Todo grupo tem um líder

    Poucas palavras são insuficientes para se definir o valor de uma liderança. Foi o que aconteceu com esse tema a mim proposto. Quando vi, estava me excedendo nas palavras e fui obrigado a dividir o assunto, para não subjugá-lo em sua complexidade. O líder dos líderes, Jesus Cristo, fez dele sua pauta preferida, retomando-o sempre que possível. Seu pastoreio foi uma interminável lição de liderança. Conduzia a todos não com a mão forte de um comandante indiferente às dificuldades dos mais fracos, mas com palavras de ânimo e coragem que não excluía ninguém. Todos eram convidados a seguir seus passos, seus ensinamentos.
    A liderança cristã, portanto, não faz acepção de pessoas. Todos somos chamados. Porém poucos são os escolhidos. Os carismas pessoais, maiores ou menores, mais proeminentes em alguns e menos salientes em outros, não perdem sua importância e seu significado quando colocados em comum, especialmente quando somados ao carisma de um grupo. Ganham nele uma importância vital para o crescimento e a caminhada de todos. Sem o reconhecimento desses valores, a figura do Corpo Místico perderia sentido. Na diversidade de dons e na função determinada de cada elemento (grupos, movimentos, indivíduos) é que a Igreja cresce em poder e glória, diante de Deus e dos homens.
    É oportuno observar que Cristo rejeitou o poder de sua liderança humana (aquele que poderia torná-lo rei ou um líder político de sucesso) e se submeteu ao poder das instituições que o condenaram, para nos ensinar outros caminhos; aqueles que, de uma forma ou de outro, nos conduzem ao Pai. Não impôs, não exigiu, não obrigou ninguém a segui-lo em seu desprendimento total, mas caminhou conosco, se fez um de nós em meio às muitas contradições e diferentes aptidões de nossa vida terrena. Esse é o segredo da liderança cristã. Nunca impor, mas apontar o ideal. Não selecionar ou exigir, mas promover. Não disciplinar com excesso de leis e exigências, mas coagir com a lei do Amor. Não buscar a igualdade, mas respeitar a diversidade. Tudo isso e muito mais em função do ideal maior, a meta comum que a fé nos ensina a buscar: “Primeiro o Reino… e tudo mais vos será dado”.
    Seja qual o grupo do qual faça parte, todos são instrumentos destinados à revitalização de nossas energias e fontes propícias à perseverança. Não há como ignorar nestes o carisma de uma liderança, aquele ou aquela com quem nos identificamos e somamos forças para caminhar juntos. A estas pessoas está reservada uma responsabilidade maior: não apenas conduzir seus próprios passos, mas levar outros mais pelas sendas de uma experiência maior com os Planos de Deus para nossas vidas. Por isso, ai do líder que se basta, que se deixa conduzir pela vaidade dos poderes mundanos, pelo egoísmo, pela prepotência das idéias próprias. Não só este, mas também seus seguidores correm o risco de uma jornada interrompida pelo abismo da decepção. Ser líder é purificar a visão dos que caminham consigo, nunca torná-la mais nublada.
    Diante disso, muitas vezes, é preferível deixar-se conduzir a conduzir. Aos grandes líderes vale mais a obediência por amor do que a disciplina por temor. É bom lembrar: até uma alcatéia de lobos depende de um líder. Na liderança cristã buscamos o discernimento da vontade de Deus, a visão do melhor caminho. Jesus nos ensinou isso: “Pai não se faça a minha, mas a vossa vontade”. Todo grupo caminha à luz de uma liderança. Se esta lhe couber, não a rejeite, por obediência à vontade de Deus. Mas nunca a aceite por vaidade pessoal ou proveito próprio. Este é o cálice amargo do triste fel que entorpece o poder pelo simples poder. Jesus o rejeitou com veemência: “Pai, afasta de mim esse cálice”…

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