Deus chama, se digo sim, tudo acontece.

Sou Maria Clenilda, religiosa do Instituto Josefino, tenho 20 anos de vida religiosa, sou Brasileira, natural do Acre, Rio Branco. Atualmente eu estou morando no Ceará, na cidade de Sobral.
Estou aqui no Congresso CAM4 e COMLA9 em Maracaíbo representando a Diocese de Sobral, a qual pertenço, e na qual realizo um trabalho missionário.

Eu e vários outros brasileiros, estamos vivendo esse momento único, momento de graça, que é de encontrar com todos os povos desta America com suas expressões culturais e religiosas. Na verdade é uma riqueza e eu percebi que realmente a nossa Igreja, á minha Igreja é muito rica! Temos que deixar os povos viverem suas manifestações religiosas, porque cada um tem a sua riqueza própria.   Na casa onde fomos acolhidos partilhamos uma convivência com nossos amigos que são de diferentes estados brasileiros.

CatolicaNet: O que mais lhe chamou atenção e o que mais lhe tocou durante o Congresso?

Irmã Maria Clenilda: O que mais me tocou é quando se fala de um tema e todos os povos entendem. então podemos definir assim: Como o verdadeiro pentecostes, todos os palestrantes falavam de missão, falam de Deus, falavam de uma linha condutora e todos entendiam e o que é mais bonito e que tocava o coração.

CatolicaNet: Irmã quando você saiu do Brasil, qual era sua expectativa, o que você imaginava encontrar e o que você realmente encontrou?

Irmã Maria Clenilda: Na verdade eu não tive nenhuma expectativa, porque eu sabia que isso iria atrapalhar. Recentemente estive em Brasília para fazer um curso na CCN e fui sem nenhuma expectativa. Lá encontrei jovens de todos os continentes: do Congo, Vietnã, Indonésia e muitos outros. A convivência foi muito enriquecedora. Quando venho para uma missão, venho apenas aberta à novas experiências.

CatolicaNet: Então o que mais lhe abasteceu neste Congresso?

Irmã Maria Clenilda: Embora as palestras tenham sido profundas, o que mais me emocionou foi a convivência fraterna onde fui acolhida. O carinho que essas pessoas nos dedicaram, foi uma experiência que posso dizer que foi algo divino. Tenho uma história muito bonita com Santa Terezinha, então fiquei muito feliz quando encontrei seus restos mortais expostos no Congresso.

CatolicaNet: Irmã aqui neste encontro vimos uma Igreja diferente, a Igreja que sonhamos. Isto é apenas uma impressão ou realidade?

Irmã Maria Clenilda: Sim, nossa Igreja é muito rica de expressões e temos que deixar as pessoas se manifestarem. Foi falado no Congresso que nós como Igreja Hierárquica, as vezes queremos  padronizar a liturgia, seguir uma linha, e isso geralmente dificulta  a ação do Espírito Santo. Com certeza quando voltar para o Brasil vou ser mais leve em relação a certas doutrinas. Temos que deixar que as pessoas se manifeste do seu jeito, do seu modo.

CatolicaNet: Olhando para todos os países que estiveram representados aqui cada um da sua forma, do seu jeito, qual a contribuição da Igreja do Brasil para o Congresso?

Irmã Maria Clenilda: Viemos em um número bem significativo mas o que nos diferencia mesmo é a alegria. Onde estávamos era aquela  grande alegria. Envolvíamos-nos com as pessoas e isso fez com que todos se voltassem para nós. A alegria que nos diferencia dos outros povos.

Catolicanet: Bom Irmã eu gostaria que você, tem uma vida de missão muito intensa, eu tenho certeza que você tem muitos testemunhos belíssimos. Conte um pouquinho para nós

