UMA JANELA PARA O MUNDO

                Outubro nos bate à porta. E com ele mais um mês dedicado à reflexão da vida missionária no mundo católico. Mas bom seria se mais seguimentos da coletividade humana pudessem parar por um instante e olhar o mundo com um novo olhar, que englobasse o mistério da vida e a nossa missão neste planeta tão sofrido e angustiado pelas contradições que vive. Então a Igreja volve seu olhar maternal e lança um desafio “aos homens de boa vontade”, para que o mistério que nos envolve seja ao menos uma experiência positiva ou no mínimo construtiva. Aceitar isso é assumir uma missão existencial. Tal qual aquela que mobilizou o jovem Isaias com sua descoberta do sentido da vida.

                A vocação de Isaías foi uma visão beatífica da beleza existencial, com anjos e serafins louvando e clamando a Deus pela continuidade desse sonho de vida plena.  Tudo que observava ao seu redor proclamava a grandeza da criação, conquanto a maioria do povo não enxergasse essas maravilhas.  Ao contrário, Isaías não compactuava com o comportamento rebelde do seu povo e se sentia responsável: “Ai de mim que estou perdido, porque sou um homem de lábios impuros, habito no meio dum povo que tem os seus também impuros” (Is 6, 5) Esse é o inconformismo dos frustrados e acomodados. Sem saber como agir diante de situações contrárias à própria índole, entregam os pontos e acabam compactuando com o erro da maioria. Lavar as mãos sempre foi atitude de covardia diante do erro coletivo. É a mais vil das omissões, aquela mesma que condenou Cristo à morte.

                A verdade prevalece sempre, Mesmo em forma de uma turquesa em brasa, capaz de queimar a língua dos omissos e dissipar a covardia do silêncio que tenta encobrir a voz da verdade. O destrave da língua presa é revelador: “Eis-me aqui, envia-me” (Is 6,8).  Eis-me aqui! Essa descoberta da responsabilidade profética e missionária é o grande momento da transformação que uma revelação divina faz a cada um de nós, diante do caos que nos aflige. Não só Isaías fez essa descoberta, mas todos aqueles que um dia olham para o mundo através da janela da sensatez e do compromisso com a vida, farão sua essa palavra de submissão à vontade de Deus. A defesa da vida é missão dos vivos. Crentes ou ateus, existencialistas ou criacionistas, conceituados cientistas ou simples defensores das diversas teses evolutivas ou mesmo amantes da sobrevivência pura e simples, todos, de uma forma ou outra, somos chamados a defender a vida como nossa maior riqueza.

                Por essa e outras é que a Igreja nos convida a refletir sobre esses mistérios, de quando em vez. Um mês missionário, em ano endêmico e desafiador, talvez seja um momento purificador e, no mínimo, restaurador das energias que necessitamos. É realmente um olhar da janela de nosso quadrilátero, nosso mundinho pessoal fechado em nós mesmos. A arte dessa campanha missionária diz tudo isso. O Papa nos desafia a olhar da nossa janela, como ele sempre o faz contemplando os “pequeninos”, os marginalizados da nossa “periferia existencial”, emoldurada agora pela resolução profética dos que se dispõem a somar forças: “Aqui estou, envia-me!”. Que mais pessoas aceitem esse desafio. Que, independentemente do credo ou descrédito de alguns, possamos somar forças para restaurar o cenário desse mundo sem grandes perspectivas. Um olhar realista sobre os fatos que nos circundam, que nos amedrontam, que ameaçam nossa integridade, seja física, espiritual ou integral (quando ameaça a própria existência planetária) é um critério de tomada de consciência transformadora. Isso é defesa da vida. Isso é missão. Isso é olhar o mundo, a vida, com os olhos da misericórdia que um dia nos criou à sua semelhança. Sejamos, nesse outubro missionário, os agentes de transformação de que o mundo precisa. “O Senhor disse-me: Vai e dize a esse povo…” Está lá, em Isaías, seis.

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