Você já viu um “milagre lento”?

Ao contrário do milagre instantâneo, o milagre lento é aquele que acontece com o passar do tempo

Um amigo me pede para escrever sobre milagres, tomando como exemplo os acontecimentos que uniram ele e sua esposa em um casamento feliz, que completa 58 anos. Ele não sugere que o caso deles seja excepcional. Pelo contrário: ele vê isso como um exemplo da mão de Deus trabalhando em suas vidas, assim como Deus trabalha na vida de todos. Outras pessoas, ele sugere, podem se beneficiar em ver suas vidas da mesma maneira que ele e sua esposa vêem a deles.

A experiência feliz de meu amigo e sua esposa certamente não envolve nada parecido com o que costumamos chamar de milagres – ocorrências instantâneas em que Deus põe de lado as leis da natureza para produzir algum resultado desejável.

Os exemplos clássicos são os milagres de Jesus ao curar os leprosos e paralíticos e ao ressuscitar os mortos. Este é o tipo de milagre que fornece evidências para a beatificação e canonização. Um exemplo recente é a cura de uma criança ainda no útero de uma condição com risco de vida, um milagre que levou à beatificação do fundador dos Cavaleiros de Colombo, padre Michael McGivney (prevista para 31 de outubro em Hartford).

Acontecimentos como esses são o que o grande apologista cristão do século 20, C.S. Lewis, chama de milagres “instantâneos”. Mas, além deles, existe o que Lewis chamou de “milagres lentos”, que acontecem com o passar do tempo.

“Um milagre lento não é mais fácil de realizar do que instantâneo”, observou ele – mas é mais difícil de reconhecer porque envolve uma série de acontecimentos mais ou menos comuns em si mesmos que levam a um resultado específico.

Milagres lentos incluem o que John Henry Newman chama de “providências”, acrescentando que “muitas vezes é muito difícil distinguir entre” os dois. Essas providências, diz ele, “não são estritamente milagrosas, mas são mais bem compreendidas como “misericórdias providenciais … o que, às vezes, é chamado de ‘grazie’ ou ‘favores’.”

Normalmente, é claro, tais acontecimentos são o que as pessoas têm em mente quando falam – talvez com desdém – do que chamam de “coincidência” ou “acaso”. E isso é um erro, pois essas coisas são instrumentos de Deus para moldar e remodelar vidas tão seguramente quanto os milagres instantâneos.

Pelo que meu amigo me disse, esse foi o caso com a combinação inesperada e um tanto improvável de circunstâncias que todos aqueles anos atrás levaram ele e sua esposa, a seguir o mesmo curso enquanto ambos eram estudantes de medicina. E o resto, como dizem, é história – e um milagre lento, se é que alguma vez existiu.

Ele escreve que ele e sua esposa “acreditam que nosso casamento é desse tipo, e achamos que algumas pessoas se beneficiarão ao reconhecer uma experiência semelhante no trabalho em suas próprias vidas”.

Nisso, ele está absolutamente certo. Pois a experiência deles, embora única para eles em suas especificidades, é aquela que todos nós podemos ver em ação em nossas próprias vidas se pararmos para pensar.

Faça uma pausa e pense sobre isso. O bairro em que você cresceu, as escolas que frequentou, empregos que conseguiu (ou não), sucessos, fracassos, pessoas que se tornaram parte da sua vida – amigos, namorados, cônjuges, filhos, chefes, colegas de trabalho. Chame-os de coincidências se quiser, mas esses são os sinais da ação de Deus, gentilmente (ou não tão gentilmente) nos cutucando.

Não perca muito tempo procurando milagres instantâneos. Se acontecer, você saberá. Em vez disso, abra os olhos para os milagres lentos, que já ocorreram em sua vida e ainda podem estar ocorrendo. Seja grato por eles. Essa é a mensagem que meu amigo queria passar… E como ele está certo!

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