compreender o momento da entrega de Jesus na cruz, com o olhar da fé e, a partir disso, optar por uma mudança radical de nossas vidas.

    Nossa Senhora das Dores nos ensinou a seguir o seu Filho Jesus e fazer tudo o que Ele nos disser, junto com Ela, celebremos esses dias com fé e piedade e optando por uma vida sem pecado e dessa forma sendo obedientes a vontade de Deus. Que Deus nos santifique para que saiamos desses dias com o coração renovado e que as águas do batismo nos renovem e nos façam novas criaturas.

    Maria Santíssima, a Virgem das Dores, aos pés da Cruz, entrega toda a humanidade que sofre e que padece em suas dores. Jesus, ao entregar João a Nossa Senhora como seu Filho, Ele nesse ato entrega a humanidade inteira a Nossa Senhora, Ela se torna a Mãe de todos nós.  Dessa forma, ela carrega as nossas dores e angústias e não nos deixa esmorecer diante da dor, nos carrega no colo e ameniza a nossa dor, intercedendo por nós junto a Deus. Nossa Senhora nos ajuda, a não ficarmos no calvário, mas com o olhar da fé, focar na ressurreição e na vitória.

    O Papa Bento XVI, refletindo sobre a atualidade da piedosa e oportuna devoção em honra de Nossa Senhora das Dores, ensinou sobre o sofrimento que: “Queria, humildemente, dizer àqueles que sofrem e a quantos lutam e se sentem tentados a virar as costas à vida: Voltai-vos para Maria! No sorriso da Virgem, encontra-se misteriosamente escondida a força para continuar o combate contra a doença e a favor da vida. Junto d’Ela, encontra-se igualmente a graça para aceitar, sem medo nem mágoa, a despedida deste mundo na hora querida por Deus.” Voltemos, pois, para o Senhor: “Sem a ajuda do Senhor, o jugo da doença e do sofrimento pesa cruelmente. Recebendo o sacramento dos doentes, não desejamos levar outro jugo que não seja o de Cristo, fortalecidos pela promessa que Ele nos fez, isto é, que o seu jugo será fácil de levar e leve o seu peso (cf. Mt 11, 30).” (http://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/homilies/2008/documents/hf_ben-xvi_hom_20080915_lourdes-malati.html, último acesso em 10 de março de 2021)

    Vivamos, intensamente, a Semana das Dores caminhando com as sete dores de Nossa Senhora que nos apontam para o Cristo. Que nestes dias possamos rezar não só um terço, mas todo o rosário pedindo a cura contra a Covid-19 e a plena vacinação de todo o povo! Portanto, caminhemos para a Páscoa tendo a certeza que a Virgem Maria nos acompanha e irá a nossa frente, testemunhar com os olhos da fé, o Ressuscitado. Que com a celebração da Páscoa, sejamos testemunhas do ressuscitado em qualquer ambiente que estivermos.

    Que todos nós possamos ter uma profunda e piedosa Semana das Dores e também uma Semana Santa plena de presença do Senhor, celebrando com fé e piedade para que possamos experimentar as glórias da ressurreição. Que cheguemos a Páscoa com o coração renovado e cheio de esperança em tempos novos. Amém.

    Nossa Senhora das Dores, rogai por nós.

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