Cardeal Sepe: a emergência cria pobreza. Somente a caridade pode nos ajudar

Os novos pobres aumentam no mundo, muitas vezes de maneira silenciosa, por causa de sistemas econômicos e financeiros errados. “Não à cultura da indiferença”, disse o Papa, nesta segunda-feira (06/04), na Casa Santa Marta. Um tema que se torna realidade também no sul da Itália diante da emergência de saúde. Conversamos sobre isso com o arcebispo de Nápoles, cardeal Crescenzio Sepe, que também se detém no novo rosto da Páscoa deste ano.

Eugenio Bonanata/Mariangela Jaguraba – Cidade do Vaticano

Nápoles está enfrentando uma situação dramática como grande parte do sul da Itália. O alarme foi dado pelo arcebispo da cidade, cardeal Crescenzio Sepe, que fala sobre a pobreza que existe há muito tempo e que aumenta dramaticamente com a emergência. “A cidade vem de uma longa crise econômica que se tornou ainda mais radical devido a esse vírus mortal. E agora, a nossa única preocupação é ajudar aqueles que infelizmente caíram numa  miséria que nem sequer deixa a chance de sobreviver”, disse o purpurado.

O lado positivo

Em Nápoles, paralelamente, cresce a solidariedade, que também se manifesta na forma de ajuda espontânea de muitos cidadãos. “Este é o grande coração de Nápoles”, frisou o cardeal Sepe, destacando que recebe continuamente pedidos de pessoas e instituições prontas para levarem comida às casas dos necessitados. Afinal, a Itália inteira conheceu o “panaro” solidário. São cestas usadas para doações que se encontram pelas ruas de Nápoles. “Quem pode, deixa alguma coisa, e quem precisa, pega”. É uma das muitas formas de partilhar uma verdadeira cadeia de solidariedade que envolve também a medicina solidária ou a distribuição de medicamentos para os mais necessitados.

Apoio material e espiritual

O trabalho da Caritas diocesana é incansável. “A organização distribui mais de duas mil refeições por dia através das cantinas da caridade”, disse o purpurado. Há também a obra caritativa para as famílias realizada pelas paróquias no campo pastoral. “Muitos sacerdotes se conectaram com seus fiéis através dos meios de comunicação. Alguns também foram ao teto de um prédio para rezar o Terço”,sublinhou.

Semana Santa ao vivo

Desde o início da emergência, a arquidiocese de Nápoles transmite a missa dominical através da emissora local Canal 21 e muitos sacerdotes com iniciativas criativas tentam manter uma forma de assistência espiritual e pastoral para todos. Através dessa modalidade midiática, os napolitanos viverão os ritos da Semana Santa, tradicionalmente caracterizados por expressões sinceras de devoção popular. “É claro que uma pastoral sem as pessoas é uma pastoral fria, mas estamos recuperando o relacionamento direto com os fiéis. Nesses dias, há um suplemento de caridade que nos une e que substitui esse contato ausente da assembleia, tornando-se ainda mais eficaz”, disse ainda o cardeal Sepe.

A responsabilidade pelo bem comum

O arcebispo de Nápoles explicou que outro caminho foi seguido para chegar a este suplemento de caridade. “Desde o início, a Igreja quis conscientizar sobre o respeito absoluto das regras, reiterando que é a única maneira de combater esta doença”. O resultado? A maioria das pessoas está em casa. “Em Nápoles, as ruas estão vazias, apesar de uma outra pessoa que ainda circula, como acontece em qualquer outro lugar.” A mensagem para os cidadãos é a de usar bem esse tempo de isolamento. “Se for assim, no final, nos encontraremos mais maduros e crescidos, tanto do ponto de vista da sociabilidade quanto do ponto de vista da espiritualidade”, disse ele.

A escuta

Por aqui, os pedidos de Francisco para não ter medo e não se sentir sozinho nesta tempestade, chegaram de maneira clara. “Os napolitanos não apenas entenderam essas palavras, mas também as colocaram em prática”, frisou. O comportamento solidário é um exemplo. “Esse período é uma ocasião propícia para entender melhor um ao outro, entender melhor o sentido da família e também o sentido de privação dos sacramentos”, concluiu o cardeal Sepe.

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