Andressa Collet – Vatican News
O Papa Leão XIV se dirigiu à Pontifícia Universidade Lateranense na manhã desta sexta-feira (14/11) para inaugurar o ano letivo 2025/2026 – o de número 253 desda a fundação da “Universidade do Papa”, adjacente à Basílica de São João de Latrão, em Roma. Na Aula Magna, o Pontífice encontrou de autoridades eclesiásticas e acadêmicas a estudantes e funcionários da instituição para, juntos, recordar “com gratidão para a longa história que nos precede”, disse ele em discurso, mas “também voltados para a missão que nos aguarda” no futuro.
A história que une os Bispos de Roma com a Lateranense
Entre as instituições acadêmicas, continuou Leão XIV, a Universidade Lateranense tem um vínculo especial com o Sucessor de Pedro desde as origens, quando “em 1773, Clemente XIV confiou à escola de teologia do Colégio Romano ao clero secular, solicitando que a instituição dependesse do Papa para formar seus presbíteros”. A partir dali, “todos os Pontífices sucessivos mantiveram e fortaleceram uma relação privilegiada com aquela que se tornaria a atual Universidade Lateranense”, explicou o Pontífice ao citar alguns “dos veneráveis Predecessores” que estabeleceram estruturas ativas até hoje, como o Beato Pio IX, Leão XIII, Pio XII, São João XXIII, São Paulo VI, São João Paulo II, Bento XVI e Papa Francisco.
O próprio Pontífice argentino, acrescentou Leão XIV, “quis instituir dois ciclos de estudos: em Ciências da Paz e em Ecologia e Meio Ambiente”, temas que “são parte essencial do recente Magistério da Igreja, o qual, estabelecida como sinal da aliança entre Deus e a humanidade, é chamado a formar agentes de paz e justiça”. Ao longo dos anos, disse ainda o Papa, eles devem “assumir uma conformação institucional mais definida”: “peço, portanto, à minha Universidade que continue a desenvolver e fortalecer em nível inter e trans-disciplinar esses dois ciclos de estudos e, se necessário, a integrá-los com outros programas”.
A urgente necessidade de pensar a fé
Leão XIV, então, direcionou o discurso para a missão da universidade que, “diferentemente de outras ilustres instituições acadêmicas, também romanas, não tem um carisma do fundador a ser preservado, aprofundado e desenvolvido, mas sua peculiar orientação é o magistério do Pontífice” e o próprio trabalho da Cúria Romana. Uma reflexão acadêmica que “inspirada pelo carisma petrino, abre-se a perspectivas interdisciplinares, internacionais e interculturais” desenvolvidas nas faculdades e institutos presentes na sede de Roma e também externamente, como também nos 28 institutos associados aos continentes da Europa, Ásia e América, “expressão da riqueza de culturas e experiências e, ao mesmo tempo, da busca de unidade e fidelidade ao ensinamento petrino”.
Para tanto, comentou Leão XIV, a Faculdade de Teologia é chamada a refletir “sobre o depósito da fé e a fazer emergir dele a beleza e a credibilidade nos diferentes contextos contemporâneos”, encorajando a busca de Deus sobretudo “diante das tragédias e da pobreza de nosso tempo”. O estudo da Filosofia também tem um compromisso importante, disse o Papa, “especialmente considerando a atitude por vezes derrotista que caracteriza o pensamento contemporâneo”, que “deve ser voltado à busca da verdade por meio dos recursos da razão humana, aberta ao diálogo com as culturas e, sobretudo, com a Revelação Cristã”. Por sua vez, as faculdades jurídicas, de Direito Canônico e Civil, também são chamadas a “estudar em profundidade os processos administrativos, um desafio urgente para a Igreja”.
A formação com fraternidade, bem comum e excelência científica
O Papa, então, reforçou sobre a importância da Universidade Lateranense ter “os olhos e o coração voltados para o futuro” e de se lançar “nos desafios contemporâneos”, especialmente por três distintas dimensões. A primeira é enaltecer a formação acadêmica através da reciprocidade e da fraternidade. Diante do “fascínio do individualismo” para uma vida bem-sucedida, da “promoção de si mesmo” e da “primazia do eu”, comentou o Pontífice, “crescem os preconceitos e as barreiras em relação aos outros, especialmente àqueles que são diferentes”, multiplicando “incompreensões e conflitos”. Leão XIV, então, diante de uma universidade “enriquecida pela presença de estudantes, docentes e funcionários dos cinco continentes”, pede para cultivar “a reciprocidade por meio de relações”, fomentando comunhão e intercâmbio de culturas.
A segunda dimensão enfatizada pelo Papa é a excelência científica, “que deve ser promovida, defendida e desenvolvida”. Leão XIV enalteceu a importância da preparação teológica, bíblica ou jurídica, às vezes carente de reconhecimento, inclusive na comunidade eclesial diante da “ideia de que a pesquisa e o estudo não servem a propósitos da vida real, que o que importa na Igreja é a prática pastoral”: o risco, alertou ele, é o “de ceder à tentação de simplificar questões complexas para evitar o trabalho de reflexão”:
“A investigação científica e o trabalho de pesquisa são necessários. Precisamos de leigos e sacerdotes preparados e competentes. Por isso, exorto-os a não baixarem a guarda em matéria científica, mas a prosseguirem uma busca apaixonada pela verdade e um envolvimento vigoroso com outras ciências, com a realidade e com os problemas e dificuldades da sociedade. Isso exige que a Universidade tenha docentes preparados, inseridos nas condições – pastorais, jurídicas e econômicas – para se dedicar à vida acadêmica e à pesquisa; que os estudantes sejam motivados e entusiastas, dispostos ao estudo rigoroso. Exige que a Universidade dialogue com outros centros de estudo e de ensino, para que, a partir desta perspectiva inter e transdisciplinar, possam ser seguidos caminhos ainda inexplorados.”
A terceira dimensão, enfim, é direcionada ao bem comum. O objetivo do processo educativo e acadêmico, de fato, finalizou o Papa em discurso, “deve ser formar pessoas que, na lógica da gratuidade e na paixão pela verdade e pela justiça, possam ser construtoras de um mundo novo, solidário e fraterno”.


