Trabalhadores da vinha do Senhor

    Seguimos no mês de setembro olhando de uma forma toda especial para a Palavra de Deus, neste mês que é dedicado a aprofundarmos e conhecermos melhor este grande tesouro confiado à vida da Igreja e às nossas mãos. Conforma já recordamos em outras ocasiões, em união com as indicações da CNBB dirigimos o nosso olhar especialmente para o Livro do Deuteronômio, livro indicado para que possa ser mais bem conhecido, mais bem aprofundado e assim contribuir de forma mais intensa para a nossa vida de fé.

    Tal indicação vem conduzida pela passagem Bíblica que, em união com o tema da Campanha da Fraternidade deste ano, nos apresenta uma chave de leitura específica para o livro: “Abre tua mão para o teu irmão” (Dt 15,11). A Tradição do Povo de Israel, que se forma pela presença do Senhor em seu meio, que caminha com ele, que o constitui como povo e faz uma aliança de amor com ele, leva sempre consigo a dimensão da comunhão, do cuidado com o outro, em especial o cuidado da viúva e do órfão. No povo de Deus, o cuidado cm o outro é reflexo fundamental do cuidado que Deus tem para com ele. A dimensão social é sempre uma marca fundamental da presença do Senhor em nosso meio.

    Se nos damos conta, com a leitura diária que nos é cuidadosamente escolhida e oferecida pela Igreja na Liturgia, em dois anos com a  leitura do ciclo  ferial (leituras dos anos pares e ímpares nos dias da semana) ou no ciclo de 3 anos da liturgia dominical ( Anos A, B e C) teremos lido praticamente toda a Bíblia, já que teremos tido contato com os textos fundamentais da história da salvação. Pouco, mas sempre: assim são as coisas fundamentais da vida. Assim deve ser também nosso contato com a Palavra de Deus: que a intensidade do nosso contato com Ele esteja na frequência e profundidade com que nos aproximamos dela, não da quantidade volumosa. A Palavra de Deus é viva e basta uma única Palavra para que toque os nossos corações. Como é bonito olhar o episódio da vocação do Evangelista Mateus (Mt 9, 9-13): o evangelho conta que ele estava sentado na coletoria de impostos quando foi olhado por Jesus que lhe dirige uma única palavra: Segue-me. Esta única Palavra traz a nova vida ao coração de Mateus, que imediatamente se levanta e segue Jesus, acolhendo-o depois em sua casa. A experiência de Mateus pode se repetir em nossas vidas se procuramos entrar em contato com a Palavra de Deus em comunhão com o Espírito pelo qual ela foi escrita. Aproveitemos o mês da Bíblia para recuperar nossa intimidade com a Palavra de Deus e recuperar pequenos costumes práticos que manifestam a importância da Palavra de Deus: quantas casas tem o costume de deixar a Bíblia aberta em um lugar visível da casa, cada dia com um salmo ou uma passagem diferente, mostrando e recordando que a Palavra de Deus é luz para os nossos passos.  Quantas famílias que agora no contexto da pandemia voltaram a dedicar um tempo para ler o Evangelho do dia em comum; quantas crianças tem descoberto a Bíblia e encontrado nela histórias que encantam em seus ensinamentos: Deixemos que o Espírito Santo nos mostre novos caminhos de intimidade com a Palavra!.

    A palavra de Deus deste domingo nos recorda que o Reino de Deus tem parâmetros diferentes daqueles que aprendemos em uma sociedade de consumo e recompensa. A primeira Leitura (Is 55, 6-9), tirada do profeta Isaías, recorda isso e maneira enfática: Meus pensamentos não são como os vossos pensamentos e vossos caminhos não são como os meus caminhos, diz o Senhor. Estão meus caminhos tão acima dos vossos caminhos e meus pensamentos acima dos vossos pensamentos, quanto está o céu acima da terra.

    O Evangelho deste domingo (Mt 20, 1-16), na linha do que Deus proclamou por meio do profeta na primeira leitura,  vai nos contar a parábola dos empregados chamados para trabalhar na Vinha do Senhor em diferentes momentos do dia e que ao final recebem todos a mesma paga, conforme tinha combinado com cada um deles; os que foram chamados primeiro se acham no direito de receber mais, mas o padrão mostra que a sua lógica é diferente da deles e que ele, por ser o dono da vinha pode e deve utilizar de sua lógica baseada numa generosidade abundante. A parábola não que expressar para nós uma questão e retribuição, mas sim a generosidade do dono da vinha e a liberalidade das suas ações. Tempo de Igreja não funciona como tempo de experiência profissional. Tempo de caminhada na Igreja é sim motivo de servirmos mais e de estarmos cada dia mais gratos ao Senhor pela grande oportunidade que é trabalhar pelo seu Reino e alegrar-se pelos novos irmãos que abraçam a fé. Alguém que viveu a vida de fé desde a infância receberá a mesma herança do Reino de alguém que se arrepende de seus pecados no último instante da sua vida. A grande diferença é o tempo com que cada um viveu a sua vida. Embora a recompensa final seja a mesma, o caminho trilhado, se foi trilhado no caminho do Senhor, seguramente foi um caminho diferente do que alguém que desperdiçou a sua vida buscando onde repousar seu coração ou encontrar a razão da sua existência. O Evangelho não quer dizer com isso que devemos então dedicar nossas vidas aos prazeres desregrados e só ao final da vida preocupar-se com as coisas de Deus: primeiro por que nenhum de nós sabe o dia que nossa vida chegará ao fim; e depois, com toda certeza uma vida com Deus e orientada pela vivência do bem é muito melhor.

    Procuremos responder generosamente o Senhor quando Ele passa em nossas vidas, seja na infância ou seja em qualquer outro momento. Sejamos agradecidos ao Senhor que nos chama a servir no seu Reino, a participar das maravilhas do banquete celestial.

    Tudo isso vai fazer com que o Senhor seja glorificado, seja por meio de nossas vidas, seja por meio da nossa morte, como nos recorda a segunda leitura (Fl 1,20c-24.27ª): Cristo vai ser glorificado no meu corpo, seja pela minha vida, seja pela minha morte. Pois para mim, o viver é Cristo e o morrer é lucro.

    Portanto irmãos, o importante é que independente das circunstâncias de nossa vida, que vivamos com o Senhor. Que neste mês da Bíblia seja atualizada a presença de Deus em nossas vidas. Que o Senhor continue nos conduzindo nesse caminho de encontro com Ele.

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