CONSERTANDO ESTRADAS

                Surpreso fiquei com o anúncio de que rodovia que uso diariamente e que liga meu interior à grande capital foi eleita como a segunda melhor rodovia brasileira. Não só surpreso, mas igualmente decepcionado, pois imaginei o quão péssimas seriam as demais. Porque por aqui o tráfego é terrível, os remendos se sucedem uns sobre os outros, os longos aclives e declives tornam-se as maiores causas de grandes acidentes e o título histórico de corredor da morte ainda não lhe foi tirado em definitivo. Sinceramente, onde “arranjaram” esse título?

                Mas a surpresa acontece numa semana em que o calendário litúrgico nos desafia: “Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas estradas!”  O grito profético do deserto é bem atual, posto que nos chama à responsabilidade e nos convida a refletir sobre fatos, acidentes e incidentes, que nos rondam diuturnamente e para os quais sempre apontamos culpados, damos-lhes nomes e sobrenomes, mas nunca nos incluímos nesta vasta lista. Consertar estradas não é atribuição nossa. Os responsáveis que arquem com as consequências de eventuais desastres.

                Confessemos os nossos pecados. Neste campo aparentemente vazio, que constitui também nosso “interior”, está a raiz condutora da vitalidade necessária para “aplainarmos” os caminhos do Senhor. Endireitar suas veredas é também manter nossa ligação com a capital celeste, a Jerusalém que sonhamos. Endireitar suas veredas é evitar “remendos” improvisados e fazer das artérias de nosso coração um canal de fluxo e refluxo permanente com a vontade de Deus; é evitar longos aclives de declives, altos e baixos, mas construir pontes seguras que nos unam aos canais das graças celestes. É alcançar o outro lado sem os obstáculos do medo e da insegurança.

                Por isso o grito no deserto é a voz da nossa consciência a pedir socorro. Do Batista herdamos a consagração batismal, mas também a audácia testemunhal, ou seja: a coragem de apontar a todos o Cristo que passa, o Cordeiro de Deus entre nós. “Depois de mim virá alguém mais forte do que eu” (Mc 1,7). Essa deveria ser a afirmativa mais sonora e constante na vida dos que evangelizam. Nada fazemos com nossas fraquezas e limitações pessoais, mas através delas é que nos tornamos capazes de transformar o mundo com nossa presença e ação missionária. Como diria Paulo: quando sou fraco é que me sinto forte”. Na estrada que hoje percorremos a paisagem não é das melhores, mas o tráfego terá mais fluidez se nos dispusermos a endireitar seu trajeto e buscarmos com mais objetividade as metas que o Espírito nos aponta. Metas de um novo tempo. Caminhos certeiros e seguros que só o anúncio evangélico é capaz de proporcionar àqueles que percorrem a estrada da vida. Mas ainda se surpreendem com a revelação de ser esta não a segunda, mas a melhor rodovia de retorno à nossa morada definitiva.

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