Cerco da Misericórdia visa corrupção no País

Padre Di Lascio cita a passagem bíblica sobre Davi e Golias para explicar que o gigante pode ser derrotado

É quarta-feira, 8 de agosto, 17h. A missa nem começou, mas Maria Aparecida Verga Ruiz, de 73 anos, já está ajoelhada em frente ao altar, com um terço nas mãos. Ela reza o Pai Nosso e a Ave Maria consecutivamente. Nas paredes da igreja, cartazes com os nomes de 728 políticos – 513 deputados federais, 94 deputados estaduais por São Paulo, 27 governadores, 81 senadores, além dos 13 candidatos à presidência nas eleições deste ano.
Ela não está sozinha. Em algumas horas do dia, chega a 70 o número de pessoas fazendo o mesmo na paróquia. Todos eles acreditam que podem acabar com a corrupção do Brasil pela fé. Desde o último domingo, a Igreja Nossa Senhora do Rosário de Pompeia, na Vila Pompeia, em Campinas, promove a 5ª edição de Cerco da Misericórdia. São sete dias dedicados à orações o tempo todo, inclusive durante a madrugada, com equipes se revezando a cada hora. Uma verdadeira maratona da fé.
Nas outras edições, a ação teve como temas a defesa da vida, o ano da misericórdia, cura e libertações e a questão da mulher. Neste ano eleitoral, a ética na política é a inspiração para a maratona de orações. Tanta fé tem como objetivo mudar um cenário preocupante do País. Neste ano, o Brasil despencou para a 96ª colocação no ranking global do Índice de Percepção da Corrupção (IPC), atrás de países como Timor Leste, Burkina Faso e Sri Lanka. Escândalos recentes envolvendo gigantes como Petrobras e Odebrecht abalaram a imagem brasileira mundo afora.
Pode ser desanimador, mas não para Maria Aparecida: “Se o Brasil todo tiver a fé que nós do cerco temos, acredito que podemos acabar com essa ladroeira sim. Queremos tocar no coração dos políticos, não importa se católicos ou evangélicos, mas fazer com que todos sejam mais honestos, porque isso está em falta no País”, acredita a dona de casa.
Frases de efeito não faltam ao Cerco da Misericórdia. Entre os vários banners espalhados pela paróquia, há slogans como “A força da oração derruba toda corrupção” ou “Diga não para a corrupção e sim para o Pai Nosso”.
Muita fé
O idealizador da ação é o padre dessa paróquia, Luiz Roberto Teixeira Di Lascio, que compara sua campanha à famosa passagem bíblica sobre Davi e Golias, em que um jovem franzino com fé em Deus venceu uma batalha contra um guerreiro filisteu conhecido por seu tamanho muito grande. “A corrupção é uma coisa gigante, mas a oração é o combustível de alguma coisa que queremos transformar. Primeiro, queremos que as pessoas tomem consciência do tamanho do problema que vivemos em nosso País. Depois, queremos despertar na população os agentes transformadores para que, mais para frente, eles possam substituir os maus políticos da atualidade”, afirma o pároco. “Somos uma célula pequena que está se infiltrando nesse monstro da corrupção. Mas será que nosso remédio não pode chegar no tecido da corrupção e acabar com esse câncer? Eu acredito que sim. A força de Deus é muito grande”, completa.
Ainda dá tempo
O Cerco da Misericórdia será encerrado no próximo domingo, com missa às 18h30 e depois uma procissão com velas e cartazes com os nomes dos políticos. Na ocasião, além da religião e da política, outro componente emblemático da cultura brasileira se juntará: o futebol. “Vamos dar um cartão amarelo simbólico aos políticos, como advertência. O cartão vermelho daremos em outubro nas eleições”, promete o padre Di Lascio.
Fonte: Correio Conectado

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