Cristo reina

    Com a Solenidade de Cristo, Rei do Universo, encerramos o Ano Litúrgico neste XXXIV Domingo do Tempo Comum. É também Dia do Cristão Leigo e início da Campanha pela Evangelização. Em Roma será o encerramento do Ano Santo, junto com o consistório com a criação de novos cardeais. Aqui no Rio de Janeiro vivemos a Assembleia do Regional Leste 1, que aprofunda o tema do documento do Papa sobre a família.
    O domingo seguinte, dia 27 de novembro, será o Primeiro Domingo do Advento, um novo Ano Litúrgico, ciclo A. Ainda que as festas da Epifania, Páscoa e Ascensão sejam também festas de Cristo Rei e Senhor de todas as coisas criadas, a festa de hoje foi especialmente instituída para nos mostrar Jesus como único soberano de uma sociedade que parece querer viver de costas para Deus.
    A Solenidade de Cristo Rei foi instituída no Ano Jubilar de 1925 pelo Papa Pio XI, com a Carta Encíclica “Quas Primas” (QP), com a qual coincidiu o 16º centenário do Concílio de Nicéia, que proclamara a divindade do Filho de Deus; este Concílio inseriu também em sua fórmula de fé as palavras: “cujo reino não terá fim”, afirmando assim a dignidade real de Cristo (cf. QP 2).
    Estarei nessa época participando, em Roma, do Consistório público de criação de novos cardeais, dentre eles nosso venerável irmão Sérgio, Cardeal da Rocha. Irei passar pela Porta Santa da Basílica Vaticana de São Pedro. Levarei em meu coração pedidos de todos aqueles que me cabe servir como Pastor da Igreja Metropolitana de São Sebastião do Rio de Janeiro, e a todos os homens e mulheres de boa vontade que procuram  Cristo Rei de coração sincero.
    Quando nós, cristãos, confessamos que Cristo é Rei, de que reinado estamos falando? A que Reino estamos nos referindo? Nós realmente acreditamos com todo o coração e confessamos com toda convicção que Jesus Cristo – e só ele! – é Rei? Rei do universo, Rei da história, Rei da humanidade, Rei da vida de cada criatura humana, cristã ou não-cristã. Ele é Rei porque é Deus feito homem; é, como diz a Escritura, aquele “através de quem e para quem todas as coisas foram criadas, no Céu e na Terra… Tudo foi criado através dele e para ele… Ele é o Primogênito dentre os mortos”. (Cl 1,1518).
    Jesus veio ao mundo para buscar e salvar o que estava perdido; veio em busca dos homens dispersos e afastados de Deus pelo pecado. E como estavam feridos e doentes, curou-os as feridas. Tanto os amou que deu a vida por eles. Como Rei, vem para revelar o amor de Deus, para ser o Mediador da Nova Aliança, o Redentor do homem. No Prefácio da Missa fala-se de Jesus, que ofereceu ao Pai “um reino de verdade e de vida, de santidade e de graça, de justiça, de amor e de paz”.
    No Evangelho (cf. Lc 23,35-43), se percebe esse desejo através da conjunção “se”: “se é o Cristo, o escolhido de Deus!” – manifestam os príncipes dos sacerdotes; “se és o rei dos judeus” – dizem os soldados; “se és o Cristo” – diz um dos malfeitores crucificados com Jesus. Parece existir uma dúvida, que no fundo é um “grito silencioso” que poderia ser traduzido dessa maneira: “Por favor, Senhor, se manifesta; por favor, me diz quem é você. Não aconteça que pela minha ignorância, venha eu a perecer. Se você é o Cristo, me salva”. Frequentemente, diante da aparente indiferença em relação à escuta do Evangelho, devemos escutar esse apelo oculto, silencioso, um grito suplantado.
    O chamado “bom ladrão” teve coragem de expressar nitidamente o desejo do seu coração: “Jesus, lembra-te de mim quando tiveres entrado no teu Reino”! (cf. Lc 23,42). Não devemos temer as revoltas humanas contra Deus. Temos a esperança de que, um dia, essas pessoas possam dizer como esse pecador que, como era um bom ladrão, soube “roubar” o céu nos últimos minutos de vida. Tenhamos por certo: a verdade de Cristo é o que todos os homens e mulheres desejam, sabendo ou não.
    A Liturgia de hoje coloca como Antífona de Entrada do Missal Romano uma frase do Apocalipse, que é surpreendente: “O Cordeiro que foi imolado é digno de receber o poder, a divindade, a sabedoria, a força e a honra. A ele a glória e poder através dos séculos”! (cf. Ap 5,12; 1,6). Frase surpreendente, sim! Quem é Aquele que proclamamos Rei? O Cordeiro; e Cordeiro imolado. Cordeiro evoca mansidão, paz, fragilidade. Nosso Rei é o Cordeiro que foi esmagado na cruz, Aquele que foi imolado pelo Pecado do mundo. O mundo passou e passa por cima do nosso Rei, refuta seu Evangelho, desdenha de sua Palavra, ridiculariza seus preceitos, calunia sua Igreja… Esse Rei é Aquele que foi crucificado, que foi derrotado e terminou sozinho; é o Homem de dores, prenunciado por Isaías. No Evangelho escutamos que zombaram e zombam dele: “A outros ele salvou. Salve-se a si mesmo, se de fato é o Cristo de Deus, o Escolhido! Tu não és o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós”! (Lc 23,35.39).
    Contudo, Jesus não é Rei nos moldes dos reis da Terra. O reinado de Cristo somente pode ser compreendido a partir da lógica do próprio Cristo: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos”. (Mc 10,45). Eis o modo que Cristo tem de reinar: servindo, dando vida e entregando a própria vida. Tão diferente dos reis da Terra, dos políticos e líderes de ontem e de hoje: “Sabeis que aqueles que vemos governar as nações as dominam, e os seus grandes as tiranizam. Entre vós não será assim…” (Mc 10,42s). Cristo é Rei porque se fez solidário conosco ao fazer-se um de nós; é Rei porque tomou nossa vida sobre seus ombros; é Rei porque passou entre nós servindo, até o maior serviço: entregar-se totalmente na cruz!

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