Serás pescador de homens!

    A liturgia do Quinto Domingo do Tempo Comum nos apresenta três vocações: a de Isaías, a de São Paulo e a de São Pedro. A Isaías Deus se revelou quando ele estava em oração no templo (cf. Is 6, 1-8). Inicialmente, Isaias se sente pequeno e indigno. Deus então pergunta: “Quem vou enviar”? Isaías, sensível ao apelo de Deus, aceita: “Eis-me aqui, envia-me”. Vemos aqui os passos da vocação: A iniciativa é sempre de Deus. A primeira reação é sempre a mesma: “não sou capaz.” “Não sou digno”. Mas, quando confiamos em Deus e nos colocamos numa atitude de disponibilidade, Deus nos purifica e fortalece, e acabamos, com a graça de Deus, dando conta do recado.
    Outra vocação é a de São Paulo. Em 1cor 15, 1-11, Paulo conta a sua vocação (seu chamado). Ele se considera o “último” dos apóstolos… como um “abortivo”. Mas no encontro com Cristo a caminho de Damasco, responde: “Senhor, que queres que eu faça?”. Daí ele vai anunciar que transmitirá o que recebeu: Cristo Salvador.
    No Evangelho (Lc 5, 1-11) temos o chamado dos primeiros apóstolos. Jesus estava junto do lago de Genesaré e a multidão comprimia-se à sua volta de tal forma que lhe faltava espaço para pregar. Subiu então em uma barca e mandou que a afastassem um pouco da margem para falar à multidão.
    Jesus entra na barca de Pedro e fala ao povo. Pedro se sente indigno… e Jesus: “Não tenhas medo!” Jesus convida: “De hoje em diante tu serás pescador de homens”. Apesar do cansaço, apesar de a ordem de pescar ter partido de quem não era homem do mar, e ter-se dirigido a uns pescadores que sabiam da inoportunidade da hora para essa tarefa e da ausência de peixes, tomam as redes nas mãos. Agora, por pura confiança no Mestre, Pedro obedece!
    Em toda a vida e a ação apostólica, há dois requisitos indispensáveis: a fé e a obediência. De nada serviriam o esforço, os meios humanos, as noites em claro, se estivessem desligados do querer divino… Sem obediência, tudo é inútil diante de Deus. De nada serviria entregarmo-nos com brio e garra a um empreendimento apostólico se não contássemos com o Senhor. Até aquilo que é mais valioso nas nossas obras se tornaria estéril se prescindíssemos do desejo de cumprir a vontade de Deus. “Deus não necessita do nosso trabalho, mas da nossa obediência”, ensina São João Crisóstomo.
    Jesus é quem está na barca, Jesus é quem comanda a pesca! Não somos nós, não são as nossas forças, não é a esperteza dos nossos planos de pastoral: é Ele quem nos sustenta, é Ele quem nos inspira o que dizer, é Ele quem pode tocar os corações! Vamos, pois, ao alto-mar desse mundo e lancemos as redes do Evangelho! E o milagre acontece, e os peixes são tantos que se faz necessária a ajuda dos companheiros de Pedro!
    E Simão, diante da manifestação da santidade de Jesus – não é Ele o Deus Santo que Isaías viu no Templo, na primeira leitura de hoje? Não é Ele, Jesus, aquele a quem proclamamos a cada Domingo: “Só vós sois o Santo, só vós o Senhor, só vos o Altíssimo”? Não é Ele, a quem os anjos aclamam no céu dizendo: “Santo, Santo, Santo, Senhor Deus dos exércitos”?
    Pedro prostra-se ante Jesus e confessa humildemente ser apenas um pecador, como Isaías na primeira leitura: Ai de mim! Afasta-te de mim, Senhor: sou apenas um homem impuro que vive no meio de um povo impuro! Sou apenas um pobre pecador: não sirvo para o teu santo serviço”! – eis o que deveríamos pensar, eis o que deveríamos dizer! E o mesmo Deus que tocou os lábios de Isaías e o purificou, toca o coração de Pedro – toca o meu e o teu coração – e afirma, misericordioso: “Não tenhas medo! De hoje em diante tu serás pescador de homens”! Pescador não por nossos méritos, mas pela misericórdia do Senhor, como São Paulo, que hoje humildemente reconhece: “Eu sou o menor dos apóstolos, eu nem mereço o nome de apóstolo! É pela graça de Deus que sou o que sou. Sua graça para comigo não foi estéril”! Também nós não somos nem dignos de ser cristãos; nem merecemos testemunhar e anunciar Jesus!
    Afasta-te de mim, Senhor, que eu sou um pobre pecador. Mas, ao mesmo tempo, pedimos-lhe que nunca nos permita separar-nos d’Ele, que nos ajude a entrar a fundo – mar a dentro – na sua amizade, na santidade, num apostolado aberto, sem respeitos humanos, cheio de fé, apoiados na voz do Senhor que, no silêncio da nossa oração pessoal, nos anima e nos insta a levar-lhe almas. Deus continua chamando operários para a Messe: uns são chamados para serem profetas, como Isaías, e pescadores de homens, como Pedro.
    Portanto, meus irmãos e irmãs, somos chamados a cumprir a nossa missão. Diante disso, devemos perguntar a Deus: Senhor, o que quereis de mim? Que esta resposta seja fruto de nossas orações e da intimidade com Deus.

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