Cristo reina

    A solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo inicia a última semana do Ano Litúrgico. É quando celebramos o Dia do Leigo na Igreja do Brasil. Aqui também iniciamos a Campanha pela Evangelização, que tem como tema “Evangeli-já” e como lema, “Sede Misericordiosos”. Nesse que é o XXXIV Domingo do Tempo Comum a Igreja contempla, adora e proclama o seu Senhor, Jesus Cristo, como Rei e Senhor do universo! Depois de termos percorrido todo o Ano Litúrgico, começando com o Advento que nos preparava para o Natal; depois de termos atravessado a penitência quaresmal e o júbilo pascal, depois das trinta e três semanas do longo Tempo Comum, eis-nos agora, ao final do ano da Igreja, proclamando que o Senhor do universo, o Rei do tempo e da eternidade é o Cristo nosso Deus! Nessa última semana teremos também, na quinta-feira, o “Dia Nacional de Ação de Graças”.
    A convergência do Ano Litúrgico com esses acontecimentos e com esta solenidade nos demonstra a direção para onde caminhamos: para que o Cristo reine em nossas vidas, relacionamentos e história. Porém, quando olhamos em torno a nós, constatamos que cada vez mais Cristo parece reinar menos! Nossa sociedade é chamada de pós-cristã e neo-pagã, pois, embora possamos contestar essa qualificação, constata-se que os traços do cristianismo e as marcas de respeito pelo Senhor Jesus vão se diluindo nos meios de comunicação, nas legislações e, até mesmo, no coração e no comportamento das pessoas em países “considerados” cristãos. Parece que Jesus não reina nas famílias, nas nossas escolas, nos nossos ambientes de trabalho, nas nossas leis nem dos nossos legisladores e governantes, em nossa comunicação. Tem-se a impressão de que hoje reine o paganismo e o relativismo, junto com a banalização do que é sagrado.
    Daí vem a grande pergunta nessa festa de Cristo Rei. Sabemos que Ele Reina e é Rei do Universo, porém na prática muitas vezes não O aceitamos e nem O acolhemos. Não será, então, uma tremenda ilusão, uma alienação de quem não quer ver a verdade dos fatos, dizer que Cristo é Rei? Não estaria a Igreja iludida, que pensa ainda como se estivéssemos vivendo séculos atrás? O mundo nos grita aos ouvidos: “Não queremos o reinado de Cristo! Não queremos que Ele reine sobre nós! Que reine a ciência, a vontade, o prazer; enfim, reinemos nós mesmos como senhores do bem e do mal, do certo e do errado, da vida e da morte”! Revemos aqui a realidade como descrita no livro do Genesis: não obedeço!
    Assim, olhando a realidade atual, a festa solene de hoje pode nos levar à descrença, a uma tremenda tristeza, a um inapelável desânimo! Somos súditos de um Reino sem espaço e de um Rei sem trono nem poder. Quem nos fazer acreditar que o Reino no qual apostamos não passa de um conto de fadas desmentido pela realidade tão dura, rude e poderosa? Dizem que hoje o homem progrediu e avançou e não mais precisa de Deus. Aliás, não é a primeira vez que escutamos isso na história…
    Mas, esta visão deprimida e descrente somente pode ser possível se entendermos de modo enganoso a festa de hoje. E é fácil compreendê-la assim, de modo errado. Quando afirmamos que Cristo é Rei, nós estamos escutando o Evangelho que nos coloca Pilatos perguntando a Jesus: “Tu és Rei?” E Jesus confirma, mas esclarece: “O meu Reino não é deste mundo. Meu Reino não é daqui!” Um Reino, portanto, que não é como os reinos deste mundo; um Reino que não tem de modo algum os critérios dos reinos daqui, porém que começa aqui, no coração das pessoas. Trata-se, como diz o Prefácio da Missa desta festa, de um “reino eterno e universal: reino da verdade e da vida, reino da santidade e da graça, reino da justiça, do amor e da paz”. Jesus é Rei do Universo! A revelação nos diz que no fim da história humana, toda a criação e toda a humanidade serão por Ele julgadas e Nele transfiguradas. As palavras da primeira leitura deste domingo não são uma brincadeira nem uma fábula: “Entre as nuvens do céu vinha um como Filho do Homem, aproximando-se do Ancião de muitos dias, e foi conduzido à sua presença” (cf. Dn 7,13).
