Teologia da pequenez

Vivemos num mundo em que o que vale é ser grande, vencedor, dominador, e chegar em primeiro lugar. Mas não parece que seja essa a lógica de Jesus no Evangelho. Ele louva o Pai por esconder as coisas essenciais aos doutores e revelar aos simples, aos pequenos. Afirma que os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos. É radical quando diz que se alguém quer ganhar vai perder e se alguém aceita perder vai ganhar. Quer mais? Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado.
Então, o cristão deve ser uma pessoa conformada com o fracasso, com a derrota e a humilhação? Nada disso. A lógica paradoxal do mestre de Nazaré é o primeiro passo para o sucesso. Quer ser bem sucedido? Abra as mãos, os olhos, os ouvidos e o coração. Quer ser grande? Aceite ser pequeno como um grão de mostarda. A Bíblia é cheia desses exemplos. Davi era pequeno e venceu o gigante Golias.
Essa lógica aparentemente contraditória é a chave para compreender o amor. Em seu célebre poema, Camões organiza em prosa e verso esta verdade maior: “O amor é um fogo que arde e não vê; é ferida que dói e não se sente; é um contentamento descontente; é cuidar que se ganha em se perder.”
Mas será que essa atitude vital pode dar certo no mundo dos negócios? Ou seria apenas uma fórmula piedosa para o rito, a celebração, a prece, a dimensão espiritual? Vejamos dois exemplos que nos ajudam a compreender: na África se utiliza uma estratégia curiosa para caçar macacos. Coloca-se uma cumbuca com um pequeno furo presa a uma árvore. Dentro, algumas deliciosas frutinhas atraem o símio. Ele coloca a mão aberta na cumbuca e pega as frutas. Mas a mão fechada não sai e ele acaba preso. Você deve estar pensando: “Que macaco burro… bastaria abrir a mão e estaria livre.” Realmente… e por que teimamos em achar que o sucesso se alcança com as mãos fechadas? É cuidar que se ganha em se perder.
Outro exemplo vem da China. Costumam dizer por lá que na porta da memória existe um soldado chamado “desejo”. De fato, quando queremos compulsivamente lembrar algo, a porta da memória se fecha. Todos sabem que é preciso dizer para si mesmo: não quero mais lembrar. É só desapegar-se do desejo que a porta se abre a gente se recorda. Novamente é preciso perder para ganhar, dar marcha a ré para avançar, ser pequeno para triunfar.
É possível que tenha sido neste sentido “radical” que Jesus tenha dito que é preciso fazer-se como uma criança para entrar no céu. Santa Teresinha do Menino Jesus entendeu perfeitamente essa mensagem e a chamou de “pequena via”, ou via do amor. A simplicidade vale mais. No burocratizado mundo pós-moderno, a felicidade para por esta palavra de ordem: “simplifica”!

João Carlos Almeida (Pe. Joãozinho, scj )
Autor do livro “Primeiro passo para o sucesso”, da editora Canção Nova.
À venda no site www.loja.cancaonova.com ou pelo telefone (12) 3186-2600.

Fonte: Informativo Nossa Voz