Comércio Mundial de Armas Movimentou US$ 80 bilhões em 2016

    “Eles matam gente aos milhões nas guerras e dão medalhas por isso. Metade das pessoas deste mundo vai morrer de fome enquanto a gente fica por aí sentado vendo TV”.
    Charles Bukowski  (1920-1994) foi um poeta, contista e romancista estadunidense nascido na Alemanha.
    O mercado de armas convencionais em 2016 movimentou um valor colossal em torno de 80 bilhões de dólares.
    Encabeça a lista dos maiores vendedores os Estados Unidos, com quase metade das vendas, e um incremento de 6 bilhões. O segundo lugar é ocupado pela França, com 15 bilhões e um incremento de 9 bilhões, seguida pela Rússia com 11,1 bilhões (com ligeira queda de 100 milhões) e a China, que se manteve nos 6 bilhões.
    Entre os maiores compradores está o Catar – com 17 bilhões em gastos – seguido pelo Egito, com 12 bilhões e Arábia Saudita, com 8 bilhões.  Todos os países localizados no barril de pólvora que é o Oriente Médio. Outros “bons compradores” são Coreia do Sul, Paquistão, Israel, Emirados Árabes Unidos e Iraque.
    Os dados foram revelados por um estudo conduzido pelo Centro de Pesquisas do Congresso de Washington, publicado na segunda-feira (26/12). A Rádio Vaticano (RV) entrevistou a este respeito à pesquisadora e consultora para as Relações Institucionais do Arquivo de Desarmamento, Dra. Laura Zeppa:
    Diz ela: “O setor, infelizmente, não conhece crise. Existem tendências de queda, determinadas por uma crise econômica global, porém este setor permanece florescente. Naturalmente, existe uma tentativa de controle, por parte de tantas entidades, organizações não-governamentais, associações e também dos próprios Estados que são sensíveis a tal tema; porém, depois, prevalece sempre a política do incremento este setor – muitas vezes sob a forma de pesquisa, porque se diz, que fazendo pesquisa militar, depois haverá também desenvolvimento de pesquisa na pesquisa civil. Na realidade, se prossegue porque as indústrias militares existem, são florescentes e talvez não se prospectam outros mercados e portanto as atenções econômicas e políticas se voltam ao incremento deste setor que, repito, é florescente”.
    RV: Dra. Zeppa, os negócios e os interesses que estão por trás do comércio de armas sempre têm razão sobre qualquer outra instância para pacificar este nosso planeta?
    “O interesse monetário, econômico e o poder que se cria e que brota deste mercado – neste momento – parece predominar sobre qualquer outro interesse. Porém, na realidade, não é a solução para fazer frente a este momento de grande crise e de grande sensação de insegurança. Antes pelo contrário, é um alimentar a mais a insegurança, da qual normalmente este comércio de armas é o primeiro beneficiário: se está auto alimentando com o próprio medo que ele gera” (1).
    ONU Faz Apelo Humanitário Contra a Fome
    O mundo enfrenta uma crise humanitária que requer 22,2 bilhões de dólares para financiar cerca de 93 milhões de pessoas vulneráveis e marginalizadas em 2017. Segundo a Organização das Nações Unidas, o valor é recorde. O anúncio foi feito nesta segunda-feira (5) pelo Escritório das Nações Unidas de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), durante lançamento do Relatório Global Humanitário 2017. “A escala de crise humanitária é a maior (…) desde a fundação das Nações Unidas”, afirmou o subsecretário para Assuntos Humanitários da ONU, Stephen O´Brien. “Nunca tantas pessoas precisaram de apoio e solidariedade para sobreviver e viver com segurança e dignidade.” O plano de resposta humanitária em 33 países pretende alcançar 93 milhões de pessoas. Globalmente, mais de 128 milhões de pessoas são afetadas por conflitos, deslocamentos, desastres naturais e enorme vulnerabilidade. Conflitos na Síria, Iêmen, Sudão do Sul e Nigéria estão entre os que requerem maiores esforços humanitários, já que provocam deslocamentos entre países e cruzam fronteiras. O´Brien explicou que o financiamento será utilizado para enviar alimentos a pessoas que estão morrendo de fome na bacia do Lago do Chade e no Sudão do Sul, além de dar proteção para os mais vulneráveis na Síria, Iraque e Iêmen (2).
    “O mercado é um deus do mundo pós-moderno”, diz o filósofo francês Dany-Robert Dufour. Ele não usa uma metáfora, mas faz uma afirmação literal. “É preciso não esquecer que o mercado não é uma invenção dos mercadores, mas de teólogos”. O que era justamente o caso do economista escocês Adam Smith, como se sabe hoje.
    O mercado armamentista é o mais poderosos dos deuses. É de suma importância ressaltar que os países que vendem e compram armas são tremendamente religiosos, exceto a China, no entanto, este país tem fortes tradições religiosas e o fenômeno religioso ocidental tem tido um crescimento avassalador entre os chineses.
    A indústria das armas, das drogas, da corrupção e da miséria tem sido um esquema lucrativo de forma monumental para a “Elite do Poder Mundial”, ou seja, “Os Senhores do Capitalismo Global”, para eles toda forma de morte, fome e desgraças são fontes contínuas de manter o capitalismo no controle universal. Todo sistema tem seu domínio, político, social,  econômico, cultural e o religioso. Quantos teólogos e líderes religiosos prestam seus ministérios ao “deus do mercado”? Suas catedrais e seus palácios são redutos de transações financeiras. O mercado religioso é mais escandaloso que existe no mundo.
    Podemos acreditar em dias melhores? Sim! “O deus do mercado” ainda não ceifou toda dignidade da pessoa humana, resta à esperança e acreditar em pessoas do bem que na liderança tenha força de usar a lei, comissão de intelectuais, a ciência e a tecnologia para paz, justiça e solidariedade de todos.
    Frei Inácio José do Vale
    Professor e conferencista
    Sociólogo em Ciência da Religião
    Frade da Fraternidade da Visitação de Charles de Foucauld
    E-mail: pe.inacio.jose@gmail.com

    Notas:

    (1) https://mail.google.com/mail/u/0/#inbox/15941e0c5ad820a7

    (2) https://nacoesunidas.org/onu-faz-apelo-humanitario-de-us-222-bilhoes-p-2017/

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