O Cristo de Deus

    Admirável a profissão de fé do Apóstolo Pedro, quando Jesus interrogou aos discípulos quem Ele era, pois tomando a palavra respondeu:  “O Cristo de Deus” (Lc 9,20). De fato, Ele era o Ungido de Deus, o Messias, e, na verdade, o Messias sofredor segundo a interpretação cristológica de Isaias (52 e 53). Aliás, logo após as palavras de Pedro, diz São Lucas que Jesus afirmou que o Filho do homem tinha que sofrer muito, ser rejeitado e morto. Cumpre ao cristão desejar conhecer sempre mais e melhor Aquele que veio a este mundo como o Redentor prometido, se mobilizando num processo existencial de conversão e de seguimento daquele que é a fonte e a plenitude da vida. Isto foi compreendido perfeitamente por São Paulo: “Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). É preciso descobrir nele a “imagem do Deus invisível e o “primogênito de toda criação” (Cl 1,15). Na sua pessoa divina que se fez carne se deu o encontro do mistério do divino e do humano para a realização dos planos salvíficos da Trindade misericordiosa. Disto resulta a necessidade de reconhecer, na prática, que Jesus é o Senhor, o Salvador de cada um. Entretanto, ostentar os padrões desta crença na existência diária supõe disposições que levam a ostentar uma percepção acutilante da profundidade de tudo que Ele ensinou. O seguidor de Cristo deve manifestar ao mundo o rosto do Mestre divino que uma fé profunda vai pintando em seu coração. Trata-se de um comprometimento sério  com aquele que é a única tábua de salvação, o verdadeiro manancial da felicidade. A vinculação a Cristo ocorrida no dia do batismo traz uma responsabilidade enorme e da consciência da mesma depende cada um se fazer “luz do mundo e sal da terra”.  Apenas assim se demonstra que Jesus, que foi morto, ressuscitou e está vivo,  que está presente na existência de seu discípulo o qual, deste modo, o faz cada vez mais conhecido e amado. Nisto consiste basicamente o anúncio do Evangelho. Aquele que busca desta maneira  a plenitude de sua conformidade com o modelo divino está a proclamar por toda parte  que Cristo vivo e vivificante  preside a história humana, fecundando-a com seu poder e glória. O verdadeiro cristão é, assim, o instrumento basilar para que a obra redentora se prolongue através dos tempos. Jesus aparece então não como um mero exemplar de uma religiosidade abstrata, mas como um companheiro  de jornada, “autor e consumador da fé” de que fala a Carta aos Hebreus e que leva à conquista da vida eterna (Hb 12,2). Para isto é necessário aceitá-lo para que Ele possa comunicar a vida divina, segundo o seu ardente desejo: “Eu vim para que todos tivessem a vida e a tivessem em plenitude” (Jo 10,10). Então  a presença de Jesus  se converte em força transformadora a envolver todo o ser humano que a Ele adere. Ele se faz contemporâneo de cada um e da sociedade na qual age este seu epígono. Realiza-se o contato vivo sacramental com Cristo, fruto da identificação pessoal e da incorporação nele. O estar nele equivale então ser Ele mesmo na realização total da célebre definição: “O cristão é outro Cristo”. Para que este ideal seja colimado os meios estão ao alcance de todos. A Palavra que está na Bíblia, meditada, vivida e que, sobretudo, é apresentada em cada Missa dominical como um roteiro semanal de raro valor espiritual. Na celebração eucarística se oferece o momento culminante da união com Ele através da Comunhão pela qual se dá uma presença reduplicada: Ele em nós e nós nele. Clara sua mensagem: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue, permanece em mim e eu nele” (Jo 6,17).  Deste modo, terminada a Missa começa a missão de levá-lo por toda parte. Brilham então os sinais do reino de Cristo e seu discípulo se torna o fermento na massa social, impregnando-a da Boa Nova trazida por Ele do céu a esta terra. Nisto consiste o dinamismo do autêntico apostolado e Jesus amoroso é empaticamente acolhido, inundando a todos com raios luminosos de sua divindade. O espírito de Cristo deve penetrar a mente de todos aqueles com quem o cristão convive, devido a uma conaturalidade que se torna, por assim dizer, perceptível. Por força de tanto repetida perderam sua pujança primitiva as sentenças que diziam que o importante é o testemunho de vida e que “palavras sem obras são tiros sem bala”, atroam, mas são sem efeito.  Nunca se tem demais convicção de que o exemplo é que arrasta e quem sabe que Jesus é o Cristo de Deus não deixará desta forma de ser o intermediário pelo qual Ele possa prosseguir sua missão salvífica a bem próprio, do próximo e de todo o mundo. Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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