Silêncio

    É o mais católico dos filmes do premiado cineasta  e ator americano  Martin Scorsese não foi feito para agradar.

    Shusaku Endō (1923-1996) foi um romancista católico japonês autor de longos escritos que sondaram os conflitos e paradoxos da fé. Nasceu em Tóquio, viveu na Manchúria, regressou ao Japão e foi batizado com 11 anos. Após a universidade casou, teve um filho e viveu em França. O romancista Graham Greene, com quem Endō foi muitas vezes comparado, afirmou que ele era «um dos maiores romancistas vivos».

    Em 1966 Endō publicou “Silêncio” (“Chinmoku”), obra de ficção histórica sobre missionários jesuítas no Japão do século XVII. Muitos sustentam que é a sua obra-prima. Finalmente, 28 anos depois de ler o romance, o realizador oscarizado, argumentista, ator e produtor Martin Scorsese traz esta história para o grande ecrã. “Silêncio” está repleto de temas humanos, teológicos e espirituais que os argumentistas Jay Cocks e Scorsese impregnam de respeito.

    “Um dia, quando todos tiverem processado este filme, penso que veremos que “Silêncio” marca o auge da sua arte e da sua forma de contar histórias como realizador católico, onde os personagens do santo e do pecador estão sempre próximos”, diz Ir. Rose Pacatte , Diretora do Centro Paulinas para os Estudos dos “Media”, Los Angeles, EUA (1).

    O Grande Silêncio

    O primeiro filme sobre a vida interior da Grande Chartreuse, casa-mãe da Ordem dos monges Cartuxos, uma meditação silenciosa sobre a vida monástica na sua forma mais pura. Aproximadamente vinte anos depois de ter pedido autorização para filmar no mosteiro, é dada autorização para entrar ao realizador Philip Gröning, que filmará a vida interior do mosteiro dos cartuxos.

    É um filme sobre a presença do Absoluto e a vida de homens que dedicam a sua existência a Deus. Viver em silêncio, rezar em silêncio, trabalhar em silêncio, falar em silêncio. Pequenos gestos. “Eis o silêncio: deixar que o Senhor pronuncie em nós uma palavra igual a Ele.” Philip Gröning faz do cinema um convento, o olhar do espectador torna-se contemplação, como o monge que reza em silêncio, na sua cela solitária ou na floresta. A repetição, o ritmo, todos os gestos se dizem no tempo destes monges, que vivem noutro tempo, noutro ritmo, nos tempos de hoje. E o filme contempla este tempo, as estações a sucederem-se, os dias e as noites, as orações e os trabalhos.

    Um filme sobre a Ordem Cartusiana dos Alpes franceses encontrou o caminho para o as grandes salas alemãs. Um sucesso surpreendente: em lugar de ação ou grandes emoções, apenas a calma contemplação da vida monástica.

    A impaciência certamente não é um defeito do cineasta alemão Philip Gröning. Há quase 20 anos, ele pediu aos monges da Ordem Cartusiana a permissão de rodar um documentário sobre suas vidas. A resposta foi: para alguns monges, ainda há pouco tempo na ordem, era cedo demais; eles precisariam de cerca de dez anos, até se acostumarem à vida no convento.

    Gröning não se deixou intimidar e manteve contato com o prior. Em 2002, finalmente reuniu-se aos religiosos em seu retiro nos Alpes franceses, por vários meses, e captou impressões da vida monástica. A ordem consta como a mais rigorosa da Igreja católica romana.

    O filme resultante, com cerca de três horas de duração, recebeu uma chuva de críticas positivas, sendo por fim exibido em circuito comercial. Para surpresa generalizada, Die grosse Stille (O grande silêncio) é sucesso de público, já havendo ultrapassado a marca dos 100 mil espectadores e com vários a prêmios(2).

    O Legado do Silêncio

    Com abissal glória o tema “silêncio” ocupa seu espaço de forma magistral. O poder do silêncio é saúde plena para o corpo, mente e espírito. É um tesouro para delícia do nosso ser. A terapia do silêncio é colossal. Sua pedagogia ilumina uma jornada para as maravilhas infinitas. É no silêncio se escuta a voz suave e delicada do bom Deus. O coração escuta e fala o mistério do silêncio e vive na plenitude da graça, do amor, da fé e da  esperança celestial. Silêncio, solidão (não solitário), deserto, contemplação, via: purgativa, iluminativa e unitiva são acesses hipotálassicas da educação espiritual.

    O ser espiritual colabora por mundo melhor de paz, calma, serenidade, partilha, caridade, justiça, sabedoria e silêncio. Falar demais, causar barulhos, zoada infernal, tudo isso é a desconstrução do bem viver e a promoção de muitos males em nossa humanidade. O falastrão causa danos para si mesmo e em toda comunidade. A espiritualidade do silêncio educa a pessoa a calar o seu interior, escutar o coração e viver muito bem a fraternidade universal. Os grandes mestres da espiritualidade do silêncio (Padres e Madres do deserto, monges e eremitas)  deixaram um legado monumental para o mundo. Suas vidas eram toda de Deus e seus testemunhos são ensinos que nos levam ao amor do Pai Eterno.  Como exemplo próximo de nós pode citar o eremita do deserto do Saara Charles de Foucauld. Sua vida e sua obra estão enriquecendo espiritualmente muita gente no mundo inteiro.

    Frei Inácio José do Vale
    Psicanalista Clínico
    Professor e conferencista
    Sociólogo em Ciência da Religião
    Doutor em História do Cristianismo
    Religioso dos Irmãozinhos da Visitação de Charles de Foucauld
    E-mail: pe.inacio.jose@gmail.com

    Notas:
    (1)http://snpcultura.org/silencio_o_mais_catolico_dos_filmes_de_scorsese_nao_foi_feito_para_agradar.html
    (2)http://www.dw.com/pt-br/sil%C3%AAncio-dos-monges-vira-sucesso-de-bilheteria/a-1890158

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