Como ser o pai de um menino que vai morrer

“Eu tenho certeza de que, um dia, vamos todos jogar futebol no céu. E Gaspard será centroavante. E eu vou ver a sua alegria, a sua felicidade, cheio, repleto de orgulhoso!”

O testemunho que agora compartilhamos foi escrito pelo pai de Gaspard, um simpático menininho francês que nasceu com deficiências severas. Os médicos estimam, para Gaspard, uma passagem breve por esta terra. Seu pai revela, para nós, um pouco daquilo que sente diante desse desafio tão, tão imensurável – e o seu desabafo é uma lição extraordinária.

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Faz alguns dias, quando meus três filhos estavam me dando seus tradicionais presentes feitos na escola para o dia dos pais [nota: o dia dos pais, na França, é comemorado em junho], pensei no meu Gaspard e me perguntei, do fundo do coração, se eu fui um bom pai.

Porque, lá no fundo, às vezes, eu duvido. Eu duvido porque ser o pai de uma criança que se aproxima lentamente da morte é um longo caminho de cruz. Um caminho repleto de dúvidas sobre o sentido desta provação; repleto de arrependimentos, questionamentos, momentos de tristeza e combates interiores contra um egoísmo que não tem o bom gosto de diminuir. Viver com esse terrível prazo na mente é, muitas vezes, como remar contra a corrente: você se esforça, mas sente que está sendo recuado à força.

Para a maioria dos pais, também existe a delicada questão do trabalho. O que fazer? Deixar a carreira em espera e parar de trabalhar? Mas durante quanto tempo? E como é que vamos pagar o aluguel? E se ele viver mais tempo que o prognosticado pelos médicos? Todas essas pedras no sapato de cada manhã tantas vezes se tornam espinhos que machucam o coração.

Ser o pai de um menino que vai morrer é também preparar o depois, aquele depois que assusta. Será impossível viver como antes, porque o nosso sol, a estrela da nossa casa, aquele em torno de quem tudo gira, não vai mais estar aqui para iluminar o nosso caminho. Ou melhor, ele estará aqui sempre, mas de outra forma. E faz parte do papel de pai, creio eu, preparar esse futuro, porque os nossos outros filhos merecem o melhor – e eles certamente se sentirão fragilizados, durante alguns anos, depois de tudo o que viveram ao lado de Gaspard. Eu não acho que alguém saia ileso desse tipo de provação.

E há uma última coisa: a impotência. E ela é, sem dúvida, a pior. Para um homem, a coisa mais difícil a encarar é não poder, não ser capaz de salvar o próprio filho, ser incapaz de impedir que ele sofra.

Devo admitir que eu não resolvi nenhum desses problemas. Eu me sinto terrivelmente impotente. Eu continuei trabalhando, preparando o futuro do melhor jeito que pude.

A única coisa que importa é que eu o ame.

Uma noite, decidi que Gaspard me mostraria o que ele esperava de mim. Decidi perguntar a ele. Eu me coloquei ao seu lado, sentado em seu quarto, e lhe perguntei:

“Gaspard, o que você espera de mim?”

Ele não se moveu, não emitiu nenhum som, nem sequer piscou. Permaneceu impassível. Eu esperei. Esperei quase 2 horas. Ouvia a sua respiração, olhava para ele, o limpei, beijei, rezei por ele, cochilei um pouco… E a resposta, de repente, me pareceu óbvia. Ele só quer isso. Ele só quer que eu o ame. Ele não quer que eu pare de trabalhar, ele não quer que eu o cure, ele não quer que eu desenvolva planos nebulosos para depois de amanhã. Ele só quer que, hoje, eu o ame. É só isso. E isso é muito.

Nesta noite, eu quero tirar o meu chapéu para todos os pais de crianças extraordinárias, para todos os pais que carregam esse fardo tão difícil. Eu tenho certeza de que os nossos filhos estão orgulhosos de nós. Muito orgulhosos mesmo! Eu tenho certeza de que, um dia, vamos todos jogar futebol no céu. E Gaspard será centroavante. E eu vou ver a sua alegria, a sua felicidade, cheio, repleto de orgulhoso!

Leia também, dos papais de Gaspard, outro texto de extraordinária beleza e emoção:

Alguma vez você já se perguntou como é que são escolhidas as mamães das crianças com deficiência?

 

Fonte: Aleteia

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