No dia 28 de dezembro, a Igreja celebra a memória dos Santos Inocentes, os meninos de Belém e arredores que foram mortos por ordem do rei Herodes. Este episódio, descrito no Evangelho de Mateus, é uma das passagens mais impactantes da infância de Jesus: “Herodes, furioso, mandou matar todos os meninos de dois anos para baixo, em Belém e em toda a sua região, conforme o tempo indicado pelos magos” (Mt 2,16).
Essas crianças, que perderam suas vidas por causa do ódio e da insegurança de Herodes, são veneradas como mártires pela Igreja. Mesmo sem compreenderem o significado de sua morte, participaram do mistério da redenção, oferecendo suas vidas em lugar do Menino Jesus. São os primeiros a sofrer por Cristo, antecipando o sacrifício do próprio Salvador, que mais tarde daria sua vida pela humanidade.
A celebração dos Santos Inocentes é um convite à reflexão sobre o valor da vida e a proteção dos mais vulneráveis. Jesus disse: “Quem acolher uma criança em meu nome, estará acolhendo a mim” (Mt 18,5). Essa afirmação nos lembra que cuidar das crianças é uma forma de servir ao próprio Cristo, reconhecendo nelas a pureza e a simplicidade que são características do Reino dos Céus.
A fuga da Sagrada Família para o Egito, narrada em Mateus 2,13-15, é um episódio que complementa a história dos Santos Inocentes. José, obedecendo à mensagem do anjo, levou Maria e Jesus para um lugar seguro, protegendo-os da ameaça de Herodes. Este gesto de coragem e confiança na providência divina nos ensina a importância de sermos protetores da vida e de confiarmos nos planos de Deus, mesmo quando enfrentamos desafios e incertezas.
Além disso, a memória dos Santos Inocentes nos leva a refletir sobre as realidades de nosso tempo. Milhões de crianças ao redor do mundo continuam a sofrer com a violência, o abandono, a fome e a exploração. O Papa Francisco nos recorda: “Cada criança que sofre é um grito que sobe até Deus” (Angelus, 2016). Essa realidade nos desafia a agir, promovendo uma cultura de cuidado e proteção, especialmente para os mais indefesos.
A liturgia deste dia também nos convida a meditar sobre o mistério da inocência e do martírio. Assim como as crianças de Belém deram suas vidas sem saber, somos chamados a oferecer nosso testemunho de fé, confiando que Deus transforma até mesmo o sofrimento em redenção. O apóstolo Paulo nos lembra: “Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam” (Rm 8,28).
Por fim, a celebração dos Santos Inocentes é um chamado à esperança. Apesar da crueldade de Herodes, o nascimento de Jesus trouxe ao mundo a luz que vence as trevas. “A luz brilha nas trevas, e as trevas não a venceram” (Jo 1,5). Essa luz continua a iluminar nossos caminhos, convidando-nos a confiar no amor de Deus e a sermos instrumentos de paz e justiça.
Que os Santos Inocentes intercedam por nós, ajudando-nos a proteger a vida, a promover a dignidade humana e a construir um mundo mais justo e fraterno. Que possamos aprender com eles a confiar plenamente em Deus e a viver com fé e coragem, mesmo diante das adversidades.
Santos Inocentes, rogai por nós!
+Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá (PR)