    “Foram-lhe dados poder, glória e realeza e todos os povos, nações e línguas O serviam. Seu poder é um poder eterno que não lhe será tirado, e seu reino, um reino que não se dissolverá”. Certamente, a glória do Senhor se manifestará de modo claro, palpável e inapelável ante todos nós e toda a humanidade; certamente, o Senhor haverá de nos julgar a todos e a cada um de nós; certamente, a nossa história e a história humana toda serão passadas a limpo no Cristo… Mas, Jesus é Rei e é o Filho do Homem, isto é, aquele que se fez homem, se fez pequeno, tomando nossa pobre condição humana! Aqui está a chave para compreender o reinado de Jesus! Ele é Rei porque é Servo, porque nos amou a ponto de dar a vida por nós e por toda a humanidade. Toda vez que a liturgia de hoje fala da sua Realeza, proclama seu amor que fê-Lo morrer por nós. Escutem: “Eis que vem sobre as nuvens e todos os olhos o verão, também aqueles que o traspassaram”.
    Todas as tribos da Terra baterão no peito por causa Dele! Aquele que vem como Deus, sobre as nuvens, aquele que será contemplado, reconhecido um dia por todos, é o mesmo que foi traspassado na cruz! Toda a humanidade que o traspassou baterá no peito, arrependida, chorosa, admirada de tanto amor! A antífona de entrada oficial da missa desta solenidade nos diz que: “O Cordeiro que foi imolado é digno de receber o poder, a divindade, a sabedoria, a força e a honra. A ele a glória através dos séculos” (Ap 5,12; 1,6). Aquele que é digno de receber todo louvor é doce e pacífico como um cordeiro; o Cordeiro que foi imolado, transpassado por nós! Ele é digno não porque nos amedronta com Sua grandeza, mas porque nos conquista com Seu amor e Sua generosidade a ponto de se ter deixado imolar por nós! É o “Jesus que nos ama, que nos libertou com Seu sangue; que fez de nós um Reino e sacerdotes para o seu Deus e Pai… A ele a glória e o poder…”
    O Reino de Cristo deve aparecer, sobretudo, na vida da Igreja e na vida dos cristãos. Ali, onde o amor de Cristo é acolhido com doçura e bondade; ali, onde reina o amor e a caridade; ali onde o serviço e o perdão estão presentes; ali, onde se reza e se busca realmente levar a cruz com Cristo até a morte. Nessas situações bem concretas, é que o Reino de Cristo faz-se presente desde já. Estejamos atentos, pois o Reino se apresenta com critérios de simplicidade e de entrega da vida.
    Eis a grande lição da Festa de hoje: o tempo, a história, o cosmo… tudo corre para Jesus: ele é o Alfa e o Ômega, o A e o Z, o Primeiro e o Último! É nele, no critério da sua cruz, que tudo será avaliado, tudo será julgado! Nesse contexto, em nossa Arquidiocese, em que tudo deve convergir para Jesus Cristo, o Rei do Universo e da nossa vida, celebramos a Festa Arquidiocesana da Unidade, com a grande concentração na Sé Catedral Metropolitana de São Sebastião, para proclamarmos o Senhorio de Cristo. Ao Reinado de Cristo, um Dia – no seu Dia – tudo estará plenamente submetido! Mas, nunca esqueçamos: aquele que é nosso Rei e Juiz é o nosso Salvador, o humilde Filho do Homem, que se manifestará revestido de glória porque morreu por nós: “Jesus Cristo é a Testemunha fiel, o Primogênito dentre os mortos, o Soberano dos reis da terra”. A Ele, a glória pelos séculos dos séculos. Amém!

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