ACN visita as dioceses mais afetadas pelo Boko Haram na Nigéria

Quem vê o sorriso do povo não imagina que em 2012 a Paróquia de Santa Rita em Kaduna sofreu ataque suicida com mais de 50 mortos na região. Quem vê o sorriso do povo não imagina que em 2012 a Paróquia de Santa Rita em Kaduna sofreu ataque suicida com mais de 50 mortos na região.

14 membros da ACN – Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre, incluindo diretores e membros do departamento de comunicação de diversos escritórios nacionais, viajaram em março para os estados de Borno, Jos e Kaduna, no norte da Nigéria em busca de informações sobre a situação dos cristãos na região e também em solidariedade a eles, em razão das tensões e violência dessa parte do país de maioria muçulmana.

A delegação foi até Maiduguri, capital do estado de Borno, de onde surgiu o Boko Haram e que, ainda hoje, é um dos estados mais afetados pelo terrorismo islâmico. Apesar de Maiduguri estar sob domínio do governo, que expulsou os terroristas da cidade até os pântanos de Sambisa, a capital tem sofrido repetidos ataques suicidas nas últimas semanas. O estado de Borno tem nada menos que 20 campos de refugiados do governo, um exemplo é Dalori, que abriga mais de 14 mil pessoas. Estima-se também que 500 mil deslocados vivam na capital do Estado, onde são acolhidos por familiares, amigos ou instituições de caridade. A delegação da ACN visitou 25 famílias católicas da comunidade de Pulka de Gwoza que, nos últimos dois anos, vivem como refugiados numa área disponibilizada à eles pela Igreja em Maiduguri. Visitaram também um campo com 7 mil cristãos refugiados de diferentes denominações, atendido pela Associação de Cristãos Nigerianos (CNA – sigla original).

De acordo com os dados fornecidos pela ONU, o Boko Haram afetou a vida de 26 milhões de pessoas, em Borno e em 5 outros estados do norte da Nigéria. Somente a Diocese Católica de Maiduguri registrou até agora mais de 5 mil viúvas e 15 mil órfãos. A delegação da ACN pôde se deparar com a realidade dessas estatísticas ao ouvir os terríveis testemunhos de algumas dessas vítimas – mulheres forçadas a assistir seus maridos sendo degolados, padres que secretamente ajudaram dezenas de crianças a fugirem de escolas, pessoas que ficaram escondidas em suas casas por semanas para não serem atacadas pelos terroristas… mas também testemunhos como o de Rebecca e Raquel, que foram capturadas e torturadas pelo Boko Haram. No final da visita, o Bispo de Maiduguri, Dom Oliver Doeme agradeceu a delegação da ACN pela “coragem incomum que tiveram em arriscar vir até aqui fortalecer o nosso povo. Essa foi uma experiência maravilhosa e motivadora”.

A visita à diocese de Kafanchan, no sul do estado de Kaduna, foi especialmente importante para a obtenção de informações à ACN. A diocese, desde o final de 2016, tem sofrido uma avalanche de ataques selvagens de membros da tribo Fulani: pastores nômades muçulmanos que têm destruído e aniquilado vilas cristãs. Na área de Kanfanchan, desde 2011 nada menos que 71 vilas foram atacadas, com um total de 988 pessoas mortas, 2.712 casas e 20 igrejas destruídas, de acordo com relatório dado pela diocese à ACN. A falta de proteção pelas forças de segurança produzem um abatimento da comunidade cristã do sul de Kaduna. No relatório, são descritos casos de omissão voluntária ou, até mesmo, colaboração entre as forças governamentais e os atacantes.

Maria Lozano, chefe do departamento de imprensa internacional da ACN, quem organizou a viagem, sintetiza os dados recebidos nas diferentes reuniões com representantes da Igreja, da política e imprensa local dos estados de Plateau e Kaduna: “Os ataques do Boko Haram e dos Fulani são a ponta do iceberg. Na verdade, os cristãos que vivem nos estados do norte da Nigéria, de maioria islâmica, sofrem discriminação constante e são vítimas de ataques e perseguições de modo contínuo e cíclico há décadas. Por exemplo, em Kaduna nos anos 70, o governo desapropriou 17 escolas católicas sem nenhum tipo de indenização. Especialmente desde a introdução da Sharia no ano 2000, em 12 dos 19 estados do norte, o respaldo civil e legal dos cristãos é frágil.

Isto é bastante desconhecido no mundo ocidental. Entretanto, o que foi realmente emocionante nesta viagem, a nível pessoal, foi ver a alegria e a fé dessas pessoas. Elas vivem em perigo, mas as igrejas estão repletas. Quando pedem ajuda para construir igrejas, as vezes são respondidas que não há necessidade de igrejas muito grandes; mas, sim, eles precisam de igrejas grandes, bem grandes. É difícil de entender a partir da nossa realidade, mas as pessoas na Nigéria estão sedentas de Deus. É uma igreja que floresce, dá frutos, e por isso os fundamentalistas islâmicos as consideram um perigo. Estão orgulhosos e felizes de sua fé. Cada Missa é uma festa, cada encontro uma celebração de alegria. Por último, o exemplo de perdão e reconciliação cristã ante os ataques e assédios é impressionante”.

Além de receber informação em primeira mão e partilhar com as comunidades que sofrem por causa da sua fé, a delegação da ACN aproveitou para visitar alguns dos projetos que a fundação tem apoiado nessa parte do país, graças a ajuda dos benfeitores. Visitaram, por exemplo, duas igrejas e casas paroquiais em Kaduna destruídas por ataques de fundamentalistas islâmicos e reconstruídas com o auxílio da ACN, assim como o Seminário Maior de Santo Agostinho, em Jos, com 437 seminaristas e o do Bom Pastor em Kaduna, com 147 futuros padres em formação. Estes seminários recebem apoio anual da ACN, todavia precisam de ajuda para aumentar suas instalações devido o crescimento do número dos vocacionados ao sacerdócio, e ausência de espaço físico para acolhê-los.

Dom Ignatius Kaigama, arcebispo de Jos e presidente da Conferência Episcopal da Nigéria, definiu a visita da ACN às dioceses de Maiduguri, Jos, Kafanchan e Kaduna como “sacramento da presença”, falando assim do encontro: “Esta visita mostra a necessidade de solidadariedade pastoral entre as Igrejas de outros continentes e a África. Essa relação não deve ser criada ou baseada somente na televisão, nos jornais, rádio ou através de mensagem ou correio eletrônico. Esta visita amistosa de catorze homens e mulheres unidos pela missão e visão da ACN, que vieram celebrar o ‘sacramento da presença’ na Nigéria, é um verdadeiro testemunho de amor. A visita foi terapêutica, trouxe alívio a um povo traumatizado pelos desastres naturais, pelas ameaças dos violentos e de fanáticos religiosos, perseguição e desafios do dia a dia. Também puderam aprender sobre temas como o diálogo interreligoso (relação cristão-muçulmano na Nigéria), iniciativas de construção de paz e crescimento pastoral”.

A situação e os testemunhos dos cristãos católicos no norte da Nigéria é um dos focos da campanha da Quaresma dedicada pela ACN à África “Sua fé é a esperança deles”. A fundação está avaliando o envio de ajuda de emergência para os afetados pelos ataques Fulani em Kafanchan e as vítimas do Boko Haram na Diocese de Maiduguri. Foi, porém, pedida mais ajuda para a reconstrução do Seminário Menor de São José, fechado desde 2014 após ter sido atacado e destruído pelo Boko Haram.

 

Fonte: ACN

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