SEDE SANTOS

    Celebramos neste final de semana o sétimo, domingo do Tempo comum, último domingo antes de iniciarmos o tempo da Quaresma. A próxima quarta será a quarta-feira de cinzas, quando iniciamos este tempo de conversão, mudança de vida e preparação para a Páscoa, sendo um tempo intenso de oração, jejum, exame de consciência e restauração interior. Durante o tempo da Quaresma temos também, no Brasil, a Campanha da Fraternidade, que neste ano tem como tema Fraternidade e Vida, Dom e compromisso; e como lema: Viu, sentiu compaixão e cuidou dele (Lc 10, 33-44), passagem esta tirada da parábola do bom samaritano. Os 3 verbos utilizados na passagem nos fazem recordar outros três verbos já conhecidos em nossa dinâmica evangelizadora, o ver, julgar e agir, frequentemente utilizado para situar os temas das campanhas da fraternidade e que são uma proposta de conversão dirigida a todos. Sabemos que os problemas sociais são enormes; diante disso, somos chamados a não ser indiferentes às dores do outro, ter um coração compadecido e ter atitudes, cuidando das pessoas. Viver a quaresma, este tempo de oração e de conversão, é também tempo de se converter para o irmão e para as pessoas que se encontram ao nosso redor, uma conversão que se concretiza numa presença viva da ação de Deus na vida das pessoas. Que saibamos viver intensamente este tempo de reflexão e mudança de vida, de deixar nascer o homem novo segundo o Espírito.

    Este domingo cai também dentro das festas populares do Carnaval, tempo em que muitos cristãos aproveitam para fazer retiros, desenvolver atividades paroquiais como palestras, reflexões, orações ou até mesmo descansar, etc. Que possamos pedir ao Senhor a graça de vivermos esses dias como bons cristãos, preparando-nos com um coração sincero para a próxima quarta de cinzas, início deste tempo de conversão.

    Assim como Cristo é o bom samaritano da humanidade, somos também chamados a ser esta presença na vida daqueles que estão ao nosso redor. Acolhamos generosamente a Palavra de Deus, deixando-nos questionar por ela, nestes domingos em que refletimos sobre o Sermão da Montanha e que vai voltar a ser proclamado em nossas celebrações somente após a solenidade de Pentecostes, quando retomaremos o Tempo Comum.

    Neste 7º Domingo, em que vivemos o Tempo Comum, a Palavra de Deus, (Mt 5,38-48), continua o Sermão da Montanha, onde teremos como passagem central o convite a Amar os Inimigos, em contraste com a Lei do Talião, que propunha o olho por olho e dente por dente. Jesus leva à plenitude o ideal de justiça que tinha sido a base do Antigo Testamento, apresentando uma lógica diferente, que humanamente falando, não teríamos a capacidade de realizar por nós mesmos, já que temos nossas vidas marcadas pelo espírito de vingança e da devolução na mesma medida. Com a Graça de Deus é que conseguimos identificar este sinal do cristão: num mundo violento e marcado pela raiva e ódio, o cristão age segunda uma outra lógica, segundo uma outra maneira de ser, pois sua vida está no Senhor. Deixamos a ter uma reação meramente humana para agir a partir de Cristo, e deixar que a Graça de Deus divinize nossas ações. Esse é um dos sinais mais eficazes que manifestamos aos homens e que mais tem eficácia na ação evangelizadora: o agir cristão nas ações cotidianas. O mesmo texto nos fala da maneira igual com que Deus trata a todos os homens, ao utilizar a imagem do sol e da chuva, que vem sobre todos os homens, sejam esses justos ou injustos. Nosso agir cristão não deve ser um agir que tenha como objetivo receber uma recompensa humana. Nossa recompensa está em Deus e na alegria que é poder participar e semear seu Reino nesta terra. Deus é nosso tesouro e nossa recompensa. A vivência desta palavra torna-se quase que impossível se não tem sua base na Graça de Deus e em uma vida de conversão. Que passemos a responder o mal com o bem e perdoar aqueles que nos ofendem, como pedimos tantas vezes na oração do Pai Nosso. Não devemos levar nem ódio nem rancor em nossos corações, pois estes só fazem aumentar a escala de violência em nossa sociedade. Todos somos chamados à vivência integral da santidade, como vemos no final do texto do Evangelho proposto neste Domingo: Portanto, sede perfeitos como o vosso Pai Celeste é perfeito (Mt 5, 48).

    Na primeira leitura deste domingo (Lv 19,1-2.17-18), já nos adianta aprofundando o assim chamado “código da santidade”, que já era proposto no Antigo Testamento: O Senhor falou a Moisés, dizendo: ‘Fala a toda a comunidade dos filhos de Israel, e dize-lhes: Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo. Não tenhas no coração ódio contra teu irmão. Repreende o teu próximo, para não te tornares culpado de pecado por causa dele. Não procures vingança, nem guardes rancor dos teus compatriotas. Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor.

    Sabemos que Jesus vai tomar exatamente esta passagem para resumir o ensinamento de toda lei e de todos os Profetas: Amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos, e depois vai acrescentar mais ainda: amando-nos uns aos outros como Ele nos amou, dando a vida.

    Na segunda Leitura (1Cor 3,16-23), nos recorda que somos santuário de Deus, pois o Espírito Santo habita em nós, e este santuário é santo e que pertencemos a Deus, sem nos conformarmos com a sabedoria limitada deste mundo.

    A Palavra de Deus deste final de semana traz uma mensagem importante sobre o relacionamento entre as pessoas, começando com o código de santidade do Levítico e o amor ao próximo. No Evangelho Cristo nos convida a uma nova forma de agir em nossas relações humanas, amando os inimigos e fugindo da lógica da vingança e da retribuição estrita, retribuindo o mal com o bem. O Amor do Cristão vai dirigido a todos, até mesmo rezando por aqueles que os perseguem. Que possamos viver como santuários de Deus, transmitindo a Presença do Senhor em nossas vidas, a partir da presença de Deus em nossas vidas.

    Estando às vésperas da Quaresma, uma palavra exigente, humanamente falando, é apresentada a nós, mas que é possível para Deus.

    Quando as cinzas forem colocadas sobre nossas cabeças na próxima quarta-feira, lembrando-nos de que somos pó e ao pó retornaremos chamando-nos à conversão: convertei-vos e crede no Evangelho, estaremos iniciando esse grande tempo favorável para a nossa renovação batismal. Que nossa caminhada de conversão desta quaresma nos leve a uma renovada experiência da presença de Deus.

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