Maria, Mãe de Deus e Rainha da Paz!

    No dia primeiro de janeiro, celebramos a Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus e, também, o Dia Mundial da Paz. Diante disso, não podemos nos esquecer, de modo algum, que a mesma Virgem Maria, por quem nos veio o Salvador, cujo nascimento é celebrado em 25 de dezembro, é também a Rainha da Paz.
    Oito dias antes desta solenidade, celebramos o Natal: uma criança que nasce, mas não uma criança a mais, e sim o Filho de Deus feito homem por amor de nós. Pois bem, o Eterno entrou na História, de modo que, como diz São Paulo, “o tempo se fez breve” (1 Cor 7,29). Não há mais momento a perder. É preciso trabalhar, incansavelmente, pela nossa santificação e a dos que nos cercam: Uma alma que se eleva, eleva o mundo inteiro. O contrário também deve ser real: Uma alma que se perde arrasta muitos consigo. Peçamos a Deus a graça de estar entre os que desejam a própria salvação e a dos que nos cercam.
    Agora nasce um Novo Ano cronológico, marcado pela sucessão do tempo: desde os segundos até os meses que o formam. E esta é a desafiante ligação: no Natal, o Eterno entra na História e Se faz um de nós; no Ano Novo vem um tempo diferenciado, que nos convida a fazer de cada minuto o tempo oportuno da graça de Deus, o Kairós. O tempo é o dom básico para a nossa santificação; é nele que nós nos perdemos ou nos salvamos. Seja 2017 um ano de muita fé e paz, apesar das tantas dificuldades que nos cercam…, mas com Deus as venceremos! O Novo Ano será bom se procurarmos corresponder ao Plano de Deus a cada dia. Em meio ao caos do mundo de hoje, os cristãos são chamados a serem sinais de esperança, pois estamos alicerçados na fé em Cristo que morreu e ressuscitou e está vivo entre nós.
    No dia 1º de janeiro, celebramos, de modo solene, Santa Maria, a Mãe de Deus. Aqui uma profunda questão teológica ou mesmo de fé se põe a algumas pessoas: como pode Maria ser a Mãe de Deus se Ele é eterno, portanto não tem começo nem fim? – A resposta não é difícil a quem se empenha no estudo e melhor compreensão da nossa fé – afinal, nunca é demasiado lembrar quanta falta faz uma catequese séria e continuada de cada homem e mulher batizados, mas não devidamente evangelizados. Eis a resposta à questão: Deus, na sua eternidade não pode ter mãe. Ele é o criador incriado.
    No entanto, na plenitude dos tempos (cf. Gl 4,4), Deus se fez homem e quis – dentre as tantas formas de vir a este mundo – nascer de uma mulher especial, Maria Santíssima. Ora, o Senhor Jesus é Deus e Homem verdadeiro, assumiu a natureza humana sem deixar de ser Deus. Nesse ponto, Maria é Mãe de Deus. Não de Deus em sua eternidade, mas quando assumiu a nossa humanidade. Atente-se bem: Mãe de Deus feito Homem, pois a mulher que dá à luz traz a este mundo um ser inteiro. Portanto, Maria nos trouxe o Homem-Deus ou o Deus-Homem, conforme o ângulo que se queira vê-Lo.
    Em Lucas 1,43, ao ser saudada por Isabel, parenta de Maria, está lhe diz, de modo claro: “De onde me vem a graça de que a Mãe do meu Senhor (Kyrios) me venha visitar”? Ora, a palavra Kyrios foi a forma que a chamada “Bíblia dos Setenta (LXX)” traduziu o nome santo e impronunciável de Deus, IHWH (o tetragrama sagrado), de modo que bem se pode dizer que a Mãe de Deus visitou Isabel. Aliás, esse título de Maria, como Mãe de Deus (Theotokos), foi definido como dogma pelo Concílio de Éfeso, em 431, atestando assim essa fé da Igreja. Se Cristo é Deus e Homem verdadeiro, Maria é também Mãe de Deus. Tal doutrina, antiquíssima na Igreja, sempre foi mantida, de modo que até o fim dos tempos celebraremos Nossa Senhora como Mãe de Deus e nossa Mãe.
    Junto a isso, importa dizer que a Virgem Maria é invocada como a Rainha da Paz, ou seja, a Mãe do Príncipe da Paz, Jesus Cristo, e que deseja o bem dos Seus filhos. Por “Paz” entendemos a tranquilidade da ordem, ou seja, cada coisa em seu devido lugar, quer no plano espiritual, quer no âmbito material. Com falta de confissão sacramental, de Eucaristia, de oração, de caridade, de misericórdia etc. é muito difícil ou mesmo impossível ter a paz de alma duradoura. Também no aspecto material, só a correria diária, a corrupção, a mentira, o empoderamento, as vantagens só para si etc. nunca trarão paz de consciência.
    Afora isso, temos a guerra ora declarada, ora velada, mas existente entre não poucos países, em nossos Estados ou nossas cidades, sem que nem sempre se valorize a saúde, a moradia digna, a educação de qualidade, a segurança adequada pela devida honra a ser prestada àqueles que, por profissão, mas também poderia se dizer, por vocação, arriscam suas vidas a fim de salvar as de outros… Aí não pode haver paz que se prolongue. É nesse contexto, um tanto sombrio, mas permeado pela esperança cristã, que pedimos à Mãe de Deus e Senhora da Paz para, junto ao seu Filho Jesus Cristo, interceder por nós, como fez em Caná da Galileia (cf. Jo 2,1-12).
