Ser cristão

    Os oito dias que se seguem à Páscoa são chamados de “Oitava da Páscoa”. Cronologicamente são oito dias, mas para a liturgia católica são como se fossem um só. O fato pascal é tão importante que não cabe num só dia, pois ele dá origem ao cristianismo. O fato inusitado da ressurreição de Jesus Cristo abre uma nova visão sobre Deus e para os seguidores de Cristo, os cristãos.

    O que significa ser cristão? Quais são os fundamentos desta opção religiosa? O “Símbolo Apostólico”, ou “Credo”, ou mais popularmente o “Creio” rezado pelos católicos nas missas dominicais e festivas apresenta as principais verdades, ou dogmas da fé cristã. O papa emérito Bento XVI, na obra “Introdução ao Cristianismo”, reflete profundamente sobre este tema e nos ajuda a compreender e dar as razões para optarmos pela fé cristã. Neste pequeno espaço, ressalto dois elementos essências da natureza do cristianismo.

    Muitas pessoas veem no cristianismo apenas o aparato externo: a Igreja, as estruturas, os sacramentos, os dogmas, os pecados dos cristãos. Questionam se a instituição é necessária para crer em Deus e se o cristianismo é necessário. Não seria melhor que cada indivíduo se reportasse diretamente a Deus e Deus ao indivíduo?

    A fé cristã não parte de indivíduos isolados, mas da convicção de que não existe ser humano isolado. O indivíduo só existe e se torna alguém integrado no todo, na humanidade, no cosmos. O nosso corpo nos separa e nos distingue dos outros, mas só temos corpo graças aos outros. No cristianismo tudo depende de um indivíduo: Jesus Cristo, o homem de Nazaré que sofreu a paixão, a morte e ressuscitou. Mas tudo isto foi feito para o bem da humanidade, dos outros, do todo. Por isso, só é possível ser cristão em comunidade. A comunidade não destrói a individualidade, pois o cristianismo vive a partir do indivíduo e para o indivíduo. Neste sentido, não somos cristãos porque é necessário ser cristão para salvar-se, mas como cristãos prestamos um serviço para o indivíduo e a história.

    A lei fundamental do cristianismo pode ser expressa no termo “em prol de”. Ser cristão significa essencialmente passar a ser em prol de si mesmo para o ser em prol dos outros. Desse modo, a opção fundamental do cristão, ou seja, a aceitação da maneira cristã de ser, significa o abandono de uma atitude de centralização em si e adoção da existência de Jesus Cristo, voltada totalmente para o todo. Na história da humanidade tivemos muitas mudanças sociais, econômicas, formas de governo, etc. Uma marca destas mudanças mais profundas sempre foram “contra”. Muitas vezes, inclusive eliminando o outro. Fazendo uma analogia esportiva, parece que o mundo sempre está jogando eliminatórias e campeonatos, pois só se admite um vencedor. Os cristãos, por coerência à fé, são sal da terra e luz do mundo, estão prestando um serviço em prol do outro e do mundo e não contra.

    “ Não é por professar o nosso credo que alguém é verdadeiramente cristão e sim porque se tornou verdadeiramente humano pela sua existência cristã. O verdadeiro cristão não é aquele que, pensando só em si, obedece como um escravo a um sistema de normas e sim aquele que chegou à liberdade da simples bondade humana. Claro que o princípio do amor, para ser verdadeiro, precisa incluir a fé” (Ratzinger, p.199). No princípio do amor está presente o princípio da esperança que supera o momentâneo e o individual e se lança à procura do todo.

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