TERCEIRO DIA DA ASSEMBLEIA ECLESIAL APONTA SER NECESSÁRIO REACENDER APARECIDA PARA RESPONDER AOS CLAMORES ATUAIS DA AMÉRICA LATINA E CARIBE

A Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe está tomando forma, ganhando profundidade, focalizando seu olhar nos desafios para a Igreja na América Latina e no Caribe à luz do discernimento comunitário, tema que animou as reflexões do terceiro dia, terça-feira, 23 de novembro, iluminado pela citação bíblica que diz que “O tempo está cumprido e o Reino de Deus está próximo: convertei-vos e crede na Boa Nova”.

A Assembleia, desde sua convocação, ancorou suas raízes em Aparecida, a última Assembleia Geral do Episcopado Latino-americano realizada em 2007. O representante da CNBB no Conselho Episcopal Latino Americano (Celam), cardeal Odilo Scherer, sobre isso após a oração de abertura. O primeiro vice-presidente do Celam lembrou também o convite do Papa Francisco para retomar o Documento de Aparecida, “porque ele contém uma riqueza muito grande, que talvez não tenha sido suficientemente absorvida”. O cardeal Scherer disse ser momento de fazer um balanço, levando em conta as novidades dos últimos 14 anos, para viver “um processo de conversão pastoral, uma conversão missionária”.

Este não é apenas mais um evento, disse o teólogo brasileiro e membro da equipe teológica do Celam, Agenor Brighenti, aos membros da Assembleia. Este é “um novo passo em um rico processo sinodal na América Latina e no Caribe, que deu à nossa Igreja uma palavra e um rosto próprio”. Por isso ele também insistiu em “reviver Aparecida”, num caminho que nos leva a uma segunda recepção da renovação do Concílio Vaticano II. Trata-se, segundo o padre, de entrar num processo de conversão pastoral e integral, que o Sínodo para a Amazônia exigiu, para ver a relação entre os quatro sonhos do Papa Francisco na Querida Amazônia e o que está sendo vivido nesta Assembleia.

Após os problemas iniciais de acesso à plataforma virtual terem sido resolvidos, nesta terça-feira, os grupos de discernimento comunitário estão sendo vividos como um momento de enriquecimento pessoal e eclesial, que estão ajudando a encontrar o que a Igreja e os povos da América Latina e do Caribe esperam desta Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe.

Reencontro com as raízes culturais da América Latina e Caribe

A conferência de imprensa desta terça-feira foi um momento para escutar os clamores dos povos da América Latina e do Caribe. O clamor dos povos afrodescendentes, da Amazônia, da juventude e as dificuldades enfrentadas na formação dos futuros sacerdotes com a participação da irmã Maria Suyapa, do cardeal Pedro Barreto, da jovem Maria José Bolaños López e do padre Cristino Bonhert Bauer.

Fotos: Padre Luís Miguel Modino/Equipe de Comunicação Assembleia Eclesial

Estes são os clamores provocados pela marginalização vivida pelas mulheres negras, pelos povos amazônicos ameaçados pela pandemia e pela falta de políticas públicas para os jovens que querem caminhar junto com outros membros da Igreja, em sinodalidade, a formação de seminaristas, o que deveria ter um impacto na dimensão comunitária e com itinerários transversais.

A Assembleia Eclesial é construída com rostos concretos, com vozes vindas de diferentes realidades, que todos os dias dão testemunho aos membros da Assembleia e a todos aqueles que acompanham a Assembleia através de redes sociais. É uma teia que está sendo tecida a partir de diferentes experiências eclesiais, leigos, missionários, bispos, jovens, promotores da paz, guias espirituais, pessoas que trabalham com migrantes, vida religiosa. Testemunhos que provocam reações e sentimentos, relatados tanto pelos membros da Assembleia como por aqueles que reagem através de redes sociais.

As raízes culturais da América Latina e do Caribe foram abordadas pelo cardeal Felipe Arizmendi, pelo padre Venanzio Mwangi IMC, pelas irmãs Laura Vicuña e María Suyapa Cacho Álvarez. O cardeal mexicano destacou que o Celam coloca os excluídos em primeiro lugar, representados nos povos indígenas e afro, para os quais a terra e a vida comunitária são fundamentais. Para eles, ele pediu abertura e compreensão da Igreja. O conhecimento ancestral daqueles que vivem na periferia deve ser valorizado e integrado, segundo irmã Maria Suyapa, e a Igreja deve se unir a eles.

A Irmã Laura Vicuña pediu que a Igreja fosse uma aliada dos povos originários, pronta para defender a vida, a terra e os direitos, para acompanhar e tecer redes para a defesa e promoção dos direitos humanos. O Padre Venâncio se perguntava sobre as aspirações do catolicismo em relação ao povo afrodescendente e destes em relação ao catolicismo. É por isso que ele chamou para passar do mito à realidade sobre a diversidade étnica e cultural de nossa identidade e para celebrá-la através da fé.

A celebração eucarística e a recitação do Terço, neste dia com a intenção de cuidar da Casa Comum, foram as principais atividades do dia. Em sua homilia, o cardeal Odilo Scherer iniciou sua reflexão falando do sentido do tempo, do hoje, do agora, em nossa vida, na história da Igreja, em nosso contexto social. Recordando o Evangelho, ele enfatizou a necessidade de estar atento aos sinais dos tempos, à forma como tudo passa, como o tempo destrói tudo, muda tudo. A única coisa que não muda, segundo o arcebispo de São Paulo, é o Evangelho.

“Jesus chamou para não ser enganado pelas atrações deste mundo, que pode ser transformado em ídolos”, advertiu o primeiro vice-presidente da Celam. Jesus também alertou sobre os pregadores de uma verdade, chamando a não ser enganados por salvadores da pátria ou pregadores religiosos autorreferenciais. Uma terceira advertência de Jesus, apontou o cardeal brasileiro, foi sobre os sinais em tempos de crise, que oferecem a oportunidade de anunciar o que está prestes a acontecer, diante do qual um caminho de conversão é necessário. A partir daí ele vê a Assembleia Eclesial como um exercício de leitura dos sinais dos tempos.

Com informações do padre Luís Miguel Modino, membro da Equipe de Comunicação Assembleia Eclesial

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