    Destaco importantes eventos marianos deste ano: o Ano Mariano, no Brasil, o centenário das visões de Fátima, em Portugal, e o tricentenário de Nossa Senhora Aparecida, em nosso País.
    Estamos vivendo, desde outubro do ano passado, em comunhão com a CNBB, o Ano Mariano. Por ocasião da abertura deste ano, assinei no dia 12 de outubro próximo passado, uma carta pastoral para ser refletida em nossa Arquidiocese.
    Possa Maria Santíssima, a Estrela da Evangelização, ajudar-nos a mais e melhor anunciar Jesus Cristo em todos os recantos desta Nação-Continente. Sejamos, de fato, “uma Igreja em saída”, como nos exorta o Papa, e caminhemos ao encontro de todos aqueles e aquelas que vivem nas periferias existenciais e geográficas, a fim de lhes dizermos – enquanto Igreja – como Maria Santíssima, sob o título de Guadalupe, disse no México: “Não estou eu aqui que sou tua Mãe”?
    Também no dia 13 de maio haverá a comemoração dos 100 anos das chamadas aparições de Nossa Senhora, em Fátima, a três pastorinhos: Lúcia, Francisco e Jacinta. Em síntese, nessa revelação particular (cf. o Catecismo da Igreja Católica n. 67), Maria pediu oração e penitência em favor da humanidade envolta em perigos.
    Com relação aos “segredos de Fátima”, vem a interpretação do então Cardeal Ratzinger, depois Papa Bento XVI, um dos maiores teólogos da atualidade, a dizer o seguinte: “Os diversos acontecimentos [previstos em Fátima – nota nossa], na medida em que lá são representados, pertencem já ao passado. Quem estava à espera de impressionantes revelações apocalípticas sobre o fim do mundo, ou sobre o futuro desenrolar da História, deve ficar desiludido. Fátima não oferece tais satisfações à nossa curiosidade, como, aliás, a fé cristã em geral que não pretende nem pode ser alimento para a nossa curiosidade. O que permanece – dissemo-lo logo ao início das nossas reflexões sobre o texto do ‘segredo’ – é a exortação à oração como caminho para a ‘salvação das almas’, e, no mesmo sentido, o apelo à penitência e à conversão”. Por fim, o Seu Imaculado Coração triunfará (cf. Congregação para a Doutrina da Fé. A Mensagem de Fátima. www.vatican.va, acessado em 01/12/15).
    Dia 12 de outubro, encerrando o Ano Mariano e a celebração dos 300 anos do encontro da Virgem Maria nas águas do Rio Paraíba do Sul, celebraremos, como fazemos todos os anos e neste de modo especialíssimo, a Solenidade de Nossa Senhora com o título de Conceição Aparecida.
    Sua história é bela e pode-se dizer que se prende de algum modo ao Evangelho da pesca milagrosa (cf. Lc 5,4-7), pois em ambos os casos os peixes só aparecem em tamanha quantidade depois de uma intervenção divina. No Evangelho, é o próprio Cristo quem fala e, em Aparecida, é a Sua Mãe quem se manifesta. Ela, que não faz nem mais nem menos do que é a vontade do Filho. Nada fala com palavras, mas se mostra como a Mulher solícita de sempre junto aos necessitados. Era o tempo terrível da escravidão e sua cor relembra isso: em seu Filho somos todos irmãos e irmãs, sem quaisquer barreiras ou distinções. O Brasil é país da acolhida e da cordialidade, não da guerra fratricida a dividir pessoas em suas opções políticas ou classes sociais. Uma separação entre “nós e eles” não pode existir aqui. Não faz parte da nossa cultura nem de nosso espírito cristão.
    Assim o Papa Francisco rezou em Aparecida por ocasião de sua visita em 2013, quando esteve no Rio de Janeiro para a Jornada Mundial da Juventude: “Mãe Aparecida, como Vós um dia, assim me sinto hoje diante do vosso e meu Deus, que nos propõe para a vida uma missão cujos contornos e limites desconhecemos, cujas exigências apenas vislumbramos. Mas, em vossa fé de que “para Deus nada é impossível”, Vós, ó Mãe, não hesitastes, e eu não posso hesitar”.
    “Assim, ó Mãe, como Vós, eu abraço minha missão. Em vossas mãos coloco minha vida e vamos, Vós-Mãe e Eu-Filho, caminhar juntos, crer juntos, lutar juntos, vencer juntos como sempre juntos caminhastes vosso Filho e Vós. Mãe Aparecida, um dia levastes vosso Filho ao templo para consagrá-Lo ao Pai, para que fosse inteira disponibilidade para a missão. Levai-me hoje ao mesmo Pai, consagrai-me a Ele com tudo o que sou e com tudo o que tenho. Mãe Aparecida, ponho em vossas mãos, e levai até o Pai a nossa e vossa juventude, a Jornada Mundial da Juventude: quanta força, quanta vida, quanto dinamismo brotando e explodindo e que podem estar a serviço da vida, da humanidade”.
    “Finalmente, ó Mãe, vos pedimos: permanecei aqui, sempre acolhendo vossos filhos e filhas peregrinos, mas também ide conosco, estai sempre ao nosso lado e acompanhai na missão a grande família dos devotos, principalmente quando a cruz mais nos pesar, sustentai nossa esperança de nossa fé.”
    Nossa Senhora, Mãe de Deus e nossa Mãe, sob os diversos títulos que sois lembrada, protegei e amparai o nosso Brasil neste ano de 2017 e sempre. Amém!

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