Irmã Maria Clenilda: Como eu falei anterior, eu sou do Acre, sou do Rio Branco e quando eu fiz os meus votos que foi no nordeste, quando eu voltei para o norte logo uns dois, três anos nós fomos morar em uma Paróquia que fica uns trezentos quilômetros da Capital, mas para chegar nessa cidade ou ia de Barco ou de Avião, por que a Amazônia é assim: Na época do inverno as estradas fecham, porque não tem tráfego, então os caminhões, os carros ficam presos na lama, eles não conseguem ir a frente. No período do inverno nós só tínhamos esses dois transportes. Lá a gente atendia os índios, na subsistência, na educação, na saúde e nos direitos, nada de evangelização. Tínhamos duas viagens por ano. Nessa missão, em uma das viagens nós atendíamos as aldeias e na outra a gente atendia os ribeirinhos. Estes a gente realmente evangelizava, via como é que estava a questão dos batizados, como é que estava a vivencia dos sacramentos e tudo mais. Porém, uma experiência muito forte que eu fiz, foi quando fomos, eu e mais uma Irmã, para Centro da Amazônia, onde ficam os povos seringueiros. Tem muitas pessoas, muitas famílias morando dentro da mata onde você passa dias andando pra chegar nessas casas, nessas famílias. Já fazia dois anos, que não ia Padre nem religiosos visitar esse povo.  Eu era a mais jovem da comunidade religiosa e me dispus a ir junto com outra irmã. Organizamos tudo. Então veio uma pessoa lá do Centro da mata para nos buscar. Organizamos todo o nosso mantimento, leite, bolacha e tudo mais que colocamos no lombo um boi. Entrando na mata passamos o dia inteiro andando. Isso era véspera do dia de São Francisco. Chegamos nesse lugar de tardesinha, conversando esquecemos do boi que ficou pastando e sumiu mata adentro. Como seguiríamos viagem sem esse animal para levar as coisas? Ai eu disse, interessante que eu disse em voz alta: – São Francisco tu que és amigo dos animais faça com que esse boi volte. Dormi um pequeno sono, quando eu acordei o boi estava próximo a minha rede. Amarramos o boi e então percebi que São Francisco não nos abandonou. Assim nós chegamos a essa comunidade depois de três dias caminhando na mata e lá já estava o povo nos esperando, muitas crianças, aquela alegria. Fiquei com as crianças fazendo a Catequese e todas as crianças que ainda não eram batizadas foram batizadas e foi eu quem batizei as crianças e a outra Irmã ficou com o sacramento do matrimonio, tinha uma Irmã que tinha a provisão do bispo pra fazer esse direcionamento na Igreja local.  No outro dia  nosso mantimento já começou a ficar pouco pois repartíamos com as crianças e o povo. Sem alimento teríamos que ir embora no dia seguinte. Mas a providencia divina nos beneficiou com o aparecimento de uma paca, que é um animal da Amazônia. O animal foi abatido e tornou-se o nosso alimento. Quando a gente se dispõe a ir para a missão Jesus esta conosco, ele providencia.

CatolicaNet:  Diante de tantas dificuldades, em algum momento pensou em desistir?

Irmã Maria Clenilda: Não, nunca me passou pela cabeça. Pelo contrário, existia dentro de mim aquele ardor, aquela vontade de ir, como se fosse uma chama interior. Mas teve um momento,  em outra viagem que eu me doei tanto sem ver resultados que desanimei. O bispo foi fazer visita nessa cidade onde eu era Coordenadora de Pastoral e eu fui conversar com ele relatando meu desanimo por me doar tanto, e não ver os frutos que gostaria de ver. O Bispo disse que já fazia 26 anos que estava nessa Diocese e que nada mudou, que a obra era de Deus e não sua.  O Bispo lembrou: – deixa Deus ser Deus, ele faz em seu tempo e em seu modo, nós somos meros instrumentos. Isso para mim foi um consolo muito grande, foi também um tapa no rosto. Era preciso esperar o tempo de Deus.  Assim o único momento que eu me senti assim tão desanimada, foi quando eu quis que Deus fizesse do meu jeito e não é assim, você tem que esperar o tempo de Deus.

CatolicaNet: Irmã qual o seu conselho para as pessoas que ainda se sentem presas a paróquia e temem se lançar na missão?

Irmã Maria Clenilda: Quando participamos de um movimento desse nível, nosso horizonte se abre. Você não é mais a mesma pessoa, você não volta mais para o seu ponto inicial, você se torna universal, você tem tantos contatos com outras pessoas de outros Países que o seu espaço cresce.  Esse Congresso foi o momento de fazer com que as pessoas se abram para a missão ad´gentes. Interessante que a Diocese onde estou vai fazer cem anos de Diocese agora em 2015, e o bispo que é  Comboniano disse que nossa diocese já recebeu muita ajuda  e que agora nesse centenário é preciso darmos uma resposta. Então em 2015 a Diocese de Sobral vai enviar oito missionários para assumir uma paróquia em Moçambique, como uma resposta de tantos anos que recebemos da missão de fora.  Eu sou da Amazônia e lá precisamos de muitos missionários, as seitas estão crescendo bastante. Mas, nem sempre o missionário é bem quisto em seu lugar. Estou na Diocese de Sobral e me coloquei a disposição dessa missão na África.

 

Local: Maracaíbo
Fonte: CatolicaNet