Último domingo do ano litúrgico

    A leitura do Evangelho(Cf. Lc 23,35-43) que a Igreja nos propõe para o último domingo deste ano litúrgico nos deixa um pouco confusos: é dedicado a Cristo Rei. A Igreja deseja que o vejamos em triunfo, como aquele em quem chegam à plenitude todas as coisas. Com Ele, o Reino de Deus deixará de ser um sonho para começar a se tornar uma realidade completa. Como é possível que o Evangelho nos apresente Jesus na cruz? Os condenados à morte não triunfaram jamais ao longo da história. Conseguiram no máximo que alguns saudosistas derramassem algumas lágrimas por eles. Os governantes de qualquer país sabem que o melhor que podem fazer com a oposição é eliminá-la.
    Mas o caso de Jesus é diferente. Dá a impressão de que o seu reinado não é exatamente igual aos dos governos e reinos deste mundo. Jesus é um homem que, prestes a morrer na cruz, ainda desperta paixões opostas. Alguns riem dele. Outros afirmam a sua inocência. Mais ainda: na hora da cruz. O próprio Jesus é capaz de prometer o paraíso ao homem que está crucificado ao seu lado. É que seu Reino não é deste mundo. Seu Reino é o reinado de Deus, que aproxima e recolhe todos os seus filhos e folhas que estão dispersos, para convertê-los em uma família. No Reino de Deus, não somos súditos. Tampouco somos cidadãos. Somos filhos. Absolutamente diferente.
    A partir desta perspectiva, entendemos melhor a plenitude a que se refere a leitura da carta aos Colossenses(cf. Cl 1,12-20). Quando aí se afirma a superioridade de Jesus sobre todas as coisas e todas as pessoas, quando nos é dito que nele o Reino de Deus irá chegar a sua plenitude, não significa que em seu tempo o reino será próspero economicamente. Também não significa que serão realizadas obras grandiosas e monumentos, como costumam fazer nossos governantes para perpetuar sua memória. Nem mesmo que terá o maior e mais poderoso exército do mundo. Nada disso. Num reino em que todos somos irmãos e Deus, o centro e a origem de tudo, é nosso Pai, a plenitude será vista ao se realizar verdadeiramente a fraternidade, a solidariedade e a justiça entre todos. A plenitude se á alcançada porque, como em uma boa família, todos nós colocaremos nossa confiança no Pai de quem procedemos e em quem encontramos o amor que nos faz falta para viver e chegar a nossa própria plenitude. Tudo isso sem fronteiras, sem divisões por causa de raça, cultura, religião ou nacionalidade, porque toda a humanidade, junto com toda a criação, é chamada a participar dessa plenitude. Jesus é o rei desse Reino. Precisamente por isso, morreu na cruz. Exatamente por isso, Deus, o Pai que ama a vida, ressuscitou-o – e hoje mantemos viva a esperança do Reino.

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