A oração inicial deste 21º Domingo do Tempo Comum, também chamada oração da coleta, nos diz assim: “Ó Deus, que unis os corações dos vossos fiéis num só desejo, dai ao vosso povo amar o que ordenais e esperar o que prometeis, para que, na instabilidade deste mundo, fixemos os nossos corações onde se encontram as verdadeiras alegrias.” (Missal Romano XXI Domingo comum).
Um dos maiores convites que Jesus nos fez foi para que carregássemos a nossa cruz. Isso não significa que temos que passar pelo sofrimento da crucificação – o sacrifício de Jesus foi perfeito! Isso significa que a nossa vida não é mais sobre nós mesmos, mas sobre Cristo e fazer com que a Sua missão seja bem-sucedida, vivendo completamente para Ele. E como está em I Timóteo, o desejo do coração do Pai é que todos sejam salvos.
Para que possamos enfrentar as instabilidades deste mundo como a oração proclama, precisamos estar atentos à palavra e à vontade do Senhor para nossas vidas. Essa é uma tarefa árdua que requer discernimento, paciência e muita oração.
Devemos estar com o Senhor e caminhar com Ele em todos os instantes de nossa vida. Precisamos, urgentemente, reconhecer os feitos de Deus em nossa humilde existência. Nossa fé e a nossa certeza devem ser semelhantes a do povo da primeira leitura de hoje: “Longe de nós abandonarmos o Senhor para servir a deuses estranhos. ” (Js 24, 1-2.15-18).
Quem caminha com o Senhor sabe amar, sabe respeitar, sabe cuidar! Muitos confundem as orientações do apóstolo Paulo em pura submissão ou escravidão, quando na verdade ele orienta para o respeito a dignidade, para o cuidado mútuo que devemos ter um para com os outros. Nós todos, Igreja de Deus, somos a esposa que Ele tanto ama. Cristo jamais deixou de amar e cuidar de sua Igreja. Prova disso é a história da Igreja. Mergulhada em tantos desafios, em altos e baixos, e mesmo assim está de pé, convicta de sua missão e identidade.
Aos casais, recordando o texto da segunda leitura, é bom salientar que o amor implica em solicitude, fraternidade, amizade e respeito mútuo. A submissão é uma entrega à missão do outro. A mulher é submissa ao amor do marido como a Igreja é submissa ao amor de Jesus Cristo que se entregou por ela. Se o marido ama a sua mulher e ela é submissa a esse amor, com certeza, os dois viverão na terra o projeto que Deus tem para as famílias da terra.
“Esta palavra é dura! Quem consegue escutá-la?!” – exclamam os ouvintes de Jesus na sinagoga de Cafarnaum. Nas sinagogas de hoje, sejam as academias ou os “templos da comunicação”, ouve-se o mesmo eco: “palavras duras”. Está crescendo cada vez mais incomodados com a palavra de Deus. Ela está surtindo efeito grande no mundo. Está remexendo em estruturas contrárias, duras, difíceis e exclusivas.
Naquele tempo, a “dureza” que João traz em seu evangelho estava no anúncio do alimento espiritual que o Pai oferecia em Jesus Cristo: o sacramento de seu Corpo e Sangue. A reação foi de escândalo (Jo 6,61). Muitos discípulos abandonaram o Mestre e “já não andavam com ele” (Jo 6,66). Qual a dureza de hoje? Neste tempo, está em um Evangelho que não se deixa perverter pelas modas de cada época. Ele continua a dizer que o matrimônio é indissolúvel, e não um simples contrato para ser cumprido enquanto for suave. Permanece afirmando que os pobres são assunto “nosso”, e não um problema social. Insiste em proclamar que a vida é sagrada, apesar das tentativas de eliminá-la (aborto e eutanásia) ou usá-la como mercadoria (comércio de órgãos, embriões e prostituição infantil).
A liturgia deste domingo nos revela que estamos diante de situações antagônicas. De um lado, os inimigos declarados da Boa Nova de Jesus, vista como um freio inaceitável para seus projetos de lucro, poder e prazer. De outro lado, os pregadores de um “evangelho” sem compromissos, sempre prontos a amaciar as exigências cristãs, com a intenção de atrair seguidores avessos ao sacrifício. Os dois lados agridem a Igreja enquanto reserva da ortodoxia. Acusada de retrógrada (precisa se “modernizar”) e de obscurantista (inimiga da ciência), a Igreja é o alvo preferencial daqueles que decidiram usar e abusar do humano.
Onde estamos nós hoje? O que acontece com a nossa fé cristã? Com certeza, hoje, há muitos homens e muitas mulheres que não acreditam em Cristo, nem mesmo em um Deus. Estas pessoas têm as suas razões e devem ser respeitadas. Mas os outros, aquelas e aqueles que acreditam, como se situam em relação a esse discurso de São João sobre o Pão da Vida? Às vezes, olhando a nossa Igreja, tenho a impressão de que os cristãos de hoje, como aqueles de ontem, têm dificuldade em aceitar viver a sua humanidade e crer que é através dela que Deus pode ainda falar e se comunicar.
A questão posta aos Doze no Evangelho de hoje: “Vocês também querem ir embora?” (Jo 6,67), à qual Simão Pedro respondeu: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna” (Jo 6,68), é para nós que ela é dita agora. E não basta responder com uma frase já pronta que seja parecida à de Pedro. Porque aceitar seguir o caminho com Cristo é comer a sua carne e beber o seu sangue, isto é, assumir a nossa própria humanidade até o fim e, alimentados pelo Senhor no deserto da vida deste mundo prosseguirmos nossa caminhada para o encontro com o Senhor.