Deus magnífico, gracioso e encantador

    Antes de mais nada, nossa homenagem ao Pe. Giovanni Saboia de Castro (1926-2020), ordenado sacerdote em 6 de dezembro de 1953. Por ele fui batizado aos 25 de novembro de 1956, na Matriz de Capistrano-CE. Partiu o grande e sempre muito lembrado e amado vigário do bairro Montese em 30 de maio de 2020. Na certeza de que ele se encontra no contexto beatífico, no todo ou no infinito, quando o homem, ao ultrapassar a si mesmo, encontra-se no absolutamente ilimitado, como ser humano verdadeiramente humano no infinito! Quando eu estava para me ordenar sacerdote, depois da ordenação diaconal, em 10 de janeiro de 1988, ele me propôs ajudar nas despesas que eu iria ter pela frente, referentes ao sacramento da ordem. Nunca esqueci seu gesto gracioso, vindo do seu bom coração! Dizia, orgulhoso, ser eu seu afilhado. Também gostava, por meu nome, Geovane, ter sido em sua homenagem. Nele, quero incluir todos os padres falecidos ultimamente.

    Não hesitar diante da graça de Deus que nos santifica, que será sempre um benefício divino, de um Deus inteiramente livre, sendo sempre dadivoso, além e acima da natureza criada, podendo ser concebível ou criável, como um dom que de algum modo, ou de alguma maneira, é preciso ser conquistado[1]. Deus é magnífico, imenso e encantador, na sua divina bondade, e é bondade sem limites na simplicidade e na humildade, bondade mesmo de Jesus, pobre e de uma compreensibilidade e candura inequívocas.

    Só quem é capaz de assimilar a grandeza de Deus, naquela compreensão do que é imprescindível num coração de pobre, que quer se fazer com Jesus despojado, que esteja apto a acolher essa grandeza divina, na pequenez da existência humana. Urge, portanto, manter a chama da vida interior, na contemplação silenciosa, no desejo de Jesus de Nazaré, de ser fermento na massa, fermento esse que precisa ser olhado, de tal modo que possa, sim, com sua ação generosa crescer e, misteriosamente, fermente toda a massa.

    Como é maravilhoso quando as pessoas, e aqui o Pe. Giovanni Saboia de Castro em meio às situações de relativismo do mundo, com propostas ilusórias de métodos fáceis, descobrem nos místicos ou nos santos a importância da presença de Deus, de se encontrar e de se encantar com o Senhor, num entendimento consciente e cristalino, manifestado no paradoxo do cansaço, no que é passageiro! São aqueles que, de verdade, estão dispostos a se aventurarem ou querem andar na estrada do espírito, de no itinerário da vida interior caminhar pelos seus corredores, como no exemplo de tantos santos e santas que nos precederam, e que encontraram com seu apanágio no único necessário e absoluto: Deus.

    Não escolhemos viver, mas vivemos e existimos. Que se convença sempre mais de que viver é pura gratuidade de Deus, mesmo em meio às precariedades da vida, constantemente ameaçada, mas sem perder a esperança na eternidade, na realidade terrestre, de no céu vermos Deus com a face descoberta (cf. 2 Cor 3, 18). Livrar dos desafios de tudo posto como empecilho ou limites, além de ferir, dividir e amarrar, como na seguinte afirmação: “Com as mãos cheias, com o gesto de prazeroso regozijo e ao mesmo tempo generoso, num imperturbável contentamento”[2].

    A despeito do definitivo e da glória futura, no sonho da mais absoluta realização, como na assertiva de Leonardo Boff: “Concedei, Senhor, aos que estão morrendo e decidindo por vós, a graça de um rápido amadurecimento humano e divino, para que, num acendrado acrisolamento, possam desabrochar totalmente em vós”[3]. Assim seja!

    [1] Kloppenburg, Frei Boaventura. Colheita da vetustez, p. 12.

    [2] Boff, Leonardo. A vida para além da morte, p. 73.

    [3] Boff, Leonardo. A vida para além da morte, p. 66.

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