Vida Consagrada

    Na Igreja no Brasil, nos lembramos dos consagrados e consagradas no terceiro domingo de agosto, que normalmente coincide com a festa da Assunção de Maria. O Papa São João Paulo II instituiu uma data especial para a vida consagrada, dia 2 de fevereiro, – festa da Apresentação do Senhor –, como um dia de orações por todos aqueles que seguiram a vocação à vida consagrada. O fundamento evangélico da vida consagrada está na relação que Jesus estabeleceu com alguns de seus discípulos, convidando-os a colocarem sua existência a serviço do Reino, deixando tudo e imitando mais de perto a Sua forma de vida. A Festa da Apresentação do Senhor é um belo dia de recordar tantos homens e mulheres que se entregam a Deus por causa do Reino, a serviço dos irmãos e irmãs dentro de seus carismas.
    Tive a oportunidade de celebrar este dia junto à Basílica Santuário de São Sebastião no final da Assembleia dos frades capuchinhos, ao entregar um irmão muito querido a Deus: Frei Vital Ronconi, que foi pároco dessa paróquia durante anos e que tanto serviu à Igreja, no alto de seus 93 para 94 anos voltou para a casa do Pai. Sua fidelidade alegre até o fim de seus dias nos anima a perseverar no bem. Uma oportunidade de agradecer a Deus por tão belos sinais que temos em nossa caminhada como Igreja. Os frades reunidos, junto com outros religiosos e religiosas e todo o povo de Deus, rezamos pela vocação à vida consagrada e pedimos para que sejam sempre mais sinais do caminho de santidade para toda a Igreja na vida de comunidade e unidade.
    A origem da vida consagrada está no seguimento de Jesus Cristo a partir da profissão pública dos conselhos evangélicos. A referência vital e apostólica são os carismas de fundação. Sua função consiste em dar testemunho de santidade e do radicalismo das bem-aventuranças. A vida dos consagrados é de total disponibilidade e testemunho de vida, levando a todos o valor da vocação cristã. São sinais visíveis do absoluto de Deus, através do sinal de Jesus Cristo histórico pobre, casto e obediente.
    A vida religiosa nasce em e para a Igreja. Nasce de sua vitalidade intrínseca, como expressão máxima de si mesma, como sua “radiografia” ou seu “substrato” mais profundo. Por isso, a vida religiosa não é algo marginal à Igreja, porém, ela mesma expressando-se em sua pureza total, naquilo que é e naquilo que tende a ser no Reino consumado.
    A razão de ser dos institutos religiosos é a vida e a santidade da Igreja. A essa vida e santidade pertence, de forma impostergável, de acordo com o Concílio, a vida religiosa (Lumen Gentium n.44). A vida religiosa tem como missão expressar visível e socialmente a santidade da Igreja. Por isso, por alguém foi definida: “a profissão exterior da perfeição cristã”, e afirma que “não supera os compromissos do batismo, mas é sua complementação total e perfeita”, e que “neste estado a Igreja professa publicamente a perfeição à qual almeja conduzir todos seus filhos”, ainda “o que nele se vive não é um mero acessório, porém, o que há de mais substancial na essência da Igreja”.
    A vida consagrada, em suas diversas formas, tanto apostólica como contemplativa e monástica, é evangelizadora pela sua própria existência. As Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja do Brasil dizem que a vida consagrada evangeliza na medida em que “vive radicalmente a experiência cristã e testemunha a entrega total no seguimento de Cristo”. Não só, o melhor serviço está na “força pastoral que lhe vem, sobretudo do fato de ser expressão do seguimento de Cristo no meio do Povo de Deus, que é sinal de esperança para ele”.
    Todo religioso deve “sentir com a Igreja”, imbuir-se dos seus problemas, estar a par de suas necessidades, trabalhar fervorosamente no seu serviço e palmilhar suas orientações. Tal empenho é como uma exigência prioritária do seu mesmo ser religioso, de sua consagração, que o engaja no íntimo mistério da Igreja.
    A presença dos consagrados e consagradas em nossas comunidades é significativa e imprescindível, pelo que são e pela missão nos diferentes campos pastorais. Os religiosos e as religiosas encontram sempre novas maneiras de viver em comunidades e de animar as comunidades eclesiais e as pastorais específicas. Ou seja, em tudo a vida consagrada tem aprofundado sua consagração a Deus na vivência dos conselhos evangélicos em vista da construção do Reino.
    Os religiosos estão a serviço do Povo de Deus por meio da oração, das missões, da educação e de tantas outras obras de caridade. Com sua vocação, eles demonstram que o Evangelho é plenamente possível de ser vivido, mesmo em um mundo excessivamente material e consumista. São sinais do amor de Deus e da entrega que o homem é capaz de fazer ao Senhor.
    A vida religiosa é manifestação permanente e social da vitalidade intrínseca da Igreja, de sua inquebrantável fé em Cristo e nos bens futuros do Reino Consumado. Somente, pois, de Cristo, de sua Pessoa, de sua Palavra, de sua Vida, de sua Mensagem é que a vida religiosa tem sentido. Com sua vinda e com seu anúncio e presença ativa do Reino estabelece uma nova situação, que origina um novo modo de viver. Sabemos, de antemão, que os bens deste mundo não são definitivos, e sim efêmeros, e que somente os bens do Reino têm valor absoluto e justificam todas as renúncias, englobando o sacrifício da própria vida. Desdobrar-se pelo Reino é perpetuar a índole da vida de Cristo. É o que pretende ser a vida religiosa.
    Quero agradecer pela laboriosa presença dos consagrados na Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro. A vida consagrada, particularmente a vida contemplativa, que é o pulmão da vida diocesana, porque sem oração não há evangelização. Obrigado pelo seu testemunho e pelo seu trabalho de oração e de evangelização. Pedimos por todos e todas que nos diversos carismas trabalham no dia a dia levando a evangelização através de suas vidas e atividades, numa sociedade líquida nessa mudança de época. Rezemos por todos os religiosos e religiosas, pelos consagrados e consagradas, para que sejam entre nós sinais vivos e alegres do amor de Deus e de seu Reino. Com eles vamos formar a grande comunidade, que é a Igreja, em sua missão de evangelização.

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